O terceiro programa da série “É bom pra Quê” do Fantástico sobre o uso de plantas medicinais foi bom para mostrar o que a Política Nacional de Plantas Medicinais e Fitoterápicos, com suas diretrizes, busca resolver. Nesse domingo, o médico-repórter Dráuzio Varella mostrou a manipulação e dispensação de uma preparação com extrato de graviola, por um professor da Universidade Estadual do Maranhão, químico, que relata conhecer as propriedades e uso medicinal da fruta e diagnostica, manipula, orienta e aplica a “pomada” em doentes que o procuram.
Ora, o programa desse domingo (12) mostrou o indefensável. Não na possibilidade da graviola ter propriedades medicinais, e é ampla a literatura científica sobre suas possibilidades, incluindo achados de toxicidade, mas na conduta do professor universitário, que deixou a desejar por extrapolar nas suas funções e âmbito profissional, e até na linguagem.
No alvo de depreciar o empenho pelos esforços governamentais em implantar a Fitoterapia no SUS, através de políticas claras, amplas, demandadas pela população, pelo meio acadêmico e inclusive pela indústria farmacêutica nacional, a apelação do Fantástico foi evidente. Talvez os produtores e apresentador do programa tenham sentido, nessas últimas semanas, a força do movimento pela Fitoterapia em toda a sua abrangência e complexidade, que justamente quer o esclarecimento, a pesquisa, o aproveitamento de nossa biodiversidade e a humanização e ampliação do conhecimento médico-farmacêutico, buscando resgatar o natural.
A necessidade de pesquisa em todas as possibilidades de utilização da planta, desde o aproveitamento da biodiversidade para novos medicamentos à validação das preparações tradicionais, contando com conhecimento de todas as áreas e ainda de forma integrada e sem subestimar o conhecimento empírico. Isso fica claro para aqueles que a acompanham e a respeitam como uma política construída pela sociedade, com representações do movimento social, da academia, dos gestores de saúde, incluindo grandes nomes da pesquisa brasileira.
Apela o programa, quando usando da entrevista consentida do professor, direta e detalhada, o coloca como réu. Apela também quando expõe usuários em situações dramáticas e carentes de atenção, expondo suas feridas e sua intimidade. E apela o apresentador, ainda, quando mostra a pesquisa que exclui e não a pesquisa que revela e valida possibilidades das plantas e orienta sobre o seu uso. No mínimo o programa nos deve o contraditório, o debate amplo, sem preconceito e sem parcialidade, deixando a pergunta que não quer calar: qual o real interesse?
Silvia Czermainski é farmacêutica e bioquímica, e presidente da Comissão Assessora de Fitoterápicos do Conselho Regional de Farmácia