– Mãe, hoje vou comprar o novo FIFA que acaba de sair.
– Tudo bem, meu filho, aproveita e compra uma versão com mulheres para sua irmã.
– Esporte para mulheres? Jogos de nível para mulheres? Hahaha, por favor, mãe.
Para quem não é do universo gamer, essa história pode passar despercebida, contudo, para quem está conectado com a maior indústria de entretenimento mundial, isso é rotina.Você já se perguntou por que o mundo dos jogos eletrônicos tem como foco principal os homens? Aliás, quando foi a última vez que você jogou um game de esporte, de carro, ou de guerra com uma mulher? Esta é uma triste realidade da indústria. Mas afinal, por quê?
Desde o início dos games, talvez pegando carona nos estereótipos criados pelo cinema, as personagens femininas sempre estiveram em segundo plano. Na série de maior sucesso do mundo, “Mario Bros”, a eterna princesa Peach – antes com o nome de Pauline – havia sido sequestrada pelo gorila Donkey kong, e caberia a Mario – o então “jump man”- salvá-la. Simples assim. Destrua o vilão e salve a princesa. Esse era o retrato da sociedade. O retrato fiel do que os meios de comunicação queriam nos passar: a mulher como ser dependente do homem. Mas e hoje, quase 27 anos depois do lançamento de “Donkey kong”, o que mudou na indústria dos games com relação aos personagens femininos?
Em síntese, não muito. Se formos analisar a questão de jogos voltados para este público, teremos um crescimento notável. Todavia, tais games seguem os padrões da sociedade. Exemplos? “Crie sua casinha”, “cuide do seu cãozinho” ou “aprenda a se vestir”. Não vamos ignorar que existem games de ação em que as mulheres são as protagonistas, é claro.
Na famosa série da Nintendo “Metroid”, por exemplo, a protagonistas é Samus Aran, uma caçadora de recompensas espacial. Já em “Tomb Raider”, a musa dos gamers, a arqueóloga magnata Lara Croft, reina até hoje como ícone na indústria, dada a grande complexidade de seus games de ação e aventura. Mas cá entre nós, dá para se contar nos dedos o número de games que as prestigiam de fato.
A partir deste pressuposto, fomos conversar com duas mulheres e dois homens, para saber quais são suas opiniões a respeito do tema. Para Maurício Dias, 35 anos, professor de jornalismo da Unifra, tudo não passa de uma visão parcial da própria indústria: “O problema principal dos jogos é que, para cada personagem feminino existem dez masculinos. Na verdade, isso já é um estereótipo da própria indústria”.
Sua opinião vem ao encontro com a opinião da acadêmica de jornalismo de 19 anos, Victória Papalia: “Eu acredito que o mundo dos games é direcionado ao público masculino. A maioria dos desenvolvedores dos jogos são homens, que só pensam em adicionar uma mulher no jogo se for em contexto sensual. Ao menos, nos jogos de última geração”, disse ela.
A acadêmica Tainah Dalosto, de 19 anos, acredita que a indústria é voltada para o público masculino, mas acha que hoje em dia a situação tem melhorado: “Jogo Resident Evil desde pequena. Minha personagem favorita era a Jill Valentine, que aliás, tem um game só seu. Tomb Raider também é uma franquia amada, e tem protagonista masculino que precisa comer muito arroz com feijão pra chegar aos pés dela. É claro que ainda temos muito que melhorar, mas acho que as meninas vieram pra ficar, cada vez mais”, garante.
Já o estudante Iorhan Patias, de 16 anos, acredita que tudo isso é só polêmica: “Homens e mulheres são representados, acontece que as pessoas gostam de polemizar tudo. Tudo agora é motivo de debate, não que não seja saudável, mas pergunte quantas mulheres jogam GTA e quantas jogam Metroid.”
Mesmo com o debate proposto, cabe esperar que a maior indústria de entretenimento do mundo também o faça.
Por Iuri Patias