Pessoas de diversas faixas etárias entregam panfletos por diferentes motivos. A manifestante Carla Michele Aresso, 30 anos, participa pela terceira vez de uma campanha política. O conhecimento nesse tipo de atividade faz com que sempre receba um convite para integrar uma militância. Passado o período eleitoral, Carla retorna a trabalhar como auxiliar de serviços gerais. Ela confessa não ter partido específico e escolhe defender um candidato "pela pessoa que esse representa ser".
A estudante Stephanie Rosa, 18 anos, inicia esse ano a sua participação na política e confessa passar por uma experiência divertida e diferente. A jovem conta trabalhar por ‘amor à causa’: "Estava sem fazer nada e surgiu a oportunidade. A maioria se oferece para trabalhar". A mesma opinião tem a adolescente Paula da Rosa, 18 anos, que também começa a panfletar pela primeira vez. Segundo ela, a maioria das pessoas é de voluntários, dedicados a ajudar o partido e aos que concorrem a um cargo. Paula comenta que não existe rivalidade com os membros de outros grupos políticos.
Mesmo sem uma disputa declarada, uma entrevistada que não quis ser identificada relata a existência de uma estratégia: "Dá uma olhada e oferece para a mesma pessoa que o outro entregou".
Mas nem tudo são flores para aqueles que fazem panfletagem. Por trabalharem com o público, estão sujeitos a diferentes tipos de recepção. “Tem muita gente que não está aí e bate a porta na nossa cara”, recorda Carla, que também percorre os bairros e vilas da cidade para militar. Para a autônoma Maristela Bitencourt, 35 anos, a receptividade varia. Ela assegura que mesmo sendo mal recebida deve ter educação: “Temos orientações de sermos educadas com as pessoas”.
As atividades que envolvem a distribuição de informativos variam em cada coligação. Uma equipe pode trabalhar o dia inteiro no mesmo lugar ou se organizar em turnos. Podem ser oferecidas refeições e todos dispõem de transporte. As compensações recebidas pelo trabalho não foram divulgadas. De acordo com Paula, o benefício é mensal. Já para Carla é semanal.
Panfletagem é sinal de incomodação?
Entre os que circulam pelo Calçadão Salvador Isaia e pela praça Saldanha Marinho, no centro de Santa Maria, as opiniões sobre essas abordagens são variadas. Conforme o cartonário Laurindo Lourenzi Filho, 25 anos, e o professor Flávio Madruga, 51 anos, a ação faz parte da democracia. “É um movimento democrático. Todos têm o direito de agir”, analisa Madruga. Apesar disso, ele reclama daqueles que forçam os transeuntes a pegarem um ‘santinho’.
O policial militar Dionatan Lima, 22 anos, o motorista José Ferreira, 36 anos e a empregada doméstica Carla Mariane Flores da Silva, 26 anos, concordam que a panfletagem é uma forma de se expressar e divulgar os concorrentes. “Todos ficam sabendo o que eles podem fazer pela cidade”, explana Carla.
Mesmo envolvida com a emissão de informativos, a secretária Clarissa Oliveira, 21 anos, desaprova essas propagandas nas ruas, pois contribui com a sujeira. Para evitar o acúmulo de lixo, a opção seria emitir panfletos direto nas casas, opina.
O local ocupado pelas mesas e pelos manifestantes foi criticado pela aposentada Roselaine Rocha Matos, 36 anos. Ela, que se sente incomodada, cogita a determinação de um lugar que desocupe a ponte do viaduto Evandro Behr. “Tem que colocar mais espaço, porque é pequeno”, aconselha.
A participação dos jovens chamou a atenção da professora aposentada Petrona Gomes, 82 anos. A idosa entende que faz parte da juventude agir a favor de uma causa.
Os militantes do PSOL (Partido Socialismo e Liberdade) não foram ouvidos, pois não estavam presentes no centro durante a realização dessa matéria, na manhã da última quarta-feira, dia 3.
Fotos: Evandro Sturm (Laboratório de Fotografia e Memória)