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Santa Maria, RS, Brazil

Brincadeira de gente grande

 O alcoolismo na adolescência deixou de ser um problema de cidade grande e passou a assombrar também as cidades de pequeno e médio porte. Impulsionados pela mídia, pelos amigos ou, quem sabe, pela família, os jovens, em sua maioria, começam a beber porque o ato lhes parece uma "coisa de gente grande", ou, "por estar na moda". Para a maioria da gurizada que começa a sair à noite, aqueles que não bebem estão ‘fora’ do grupo.

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Segundo o psicólogo Marcelo Garcez, 27 anos, o álcool é a droga mais aceita socialmente. É utilizada para celebrar, e também de fácil acesso. Na adolescência, os jovens costumam iniciar a vida social noturna, e o consumo de álcool é incentivado, e é relacionado com diferentes símbolos, dentre eles, pode-se citar a entrada na vida adulta, a utilização da bebida como objeto para dar conta de uma situação de angústia, inibição ou, acabam utilizando a bebida como uma válvula escape da realidade em situações de conflito. Garcez também salienta que os motivos para o consumo de álcool podem ser os mais variados possíveis, sem ter o dever de seguir um padrão, por isso, é preciso analisar casa a caso.

 

É assustador, nos dias atuais, o elevado número de jovens que abusam do consumo de álcool, que é um agente causador freqüente de inúmeros acidentes de carro e, em conseqüência, perdas prematuras de vidas. O crescente abuso do álcool por eles também amplia ainda mais o número de dependentes deste tipo de droga.

 Para retratar este distúrbio social que ocorre em todos os âmbitos, principalmente em todas as idades, a Agência Centra Sul de Notícias flagrou quatro jovens com menos de 18 anos comprando bebidas alcoólicas em um local da região centro de Santa Maria, que é conhecido por reunir jovens e adultos.

Nos bares e distribuidoras de bebidas das ruas Doutor Bozano e Duque de Caxias, nas duas ocasiões em que a equipe da Centra Sul esteve por lá, o convívio de jovens consumindo bebidas ultrapassava 120 pessoas.

 

 No final da quente tarde do dia 29 de outubro, o jovem Márcio, de 17 anos, foi junto com outros três menores, Lauro, 14, Pedro e Vagner, ambos com 17, a um distribuidor de bebidas e em dois bares em um entorno que é muito freqüentado pelo público jovem, principalmente, em épocas que antecedem a temporada de vestibulares, de inverno e verão.

 

Para surpresa (ou não) de muita gente que estava em volta, um garoto, com ares de criança e espinhas no rosto, pediu uma cerveja, e prontamente o vendedor disse:

– “Como tu quer levar? Copão (copo grande) ou em dois copos?”

– “Em dois copos”, respondeu Márcio.

– “Certo. São R$ 2,40”, disse o vendedor.

É difícil de aceitar, mas é fácil de conseguir. E é desta forma que Márcio e muitos adolescentes acabam adentrando nesse perverso mundo do alcoolismo. Magricelo e alto, com ares e voz de criança, Lauro, de 14 anos, conta que a primeira vez que bebeu tinha apenas 12 anos. Os outros jovens que com 14 ou 15 anos tomaram o primeiro gole, se assustam e indagam do pré-adolescente:

– “Mas é muito novo, meu! Onde foi?”

– “Pois é, eu andava com amigos mais velhos e acabei pedindo um dia. Depois bebia em festas. Mas sempre escondido”, conta Lauro.

O detalhe é que ele continua convivendo com amigos mais velhos. Só que isto é um problema à parte do enfoque principal. O que a equipe de reportagem buscava era saber o que poderia ser feito para solucionar este problema. A demanda de denúncias que chegam aos órgãos competentes (Ministérios da Educação e da Saúde) e o acúmulo de serviços são maiores que o quórum de funcionários e, i
nfelizmente, como na maioria dos problemas sociais, há problema demais e pessoas empenhadas em combatê-los, de menos.

No outro dia, no entardecer do dia 5 de novembro, enquanto Lauro foi tentar comprar bebida, um dos meninos contava que ele (Lauro) estava ali, apenas porque um dos guris iria à casa dele para pedir que ele saísse com eles, num baile de formatura de uma escola de Ensino Médio de Santa Maria. Onde, segundo eles, “Lá ‘todo’ mundo bebe. E o Lauro também consegue”.

