A vigília marcou a noite e a madrugada de hoje, 27 de janeiro, quando completa o primeiro ano da tragédia na boate Kiss. Familiares, amigos, sobreviventes, pessoas solidárias, além da imprensa fizeram vigília em frente ao local da boate.
Quem passava pela rua dos Andradas, 1925, se comovia bastante quando via dezenas de pessoas do movimento Luto à Luta pintarem de branco no asfalto 242 corpos e um coração, cada um representando uma vítima do incêndio. No coração desenhado na frente da porta principal da tragédia, foram colocadas 242 velas, onde um familiar por vez acendia em homenagem ao seu ente querido. Também foi realizada a contagem de um até 242, em voz alta e de modo coletivo.
Foram diversos os atos de homenagens e manifestações realizados durante a madrugada de 27. Todos eles clamavam por Justiça. Foram fortes momentos de emoções, lembranças, orações, lágrimas, choros e abraços. Alguns dos presentes chegaram a passar mal, mas foram logo atendidos por equipes de saúde instaladas no local.
No tapume, novos cartazes com fotografias foram expostos, além de laços brancos e balões. A fachada do prédio também recebeu a charge do cartunista Carlos Latuff, que abraçou a luta dos sobreviventes e familiares da tragédia. Ao falar sobre a charge, Latuff diz que “a construção a gente fez foi juntos, e o bom desse desenho é porque ela dá nomes aos bois”.
O cartunista pede que as pessoas sejam solidárias, sensíveis, que agora a prioridade é por justiça. “O que vocês fizeram é exatamente o que as Mães da Praça de Maio, na Argentina, fizeram, o que as mães palestinas fazem: é transformar a tristeza em luta”. E ainda defende que o movimento social na cidade deve fazer parte da agenda de protestos da cidade, do RS e do Brasil, “da mesma forma que a gente luta pelos indígenas, pelos sem teto, pelo sem terra, a gente deve lutar pelos parentes das vítimas da Kiss”, pondera Latuff.
A caminhada teve saída da tenda das vítimas localizada na Praça Saldanha Marinho, com mais de 700 pessoas que desceram em direção ao local da tragédia, com cartazes, rostos pintados de palhaço, choros e tristeza, acompanhados de diversas sirenes, para que a cidade não caísse no esquecimento do que ocorreu há um ano. Em horário estratégico, 3h da manhã, o som de uma sirene foi ecoado em alto-falantes, seguido do grito: “Acorda Santa Maria”.
O presidente da Sedufsm, Rondon de Castro, representante do Movimento Luto à Luta, em suas palavras salientou que “a razão de estarmos aqui é a razão de estarmos lutando pela justiça. Nós vamos lutar para que justiça seja feita, seja com movimento sindical, social , seja o que for nós estamos na luta”.
Texto: Tiéle Abreu, acadêmica de jornalismo da Unifra
Fotos: Gabriel Haesbaert, Laboratório de Fotografia e Memória, Unifra