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Santa Maria, RS, Brazil

Ler e escrever depois dos 50

alfabetizacao1_anacarolina.jpg“Não se pode menosprezar ninguém, todos têm
capacidade e isso é o mais importante na educação”.
Assim a pedagoga Maria
Lúcia Leite resume o trabalho que desenvolve com adultos e idosos dentro do
Programa Brasil Alfabetizado. Atualmente 9,6% da população brasileira não sabe
ler nem escrever, o equivalente a 18 milhões e 240 mil pessoas.

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Em Santa Maria, o Programa
Brasil Alfabetizado é desenvolvido desde 2004 e tem como objetivo alfabetizar
jovens, adultos e idosos que não tiveram acesso à educação quando necessário.
Por ser um direito comum a todo cidadão, medidas como esta tornam possível
aprender a ler em qualquer etapa da vida. A iniciativa da Secretaria Municipal
de Educação de Santa Maria (Smed), vinculada ao programa do Governo Federal,
pretende alfabetizar 500 alunos até o final deste ano. 

alfabetizacao_profemarialucia_anacarolina.jpgAtuante no
Brasil Alfabetizado há quase três anos, a profª Maria Lúcia possui uma turma
de 14 alunos e a faixa etária dos mesmos varia entre 54 e 88 anos. Ela, que
sempre deu aula para as séries iniciais, conta que sentiu certo anseio logo que
começou a trabalhar com idosos.

 

A professora iniciou no projeto por indicação
de uma amiga. Sua primeira turma foi um grupo de mães, da qual ela recorda com
muito carinho. “Elas eram muito dedicadas, apesar de viverem na periferia onde
a autoestima é muito baixa, elas eram perseverantes, pois com o aprendizado
elas se sentiam iguais aos outros cidadãos da sociedade”, comenta.

 

Quando questionada
sobre a turma atual, que reside no Abrigo Espírita Oscar José Pithan, local
onde acontecem as aulas, ela fala que é uma turma tranquila, estão todos sempre
presentes, exceto no inverno, pois como são mais velhos o cuidado é redobrado
com a saúde. “A maioria deles já sabe o básico e a experiência de vida ajuda
muito na temática das aulas, além disso, eles são muito interessados, sempre
querem aprender mais”, afirma. As aulas ocorrem de segunda a quarta-feira, das
14h às 16h.

 

Mais importante que aprender é estar em um convívio realmente social”,
Vera Maria, alfabetizadora

alfabetizacao_vera_gabriel.jpgA funcionária
pública Vera Maria Batistella Paust, está em seu segundo ano como
alfabetizadora e lida com uma situação oposta à de Maria Lúcia, citada no início
desta matéria. Ao contrário dela, Vera lida com uma turma de 14 alunos, a maioria
deles trabalha, no entanto somente quatro frequentam as aulas. Os alunos dela
são em sua maioria idosos e apenas um é jovem, porém o rapaz de 28 anos possui necessidades
especiais.

“Ele é uma
pessoa muito carinhosa, vai em todas as aulas, mas a gente percebe que ele não
aproveita, pois não consegue. Ele é meu ajudante, procuro sempre envolvê-lo nas
atividades. É melhor estar aqui do que na rua”, comenta.

Ainda falando
sobre a turma, Vera conta que o mais difícil para eles é juntar as letras,
formar as sílabas e a primeira coisa que todos os alunos querem aprender é ler
e escrever o próprio nome. Segundo ela, eles têm muita insegurança e a
aprendizagem é diferenciada, pois é tudo ao tempo deles. “É gratificante, pois a confiança que eles
desenvolvem não têm dinheiro que pague”.

Ler o endereço
nos ônibus, decifrar o número de CPF e montar uma conta são as dificuldades
mais corriqueiras.Vera tem alunos que sabem dirigir mas não podem tirar a
carteira de motorista. Tudo o que eles sabem aprenderam com a vida, através de
macetes, mas infelizmente na hora de colocar na ponta do lápis a dificuldade é
muito grande.

