"Chora a nossa
pátria mãe gentil / Choram Marias e Clarices no solo do Brasil. Mas sei
que uma dor assim pungente não há de ser inutilmente…". A letra de João
Bosco, de O Bêbado e a Equilibrista, retrata o sofrimento de familiares
de desaparecidos ao longo da ditadura. O lançamento da 2ª edição do
livro Dossiê Ditadura – Mortos e Desaparecidos Políticos no Brasil, trouxe à tona lembranças de uma época que muita gente preferiria esquecer.
Ontem, os departamentos de História da UFSM e UFRGS e
a Comissão de Cidadania e Direitos Humanos da Assembléia Legislativa do
RS promoveram o debate/lançamento da 2ª edição do livro. O lançamento
ocorreu na Seção Sindical dos Docentes da UFSM (Sedufsm).
O
debate teve a coordenação do professor do Departamento de História da
UFRGS, Enrique Padrós e do chefe do Departamento de História da UFSM, prof. Diorge Konrad. "Essa
luta constante significa trazer à tona a memória e mostrar que ela
persiste diante de uma série de problemas", comenta Enrique Padrós.
A guerrilheira Criméia de Almeida, que esteve na Guerrilha do Araguaia, e Suzana Lisboa, mulher de Luiz Eurico Lisboa (político desaparecido e irmão de Nei Lisboa), são co-autoras do livro, que reúne pesquisas e depoimentos de familiares dos desaparecidos na ditadura.
Suzana explica
que a comissão dos familiares dos desaparecidos se constituiu
naturalmente, quando se encontravam nos corredores policiais e quartéis
à procura de seus parentes.
"Queremos
a aplicação da Lei da Anistia. Não somos revanchistas, apenas queremos
a verdade e a justiça", esclarece Suzana Lisboa. Segundo ela, até hoje
os familiares não sabem como e onde foram mortos os ‘desaparecidos’, em
quais circunstâncias e quais os responsáveis pela morte. "Nosso
objetivo é que os corpos sejam entregues aos familiares e que haja a punição dos responsáveis. Mas até hoje, não conseguimos isso", revela.
Criméia de
Almeida, ex-guerrilheira e também mulher de político desaparecido,
comenta que no decorrer das buscas por pistas de seus familiares,
conseguiram entrar nos arquivos do DOPS e de IMLs. Ao revirar gavetas,
encontravam fotos dos seus parentes torturados, quando a explicação
para suas mortes era de suicídio.
"Sabemos
que estão fora desse livro grande parte dos brasileiros que foram
assassinados pela ditadura", comenta Criméia. A primeira edição do
livro foi feita em 1984. Após o término da segunda edição, outros casos
ainda surgiram. "Essa é a história da nossa busca. E não é a história
final, infelizmente", conclui a ex-guerrilheira.