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Santa Maria, RS, Brazil

Remar 50 km no rio Amazonas

O desafio no rio Amazonas. Foto: Guilherme Rocha

     Remar 50 km no rio Amazonas, contra a correnteza, sob um sol de 42° e com umidade relativa do ar de 80%, é um intenso exercício de autoconhecimento mental e físico. Foram cinco horas e 39 minutos de prova, de reflexão, de dores constantes e a sensação de usar, a cada remada, todas as energias existentes no corpo.Apesar das adversidades, desistir era a única palavra que não ecoava na minha mente.

     Nos primeiros quilômetros o grande Amazonas ainda não assustava- Águas tranquilas e pouco vento foi o que encontrei até o km 7. A partir disso, enquanto remava em direção de um dos mais belos fenômenos da natureza, o encontro das águas barrentas do Solimões com o Rio Negro, enfrentei fortes ventos laterais e os primeiros sinais de desidratação começaram a surgir: tontura e garganta seca. Seguindo em frente, já no quilômetro 20, após o encontro dos rios, fui agraciado com um down wind (vento nas costas), que impulsionou o meu caiaque durante os próximos 10 km a uma velocidade media de 12.0 km/h. Isso não só me animou, como acendeu a esperança de recuperar posições sobre os adversários, já que eu tinha largado uma hora depois do canoísta que representava a equipe líder da competição.

     Já no trigésimo quilômetro, o vento que me impulsionava diminuiu quase a zero e comecei enfrentar uma forte correnteza. A velocidade diminuiu para 9.0 km/h, as dores na coluna e nas pernas começaram a causar uma quase que insuportável fadiga. Estava mantendo a hidratação, mas a minha água tinha acabado e o carboidrato, que estava quente, causava mais sede. Como se não bastasse, a fome já rondava e também não consegui ingerir as barras de proteína, por conta da sede constante.

     Últimos 10 km, os mais lentos, os mais difíceis. O vento que tinha parado, retornou de forma lateral, causando um desequilíbrio intenso e aumentando as dores na coluna, exatamente na vértebra em que eu tenho uma lesão de hérnia de disco.A cada cinco minutos que eu remava, tinha que parar para tentar de alguma forma amenizar a dor.

     Faltando sete km já conseguia avistar a praia, que mesmo perto, parecia inalcançável. A estratégia era negociar com o corpo, acreditar que poderia um pouco mais, mais um pouco. Lutava, então, pela sobrevivência e já não mais pela medalha. Eu estava portando colete salva vidas, o que não iria evitar de sucumbir se caísse inconsciente na água, pois estava desidratado ao extremo e com as energias contadas na ponta dos dedos.

     Últimos três km. Avistei um jet ski dos bombeiros e pedi para ser escoltado até a praia. Isso me trouxe a motivação que eu precisava para terminar a prova, pois sabia que já ‘estava à salvo’ com a presença deles.  Mais 30 min de remada e a parte frontal do meu caiaque beijou as areias da Praia da Ponta Negra em Manaus. Foram 10 minutos de reflexão, jogado no chão enquanto recebia hidratação dos meus colegas de equipe.

     Apesar da 4° colocação na canoagem e da 9° colocação por equipes, tinha plena consciência de que a vitória eu tinha alcançado. Vitória sobre o medo, sobre a dor, sobre o corpo e, principalmente, sobre a força incalculável da natureza. E esta última eu somente alcancei porque respeitei, do início ao fim, o poderoso Amazonas e seus obstáculos.

     Cheguei em Manaus de um tamanho, e saí sem dúvidas muito MAIOR. Agradeço aos meus colegas de equipe, a Diana Nishimura Carneiro pelo convite, a Red Bull pela organização do evento, e ao grande apoio de Minas Outdoor Sports e Nutri Store suplementos alimentares.

Por Gilvan Ribeiro, atleta e estudante de jornalismo.

 

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O desafio no rio Amazonas. Foto: Guilherme Rocha

     Remar 50 km no rio Amazonas, contra a correnteza, sob um sol de 42° e com umidade relativa do ar de 80%, é um intenso exercício de autoconhecimento mental e físico. Foram cinco horas e 39 minutos de prova, de reflexão, de dores constantes e a sensação de usar, a cada remada, todas as energias existentes no corpo.Apesar das adversidades, desistir era a única palavra que não ecoava na minha mente.

     Nos primeiros quilômetros o grande Amazonas ainda não assustava- Águas tranquilas e pouco vento foi o que encontrei até o km 7. A partir disso, enquanto remava em direção de um dos mais belos fenômenos da natureza, o encontro das águas barrentas do Solimões com o Rio Negro, enfrentei fortes ventos laterais e os primeiros sinais de desidratação começaram a surgir: tontura e garganta seca. Seguindo em frente, já no quilômetro 20, após o encontro dos rios, fui agraciado com um down wind (vento nas costas), que impulsionou o meu caiaque durante os próximos 10 km a uma velocidade media de 12.0 km/h. Isso não só me animou, como acendeu a esperança de recuperar posições sobre os adversários, já que eu tinha largado uma hora depois do canoísta que representava a equipe líder da competição.

     Já no trigésimo quilômetro, o vento que me impulsionava diminuiu quase a zero e comecei enfrentar uma forte correnteza. A velocidade diminuiu para 9.0 km/h, as dores na coluna e nas pernas começaram a causar uma quase que insuportável fadiga. Estava mantendo a hidratação, mas a minha água tinha acabado e o carboidrato, que estava quente, causava mais sede. Como se não bastasse, a fome já rondava e também não consegui ingerir as barras de proteína, por conta da sede constante.

     Últimos 10 km, os mais lentos, os mais difíceis. O vento que tinha parado, retornou de forma lateral, causando um desequilíbrio intenso e aumentando as dores na coluna, exatamente na vértebra em que eu tenho uma lesão de hérnia de disco.A cada cinco minutos que eu remava, tinha que parar para tentar de alguma forma amenizar a dor.

     Faltando sete km já conseguia avistar a praia, que mesmo perto, parecia inalcançável. A estratégia era negociar com o corpo, acreditar que poderia um pouco mais, mais um pouco. Lutava, então, pela sobrevivência e já não mais pela medalha. Eu estava portando colete salva vidas, o que não iria evitar de sucumbir se caísse inconsciente na água, pois estava desidratado ao extremo e com as energias contadas na ponta dos dedos.

     Últimos três km. Avistei um jet ski dos bombeiros e pedi para ser escoltado até a praia. Isso me trouxe a motivação que eu precisava para terminar a prova, pois sabia que já ‘estava à salvo’ com a presença deles.  Mais 30 min de remada e a parte frontal do meu caiaque beijou as areias da Praia da Ponta Negra em Manaus. Foram 10 minutos de reflexão, jogado no chão enquanto recebia hidratação dos meus colegas de equipe.

     Apesar da 4° colocação na canoagem e da 9° colocação por equipes, tinha plena consciência de que a vitória eu tinha alcançado. Vitória sobre o medo, sobre a dor, sobre o corpo e, principalmente, sobre a força incalculável da natureza. E esta última eu somente alcancei porque respeitei, do início ao fim, o poderoso Amazonas e seus obstáculos.

     Cheguei em Manaus de um tamanho, e saí sem dúvidas muito MAIOR. Agradeço aos meus colegas de equipe, a Diana Nishimura Carneiro pelo convite, a Red Bull pela organização do evento, e ao grande apoio de Minas Outdoor Sports e Nutri Store suplementos alimentares.

Por Gilvan Ribeiro, atleta e estudante de jornalismo.