Os outros dois menores, ambos de 17 anos, que também foram aos locais comprar bebida, tiveram a mesma facilidade de Márcio. Segundo Lauro, que mora em um bairro nobre da cidade, “Lá (no bairro onde mora) é barbada. Compro em distribuidor e em postos (de gasolina, nas lojas de conveniência). Hoje que não deu. Ele (vendedor) me pediu a identidade e daí tive que dizer que não tinha”.

A venda de bebida para menores de 18 anos é proibida pelo Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA). Porém, para muitos advogados, o artigo 243 do ECA por vezes gera dúvidas na sua interpretação. A advogada Marina Callegaro explica que isso se deve ao fato do artigo ser mais amplo do que parece ser. Mas Marina salienta o fato de que não é por isso que os estabelecimentos ficam sem a punição: “Muito embora, levando em conta estes fatores, não é difícil ver condenações de pessoas com base no disposto no artigo 243 do, por venda de bebidas alcoólicas a menores de 18 anos”.

Conforme Marina, no Estatuto não está especificado o tipo de droga, apenas “produtos cujos componentes possam causar dependência física ou psíquica’’, o que torna ampla a abrangência do artigo. Ela ainda ressalta que todos comerciantes que vendem, fornecem ou entregam bebida alcoólica a crianças e adolescentes, devem ser responsabilizados e as multas variam conforme a cidade. Marina salienta para o fato de que o Ministério Público do Estado mantém-se sempre em mobilização, conscientização, educação e, quando necessário, na repressão às condutas agressivas aos interesses e direitos das crianças e dos adolescentes. “As leis já existem, o que falta é colocá-las em vigor”, diz Marina.

 

Veja o que alguns donos de bar e distribuidor de bebidas falam:

Brahma – O proprietário não se encontrava e os funcionários alegaram que não eram autorizados a falar sobre o assunto

Jack Lanches – A dona do estabelecimento com um ano e meio de funcionamento, Shana Zago, disse que a freqüência com que menores de 18 anos tentam comprar bebidas alcoólicas e cigarros é cada vez maior. Segundo ela, os funcionários são orientados a não vender. Ela salienta que não vendem bebidas a menores e quando desconfiam da idade, exigem documento. Questionada sobre a lei a respeito do assunto, “acho que dá multa, mas não sei de quanto”, disse.

Hot dog.com Ice Beer – O dono Marcos Soccal de Mello, que tem o estabelecimento há um ano, afirmou que menores tentam comprar bebidas praticamente todos os dias. Mas se ele desconfiar pede documento, se não tiver, não vende. Mello conta que geralmente quando é recusada a venda, eles (menores) conseguem alguém maior de idade para comprar. Quanto à hipótese de haver bares na cidade que não regulam esse tipo de venda, Mello desconversou, disse que não sabia. Sobre as conseqüências, Mello conta que por achar errado e ser proibido por lei, não vende e também orienta o funcionário que trabalha lá, a não vender. Mas não tem conhecimento sobre as penalidades.

Segundo dados do Governo Federal, disponíveis no portal da saúde (www.saude.gov.br), os números do consumo da bebida alcoólica na adolescência são alarmantes. O álcool é a droga mais consumida no Brasil, e é a que tem o maior número de dependentes, chegando a 5,2% da população adolescente. A droga causa dependência, pois reforça o seu próprio consumopor meio da ativação de uma parte no cérebro, que ativa o que é recompensável, ou não. E então, quanto mais o jovem bebe, mais ele quer beber. E o consumo repetido, induz à tolerância, o que significa que a quantidade necessária para produzir o efeito desejado tem que serprogressivamente aumentado, dia após dia. Trago após trago. Esse consumo diário, ou pelo menos, frequente, provoca lesões nos órgãos vitais, principalmente estômago, fígado e cérebro, o que explica o baixo rendimento escolar de muitos jovens.

