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Santa Maria, RS, Brazil

Castigo: um ato de amor?

InvestigativoA vida moderna e o custo financeiro para mantê-la fizeram com que a estrutura familiar se modificasse. Com isso, a antiga ideia de o pai trabalhar fora e a mãe ficar em casa, para cuidar das crianças, deixou de ser uma verdade absoluta na sociedade. Hoje, ambos precisam trabalhar para garantir o sustento e a educação de seus filhos. Dessa forma, foram surgindo as creches, que com o tempo deixaram de ser um espaço de integração e diversão infantil, e se tornaram um centro de educação para as crianças tanto no aspecto moral e social quanto didático.

Educar uma criança consiste em um ato de amor e dedicação. É o que defendem os pedagogos. Porém, nossa equipe de reportagem recebeu denúncias anônimas de maus tratos em creches particulares de Santa Maria e foi conferir o que realmente acontecia. Conforme o relato, nossa equipe foi atrás a fim de checar os fatos. Entre as acusações, a fonte afirmou que crianças eram postas de castigo em um quarto escuro, quando desobedeciam as regras de convivência de tais creches.

Espaço Criança Brotoeja

Espaço Criança Brotoeja

Nossa equipe procurou as duas instituições referidas, infiltrando-se para obter informações. No entanto, durante o período em que estivemos lá, não percebemos situações violentas ou humilhantes contra os pequenos. Ao todo foram duas visitas a cada creche. Momentos em que nos revezamos para que não houvesse desconfiança por parte das proprietárias. Quando questionadas sobre a aplicação de castigo, as entrevistadas negaram usar o termo, e sim retiravam a criança do grande grupo e a mantinham isolada, porém na mesma sala dos demais. E, geralmente, após 2 ou 3 minutos, questionavam o pequeno sobre os motivos de ele estar ali. Ele só sairia do castigo depois de responder. Elas acreditam que assim a criança aprende o certo e o errado.

Mas, será que a linguagem das “tias” e dos pais é a mesma?

O assunto provocou nossa equipe. Verificamos em outras creches, como são dirigidas essas ações punitivas e educacionais. Entre elas, visitamos a Brotoeja Espaço Criança que atua em Santa Maria há 24 anos, e atualmente atende cerca de 70 crianças. Para isso, conta com o apoio de 16 funcionários que se distribuem em atividades separadas por faixa etária.

De acordo com o depoimento do proprietário José Carlos Pinto, estas funcionárias tem curso de Magistério ou Pedagogia, que as prepara para o convívio com os pequenos.

As salas comportam até 14 crianças. Quanto menor a criança, maior o número de funcionários envolvidos. A distribuição é feita da seguinte forma:

Idade das crianças

Crianças por sala

Funcionários por sala

1 a 2 anos

 

12 a 14

2

2 a 3 anos

2

3 a 4 anos

2

4 a 5 anos

1

5 a 6 anos

1

Para a creche Brotoeja é importante que uma funcionária recém-chegada não fique sozinha em uma sala, mas, sim, com outra professora que esteja há mais tempo – até que se acostume com as crianças e a rotina da creche.

De acordo com o administrador, as iniciativas disciplinares são tomadas sempre com o conhecimento e consentimento dos pais. E, muitas vezes, a queixa vem de casa e a creche entra como uma alternativa de resolução para o problema.

Na Escola Infantil Lua de Cristal, que também selecionamos aleatoriamente para visitar, os pais são avisados toda vez que é preciso chamar atenção da criança. Em determinados casos os responsáveis decidem tirar da criança algum privilégio pela má atitude. Segundo Carmem França da Silva, pedagoga da escolinha, esta situação é válida desde que a criança saiba o porquê está perdendo o direito. Ouça, o depoimento da arquiteta Mariane Dacas, que utiliza esse método para educar seu filho Henrique, 4 anos.

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Professora Renata Mello

Professora Renata Mello

A professora Renata Mello, atuante na área há 10 anos, explica que entre as “tias” e as crianças existem acordos, e em caso de desobediência a medida é conversar com os pequenos, e a palavra castigo nem é mencionada. “A melhor opção é questionar a criança pela atitude”, ressalva a pedagoga Carmem.

A professora Denise Flores, de 32 anos, afirma nunca ter usado violência física contra a filha Ana Luisa, de um ano. Confira o depoimento no link abaixo.

