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A parcialidade, a neutralidade e a superficialidade no jornalismo brasileiro

Observatório da mídia CS-02

 

O espaço midiático, hoje, se divide em inúmeras vertentes e gêneros. Há jornalismo literário, jornalismo opinativo, jornalismo gonzo. Entretanto, todas as formas da profissão, indiscutivelmente, englobam um universo parcial, pois o título, o texto, a fotografia, a imagem em movimento, parte de um ser com ideologias, um ser que enxerga. E nós não nos cegamos diante do mundo. Aliás, até ser cego é uma escolha. Fechar os olhos para certos contextos ou atos é opcional.

A neutralidade no jornalismo não existe. Tudo é questão de escolha. Optou-se por não informar os fatos históricos que levaram ao ataque do 11 de setembro nos Estados Unidos (em algumas coberturas de meios de comunicação). Escolheu-se não problematizar o porquê dos presídios estarem superlotados e ainda ter tanta violência (numa reportagem sobre violência da RBS). São assuntos complexos e profundos que só se mostram  rasos, superficiais. Nota-se a parcialidade em matérias assim, além de vermos a linha ideológica que o veículo segue, mesmo que discretamente.

A falta de neutralidade no jornalismo não é problemática. O problema é uma parcialidade radical,  uma parcialidade que propaga discursos de ódio  – o que não é opinião e sim preconceito. E a possibilidade dos veículos, hoje, assumirem que não são neutros dá uma nova perspectiva para o jornalismo.

O jornalista transmite a informação com análise crítica, desde que esta se baseie em fundamentos teóricos e experiências. Ele abre horizontes os quais, talvez, as pessoas antes não tenham notado. No momento em que todo comunicador busca ser neutro e apenas repassar a notícia, ele apenas dita ou repete algo, ele não cria uma atmosfera reflexiva para se pensar em cima do fato. O fato passa a ser uma mera notícia. E então, ele renuncia a formar opinião. Escrever uma notícia sem um olhar crítico não tira ninguém de sua zona de conforto, e só quando as pessoas saem dessa zona que elas se obrigam a refletir. E é um tanto quanto contraditório chamarmos os comunicadores de “formadores de opinião”, mas exigirmos imparcialidade, pois nenhum ser humano é imparcial, e o jornalista muito menos.

O jornalismo não foi criado para ficar “em cima do muro”. Ele deve movimentar, perturbar e trazer discussão acerca dos assuntos que reporta. Quando o jornalista toma a responsabilidade de dar sua opinião, de criticar um acontecimento ele busca embasamento teórico para isso. Ele enxerga e se coloca no lugar das pessoas envolvidas no fato. Só então temos um texto rico  em conteúdo, em apuração e crítica. A partir de textos com diferentes visões – mostradas pelas mídias alternativas e independentes – nós conseguimos traçar um caminho para uma opinião sobre o problema -porque notícia que choca é problema. A sociedade entra em alerta quando o jornalismo traz um fato problematizado, a massa pensa. O monopólio do setor de comunicação e a escancarada parcialidade superficial das grandes mídias comandam o mercado. O problema não é o comunicador dar sua opinião embasada, mas sim o meio de comunicação se influenciar por interesses que não atendem à sociedade e não estão pautados no interesse público.

amanda

 

Amanda Souza é estudante de jornalismo, 4º semestre, monitora do Laboratório de Pesquisa em Comunicação e voluntária no Laboratório de Fotografia e Memória da Unifra. Milita ativamente no movimento feminista.

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O espaço midiático, hoje, se divide em inúmeras vertentes e gêneros. Há jornalismo literário, jornalismo opinativo, jornalismo gonzo. Entretanto, todas as formas da profissão, indiscutivelmente, englobam um universo parcial, pois o título, o texto, a fotografia, a imagem em movimento, parte de um ser com ideologias, um ser que enxerga. E nós não nos cegamos diante do mundo. Aliás, até ser cego é uma escolha. Fechar os olhos para certos contextos ou atos é opcional.

A neutralidade no jornalismo não existe. Tudo é questão de escolha. Optou-se por não informar os fatos históricos que levaram ao ataque do 11 de setembro nos Estados Unidos (em algumas coberturas de meios de comunicação). Escolheu-se não problematizar o porquê dos presídios estarem superlotados e ainda ter tanta violência (numa reportagem sobre violência da RBS). São assuntos complexos e profundos que só se mostram  rasos, superficiais. Nota-se a parcialidade em matérias assim, além de vermos a linha ideológica que o veículo segue, mesmo que discretamente.

A falta de neutralidade no jornalismo não é problemática. O problema é uma parcialidade radical,  uma parcialidade que propaga discursos de ódio  – o que não é opinião e sim preconceito. E a possibilidade dos veículos, hoje, assumirem que não são neutros dá uma nova perspectiva para o jornalismo.

O jornalista transmite a informação com análise crítica, desde que esta se baseie em fundamentos teóricos e experiências. Ele abre horizontes os quais, talvez, as pessoas antes não tenham notado. No momento em que todo comunicador busca ser neutro e apenas repassar a notícia, ele apenas dita ou repete algo, ele não cria uma atmosfera reflexiva para se pensar em cima do fato. O fato passa a ser uma mera notícia. E então, ele renuncia a formar opinião. Escrever uma notícia sem um olhar crítico não tira ninguém de sua zona de conforto, e só quando as pessoas saem dessa zona que elas se obrigam a refletir. E é um tanto quanto contraditório chamarmos os comunicadores de “formadores de opinião”, mas exigirmos imparcialidade, pois nenhum ser humano é imparcial, e o jornalista muito menos.

O jornalismo não foi criado para ficar “em cima do muro”. Ele deve movimentar, perturbar e trazer discussão acerca dos assuntos que reporta. Quando o jornalista toma a responsabilidade de dar sua opinião, de criticar um acontecimento ele busca embasamento teórico para isso. Ele enxerga e se coloca no lugar das pessoas envolvidas no fato. Só então temos um texto rico  em conteúdo, em apuração e crítica. A partir de textos com diferentes visões – mostradas pelas mídias alternativas e independentes – nós conseguimos traçar um caminho para uma opinião sobre o problema -porque notícia que choca é problema. A sociedade entra em alerta quando o jornalismo traz um fato problematizado, a massa pensa. O monopólio do setor de comunicação e a escancarada parcialidade superficial das grandes mídias comandam o mercado. O problema não é o comunicador dar sua opinião embasada, mas sim o meio de comunicação se influenciar por interesses que não atendem à sociedade e não estão pautados no interesse público.

amanda

 

Amanda Souza é estudante de jornalismo, 4º semestre, monitora do Laboratório de Pesquisa em Comunicação e voluntária no Laboratório de Fotografia e Memória da Unifra. Milita ativamente no movimento feminista.