Um repetido som de berimbau que vem do canto da sala anuncia que o telefone celular está tocando. Além do telefone, os porta-retratos espalhados pela casa estampam a trajetória de uma família e sua ligação com a mais popular das expressões culturais brasileiras: a capoeira. O responsável por esse envolvimento é Wladimir Camargo Messias, o Mestre Pagode. Com 47 anos, o professor de capoeira que também trabalha com serviços gerais mora com a esposa e os quatro filhos.
O menino de Santa Maria, que aos 12 anos perdeu o pai, saiu da terra natal e foi morar com a avó em Porto Alegre. Na capital gaúcha, aprendeu seus primeiros movimentos de capoeira e se revelou um incansável difusor da cultura nacional mundo afora.
A admiração pela arte, porém, já o acompanhava há alguns anos. No carnaval de 1970, lembra de ter assistido o desfile da escola de samba Mangueira, onde uma das alas da escola trazia coreografias puxadas pelo Mestre Leopoldina – consagrado capoeirista, e quem acabou conhecendo anos mais tarde.
De Porto Alegre, partiu para o mundo. A primeira das inúmeras viagens ao exterior aconteceu em 1996. Na época, o capoeirista morava em Cruz Alta, onde fundou o movimento negro local e um projeto de ação social na Escola Estadual Sonho de Menino. Durante uma apresentação que envolvia mais de 80 crianças, o então governador do Estado, Alceu Collares, interessou-se pelo projeto e ofereceu apoio. A iniciativa resultou no primeiro trabalho do interior do Estado a ser contemplado pelo Projeto Criança Esperança. Países como Itália, Suíça, Holanda e Alemanha receberam brasileiros para oficinas e palestras sobre a prática da capoeira.
Casado há mais de 15 anos, ele conta que a esposa muitas vezes reclamou que a capoeira era a vida dele. Hoje, Mestre Pagode completa: “Antes a capoeira era a minha vida. Hoje ela é a minha, e dela e dos nossos filhos”. Para Pagode, a capoeira representa uma filosofia de vida, um conjunto de princípios que, segundo ele, fundem família, trabalho e religião.
No final de 2011, reconhecido pelos 30 anos de dedicação à Capoeira recebeu uma das homenagens mais especiais de sua vida: o recebimento do cordão branco, título postulado ao praticante para se tornar um verdadeiro mestre. A cerimônia foi presenciada pela família, amigos e antigos alunos.
Capoeira em Santa Maria – A participação da capoeira e o incentivo à cultura são ainda insuficientes em Santa Maria, segundo Pagode. Para o mestre, é necessária a viabilização de projetos culturais com políticas contínuas, que não acabem a cada troca de governo. Ele anseia ainda que o ensino da capoeira ultrapasse o status de atividade extra disciplinar e seja incorporado nos currículos escolares. “Afinal, a capoeira é uma arte genuína e considerada o único esporte brasileiro”, completa.
Para Wladimir Camargo Messias, que também acredita ser indescritível o bem proporcionado pela capoeira, ser mestre ou professor não é apenas ensinar, mas um constante aprender. A Capoeira então deve ser apenas sentida, absorvida, já que cada um tem seu tempo e a sua particularidade. Uns se dedicam a jogar e praticar enquanto arte marcial, outros preferem cantar, tocar e compor. Também há aqueles que optam por apenas ler e estudar sobre o assunto. Segundo Pagode, a “Capoeira não é um método, mas sim uma vivência”.
“Capoeira é luta de dançarinos. É dança de gladiadores. A submissão da força ao ritmo. Da violência à melodia. A sublimação dos antagonismos (…) O capoeira é um artista e um atleta, um jogador e um poeta.”
Dias Gomes – Romancista e Dramaturgo
Origens e curiosidades sobre a Capoeira – A história da capoeira começa no século XVI, na época em que o Brasil era colônia de Portugal. Milhares de africanos desembarcaram em terras brasileiras com sua música, dança, comida e religião, modificando a história do país. Essas manifestações culturais foram somadas à semente da liberdade que nunca morreu na terra marcada pela escravidão.
Nas senzalas, a capoeira era praticada nos momentos de folga e para os senhores não desconfiarem de que aquilo era um combate, aliaram aos golpes, a ginga e a música. Os negros começaram a planejar fugas dos cativeiros através das formas de luta em favor da sonhada liberdade. Como não tinham acesso a armas, a única saída era usar o corpo como defesa.
