O que leva a atos extremos de violência como o que tirou a vida de Angelo Razzolini Biazzi, acadêmico de Design na Unifra, na manhã desse domingo? O que pensar diante de uma realidade urbana cada vez mais marcada pela agressividade?
Conforme registros da Brigada Militar, Ângelo Razzolini Biazzi caminhava com a namorada às 6h37min, quando três homens tentaram assaltá-los. Biazzi se recusou a atendê-los e os bandidos desferiram dois golpes na região do tórax. A namorada da vítima não foi agredida, e os suspeitos fugiram do local. O jovem chegou a ser socorrido por uma ambulância da SAMU, mas morreu a caminho do hospital. Ângelo, que era natural de Porto Alegre, foi enterrado nesta segunda-feira, em Cachoeira do Sul, cidade onde a família reside.
Amigos, colegas e o Sindicato dos Lojistas chamaram para uma manifestação pública na manhã de hoje, no centro da cidade, em protesto contra a violência e a falta de segurança.
A equipe da ACS foi às ruas ouvir especialistas e os cidadãos sobre o ocorrido.
A Psicologia tenta explicar
Para o psicanalista Marcos Pippi Medeiros, professor de Psicologia da Unifra, é difícil definir um único fator que ocasiona a violência urbana. “Atravessamos vias de informações, lógicas de consumo que interferem na forma coletiva de viver.” A cultura de massa vive sob padrões individualistas, como a lógica voltada para o consumo e a cultura narcisista, explica o professor. Portanto, o outro passa a ser pensado como um objeto de satisfação, somente um obstáculo para se conseguir o que é tão valorizado, como um celular ou um tênis. “É aí que nos auto-afirmamos em detrimento do outro”.
O professor também argumenta sobre a estrutura familiar. Para ele, “as famílias de hoje são o retrato do que queremos para a gente. A família institucional antiga também apresentava problemas, então não as vejo como a grande razão pelos males atuais.”
Marcos Pippi diz que é necessário, hoje, que se cuide dessa nova formação familiar, que entendamos por que ela está perdendo lugar para discursos de bando e de consumo, e como permitimos que isto aconteça. “Só sabemos teorizar, problematizar a situação e não a vemos como uma cultura complexa, não procuramos entender o porquê.” Ele lembra que tendemos a reduzir os problemas com receitas nostálgicas, de resgate dos padrões da família antiga, porém, essa não é solução suficiente para os problemas de hoje. Entra aí a influência da mídia.
O psicanalista diz que a cultura midiática “produz fenômenos de contágio, de curiosidade sobre a negatividade social”, em que “toda a visibilidade para uma só coisa faz as pessoas a interpretarem de várias maneiras, inclusive erroneamente”. Para o professor, nossa cultura é organizada para temer o que é diferente de nós. A mensagem midiática pode objetivar uma reação, mas os discursos partem de uma leitura individual, portanto, as reações também.
“Precisamos defender a liberdade do outro como se fosse a nossa”, enfatiza Marcos Pippi para introduzir a questão da compreensão coletiva. “Quando eu defendo a liberdade do outro, defendo minha própria visão de diferença”. Para ele, nossa cultura está longe de igualdade, mas este é um primeiro exercício fundamental.
O que pensa a população
Ouvida, a população se divide em relação à segurança na cidade.
Irene Ortiz, 42, dona de casa: “Sinto-me insegura. Se no centro da cidade está assim, imagina nas vilas. Só sinto tranquilidade em casa devido a toda a tecnologia de segurança que instalei. Acredito que tem que haver mais policiamento nas ruas. Estou sentada aqui no calçadão há algum tempo e não vi nenhum policial. Na praça Saturnino de Brito o perigo ainda é maior”.
Aleimar Arno, 70, aposentado: “A falta de segurança já vem de muito tempo, porque a policia não pode mais agir. Esses direitos humanos modificaram muita coisa e também os pais não sabem mais como agir. Sou policial aposentado, e sei como é difícil saber como agir na hora de realizar a ocorrência, devido a essas mudanças constantes na lei. Só me sinto seguro em minha casa devido a todas as precauções que tomei e olhe lá! Hoje até sair de casa já está perigoso. O estado precisa dar mais apoio à policia que se encontra de mãos atadas, sem saber como proceder. Tem que haver mudanças nas leis”.
Ana Clara Kraemer, 33 anos, professora: “Nos últimos dias não estou me sentindo segura nas ruas da cidade não. O único lugar que me sinto segura é dentro da minha casa, devido aos aparatos que tenho como alarme e trancas nas portas. Acho correto esses manifestos que o povo está fazendo”.
Daniele Kopp, 19 anos, estudante de Educação Física: “Me sinto segura sim nas ruas, principalmente nessa região central. Esses fatos que aconteceram aqui no centro são fatos isolados, tipo agora tu ta vendo acontecer alguma coisa? Diante desses fatos acredito que deve se investir em educação”.
Eloá França Vieira, 65 anos, aposentada: “Me sinto mais ou menos segura nas ruas, mas tenho medo mesmo quando saio dos bancos. Uma atitude que deveria ser tomada é o aumento do policiamento”.
Neiva de Mello, 75 anos, aposentada: “Me sinto segura sim nas ruas de Santa Maria, ando pelo centro sem medo. Essas coisas que andam acontecendo no calçadão é um pouco culpa dos pais que não cuidam de seus filhos.”
Dirlene Stromm, 52 anos, dona de casa: “Antigamente até me sentia segura, mas hoje não mais. O único lugar em que me sinto segura é dentro da minha casa. O aumento do policiamento iria trazer mais segurança para todos”.
Maria Alda da Silva, 74 anos, aposentada: “Ando na rua sempre
desconfiada, não me sinto segura nas ruas da cidade. O único lugar em
que me sinto segura é em casa, e esses jovens precisam de religião e de
uma estrutura familiar”.
Fotos: Laura Fabrício, Karine Ludwig e Cristian Cunha (Laboratório de Fotografia e Memória)