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Santa Maria, RS, Brazil

Opção ou falta de comunicação?

 Umas das obras que está revolucionando a infra-estrutura urbana de Santa Maria é a recuperação do arroio Cadena e seus afluentes, com três tipos de intervenção ao longo de 10 km. Parece ótimo, mas, o que deveria ser um benefício, passou a ser um tormento para as famílias do local. Existe entre os moradores uma constante resistência em ter que desocupar essa área e ir para os novos locais indicados pela Prefeitura.

 Situada no divisor da bacia hidrográfica dos rios Vacacaí e Vacacaí-mirim, Santa Maria apresenta diversos cursos d’água dentro de seu perímetro urbano. Desenvolveu-se sem conciliar adequadamente seus córregos à sua configuração de cidade, adotando medidas como canalizações, retificações de curso ou então relegando seus arroios a meros escoamentos de esgotos e depósitos de lixo. O arroio Cadena é considerado um local onde esse crescimento desordenado passou a causar malefícios à população que ali reside.

 

 

 

 Os moradores não querem se deslocar para outras áreas da cidade. Dona Nelci de Fátima dos Santos diz:  “pra nós, a construção é ruim por que a gente não tem onde morar, com relação ao lixo eu até concordaria com a obra, mas pra nós que não temos pra onde ir é ruim, eles já largaram de mão”. Ela diz ainda que o prazo estipulado para a saída deles do local já acabou faz tempo. Segundo o termo de adesão do PAC, que ela tem em mãos, deveriam ter se mudado da área desde o dia quinze de julho, “daqui uns dias minha casa cai, tenho quatro filhos, vou morar onde, se na Oliveira que era pra gente ir não está pronto, e outra coisa: lá os banheiros são públicos, aqui eu tenho banheiro dentro de casa”.

 Segundo Simone Dutra Oliveira, 20 anos, empregada doméstica, moradora da região, “a vida era melhor sem a construção da passarela, Nossa casa enche de pó, mesmo com a sujeira era melhor antes”. Segundo explicações dadas por ela, “nunca ninguém ficou doente devido à sujeira ou à poluição do arroio”.

 

 O jornalista Tiago Machado, secretário de Comunicação da Prefeitura, diz que este transtorno é algo inexplicável. Segundo ele, a equipe do PAC fez várias reuniões com um representante de cada casa para que a construção da obra fosse explicada, mas mesmo assim os moradores continuam sem entender.

 Segundo a enfermeira chefe do Programa de Saúde da Família (PSF) daquela região, Cassiane Kerkhoff, no ano passado foi necessário acionar a Vigilância Sanitária para que pudesse ser feita uma limpeza nos pátios, devido a um enorme surto de Tunga penetrans, popularmente conhecido como bicho-de-pé. Ela diz que o arroio é, sim, um fator de peso para ocorrências deste tipo, mas muito mais gritante que isto é a falta de higiene das pessoas, algo que passa de pai para filho, “não é coisa só de criança, pai e mãe não gostam de banho e as crianças também não tomam banho”. 

 Para compreender este tipo de atitude por parte da população, questionamos o professor da Unifra, Clovis Schimitt de Souza, mestre em Sociologia. Segundo ele, deve-se estabelecer uma discussão que diz respeito à compreensão que essas pessoas têm sobre as medidas tomadas, de que maneira este processo foi explicado para elas e, só dessa maneira podemos desmistificar o sentido simples das pessoas “gostarem de morar onde moram”. Afinal, diz ele, “ninguém mora em áreas de risco por opção”.

 

O primeiro trecho da intervenção no arroio Cadena, que vai da avenida Assis Brasil à avenida Borges de Medeiros, tem como objetivo uma canalização aberta em concreto armado; o segundo, da av. Borges de Medeiros à av. Walter Jobim, propõe uma canalização aberta com gabiões, que são muros feitos com pedras lascadas amarrados em telas de metal; e, o terceiro, tem como objetivo a contenção das margens com enleivamento de taludes, que é a implantação de vegetação em torno da construção. Além disso, informa a Prefeitura, a obra vai oferecer habitação, pista de caminhada, ciclovia, espaço de tráfego para carrinhos de catadores e canteiro central. 
 