{audio}audio/investigativo_21-07-10_denise.mp3{/audio}

As professoras falam ainda sobre as regras. “Todas as crianças são informadas sobre as regras de cada sala. Principalmente as mais novas na escola, e até as próprias crianças cobram umas das outras”, esclarece Carmem. O que se observa neste ponto é que as crianças tomam atitudes de adultos. O que exemplifica o conceito de adultocentrismo.

Pedagoga Carmem França

Pedagoga Carmem França

“A sociedade em que vivemos é adultocêntrica”, descreve a psicóloga Fernanda Jaeger. Segundo a psicóloga, a sociedade não oferece subsídios suficientes na formação das crianças. Ela direciona suas políticas para a faixa etária adulta, e deixa as crianças desamparadas. Não só a sociedade é negligente, mas os pais também. Deixar um filho, menor de três anos em creche, por exemplo, é negligência. Pois, segundo ela, a criança ainda não aprendeu a se expressar verbalmente, e necessita de cuidados mais específicos como dos pais e/ou familiares.

Apesar dos conselhos dos educadores, a maioria das escolas cria as próprias regras ignorando as ponderações da pedagogia. A pedagoga Carmem França da Silva, da Escola Infantil Lua de Cristal, trata seus alunos como adultos. “A gente senta junto. Eu utilizo assim o olho no olho, faço eles olharem no meu olho e trato de igual para igual. É um adulto que nem eu” revela Carmem.

Flávia Porto Pereira, 28 anos, é professora de creche, mesmo assim ela trata o filho Victor Augusto de 2 anos de maneira diferente das crianças que cuida, quando necessário.

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Educação vem de casa

Os pais têm como dever educar as crianças em casa, ensinando-lhes valores e disciplina. As creches, pré-escolas e escolas são responsáveis por acrescentar conteúdos referentes a esses valores, embora muitos pais confundam o papel da escola na formação do filho.

Muitos pais educam seus filhos como foram criados. Porém, há exceção à regra. A professora de artes Valeria Dias Souto, 33 anos, usa a educação que teve como método a não ser seguido com a filha Isadora de 4 anos.

{audio}audio/investigativo_21-07-10_valeria.mp3{/audio}

Segundo o site Canal do Educador, a educação é um processo contínuo, deve ser adequada a cada individuo conforme o comportamento e as necessidades. O site aponta alguns cuidados fundamentais que os pais devem ter:

  • Clareza e objetivo quanto à educação. É necessário consciência sobre os atos e normas para que a criança seja educada.
  • Os pais precisam ser firmes na educação. É normal que as crianças acima de dois anos tentem contestá-los através de choros ou birras, a fim de não cumprir as regras impostas. E para isso, é preciso, também, de paciência e sacrifício por parte do educador.
  • Os pais precisam entrar em consenso, pois um não pode tirar a autonomia do outro frente à criança. Caso contrário, ela poderá a confundir as regras, proibições e explicações dadas pelos pais.
  • Depois de estabelecido o equilíbrio nas relações cotidianas, mantenha a perseverança na forma educacional para alcançar os objetivos.

De acordo com as entrevistas e dados levantados, foi observado que o castigo está associado com o ato de educar. No entanto, é preciso que pais e educadores saibam dosar as medidas punitivas. Para que possam ser uma forma consciente de ensinar e não um ato de agressão contra as crianças.

Limites e punições:

Um tapinha, puxão de orelha, ou beliscão. A força física nem sempre é a melhor forma para se educar uma criança. Ela cresce com restrições a determinadas atitudes, mas não porque compreendeu o erro e, sim, por medo, causado pela violência. Confira o que os especialistas falam sobre o tipo certo de punição a cada faixa etária à criança:

  • Aos três anos, a criança está na fase rebelde. Falar “não” a ela, apresenta pouca eficácia, visto que a criança é resistente a obediência. Por isso, é necessário que se mostrem os caminhos e os perigos que certas situações possam colocá-la em risco.
  • Dos sete aos dozes anos a criança consegue compreender as conseqüências dos atos e entender as regras impostas pelos pais. Assim, deve fazê-la refletir sobre sua atitude quando passar dos limites, com a consciência dos seus atos. Esse é um dos métodos de punição. Outra alternativa é fazer uma “troca”: proibir a criança de brincar com o que gosta.
  • Na pré-adolescência, aos 13, o comportamento do jovem resume em buscar desafios, e os pais são incluídos neles. Se a rebeldia da adolescência for grande, talvez seja preciso que se retirem instrumentos de entretenimento e lazer. Como computador, internet, festas, passeios ou videogame.

