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Santa Maria, RS, Brazil

Roundup: comércio irregular nas agropecuárias

A venda irregular de glifosato é freqüente nas agropecuárias de algumas cidades da região central do Estado. O produto é utilizado, em especial, nas lavouras de soja, milho, arroz e pomares para controle de plantas daninhas. O uso do produto não é recomendado em áreas urbanas por sua ação maléfica à saúde, podendo causar doenças de pele e também respiratórias.

O glifosato, também conhecido como secante e no meio comercial como Roundup, é um produto que contém substâncias proibidas, causando danos ao meio ambiente e ao homem.  É um herbicida de ação total, ou seja, não seletivo, e quando aplicado, mata qualquer planta. O produto só pode ser utilizado no meio rural e sob prescrição de engenheiros agrônomos ou técnicos agrícolas. Entretanto, ele é adquirido com facilidade em agropecuárias, sem prescrição e com intuito de aplicá-lo em áreas urbanas.

A equipe visitou cerca de 10 agropecuárias nas cidades de Santa Maria e Agudo, de setembro a outubro de 2007. Chegávamos às agropecuárias na tentativa de comprar o secante. Demonstrávamos aos comerciantes a intenção de utilizar o produto em um terreno baldio localizado na zona urbana santa-mariense. A conversa com os vendedores era baseada na perspectiva de acabar com o matagal e a sujeira de um suposto terreno do Bairro Nossa Senhora das Dores, área urbana, para transformá-lo em um campo de futebol sete.

Prontamente, proprietários e funcionários das agropecuárias ofereciam o produto sem prescrição e ainda ensinavam como utilizá-lo. Alguns até ressaltavam que deveriam ser tomadas algumas precauções, como uso de botas e máscaras e que, após passar o veneno, não poderia haver contato com o local por uma semana. Mas outros sequer se preocupavam com o manuseio do produto.

Em uma agropecuária localizada na Rua Pinheiro Machado, a atendente ofereceu o serviço de um dos funcionários para passar o secante no terreno baldio que supostamente iria se transformar em campo de futebol. O funcionário questionou se havia muito mato, se havia algum tipo de lixo e se o terreno era irregular ou não. Depois de respondermos qual era o tamanho do terreno, o funcionário ressaltou que seria fácil a limpeza do local e que teríamos de aplicar o produtor logo ao amanhecer ou ao anoitecer.

Ele disse que 300 mililitros de secante misturados com 20 litros de água seriam o suficiente para a área e que não era para se preocupar, pois o agrotóxico mataria tudo. Depois, detalhou o que aconteceria, explicando que em uma semana a área ficaria amarelada, que o mato secaria e que aí poderíamos transformar num campo de futebol.

Em uma agropecuária na Rua General Neto, o funcionário também nos ofereceu o produto ao preço de R$ 20,00 e não exigiu prescrição alguma. Em outro estabelecimento na Rua Venâncio Aires, novamente conseguimos o produto. Durante a aquisição do secante, o vendedor deu dicas de como manejar o produto no terreno.

Na Avenida Nossa Senhora das Dores, a equipe também foi à busca de secante e mais uma vez teve êxito. Assim como nas demais agropecuárias visitadas.  
 
 
  
Produto só pode ser vendido com prescrição

 
Para ser efetuada a aquisição do produto, o comprador precisa ser produtor rural, ter talão de produtor, conhecido também como bloco, e ser atendido por um engenheiro agrônomo. Esse profissional deve prestar assistência à propriedade e, se julgar necessário, pode prescrever o produto segundo normas determinadas para a aplicação.

Conforme o engenheiro agrônomo Clairton Petry, essas normas só existem no papel, pois o que acontece na prática é que qualquer pessoa vai até a agropecuária, chega no balcão e compra a quantidade que quer sem receita alguma.

