Como Santayana, nos dois últimos parágrafos do artigo, estou preocupado com o Estado policial em que vem se tornando o Estado brasileiro. Seu fortalecimento escancarado é consequência imediata, que tende a concretizar-se a médio prazo, das ações e reações da chamada "Guerra do Rio".
Estou longe, momentaneamente, da cidade em que nasci e não encontro nas informações correntes, inclusive aqui, dados que me permitam avaliar a situação. Quase todas as notícias veiculadas pelas grande imprensa (porta-voz oficial das classes e grupos dominante), independente e redes sociais, repousam nos informes oficiais e oficiosos, sobretudo da polícia.
Como velho repórter, desconfio de batalhas em que só morrem inimigos do Estado, ainda mais quando a eles é atribuído o início das escaramuças, com atentados a uma maioria de veículos civis e a uns poucos veículos e cabines policiais.
Um jornalista paulistano lembrava ontem, num dos canais da Globo, que os ataques do PCC em São Paulo foram mais abrangentes, organizados e se dirigiram, fundamentalmente, a prédios e veículos policiais e governamentais e a bancos. Advertiu que os incidentes do Rio estão sendo magnificados pelos alto-falantes dos meios de comunicação tradicionais e pelas redes sociais.
Ora, uma pergunta que incomoda meu consciente de repórter é: por que, depois de um longo período de intercâmbio com o PCC, o Comando Vermelho faria ações menos organizadas e mais espontaneistas que as do seu aliado paulista, quando, em outros momentos, inclusive na sua fundação como Falange Vermelha, demonstraram ser capazes de aprender com os outros, naquele então, com os políticos? As declarações oficiais, não corroboradas por repórteres investigativos, mas por sociólogos de plantão, falam em uma aliança entre o CV e os ADA (Amigos dos Amigos). A grande imprensa e os comentários nas redes sociais parecem aceitá-la como verdade. Mas não há confirmação vinda de fonte independente.
Paralelamente, só houve combates de fato quando as forças de repressão do estado entraram nas favelas, "território inimigo". Não vi uma só notícia sobre combates (não falo de tiroteios isolados entre os bandidos fugitivos, que podem ou não ser parte das "facções" citadas e policiais perseguidores) nas ruas, no território dominado pelas forças do Estado. Mas os resultados estratégicos para o fortalecimento do Estado policial-militar já se fazem sentir, às vésperas da posse de uma presidente cujo passado se identifica com a luta político-militar contra tal Estado.
As FFAA já estão nas ruas, o Ministro da Justiça manda a PF reforçar a repressão no Estado, os principais chefes presos das quadrilhas dos "sem-colarinhos" foram transferidos para Porto Velho e Catanduvas, sob o pretexto que a ordem das ações veio deles (mais uma vez só quem tem "provas disso" são representantes das forças policiais). A cidade do Rio está ocupada. Tudo isto a um alto custo que fez calar os mais ativos manifestantes contra a cobrança de impostos e o aumento dos gastos dos governos. Gastar no aparelho policial-militar, pode; no combate à fome, na saúde e na educação, não pode.
E os traficantes só perderam, nada ganharam com as ações que teriam desencadeado. Será que eles são tão burros assim? Eu gostaria que alguém, com informações concretas e independentes, me esclarecesse.