Fonte: http://www.educador.brasilescola.com/comportamento/trabalhando-questao-limite.htm

 

Foto das crianças: Márcia Marinho
Foto da professora e da pedagoga: Camila Guterres

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InvestigativoA vida moderna e o custo financeiro para mantê-la fizeram com que a estrutura familiar se modificasse. Com isso, a antiga ideia de o pai trabalhar fora e a mãe ficar em casa, para cuidar das crianças, deixou de ser uma verdade absoluta na sociedade. Hoje, ambos precisam trabalhar para garantir o sustento e a educação de seus filhos. Dessa forma, foram surgindo as creches, que com o tempo deixaram de ser um espaço de integração e diversão infantil, e se tornaram um centro de educação para as crianças tanto no aspecto moral e social quanto didático.

Educar uma criança consiste em um ato de amor e dedicação. É o que defendem os pedagogos. Porém, nossa equipe de reportagem recebeu denúncias anônimas de maus tratos em creches particulares de Santa Maria e foi conferir o que realmente acontecia. Conforme o relato, nossa equipe foi atrás a fim de checar os fatos. Entre as acusações, a fonte afirmou que crianças eram postas de castigo em um quarto escuro, quando desobedeciam as regras de convivência de tais creches.

Espaço Criança Brotoeja

Espaço Criança Brotoeja

Nossa equipe procurou as duas instituições referidas, infiltrando-se para obter informações. No entanto, durante o período em que estivemos lá, não percebemos situações violentas ou humilhantes contra os pequenos. Ao todo foram duas visitas a cada creche. Momentos em que nos revezamos para que não houvesse desconfiança por parte das proprietárias. Quando questionadas sobre a aplicação de castigo, as entrevistadas negaram usar o termo, e sim retiravam a criança do grande grupo e a mantinham isolada, porém na mesma sala dos demais. E, geralmente, após 2 ou 3 minutos, questionavam o pequeno sobre os motivos de ele estar ali. Ele só sairia do castigo depois de responder. Elas acreditam que assim a criança aprende o certo e o errado.

Mas, será que a linguagem das “tias” e dos pais é a mesma?

O assunto provocou nossa equipe. Verificamos em outras creches, como são dirigidas essas ações punitivas e educacionais. Entre elas, visitamos a Brotoeja Espaço Criança que atua em Santa Maria há 24 anos, e atualmente atende cerca de 70 crianças. Para isso, conta com o apoio de 16 funcionários que se distribuem em atividades separadas por faixa etária.

De acordo com o depoimento do proprietário José Carlos Pinto, estas funcionárias tem curso de Magistério ou Pedagogia, que as prepara para o convívio com os pequenos.

As salas comportam até 14 crianças. Quanto menor a criança, maior o número de funcionários envolvidos. A distribuição é feita da seguinte forma:

Idade das crianças

Crianças por sala

Funcionários por sala

1 a 2 anos

 

12 a 14

2

2 a 3 anos

2

3 a 4 anos

2

4 a 5 anos

1

5 a 6 anos

1

Para a creche Brotoeja é importante que uma funcionária recém-chegada não fique sozinha em uma sala, mas, sim, com outra professora que esteja há mais tempo – até que se acostume com as crianças e a rotina da creche.

De acordo com o administrador, as iniciativas disciplinares são tomadas sempre com o conhecimento e consentimento dos pais. E, muitas vezes, a queixa vem de casa e a creche entra como uma alternativa de resolução para o problema.

Na Escola Infantil Lua de Cristal, que também selecionamos aleatoriamente para visitar, os pais são avisados toda vez que é preciso chamar atenção da criança. Em determinados casos os responsáveis decidem tirar da criança algum privilégio pela má atitude. Segundo Carmem França da Silva, pedagoga da escolinha, esta situação é válida desde que a criança saiba o porquê está perdendo o direito. Ouça, o depoimento da arquiteta Mariane Dacas, que utiliza esse método para educar seu filho Henrique, 4 anos.

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Professora Renata Mello

Professora Renata Mello

A professora Renata Mello, atuante na área há 10 anos, explica que entre as “tias” e as crianças existem acordos, e em caso de desobediência a medida é conversar com os pequenos, e a palavra castigo nem é mencionada. “A melhor opção é questionar a criança pela atitude”, ressalva a pedagoga Carmem.

A professora Denise Flores, de 32 anos, afirma nunca ter usado violência física contra a filha Ana Luisa, de um ano. Confira o depoimento no link abaixo.

