
Se para o mercado santa-mariense a expectativa de vendas para a Páscoa é de expansão, para os indígenas, a demanda pelo artesanato é desanimadora. Todos os anos, quando a Páscoa se aproxima, índios kaingangs ocupam a área central da cidade para expor e oferecer à venda a sua arte. Cestas de diferentes tamanhos e cores parecem desmentir a situação precária dos artesões indígenas em Santa Maria.
O índio Valdinei Pereira expõe as cestas de Páscoa confeccionadas por ele mesmo, na calçada. A falta de um espaço adequado para exposição dos produtos evidencia o descaso da prefeitura da cidade com a produção local. Sentado em frente à Rua Alberto Pasqualini, ele confessa que a expectativa de venda é pouca e que conta com o feriado para garantir o renda para o básico.
No decorrer da Praça da Saldanha Marinho, o cenário não é diferente. Aliás, há ainda mais cestaria sem vender no Viaduto Evandro Behr. Os indígenas ficam dependentes do reconhecimento do seu trabalho, e não esperam que a venda seja apenas um subsídio de solidariedade alheia. Os produtos são bonitos, úteis e mais acessíveis (em média 12 reais cada cesta) que aqueles vendidos nas chocolatarias da cidade.
“A confecção dura cerca de 15 minuto no decorrer do tempo a gente vai adquirindo experiência e o trabalho vai ficando mais rápido” salienta a índia Neiva Sales.

Os indígenas que utilizam o espaço da Praça Saldanha Marinho para expor o trabalho têm no artesanato a sua garantia de sustento, já que a oportunidade de emprego e inserção social é praticamente nula. Durante o processo histórico de colonização européia nas Américas, a frente de expansão econômica se sobrepôs aos direitos individuais que garantiam a liberdade de expressão cultural dos nativos.
A páscoa, época de confraternização e solidariedade, tem no centro de Santa Maria o reflexo da segregação social. A festa cristã, proveniente da religião imposta aos indígenas na chegada dos europeus ao continente Sul-americano, não acolhe esse povo com seus valores. A baixa expectativa de vendas não é proveniente de um pessimismo desmedido, e sim de uma realidade que se repete há anos.