“O ‘certo’ no
caderno é de uma importância enorme, pois a família vai ver em casa. Os filhos e netos
ajudam com o dever de casa que os próprios alunos fazem questão de ter sempre”,
comenta a funcionária pública.

 

Quem são esses alunos:

 
alfabetizacao_mariaeva_anacarolina.jpg

Nasci em 1940. Assim Maria Eva Cardoso,
aposentada, respondeu quando perguntaram quantos anos tinha. O motivo não era
vaidade, mas sim não saber calcular a própria idade. A senhora de 70 anos que
mora no Abrigo Espírita Oscar Pithan há três anos foi doméstica a vida inteira,
não casou nem teve filhos, e quando criança foi menina de rua e não teve a
oportunidade fazer sequer as séries iniciais.

“Não consegui
estudar, minha mãe faleceu quando eu era criança e eu era muito pobre. Agora
que eu estou juntando as letras”, afirma dona Maria, aluna há dois anos do
Programa Brasil Alfabetizado.

 

alfabetizacao_catarina_anacarolina.jpgCom 14 anos eu sabia fazer uma calça de
homem perfeita
, orgulha-se dona Catarina Gauze Dionizio de 88 anos que foi
costureira até os 64. Com ela a vida foi mais tranquila, mineira que veio para
o sul com nove anos, cursou até o 4º ano do ensino fundamental e depois parou
de estudar. Mas justamente por isso, foi perdendo a prática e encontrou nas
aulas do Programa uma maneira de relembrar as letras e os números.

“Trabalhei ‘de
modas
’ a vida inteira, parei de estudar porque quis ser costureira”, comenta.

 

A história de
vida dessas senhoras é contrastante, contudo ambas ao longo da vida deixaram de
lado a vontade de aprender o básico: ler e escrever. Mas agora, sentem a
necessidade e principalmente a vontade de compensar esse tempo perdido. Milhares
de brasileiros, tanto jovens quanto idosos também precisam dessa oportunidade.

 

Como funciona o Programa:

O Programa
Brasil Alfabetizado é dividido em duas etapas: a primeira consiste em um curso
de oito meses com 10 horas aulas semanais, o equivalente ao segundo ano do
Ensino Fundamental ou Ensino de Jovens e Adultos (EJA). Para aqueles que tiverem
interesse em prosseguir com os estudos, existe a opção nível dois do EJA que
oferece o 3º, 4alfabetizacao_rosangela_gabriel.jpgº e 5º ano do Ensino Fundamental.

De acordo com
uma das coordenadoras da iniciativa em Santa Maria, Rosângela Schueltz, o número de
desistência dos alunos é médio e a grande maioria deles são idosos. “A leitura
e a matemática são o foco principal das aulas. Pensando nisso, os professores
têm que partir do que os alunos sabem, algo que seja significativo tanto no
aprendizado quanto para a vida deles”, afirma. As aulas ocorrem em escolas,
salões paroquiais, associações e algumas vezes até na casa dos alfabetizadores.

Segundo a Smed,
o Programa Brasil Alfabetizado tem em Santa Maria 25 turmas, 24 alfabetizadores e 390
alunos. O mínimo de alunos por turma são 14 pessoas e o máximo 25.

 

Como participar:

Geralmente entre
outubro e novembro é publicado um edital para atrair voluntários a serem
alfabetizadores. Ter concluído o ensino superior, independente da área ou ter
cursado o magistério é requisito básico. Cabe a esses voluntários buscarem pelo
local das aulas e pelos alunos.

Para os
professores é disponibilizada uma bolsa auxílio no valor de R$ 250,00 mensais. E
para os alunos o Programa oferece passagens, material escolar e merenda.

A cada ano uma
nova edição do livro EJA é desenvolvida. Vale lembrar que a idade mínima para
ser aluno é 15 anos.

Após o
chamamento os voluntários passam por uma formação inicial composta de palestras
e oficinas para capacitação tanto dos novos professores quanto dos
coordenadores de turma. Visitas são realizadas a cada 15 dias pelos
coordenadores para saber como está o aproveitamento das aulas.