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As professoras falam ainda sobre as regras. “Todas as crianças são informadas sobre as regras de cada sala. Principalmente as mais novas na escola, e até as próprias crianças cobram umas das outras”, esclarece Carmem. O que se observa neste ponto é que as crianças tomam atitudes de adultos. O que exemplifica o conceito de adultocentrismo.

Pedagoga Carmem França

Pedagoga Carmem França

“A sociedade em que vivemos é adultocêntrica”, descreve a psicóloga Fernanda Jaeger. Segundo a psicóloga, a sociedade não oferece subsídios suficientes na formação das crianças. Ela direciona suas políticas para a faixa etária adulta, e deixa as crianças desamparadas. Não só a sociedade é negligente, mas os pais também. Deixar um filho, menor de três anos em creche, por exemplo, é negligência. Pois, segundo ela, a criança ainda não aprendeu a se expressar verbalmente, e necessita de cuidados mais específicos como dos pais e/ou familiares.

Apesar dos conselhos dos educadores, a maioria das escolas cria as próprias regras ignorando as ponderações da pedagogia. A pedagoga Carmem França da Silva, da Escola Infantil Lua de Cristal, trata seus alunos como adultos. “A gente senta junto. Eu utilizo assim o olho no olho, faço eles olharem no meu olho e trato de igual para igual. É um adulto que nem eu” revela Carmem.

Flávia Porto Pereira, 28 anos, é professora de creche, mesmo assim ela trata o filho Victor Augusto de 2 anos de maneira diferente das crianças que cuida, quando necessário.

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Educação vem de casa

Os pais têm como dever educar as crianças em casa, ensinando-lhes valores e disciplina. As creches, pré-escolas e escolas são responsáveis por acrescentar conteúdos referentes a esses valores, embora muitos pais confundam o papel da escola na formação do filho.

Muitos pais educam seus filhos como foram criados. Porém, há exceção à regra. A professora de artes Valeria Dias Souto, 33 anos, usa a educação que teve como método a não ser seguido com a filha Isadora de 4 anos.

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Segundo o site Canal do Educador, a educação é um processo contínuo, deve ser adequada a cada individuo conforme o comportamento e as necessidades. O site aponta alguns cuidados fundamentais que os pais devem ter:

  • Clareza e objetivo quanto à educação. É necessário consciência sobre os atos e normas para que a criança seja educada.
  • Os pais precisam ser firmes na educação. É normal que as crianças acima de dois anos tentem contestá-los através de choros ou birras, a fim de não cumprir as regras impostas. E para isso, é preciso, também, de paciência e sacrifício por parte do educador.
  • Os pais precisam entrar em consenso, pois um não pode tirar a autonomia do outro frente à criança. Caso contrário, ela poderá a confundir as regras, proibições e explicações dadas pelos pais.
  • Depois de estabelecido o equilíbrio nas relações cotidianas, mantenha a perseverança na forma educacional para alcançar os objetivos.

De acordo com as entrevistas e dados levantados, foi observado que o castigo está associado com o ato de educar. No entanto, é preciso que pais e educadores saibam dosar as medidas punitivas. Para que possam ser uma forma consciente de ensinar e não um ato de agressão contra as crianças.

Limites e punições:

Um tapinha, puxão de orelha, ou beliscão. A força física nem sempre é a melhor forma para se educar uma criança. Ela cresce com restrições a determinadas atitudes, mas não porque compreendeu o erro e, sim, por medo, causado pela violência. Confira o que os especialistas falam sobre o tipo certo de punição a cada faixa etária à criança:

  • Aos três anos, a criança está na fase rebelde. Falar “não” a ela, apresenta pouca eficácia, visto que a criança é resistente a obediência. Por isso, é necessário que se mostrem os caminhos e os perigos que certas situações possam colocá-la em risco.
  • Dos sete aos dozes anos a criança consegue compreender as conseqüências dos atos e entender as regras impostas pelos pais. Assim, deve fazê-la refletir sobre sua atitude quando passar dos limites, com a consciência dos seus atos. Esse é um dos métodos de punição. Outra alternativa é fazer uma “troca”: proibir a criança de brincar com o que gosta.
  • Na pré-adolescência, aos 13, o comportamento do jovem resume em buscar desafios, e os pais são incluídos neles. Se a rebeldia da adolescência for grande, talvez seja preciso que se retirem instrumentos de entretenimento e lazer. Como computador, internet, festas, passeios ou videogame.

Fonte: http://www.educador.brasilescola.com/comportamento/trabalhando-questao-limite.htm

 

Foto das crianças: Márcia Marinho
Foto da professora e da pedagoga: Camila Guterres