A vida moderna e o custo financeiro para mantê-la fizeram com que a estrutura familiar se modificasse. Com isso, a antiga ideia de o pai trabalhar fora e a mãe ficar em casa, para cuidar das crianças, deixou de ser uma verdade absoluta na sociedade. Hoje, ambos precisam trabalhar para garantir o sustento e a educação de seus filhos. Dessa forma, foram surgindo as creches, que com o tempo deixaram de ser um espaço de integração e diversão infantil, e se tornaram um centro de educação para as crianças tanto no aspecto moral e social quanto didático.
Educar uma criança consiste em um ato de amor e dedicação. É o que defendem os pedagogos. Porém, nossa equipe de reportagem recebeu denúncias anônimas de maus tratos em creches particulares de Santa Maria e foi conferir o que realmente acontecia. Conforme o relato, nossa equipe foi atrás a fim de checar os fatos. Entre as acusações, a fonte afirmou que crianças eram postas de castigo em um quarto escuro, quando desobedeciam as regras de convivência de tais creches.
Nossa equipe procurou as duas instituições referidas, infiltrando-se para obter informações. No entanto, durante o período em que estivemos lá, não percebemos situações violentas ou humilhantes contra os pequenos. Ao todo foram duas visitas a cada creche. Momentos em que nos revezamos para que não houvesse desconfiança por parte das proprietárias. Quando questionadas sobre a aplicação de castigo, as entrevistadas negaram usar o termo, e sim retiravam a criança do grande grupo e a mantinham isolada, porém na mesma sala dos demais. E, geralmente, após 2 ou 3 minutos, questionavam o pequeno sobre os motivos de ele estar ali. Ele só sairia do castigo depois de responder. Elas acreditam que assim a criança aprende o certo e o errado.
Mas, será que a linguagem das “tias” e dos pais é a mesma?
O assunto provocou nossa equipe. Verificamos em outras creches, como são dirigidas essas ações punitivas e educacionais. Entre elas, visitamos a Brotoeja Espaço Criança que atua em Santa Maria há 24 anos, e atualmente atende cerca de 70 crianças. Para isso, conta com o apoio de 16 funcionários que se distribuem em atividades separadas por faixa etária.
De acordo com o depoimento do proprietário José Carlos Pinto, estas funcionárias tem curso de Magistério ou Pedagogia, que as prepara para o convívio com os pequenos.
As salas comportam até 14 crianças. Quanto menor a criança, maior o número de funcionários envolvidos. A distribuição é feita da seguinte forma:
Idade das crianças |
Crianças por sala |
Funcionários por sala |
1 a 2 anos |
12 a 14 |
2 |
2 a 3 anos |
2 |
|
3 a 4 anos |
2 |
|
4 a 5 anos |
1 |
|
5 a 6 anos |
1 |
Para a creche Brotoeja é importante que uma funcionária recém-chegada não fique sozinha em uma sala, mas, sim, com outra professora que esteja há mais tempo – até que se acostume com as crianças e a rotina da creche.
De acordo com o administrador, as iniciativas disciplinares são tomadas sempre com o conhecimento e consentimento dos pais. E, muitas vezes, a queixa vem de casa e a creche entra como uma alternativa de resolução para o problema.
Na Escola Infantil Lua de Cristal, que também selecionamos aleatoriamente para visitar, os pais são avisados toda vez que é preciso chamar atenção da criança. Em determinados casos os responsáveis decidem tirar da criança algum privilégio pela má atitude. Segundo Carmem França da Silva, pedagoga da escolinha, esta situação é válida desde que a criança saiba o porquê está perdendo o direito. Ouça, o depoimento da arquiteta Mariane Dacas, que utiliza esse método para educar seu filho Henrique, 4 anos.
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A professora Renata Mello, atuante na área há 10 anos, explica que entre as “tias” e as crianças existem acordos, e em caso de desobediência a medida é conversar com os pequenos, e a palavra castigo nem é mencionada. “A melhor opção é questionar a criança pela atitude”, ressalva a pedagoga Carmem.
A professora Denise Flores, de 32 anos, afirma nunca ter usado violência física contra a filha Ana Luisa, de um ano. Confira o depoimento no link abaixo.
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As professoras falam ainda sobre as regras. “Todas as crianças são informadas sobre as regras de cada sala. Principalmente as mais novas na escola, e até as próprias crianças cobram umas das outras”, esclarece Carmem. O que se observa neste ponto é que as crianças tomam atitudes de adultos. O que exemplifica o conceito de adultocentrismo.