Conforme dados da ONG paranaense Alcoolismo – Dê a volta por cima, que luta há dez anos contra o álcool, 65% dos estudantes de escolas particulares entre 15 e 18 anos tomam bebidas alcoólicas;  9% bebem mais de 20 vezes por mês; e infelizmente, o primeiro gole acontece aos 10 anos, em média, enquanto na década passada o contato inicial com o álcool era aos 14 anos. Hoje, mais de 15 milhões de estudantes brasileiros do ensino fundamental e médio bebem com freqüência.

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 O alcoolismo na adolescência deixou de ser um problema de cidade grande e passou a assombrar também as cidades de pequeno e médio porte. Impulsionados pela mídia, pelos amigos ou, quem sabe, pela família, os jovens, em sua maioria, começam a beber porque o ato lhes parece uma "coisa de gente grande", ou, "por estar na moda". Para a maioria da gurizada que começa a sair à noite, aqueles que não bebem estão ‘fora’ do grupo.

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É assustador, nos dias atuais, o elevado número de jovens que abusam do consumo de álcool, que é um agente causador freqüente de inúmeros acidentes de carro e, em conseqüência, perdas prematuras de vidas. O crescente abuso do álcool por eles também amplia ainda mais o número de dependentes deste tipo de droga.

 Para retratar este distúrbio social que ocorre em todos os âmbitos, principalmente em todas as idades, a Agência Centra Sul de Notícias flagrou quatro jovens com menos de 18 anos comprando bebidas alcoólicas em um local da região centro de Santa Maria, que é conhecido por reunir jovens e adultos.

Nos bares e distribuidoras de bebidas das ruas Doutor Bozano e Duque de Caxias, nas duas ocasiões em que a equipe da Centra Sul esteve por lá, o convívio de jovens consumindo bebidas ultrapassava 120 pessoas.

 

 No final da quente tarde do dia 29 de outubro, o jovem Márcio, de 17 anos, foi junto com outros três menores, Lauro, 14, Pedro e Vagner, ambos com 17, a um distribuidor de bebidas e em dois bares em um entorno que é muito freqüentado pelo público jovem, principalmente, em épocas que antecedem a temporada de vestibulares, de inverno e verão.

 

Para surpresa (ou não) de muita gente que estava em volta, um garoto, com ares de criança e espinhas no rosto, pediu uma cerveja, e prontamente o vendedor disse:

– “Como tu quer levar? Copão (copo grande) ou em dois copos?”

– “Em dois copos”, respondeu Márcio.

– “Certo. São R$ 2,40”, disse o vendedor.

É difícil de aceitar, mas é fácil de conseguir. E é desta forma que Márcio e muitos adolescentes acabam adentrando nesse perverso mundo do alcoolismo. Magricelo e alto, com ares e voz de criança, Lauro, de 14 anos, conta que a primeira vez que bebeu tinha apenas 12 anos. Os outros jovens que com 14 ou 15 anos tomaram o primeiro gole, se assustam e indagam do pré-adolescente:

– “Mas é muito novo, meu! Onde foi?”

– “Pois é, eu andava com amigos mais velhos e acabei pedindo um dia. Depois bebia em festas. Mas sempre escondido”, conta Lauro.

O detalhe é que ele continua convivendo com amigos mais velhos. Só que isto é um problema à parte do enfoque principal. O que a equipe de reportagem buscava era saber o que poderia ser feito para solucionar este problema. A demanda de denúncias que chegam aos órgãos competentes (Ministérios da Educação e da Saúde) e o acúmulo de serviços são maiores que o quórum de funcionários e, i
nfelizmente, como na maioria dos problemas sociais, há problema demais e pessoas empenhadas em combatê-los, de menos.

No outro dia, no entardecer do dia 5 de novembro, enquanto Lauro foi tentar comprar bebida, um dos meninos contava que ele (Lauro) estava ali, apenas porque um dos guris iria à casa dele para pedir que ele saísse com eles, num baile de formatura de uma escola de Ensino Médio de Santa Maria. Onde, segundo eles, “Lá ‘todo’ mundo bebe. E o Lauro também consegue”.

