Preso depois de cinco anos foragido, um dos fundadores do site “Pirate Bay”, Hans Fredrik Lennart Neij, foi detido na Tailândia há cerca de 20 dias, condenado por pirataria informática. O “Pirate Bay” é um dos maiores portais do mundo para troca e download de arquivos, entre eles músicas, filmes, programas de computador, etc. A prisão reacendeu o debate sobre a violação de direitos autorais, perseguida firmemente por grandes empresas, como estúdios de cinema, que ainda não encontraram uma forma concreta de driblar a pirataria e manter seus lucros.
A disputa entre empresas e sites de downloads não é de hoje, começou em meados dos anos 2000, com a popularização do compartilhamento de músicas a partir do site “Napster” (offline) e das decisões judiciais para o fechamento do site “megaupload”.
Mesmo assim, ainda é fácil encontrar material pirata na internet, bastando uma rápida pesquisa nos sites de buscas para achar diversos conteúdos, sendo eles antigos ou até mesmo inéditos, como álbuns de músicas recém lançados ou filmes que mal estrearam nos cinemas.
Muitos artistas já entraram juntos na onda do compartilhamento gratuito e distribuem seus materiais na internet, encontrando outras formas de obter renda, como bilheterias de shows, publicidade, e venda de materiais especiais complementares dos álbuns. Porém, grupos influentes do mercado da arte ainda não encontraram uma forma de conviver de forma harmoniosa com essa situação e continuam apostando na justiça para deter e frear o mercado informal.
Voltar ao passado para entender o futuro: a história da distribuição
Se voltarmos ao ano de 1915 teremos uma situação muito semelhante com a atual. É a história da “criação” de Hollywood. No final do século 19 e início do 20, Thomas Edison, o famoso inventor, patenteou diversos dispositivos tecnológicos para a criação de filmes, sendo um dos primeiros diretores e responsáveis sobre a recente indústria do cinema.
Edison, junto com outros detentores de patentes, como Eastman Kodak (Fundador da Kodak), fundaram a Motion Picture Patent Company (MPPC), uma companhia que monopolizava todo mercado tecnológico dos filmes, com o controle das patentes sobre rolos de filmes, as câmeras de cinema até os estúdios que faziam os filmes e os projetores. Qualquer um que quisesse fazer um filme nessa época, necessariamente deveria estar ligado a MPPC, e quem não estivesse de acordo com a companhia, era denunciado aos tribunais por uso irregular das patentes pertencentes a eles.
Assim, para fugir do monopólio de Thomas Edison, produtores independentes resolveram ir embora para Los Angeles, na Califórnia, mais especificamente na hoje famosa Hollywood. Assim, puderam escapar das reclamações de propriedade de Edison, e rapidamente o lugar virou a capital mundial da indústria cinematográfica.
Desse modo, Hollywood surgiu de um desejo de evitar as perseguições judiciais de um monopólio, ou traduzindo para os termos atuais, a cidade nasceu da própria pirataria. E agora, em 2014, é a própria que luta contra todos que burlam seus direitos autorais, com suas gigantescas companhias cinematográficas que tentam impedir de todas as formas os downloads ilegais.
Locadoras sobrevivem em meio a crise
A grande sensação dos espaços para alugar filmes iniciou nos anos 90, com a popularização dos VHS, e tomou forma no início dos anos 2000, com a explosão no número de DVD’s vendidos no país. O número de locadoras cresceu de maneira gigantesca, até que outras formas para ver filmes entraram em cena e o mercado começou a diminuir.
Um ano atrás, em novembro de 2013, a Blockbuster, que foi a maior rede de locadoras de filmes no mundo, anunciou o fim da empresa, com o fechamento das 300 lojas varejistas restantes nos EUA. Esse era só mais um grande sinal de que o mercado para as locadoras estava em uma grande crise, fechando diversos negócios pelo mundo.
Entre os fatores responsáveis pela crise, estão a pirataria (dvds físicos piratas e downloads pela internet), o crescimento das assinaturas de canais de TV a cabo, com diversas opções para assistir filmes, e negócios como a Netflix, uma empresa que oferece serviço de TV por Internet, com mais de 50 milhões de assinantes em mais de 40 países.
Em Santa Maria, uma das maiores locadoras de filmes da cidade, a Spaço Vídeo, sempre procurou maneiras de inovar e sobreviver durantes seus diversos anos de existência. Localizada no Bairro Medianeira, anexo ao mercado Nacional, a locadora desde os anos 90 administrou seu público e lidou com as mudanças do mercado. Antes, alugava VHS e jogos de vídeo game, e na troca de século, vendeu todo seu acervo de fitas cassetes e games, substituindo pelos DVD’s.