 

Fotos: Ana Carolina  Grützmann da Silva e Gabriel Saccol (Laboratório de Fotografia e Memória)

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alfabetizacao1_anacarolina.jpg“Não se pode menosprezar ninguém, todos têm
capacidade e isso é o mais importante na educação”.
Assim a pedagoga Maria
Lúcia Leite resume o trabalho que desenvolve com adultos e idosos dentro do
Programa Brasil Alfabetizado. Atualmente 9,6% da população brasileira não sabe
ler nem escrever, o equivalente a 18 milhões e 240 mil pessoas.

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Em Santa Maria, o Programa
Brasil Alfabetizado é desenvolvido desde 2004 e tem como objetivo alfabetizar
jovens, adultos e idosos que não tiveram acesso à educação quando necessário.
Por ser um direito comum a todo cidadão, medidas como esta tornam possível
aprender a ler em qualquer etapa da vida. A iniciativa da Secretaria Municipal
de Educação de Santa Maria (Smed), vinculada ao programa do Governo Federal,
pretende alfabetizar 500 alunos até o final deste ano. 

alfabetizacao_profemarialucia_anacarolina.jpgAtuante no
Brasil Alfabetizado há quase três anos, a profª Maria Lúcia possui uma turma
de 14 alunos e a faixa etária dos mesmos varia entre 54 e 88 anos. Ela, que
sempre deu aula para as séries iniciais, conta que sentiu certo anseio logo que
começou a trabalhar com idosos.

 

A professora iniciou no projeto por indicação
de uma amiga. Sua primeira turma foi um grupo de mães, da qual ela recorda com
muito carinho. “Elas eram muito dedicadas, apesar de viverem na periferia onde
a autoestima é muito baixa, elas eram perseverantes, pois com o aprendizado
elas se sentiam iguais aos outros cidadãos da sociedade”, comenta.

 

Quando questionada
sobre a turma atual, que reside no Abrigo Espírita Oscar José Pithan, local
onde acontecem as aulas, ela fala que é uma turma tranquila, estão todos sempre
presentes, exceto no inverno, pois como são mais velhos o cuidado é redobrado
com a saúde. “A maioria deles já sabe o básico e a experiência de vida ajuda
muito na temática das aulas, além disso, eles são muito interessados, sempre
querem aprender mais”, afirma. As aulas ocorrem de segunda a quarta-feira, das
14h às 16h.

 

Mais importante que aprender é estar em um convívio realmente social”,
Vera Maria, alfabetizadora

alfabetizacao_vera_gabriel.jpgA funcionária
pública Vera Maria Batistella Paust, está em seu segundo ano como
alfabetizadora e lida com uma situação oposta à de Maria Lúcia, citada no início
desta matéria. Ao contrário dela, Vera lida com uma turma de 14 alunos, a maioria
deles trabalha, no entanto somente quatro frequentam as aulas. Os alunos dela
são em sua maioria idosos e apenas um é jovem, porém o rapaz de 28 anos possui necessidades
especiais.

“Ele é uma
pessoa muito carinhosa, vai em todas as aulas, mas a gente percebe que ele não
aproveita, pois não consegue. Ele é meu ajudante, procuro sempre envolvê-lo nas
atividades. É melhor estar aqui do que na rua”, comenta.

Ainda falando
sobre a turma, Vera conta que o mais difícil para eles é juntar as letras,
formar as sílabas e a primeira coisa que todos os alunos querem aprender é ler
e escrever o próprio nome. Segundo ela, eles têm muita insegurança e a
aprendizagem é diferenciada, pois é tudo ao tempo deles. “É gratificante, pois a confiança que eles
desenvolvem não têm dinheiro que pague”.

Ler o endereço
nos ônibus, decifrar o número de CPF e montar uma conta são as dificuldades
mais corriqueiras.Vera tem alunos que sabem dirigir mas não podem tirar a
carteira de motorista. Tudo o que eles sabem aprenderam com a vida, através de
macetes, mas infelizmente na hora de colocar na ponta do lápis a dificuldade é
muito grande.

“O ‘certo’ no
caderno é de uma importância enorme, pois a família vai ver em casa. Os filhos e netos
ajudam com o dever de casa que os próprios alunos fazem questão de ter sempre”,
comenta a funcionária pública.

