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Plantas Medicinais: a segunda investida

A babosa foi o alvo da segunda investida, mais espinhosa do que a própria, do Fantástico através de Dráuzio Varela sobre o uso popular de plantas medicinais, no domingo dia 05. Temos ainda a terceira e a quarta nos próximos domingos, sabe-se lá o que virá!

A reportagem destacou alguns problemas que são amplamente conhecidos e que resultaram em propostas de soluções da Política Nacional de Plantas Medicinais e Fitoterápicos: a alta incidência de uso na população sem a devida informação, o uso irracional, a falta de comprovação de eficácia através da pesquisa científica, a recomendação por leigos (em relação a profissões de saúde, mas não em relação ao conhecimento transgeracional), a dificuldade de interação entre o conhecimento popular e o conhecimento científico. Ora, todos esses aspectos são justamente diretrizes da política que é suporte para a inclusão da Fitoterapia no SUS! E vale lembrar que o sistema é único, portanto, não se refere apenas aos serviços públicos.

O ponto falho do programa, então, não é evidenciar a preocupação que é a dos profissionais, do governo, das instituições, e de Dráuzio e da Globo, mas a impregnação de preconceito que perpassa toda a reportagem. As apresentações e entrevistas mostram ironias e adjetivos dispensáveis, como “a tal terapeuta”, “a argila não é quimioterápico”, “produtos alternativos”, entre outros, que em nada contribuem para a necessária valorização do conhecimento e do trabalho de pessoas sérias que conhecem sua utilização, como organizações religiosas que merecem respeito na suas práticas assistenciais, como a Igreja Católica. Como também religiões de base africana, rituais indígenas e tantas outras que usam plantas medicinais em seus processos de cura, associando a espiritualidade à saúde, acertadamente…

E foi lamentável o uso de imagens semelhantes àquelas de falcatruas de corruptos, filmadas clandestinamente como se não houvesse honestidade nas práticas dos religiosos. O discurso ultrapassa a utilidade pública para o denuncismo e intimidação, sem trazer o contraponto das evidências e do benefício do uso tradicional sério e consagrado de plantas medicinais. À  comunidade científica cabe também o registro desses resultados de eficácia e sucesso em tratamentos, que não constam das revistas científicas, mas isso exige despojamento e abertura de visão para além do cartesianismo…

Perdemos todos em iniciativas como essas da Globo que não somam, pois seus recursos poderiam sim, somar ao sistema de saúde, à informação e educação para a saúde das pessoas, aos saberes profissionais e as próprias plantas que precisam ser conhecidas e preservadas… E até a Globo que perde a oportunidade de fazer um bom serviço à população.

 

Sílvia Czermainski é famacêutica e bioquímica, e presidente da Comissão Assessora de Fitoterápicos do Conselho Regional de Farmácia do Rio Grande do Sul.

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A babosa foi o alvo da segunda investida, mais espinhosa do que a própria, do Fantástico através de Dráuzio Varela sobre o uso popular de plantas medicinais, no domingo dia 05. Temos ainda a terceira e a quarta nos próximos domingos, sabe-se lá o que virá!

A reportagem destacou alguns problemas que são amplamente conhecidos e que resultaram em propostas de soluções da Política Nacional de Plantas Medicinais e Fitoterápicos: a alta incidência de uso na população sem a devida informação, o uso irracional, a falta de comprovação de eficácia através da pesquisa científica, a recomendação por leigos (em relação a profissões de saúde, mas não em relação ao conhecimento transgeracional), a dificuldade de interação entre o conhecimento popular e o conhecimento científico. Ora, todos esses aspectos são justamente diretrizes da política que é suporte para a inclusão da Fitoterapia no SUS! E vale lembrar que o sistema é único, portanto, não se refere apenas aos serviços públicos.

O ponto falho do programa, então, não é evidenciar a preocupação que é a dos profissionais, do governo, das instituições, e de Dráuzio e da Globo, mas a impregnação de preconceito que perpassa toda a reportagem. As apresentações e entrevistas mostram ironias e adjetivos dispensáveis, como “a tal terapeuta”, “a argila não é quimioterápico”, “produtos alternativos”, entre outros, que em nada contribuem para a necessária valorização do conhecimento e do trabalho de pessoas sérias que conhecem sua utilização, como organizações religiosas que merecem respeito na suas práticas assistenciais, como a Igreja Católica. Como também religiões de base africana, rituais indígenas e tantas outras que usam plantas medicinais em seus processos de cura, associando a espiritualidade à saúde, acertadamente…

E foi lamentável o uso de imagens semelhantes àquelas de falcatruas de corruptos, filmadas clandestinamente como se não houvesse honestidade nas práticas dos religiosos. O discurso ultrapassa a utilidade pública para o denuncismo e intimidação, sem trazer o contraponto das evidências e do benefício do uso tradicional sério e consagrado de plantas medicinais. À  comunidade científica cabe também o registro desses resultados de eficácia e sucesso em tratamentos, que não constam das revistas científicas, mas isso exige despojamento e abertura de visão para além do cartesianismo…

Perdemos todos em iniciativas como essas da Globo que não somam, pois seus recursos poderiam sim, somar ao sistema de saúde, à informação e educação para a saúde das pessoas, aos saberes profissionais e as próprias plantas que precisam ser conhecidas e preservadas… E até a Globo que perde a oportunidade de fazer um bom serviço à população.

 

Sílvia Czermainski é famacêutica e bioquímica, e presidente da Comissão Assessora de Fitoterápicos do Conselho Regional de Farmácia do Rio Grande do Sul.