Situada no divisor da bacia hidrográfica dos rios Vacacaí e Vacacaí-mirim, Santa Maria apresenta diversos cursos d’água dentro de seu perímetro urbano. Desenvolveu-se sem conciliar adequadamente seus córregos à sua configuração de cidade, adotando medidas como canalizações, retificações de curso ou então relegando seus arroios a meros escoamentos de esgotos e depósitos de lixo. O arroio Cadena é considerado um local onde esse crescimento desordenado passou a causar malefícios à população que ali reside.
Os moradores não querem se deslocar para outras áreas da cidade. Dona Nelci de Fátima dos Santos diz: “pra nós, a construção é ruim por que a gente não tem onde morar, com relação ao lixo eu até concordaria com a obra, mas pra nós que não temos pra onde ir é ruim, eles já largaram de mão”. Ela diz ainda que o prazo estipulado para a saída deles do local já acabou faz tempo. Segundo o termo de adesão do PAC, que ela tem em mãos, deveriam ter se mudado da área desde o dia quinze de julho, “daqui uns dias minha casa cai, tenho quatro filhos, vou morar onde, se na Oliveira que era pra gente ir não está pronto, e outra coisa: lá os banheiros são públicos, aqui eu tenho banheiro dentro de casa”.
O jornalista Tiago Machado, secretário de Comunicação da Prefeitura, diz que este transtorno é algo inexplicável. Segundo ele, a equipe do PAC fez várias reuniões com um representante de cada casa para que a construção da obra fosse explicada, mas mesmo assim os moradores continuam sem entender.
Segundo a enfermeira chefe do Programa de Saúde da Família (PSF) daquela região, Cassiane Kerkhoff, no ano passado foi necessário acionar a Vigilância Sanitária para que pudesse ser feita uma limpeza nos pátios, devido a um enorme surto de Tunga penetrans, popularmente conhecido como bicho-de-pé. Ela diz que o arroio é, sim, um fator de peso para ocorrências deste tipo, mas muito mais gritante que isto é a falta de higiene das pessoas, algo que passa de pai para filho, “não é coisa só de criança, pai e mãe não gostam de banho e as crianças também não tomam banho”.
Para compreender este tipo de atitude por parte da população, questionamos o professor da Unifra, Clovis Schimitt de Souza, mestre em Sociologia. Segundo ele, deve-se estabelecer uma discussão que diz respeito à compreensão que essas pessoas têm sobre as medidas tomadas, de que maneira este processo foi explicado para elas e, só dessa maneira podemos desmistificar o sentido simples das pessoas “gostarem de morar onde moram”. Afinal, diz ele, “ninguém mora em áreas de risco por opção”.