 

Quem são esses alunos:

 
alfabetizacao_mariaeva_anacarolina.jpg

Nasci em 1940. Assim Maria Eva Cardoso,
aposentada, respondeu quando perguntaram quantos anos tinha. O motivo não era
vaidade, mas sim não saber calcular a própria idade. A senhora de 70 anos que
mora no Abrigo Espírita Oscar Pithan há três anos foi doméstica a vida inteira,
não casou nem teve filhos, e quando criança foi menina de rua e não teve a
oportunidade fazer sequer as séries iniciais.

“Não consegui
estudar, minha mãe faleceu quando eu era criança e eu era muito pobre. Agora
que eu estou juntando as letras”, afirma dona Maria, aluna há dois anos do
Programa Brasil Alfabetizado.

 

alfabetizacao_catarina_anacarolina.jpgCom 14 anos eu sabia fazer uma calça de
homem perfeita
, orgulha-se dona Catarina Gauze Dionizio de 88 anos que foi
costureira até os 64. Com ela a vida foi mais tranquila, mineira que veio para
o sul com nove anos, cursou até o 4º ano do ensino fundamental e depois parou
de estudar. Mas justamente por isso, foi perdendo a prática e encontrou nas
aulas do Programa uma maneira de relembrar as letras e os números.

“Trabalhei ‘de
modas
’ a vida inteira, parei de estudar porque quis ser costureira”, comenta.

 

A história de
vida dessas senhoras é contrastante, contudo ambas ao longo da vida deixaram de
lado a vontade de aprender o básico: ler e escrever. Mas agora, sentem a
necessidade e principalmente a vontade de compensar esse tempo perdido. Milhares
de brasileiros, tanto jovens quanto idosos também precisam dessa oportunidade.

 

Como funciona o Programa:

O Programa
Brasil Alfabetizado é dividido em duas etapas: a primeira consiste em um curso
de oito meses com 10 horas aulas semanais, o equivalente ao segundo ano do
Ensino Fundamental ou Ensino de Jovens e Adultos (EJA). Para aqueles que tiverem
interesse em prosseguir com os estudos, existe a opção nível dois do EJA que
oferece o 3º, 4alfabetizacao_rosangela_gabriel.jpgº e 5º ano do Ensino Fundamental.

De acordo com
uma das coordenadoras da iniciativa em Santa Maria, Rosângela Schueltz, o número de
desistência dos alunos é médio e a grande maioria deles são idosos. “A leitura
e a matemática são o foco principal das aulas. Pensando nisso, os professores
têm que partir do que os alunos sabem, algo que seja significativo tanto no
aprendizado quanto para a vida deles”, afirma. As aulas ocorrem em escolas,
salões paroquiais, associações e algumas vezes até na casa dos alfabetizadores.

Segundo a Smed,
o Programa Brasil Alfabetizado tem em Santa Maria 25 turmas, 24 alfabetizadores e 390
alunos. O mínimo de alunos por turma são 14 pessoas e o máximo 25.

 

Como participar:

Geralmente entre
outubro e novembro é publicado um edital para atrair voluntários a serem
alfabetizadores. Ter concluído o ensino superior, independente da área ou ter
cursado o magistério é requisito básico. Cabe a esses voluntários buscarem pelo
local das aulas e pelos alunos.

Para os
professores é disponibilizada uma bolsa auxílio no valor de R$ 250,00 mensais. E
para os alunos o Programa oferece passagens, material escolar e merenda.

A cada ano uma
nova edição do livro EJA é desenvolvida. Vale lembrar que a idade mínima para
ser aluno é 15 anos.

Após o
chamamento os voluntários passam por uma formação inicial composta de palestras
e oficinas para capacitação tanto dos novos professores quanto dos
coordenadores de turma. Visitas são realizadas a cada 15 dias pelos
coordenadores para saber como está o aproveitamento das aulas.

 

Fotos: Ana Carolina  Grützmann da Silva e Gabriel Saccol (Laboratório de Fotografia e Memória)