De acordo com o engenheiro agrônomo e professor de engenharia ambiental do Centro Universitário Franciscano (Unifra), Galileo Adeli Buriol, no solo, os herbicidas se diluem com a água. Isso ocorre tanto no escoamento superficial, como na drenagem profunda, havendo risco de contaminação da água de rios e arroios. Num segundo caso, explica o professor, até mesmo as águas do lençol freático podem ser atingidas, o que é tóxico aos homens e aos animais.
 
 
 
Prefeitura de Agudo adota o secante ecológico
 
Há alguns anos, a prefeitura de Agudo adotava o Roundup para acabar com ervas daninhas no centro da cidade. Entretanto, nos últimos dois anos, faz uso de um tipo de secante ecologicamente correto, feito à base de extratos vegetais.

Porém, o secante ecológico que a prefeitura utiliza custa caro, acima do orçamento destinado para este setor. Com isso, passou-se a utilizar um outro tipo de secante ecológico, mas que ainda não está registrado no Ministério da Agricultura, como informa a bióloga e fiscal do Meio Ambiente da Prefeitura, Cláudia Bernardini.

O Departamento de Meio Ambiente do município entrou em contato com a Promotoria da cidade para informar da situação. Em função da não regulamentação, a promotora determinou que a prefeitura deixasse de usar o produto até que este fosse regularizado.
 
 
 
Saiba mais sobre o secante:
 
Capina química é como é chamado o uso de secante em área urbana.
Glifosato é o nome científico do agrotóxico.
O Ministério da Agricultura é o órgão responsável pela fiscalização do uso do produto dentro de áreas urbanas.Também é responsável pelo uso irregular do produto.
O secante pode causar câncer.
O produto causa modificação no microclima do solo. Ou mata tudo, ou modifica as estruturas do solo consideravelmente.

Conforme lei federal 9.605, que trata de atividades lesivas ao meio ambiente, aplicar irregularmente o agrotóxico, pode levar o indivíduo a cumprir pena de um a quatro anos de prisão.

* Matérias produzidas na disciplina de Jornalismo Especializado III, no segundo semestre de 2007, orientadas pela professora Viviane Borelli. 

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A venda irregular de glifosato é freqüente nas agropecuárias de algumas cidades da região central do Estado. O produto é utilizado, em especial, nas lavouras de soja, milho, arroz e pomares para controle de plantas daninhas. O uso do produto não é recomendado em áreas urbanas por sua ação maléfica à saúde, podendo causar doenças de pele e também respiratórias.

O glifosato, também conhecido como secante e no meio comercial como Roundup, é um produto que contém substâncias proibidas, causando danos ao meio ambiente e ao homem.  É um herbicida de ação total, ou seja, não seletivo, e quando aplicado, mata qualquer planta. O produto só pode ser utilizado no meio rural e sob prescrição de engenheiros agrônomos ou técnicos agrícolas. Entretanto, ele é adquirido com facilidade em agropecuárias, sem prescrição e com intuito de aplicá-lo em áreas urbanas.

A equipe visitou cerca de 10 agropecuárias nas cidades de Santa Maria e Agudo, de setembro a outubro de 2007. Chegávamos às agropecuárias na tentativa de comprar o secante. Demonstrávamos aos comerciantes a intenção de utilizar o produto em um terreno baldio localizado na zona urbana santa-mariense. A conversa com os vendedores era baseada na perspectiva de acabar com o matagal e a sujeira de um suposto terreno do Bairro Nossa Senhora das Dores, área urbana, para transformá-lo em um campo de futebol sete.

Prontamente, proprietários e funcionários das agropecuárias ofereciam o produto sem prescrição e ainda ensinavam como utilizá-lo. Alguns até ressaltavam que deveriam ser tomadas algumas precauções, como uso de botas e máscaras e que, após passar o veneno, não poderia haver contato com o local por uma semana. Mas outros sequer se preocupavam com o manuseio do produto.

