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Literatura Infantil e Ideologia em bate-papo na Feira do Livro

 
A Feira do Livro de Santa Maria recebeu nesta segunda, 27 de abril, a escritora Maria Rita Py Dutra para um bate-papo sobre Literatura Infantil e Ideologia, com a professora e jornalista Sione Gomes. Autora da coleção “Vó Preta” de livros infantis, que, entre outros, tematiza o preconceito contra as crianças negras, Maria Rita foi patrona da Feira do Livro Infantil de 2005.

Durante o bate-papo, a escritora explicou o conceito de ideologia e como esta age no inconsciente coletivo da população. Utilizando vários exemplos, principalmente trechos extraídos das obras de Monteiro Lobato, Maria Rita expôs o argumento de que os livros clássicos infantis acabaram, de uma forma ou de outra, contribuindo para a consolidação de uma ideologia que discrimina racial e socialmente as pessoas.

Um exemplo que a autora utilizou: "No livro Reinações de Narizinho, de Monteiro Lobato, quando Pedrinho está no topo da árvore comendo uma fruta e fala que esta é de lamber os ‘beiços’, Emília recrimina-o dizendo que quem tem ‘beiço’ é boi. Entretanto, durante toda a obra, o autor faz inúmeras referências aos ‘beiços’ de tia Nastácia – a serviçal doméstica negra da Dona Benta”.

 

 Para Maria Rita, é preciso que façamos uma releitura crítica das obras infantis que nos foram legadas. “Não precisamos queimar livros, até porque isso é coisa da Idade Média. Muito menos proibí-los. Devemos fazer leituras acompanhadas e é aí que entra a figura do professor. É de grande importância que os professores saibam comentar as obras com os alunos e explicar-lhes sobre o período em que foram escritas”.

 Outro aspecto da literatura infantil que foi tratado na conversa é a chamada infantilização. “A nossa literatura infantiliza, ou seja, não atende aos interesses reais das crianças. É uma literatura pobre, no sentido de contribuição para a conscientização e valorização da memória – em especial dos negros e dos povos indígenas”, explicou a escritora.

 

Num tempo onde a informação chega mais rápido a cada dia, as crianças não ficaram para trás. Hoje, elas aprendem tudo em alta velocidade e necessitam, cada vez mais, estarem bem informadas. Segundo Maria Rita, “as crianças hoje com 9, 10 anos, sabem muito mais sobre o mundo do que as gerações de seus pais e avós sabiam quando tinham a mesma idade. Elas estão mais maduras e podem, perfeitamente, entender a realidade em que vivem”.

 

Longe de considerar a obra de Monteiro Lobato racista, Maria Rita pede-nos que tenhamos o discernimento de considerar o período histórico em que foram escritos. Assim como os livros de Hans Christian Andersen (O soldadinho de chumbo e A pequena sereia) refletem o imaginário popular europeu do século XVII, as histórias de Lobato espelham o momento histórico do Brasil do século XVIII. “A tarefa de conscientizar nossas crianças da sua história e identidade cultural está toda nos ombros dos professores. São eles que devem incentivar os jovens à leitura e à escrita para que cultivem sua memória e nunca se esqueçam de suas origens”, completou a autora.

 

Fotos: Carolina Ribeiro (Laboratório de Fotografia e Memória)

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A Feira do Livro de Santa Maria recebeu nesta segunda, 27 de abril, a escritora Maria Rita Py Dutra para um bate-papo sobre Literatura Infantil e Ideologia, com a professora e jornalista Sione Gomes. Autora da coleção “Vó Preta” de livros infantis, que, entre outros, tematiza o preconceito contra as crianças negras, Maria Rita foi patrona da Feira do Livro Infantil de 2005.

Durante o bate-papo, a escritora explicou o conceito de ideologia e como esta age no inconsciente coletivo da população. Utilizando vários exemplos, principalmente trechos extraídos das obras de Monteiro Lobato, Maria Rita expôs o argumento de que os livros clássicos infantis acabaram, de uma forma ou de outra, contribuindo para a consolidação de uma ideologia que discrimina racial e socialmente as pessoas.

Um exemplo que a autora utilizou: "No livro Reinações de Narizinho, de Monteiro Lobato, quando Pedrinho está no topo da árvore comendo uma fruta e fala que esta é de lamber os ‘beiços’, Emília recrimina-o dizendo que quem tem ‘beiço’ é boi. Entretanto, durante toda a obra, o autor faz inúmeras referências aos ‘beiços’ de tia Nastácia – a serviçal doméstica negra da Dona Benta”.

 

 Para Maria Rita, é preciso que façamos uma releitura crítica das obras infantis que nos foram legadas. “Não precisamos queimar livros, até porque isso é coisa da Idade Média. Muito menos proibí-los. Devemos fazer leituras acompanhadas e é aí que entra a figura do professor. É de grande importância que os professores saibam comentar as obras com os alunos e explicar-lhes sobre o período em que foram escritas”.

 Outro aspecto da literatura infantil que foi tratado na conversa é a chamada infantilização. “A nossa literatura infantiliza, ou seja, não atende aos interesses reais das crianças. É uma literatura pobre, no sentido de contribuição para a conscientização e valorização da memória – em especial dos negros e dos povos indígenas”, explicou a escritora.

 

Num tempo onde a informação chega mais rápido a cada dia, as crianças não ficaram para trás. Hoje, elas aprendem tudo em alta velocidade e necessitam, cada vez mais, estarem bem informadas. Segundo Maria Rita, “as crianças hoje com 9, 10 anos, sabem muito mais sobre o mundo do que as gerações de seus pais e avós sabiam quando tinham a mesma idade. Elas estão mais maduras e podem, perfeitamente, entender a realidade em que vivem”.

 

Longe de considerar a obra de Monteiro Lobato racista, Maria Rita pede-nos que tenhamos o discernimento de considerar o período histórico em que foram escritos. Assim como os livros de Hans Christian Andersen (O soldadinho de chumbo e A pequena sereia) refletem o imaginário popular europeu do século XVII, as histórias de Lobato espelham o momento histórico do Brasil do século XVIII. “A tarefa de conscientizar nossas crianças da sua história e identidade cultural está toda nos ombros dos professores. São eles que devem incentivar os jovens à leitura e à escrita para que cultivem sua memória e nunca se esqueçam de suas origens”, completou a autora.

 

Fotos: Carolina Ribeiro (Laboratório de Fotografia e Memória)