Os outros dois menores, ambos de 17 anos, que também foram aos locais comprar bebida, tiveram a mesma facilidade de Márcio. Segundo Lauro, que mora em um bairro nobre da cidade, “Lá (no bairro onde mora) é barbada. Compro em distribuidor e em postos (de gasolina, nas lojas de conveniência). Hoje que não deu. Ele (vendedor) me pediu a identidade e daí tive que dizer que não tinha”.

A venda de bebida para menores de 18 anos é proibida pelo Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA). Porém, para muitos advogados, o artigo 243 do ECA por vezes gera dúvidas na sua interpretação. A advogada Marina Callegaro explica que isso se deve ao fato do artigo ser mais amplo do que parece ser. Mas Marina salienta o fato de que não é por isso que os estabelecimentos ficam sem a punição: “Muito embora, levando em conta estes fatores, não é difícil ver condenações de pessoas com base no disposto no artigo 243 do, por venda de bebidas alcoólicas a menores de 18 anos”.

Conforme Marina, no Estatuto não está especificado o tipo de droga, apenas “produtos cujos componentes possam causar dependência física ou psíquica’’, o que torna ampla a abrangência do artigo. Ela ainda ressalta que todos comerciantes que vendem, fornecem ou entregam bebida alcoólica a crianças e adolescentes, devem ser responsabilizados e as multas variam conforme a cidade. Marina salienta para o fato de que o Ministério Público do Estado mantém-se sempre em mobilização, conscientização, educação e, quando necessário, na repressão às condutas agressivas aos interesses e direitos das crianças e dos adolescentes. “As leis já existem, o que falta é colocá-las em vigor”, diz Marina.

 

Veja o que alguns donos de bar e distribuidor de bebidas falam:

Brahma – O proprietário não se encontrava e os funcionários alegaram que não eram autorizados a falar sobre o assunto

Jack Lanches – A dona do estabelecimento com um ano e meio de funcionamento, Shana Zago, disse que a freqüência com que menores de 18 anos tentam comprar bebidas alcoólicas e cigarros é cada vez maior. Segundo ela, os funcionários são orientados a não vender. Ela salienta que não vendem bebidas a menores e quando desconfiam da idade, exigem documento. Questionada sobre a lei a respeito do assunto, “acho que dá multa, mas não sei de quanto”, disse.

Hot dog.com Ice Beer – O dono Marcos Soccal de Mello, que tem o estabelecimento há um ano, afirmou que menores tentam comprar bebidas praticamente todos os dias. Mas se ele desconfiar pede documento, se não tiver, não vende. Mello conta que geralmente quando é recusada a venda, eles (menores) conseguem alguém maior de idade para comprar. Quanto à hipótese de haver bares na cidade que não regulam esse tipo de venda, Mello desconversou, disse que não sabia. Sobre as conseqüências, Mello conta que por achar errado e ser proibido por lei, não vende e também orienta o funcionário que trabalha lá, a não vender. Mas não tem conhecimento sobre as penalidades.

Segundo dados do Governo Federal, disponíveis no portal da saúde (www.saude.gov.br), os números do consumo da bebida alcoólica na adolescência são alarmantes. O álcool é a droga mais consumida no Brasil, e é a que tem o maior número de dependentes, chegando a 5,2% da população adolescente. A droga causa dependência, pois reforça o seu próprio consumopor meio da ativação de uma parte no cérebro, que ativa o que é recompensável, ou não. E então, quanto mais o jovem bebe, mais ele quer beber. E o consumo repetido, induz à tolerância, o que significa que a quantidade necessária para produzir o efeito desejado tem que serprogressivamente aumentado, dia após dia. Trago após trago. Esse consumo diário, ou pelo menos, frequente, provoca lesões nos órgãos vitais, principalmente estômago, fígado e cérebro, o que explica o baixo rendimento escolar de muitos jovens.

Conforme dados da ONG paranaense Alcoolismo – Dê a volta por cima, que luta há dez anos contra o álcool, 65% dos estudantes de escolas particulares entre 15 e 18 anos tomam bebidas alcoólicas;  9% bebem mais de 20 vezes por mês; e infelizmente, o primeiro gole acontece aos 10 anos, em média, enquanto na década passada o contato inicial com o álcool era aos 14 anos. Hoje, mais de 15 milhões de estudantes brasileiros do ensino fundamental e médio bebem com freqüência.