Fotos: Evandro Sturm (Laboratório de Fotografia e Memória)
 

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 Umas das obras que está revolucionando a infra-estrutura urbana de Santa Maria é a recuperação do arroio Cadena e seus afluentes, com três tipos de intervenção ao longo de 10 km. Parece ótimo, mas, o que deveria ser um benefício, passou a ser um tormento para as famílias do local. Existe entre os moradores uma constante resistência em ter que desocupar essa área e ir para os novos locais indicados pela Prefeitura.

 Situada no divisor da bacia hidrográfica dos rios Vacacaí e Vacacaí-mirim, Santa Maria apresenta diversos cursos d’água dentro de seu perímetro urbano. Desenvolveu-se sem conciliar adequadamente seus córregos à sua configuração de cidade, adotando medidas como canalizações, retificações de curso ou então relegando seus arroios a meros escoamentos de esgotos e depósitos de lixo. O arroio Cadena é considerado um local onde esse crescimento desordenado passou a causar malefícios à população que ali reside.

 

 

 

 Os moradores não querem se deslocar para outras áreas da cidade. Dona Nelci de Fátima dos Santos diz:  “pra nós, a construção é ruim por que a gente não tem onde morar, com relação ao lixo eu até concordaria com a obra, mas pra nós que não temos pra onde ir é ruim, eles já largaram de mão”. Ela diz ainda que o prazo estipulado para a saída deles do local já acabou faz tempo. Segundo o termo de adesão do PAC, que ela tem em mãos, deveriam ter se mudado da área desde o dia quinze de julho, “daqui uns dias minha casa cai, tenho quatro filhos, vou morar onde, se na Oliveira que era pra gente ir não está pronto, e outra coisa: lá os banheiros são públicos, aqui eu tenho banheiro dentro de casa”.

 Segundo Simone Dutra Oliveira, 20 anos, empregada doméstica, moradora da região, “a vida era melhor sem a construção da passarela, Nossa casa enche de pó, mesmo com a sujeira era melhor antes”. Segundo explicações dadas por ela, “nunca ninguém ficou doente devido à sujeira ou à poluição do arroio”.

 

 O jornalista Tiago Machado, secretário de Comunicação da Prefeitura, diz que este transtorno é algo inexplicável. Segundo ele, a equipe do PAC fez várias reuniões com um representante de cada casa para que a construção da obra fosse explicada, mas mesmo assim os moradores continuam sem entender.

 Segundo a enfermeira chefe do Programa de Saúde da Família (PSF) daquela região, Cassiane Kerkhoff, no ano passado foi necessário acionar a Vigilância Sanitária para que pudesse ser feita uma limpeza nos pátios, devido a um enorme surto de Tunga penetrans, popularmente conhecido como bicho-de-pé. Ela diz que o arroio é, sim, um fator de peso para ocorrências deste tipo, mas muito mais gritante que isto é a falta de higiene das pessoas, algo que passa de pai para filho, “não é coisa só de criança, pai e mãe não gostam de banho e as crianças também não tomam banho”. 

 Para compreender este tipo de atitude por parte da população, questionamos o professor da Unifra, Clovis Schimitt de Souza, mestre em Sociologia. Segundo ele, deve-se estabelecer uma discussão que diz respeito à compreensão que essas pessoas têm sobre as medidas tomadas, de que maneira este processo foi explicado para elas e, só dessa maneira podemos desmistificar o sentido simples das pessoas “gostarem de morar onde moram”. Afinal, diz ele, “ninguém mora em áreas de risco por opção”.

 

O primeiro trecho da intervenção no arroio Cadena, que vai da avenida Assis Brasil à avenida Borges de Medeiros, tem como objetivo uma canalização aberta em concreto armado; o segundo, da av. Borges de Medeiros à av. Walter Jobim, propõe uma canalização aberta com gabiões, que são muros feitos com pedras lascadas amarrados em telas de metal; e, o terceiro, tem como objetivo a contenção das margens com enleivamento de taludes, que é a implantação de vegetação em torno da construção. Além disso, informa a Prefeitura, a obra vai oferecer habitação, pista de caminhada, ciclovia, espaço de tráfego para carrinhos de catadores e canteiro central. 
 
Fotos: Evandro Sturm (Laboratório de Fotografia e Memória)