Hoje mantém a venda parte do acervo de filmes em DVD, pelo preço de R$5,00, enquanto completa as prateleiras com o Blu-Ray, que contêm áudio e vídeo em melhores definições. Além disso, mantém uma cafeteria, que contribui na renda do empreendimento.
Confira o ranking e trailers dos filmes mais locados entre 10/11/2014 à 16/11/2014, segundo a União Brasileira de Vídeo (UBV):
– Malévola
– X-Men Dias de um Futuro Esquecido
– Oldboy
– Godzilla
Cinemas são o maior investimento
O mercado das salas de exibição é outro que viu seu negócio ameaçado com as novidades, porém ainda mantem bons números de público e arrecadação em bilheteria.
Um famoso caso envolvendo pirataria no cinema foi em 2007 com o filme Tropa de Elite, do diretor José Padilha. Na época, antes mesmo de estrear nas salas, já havia sido distribuído cópias piratas, e segundo pesquisa do Ibope, mais de 11 milhões de pessoas teriam visto o filme de forma ilegal. Porém, mesmo assim, o filme atingiu números expressivos, atingindo a sétima maior bilheteria de 2007 no Brasil, com um faturamento total de R$20.422.567 e 2.421.295 espectadores.
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O cinema 3D e o som digital se tornaram os mais fortes aliados para continuar atraindo fãs para as salas, visto que a qualidade é muito superior aos filmes vistos em casa, além de proporcionar experiências diferentes das convencionais. Esta é a opinião da estudante Elisa Santos, de 24 anos:
– Assisto filmes em casa, mas o cinema ainda é uma boa opção pra vir acompanhada, além dos atrativos de ver os lançamentos e filmes em 3D.
Formas alternativas para apreciar cinema em Santa Maria
Para quem quer assistir ótimos filmes de forma gratuita e ainda debater com outros amantes da sétima arte, é possível frequentar os cineclubes, espaços destinados para uma verdadeira imersão na cultura do cinema. No total, segundo o Conselho Nacional de Cineclubes Brasileiros (CNC), são 1370 cineclubes no país, sendo que 440 estão filiados ao CNC.
Em Santa Maria, o cineclube Lanterninha Aurélio, localizado no auditória da CESMA, na Rua Professor Braga, tem sessões todas as segundas feiras às 18:00 horas, sempre dividido em algum tema diferente por mês, que variam desde terror à exibições de um diretor específico, com debates ao final de cada apresentação. Há também o Cineclube Otelo, também dividido por ciclos, que acontece na Sede II do Sindicado dos Bancários de Santa Maria e Região (Rua Serafim Valandro, 835, sala 21).
Frequentadora de cineclubes, Laura Lis, 19 anos, estudante, confirma que os locais ainda são procurados para assistir filmes: “Frequento sempre que posso exibições em cineclubes, pois além de ótimos filmes, é possível debater e entender mais sobre o que vimos”.
Outra alternativa são os festivais e ciclos de exibição que acontecem durante todo o ano na cidade, como o Santa Maria Vídeo e Cinema, importante festival de longas e curtas metragens, incentivador da produção local e nacional, além de realizar mostras, oficinas e outros eventos ligados ao audiovisual. Já a Semana do Audiovisual (SEDA), grande evento organizado pela Casa Fora do Eixo, acontece em Santa Maria desde 2010, e nesse ano está marcado para acontecer entre os dias 15 e 21 de dezembro, junto com o Festival Macondo Circus.
Um filme que ganhou destaque na SEDA 2013 foi o documentário Elena, dirigido por Petra Costa, baseado na vida da atriz Elena Andrade, irmã mais velha de Petra. O longa foi um destaque nessa nova categoria de produções que inovaram em conjunto com a internet. O filme, por exemplo, chegou e vir em forma de senha na Revista Piauí, que por meio de um site, ao digitar a senha, era disponibilizado por 48 horas.
Confira alguns sites para ver (legalmente) filmes e seriados
– O site Entertainment Magazine oferece vários filmes e programas de televisão para download grátis.
– Em PublicDomainsTorrents é possível baixar filmes grátis que estão em domínio público usando a rede BitTorrent.
– O Porta Curtas é o maior portal brasileiro de curta-metragem. O acervo conta com mais de 5000 filmes, dos quais 687 podem ser assistidos de graça.
– O site Open Culture disponilizou 20 filmes de Andrei Tarkovsky gratuitamente.
– O Internet Archive, organização sem fins comerciais dedicada a manter um arquivo de recursos multimídia na internet, disponibilizou para download 20 filmes do ator, diretor e produtor britânico Charlie Chaplin.
Por Daniel Duarte Pillar, para a disciplina de Jornalismo Online