Para alcançar seus objetivos, usaram um conjunto de movimentos que reuniu, agilidade, técnica e força. Começaram a ser ensaiadas, inicialmente, as rasteiras, os pulos, as cabeçadas que iriam se desenvolver posteriormente.
Para ensaiar sem ser visto, o negro contou com a ajuda da natureza e optou pelo mato, para dar seus primeiros movimentos. Mais tarde a capoeira ganhou o acompanhamento de cantos e ritmos que acabaram incorporados com instrumentos já conhecidos pelos negros, como berimbau, o atabaque e o agogô.
O berimbau, ganhou importância pelas suas possibilidades rítmicas e sonoras e tem a função de comandar o jogo da capoeira. Então, ao som dos instrumentos, palmas e cantorias, o negro recriava o seu universo cultural, cultivava o seu misticismo, alegrava se ou lamentava-se e ainda se preparava para a luta. O berimbau é feito de uma vara de madeira, um fio de arame, uma cabaça com o fundo cortado que funciona como uma caixa de ressonância, uma pedrinha ou moeda para pressionar o fio de arame, e uma varinha.
O tempo passou, e hoje a capoeira ganhou espaço nas ruas, academias e centros de educação, nunca perdendo sua essência, força e objetivos. Escolas do Rio de Janeiro, São Paulo e Bahia, já aderiram à capoeira no currículo, pelo fato dela proporcionar maior equilíbrio do corpo, concentração, aumento dos reflexos e coordenação motora a jovens e crianças.
Em 15 de julho é comemorado o Dia Nacional da Capoeira. A prática também foi instituída como Patrimônio Cultural e Imaterial Brasileiro:
http://www.cultura.gov.br/site/2008/07/18/capoeira-vira-patrimonio-cultural-do-brasil/
Onde praticar em Santa Maria – Santa Maria oferece diversas opções para quem quer conhecer e participar de um grupo de Capoeira. Confira algumas opções:
Avenida Tênis Clube. Localizado na Avenida 2 de Novembro número 1290, o Clube oferece aos sócios aulas com o Mestre Patifinho e o Mestre Sapo, nas segundas , quartas e sextas das 19h às 20h na sala do Jump. Telefone para contato: 3221 6433 www.atc.esp.br .
O Grupo Santa Maria de Capoeira tem sua sede na Casa de Cultura de Santa Maria. Com aulas ministradas às segundas, quartas e sextas-feiras das 20h às 22h (para todas as idades e gratuitamente) o aluno atinge o equilíbrio entre corpo e mente.
O Centro Desportivo Municipal (CDM) conta com o atendimento à prática de lazer e atividades físicas como a Capoeira. Localizado na Rua Appel, 795 no Bairro Fátima, Telefone: 3221 1234 – Horário 7h30 às 23h30
A Associação Capoeira de Rua Berimbau oferece treinos de capoeira totalmente gratuitos, para pessoas de todas as idades, com local de treino no Centro Esportivo Municipal, terças e quintas às 20h. Além disso, são realizados todos os sábados na Praça Saldanha Marinho às 12h, rodas de capoeira.
Texto: Pâmela Rubin Matge/Fotos e vídeos: Laura Gross
Edição web: Daniela Hinerasky – Jornalismo Online
Respostas de 2
Grandes capoeiristas de Rua da Associação de capoeira de rua Berimbau nas fotos acima, todos os sabados estão la na praça!
Não podemos esquecer, e nem ignorar a história da Capoeira em Santa Maria. Pessoas como Mestre Biriba (na época Oxóssi), seus alunos Patife, Cézinha, Pudim, Ganso, e outros que não me ocorre agora, e também outros grupo de igual importância, como: Grupo Muzenza (Alexandre Batata, Preto, Motta, Mestre Peixinho Moreno), Mestre Panthera, Grupo Mandinga (Fly e Mestre Maurão).
Lembrando que estes grupos e pessoas ainda atuam na cidade, como exemplo: Grupo Muzenza na AABB, Colégio Santa Catarina e escolas de Ed. Infantil, Colégio marista.
Vale a pena entender a filosofia de todos, pois discurso todos possuem, mas a fala que não condiz com a prática, é demagogia.