Em uma agropecuária localizada na Rua Pinheiro Machado, a atendente ofereceu o serviço de um dos funcionários para passar o secante no terreno baldio que supostamente iria se transformar em campo de futebol. O funcionário questionou se havia muito mato, se havia algum tipo de lixo e se o terreno era irregular ou não. Depois de respondermos qual era o tamanho do terreno, o funcionário ressaltou que seria fácil a limpeza do local e que teríamos de aplicar o produtor logo ao amanhecer ou ao anoitecer.

Ele disse que 300 mililitros de secante misturados com 20 litros de água seriam o suficiente para a área e que não era para se preocupar, pois o agrotóxico mataria tudo. Depois, detalhou o que aconteceria, explicando que em uma semana a área ficaria amarelada, que o mato secaria e que aí poderíamos transformar num campo de futebol.

Em uma agropecuária na Rua General Neto, o funcionário também nos ofereceu o produto ao preço de R$ 20,00 e não exigiu prescrição alguma. Em outro estabelecimento na Rua Venâncio Aires, novamente conseguimos o produto. Durante a aquisição do secante, o vendedor deu dicas de como manejar o produto no terreno.

Na Avenida Nossa Senhora das Dores, a equipe também foi à busca de secante e mais uma vez teve êxito. Assim como nas demais agropecuárias visitadas.  
 
 
  
Produto só pode ser vendido com prescrição

 
Para ser efetuada a aquisição do produto, o comprador precisa ser produtor rural, ter talão de produtor, conhecido também como bloco, e ser atendido por um engenheiro agrônomo. Esse profissional deve prestar assistência à propriedade e, se julgar necessário, pode prescrever o produto segundo normas determinadas para a aplicação.

Conforme o engenheiro agrônomo Clairton Petry, essas normas só existem no papel, pois o que acontece na prática é que qualquer pessoa vai até a agropecuária, chega no balcão e compra a quantidade que quer sem receita alguma.

De acordo com o engenheiro agrônomo e professor de engenharia ambiental do Centro Universitário Franciscano (Unifra), Galileo Adeli Buriol, no solo, os herbicidas se diluem com a água. Isso ocorre tanto no escoamento superficial, como na drenagem profunda, havendo risco de contaminação da água de rios e arroios. Num segundo caso, explica o professor, até mesmo as águas do lençol freático podem ser atingidas, o que é tóxico aos homens e aos animais.
 
 
 
Prefeitura de Agudo adota o secante ecológico
 
Há alguns anos, a prefeitura de Agudo adotava o Roundup para acabar com ervas daninhas no centro da cidade. Entretanto, nos últimos dois anos, faz uso de um tipo de secante ecologicamente correto, feito à base de extratos vegetais.

Porém, o secante ecológico que a prefeitura utiliza custa caro, acima do orçamento destinado para este setor. Com isso, passou-se a utilizar um outro tipo de secante ecológico, mas que ainda não está registrado no Ministério da Agricultura, como informa a bióloga e fiscal do Meio Ambiente da Prefeitura, Cláudia Bernardini.

O Departamento de Meio Ambiente do município entrou em contato com a Promotoria da cidade para informar da situação. Em função da não regulamentação, a promotora determinou que a prefeitura deixasse de usar o produto até que este fosse regularizado.
 
 
 
Saiba mais sobre o secante:
 
Capina química é como é chamado o uso de secante em área urbana.
Glifosato é o nome científico do agrotóxico.
O Ministério da Agricultura é o órgão responsável pela fiscalização do uso do produto dentro de áreas urbanas.Também é responsável pelo uso irregular do produto.
O secante pode causar câncer.
O produto causa modificação no microclima do solo. Ou mata tudo, ou modifica as estruturas do solo consideravelmente.

Conforme lei federal 9.605, que trata de atividades lesivas ao meio ambiente, aplicar irregularmente o agrotóxico, pode levar o indivíduo a cumprir pena de um a quatro anos de prisão.

* Matérias produzidas na disciplina de Jornalismo Especializado III, no segundo semestre de 2007, orientadas pela professora Viviane Borelli.