“A sociedade em que vivemos é adultocêntrica”, descreve a psicóloga Fernanda Jaeger. Segundo a psicóloga, a sociedade não oferece subsídios suficientes na formação das crianças. Ela direciona suas políticas para a faixa etária adulta, e deixa as crianças desamparadas. Não só a sociedade é negligente, mas os pais também. Deixar um filho, menor de três anos em creche, por exemplo, é negligência. Pois, segundo ela, a criança ainda não aprendeu a se expressar verbalmente, e necessita de cuidados mais específicos como dos pais e/ou familiares.
Apesar dos conselhos dos educadores, a maioria das escolas cria as próprias regras ignorando as ponderações da pedagogia. A pedagoga Carmem França da Silva, da Escola Infantil Lua de Cristal, trata seus alunos como adultos. “A gente senta junto. Eu utilizo assim o olho no olho, faço eles olharem no meu olho e trato de igual para igual. É um adulto que nem eu” revela Carmem.
Flávia Porto Pereira, 28 anos, é professora de creche, mesmo assim ela trata o filho Victor Augusto de 2 anos de maneira diferente das crianças que cuida, quando necessário.
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Educação vem de casa
Os pais têm como dever educar as crianças em casa, ensinando-lhes valores e disciplina. As creches, pré-escolas e escolas são responsáveis por acrescentar conteúdos referentes a esses valores, embora muitos pais confundam o papel da escola na formação do filho.
Muitos pais educam seus filhos como foram criados. Porém, há exceção à regra. A professora de artes Valeria Dias Souto, 33 anos, usa a educação que teve como método a não ser seguido com a filha Isadora de 4 anos.
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Segundo o site Canal do Educador, a educação é um processo contínuo, deve ser adequada a cada individuo conforme o comportamento e as necessidades. O site aponta alguns cuidados fundamentais que os pais devem ter:
- Clareza e objetivo quanto à educação. É necessário consciência sobre os atos e normas para que a criança seja educada.
- Os pais precisam ser firmes na educação. É normal que as crianças acima de dois anos tentem contestá-los através de choros ou birras, a fim de não cumprir as regras impostas. E para isso, é preciso, também, de paciência e sacrifício por parte do educador.
- Os pais precisam entrar em consenso, pois um não pode tirar a autonomia do outro frente à criança. Caso contrário, ela poderá a confundir as regras, proibições e explicações dadas pelos pais.
- Depois de estabelecido o equilíbrio nas relações cotidianas, mantenha a perseverança na forma educacional para alcançar os objetivos.
De acordo com as entrevistas e dados levantados, foi observado que o castigo está associado com o ato de educar. No entanto, é preciso que pais e educadores saibam dosar as medidas punitivas. Para que possam ser uma forma consciente de ensinar e não um ato de agressão contra as crianças.
Um tapinha, puxão de orelha, ou beliscão. A força física nem sempre é a melhor forma para se educar uma criança. Ela cresce com restrições a determinadas atitudes, mas não porque compreendeu o erro e, sim, por medo, causado pela violência. Confira o que os especialistas falam sobre o tipo certo de punição a cada faixa etária à criança:
- Aos três anos, a criança está na fase rebelde. Falar “não” a ela, apresenta pouca eficácia, visto que a criança é resistente a obediência. Por isso, é necessário que se mostrem os caminhos e os perigos que certas situações possam colocá-la em risco.
- Dos sete aos dozes anos a criança consegue compreender as conseqüências dos atos e entender as regras impostas pelos pais. Assim, deve fazê-la refletir sobre sua atitude quando passar dos limites, com a consciência dos seus atos. Esse é um dos métodos de punição. Outra alternativa é fazer uma “troca”: proibir a criança de brincar com o que gosta.
- Na pré-adolescência, aos 13, o comportamento do jovem resume em buscar desafios, e os pais são incluídos neles. Se a rebeldia da adolescência for grande, talvez seja preciso que se retirem instrumentos de entretenimento e lazer. Como computador, internet, festas, passeios ou videogame.
Fonte: http://www.educador.brasilescola.com/comportamento/trabalhando-questao-limite.htm
Foto das crianças: Márcia Marinho
Foto da professora e da pedagoga: Camila Guterres