Criado em 1903 como clube, o Treze de Maio surgiu para proporcionar lazer para a população negra. Seu auge foi entre as décadas de 1950 a 1970. Porém, em 1990 encerrou suas atividades, reabrindo somente 11 anos depois como museu.
Um projeto realizado por João Heitor Silva Macedo e Giane Escobar – quando eram alunos do curso de especialização de Museologia do Centro Universitário Franciscano – tinha a proposta de tornar o prédio em que funcionava o clube, que se encontrava em mau estado, um espaço para o resgate da história Afro.
A execução do projeto teve a participação do Movimento Negro de Santa Maria. Uma das pessoas que fazia parte deste grupo era Andressa Messias, hoje bailarina e coordenadora da companhia de dança afro Euwa Dandaras. Andressa relembra como foi o processo de reforma do edifício que se localiza na Rua Silva Jardim. “O prédio estava há anos abandonado. Com verbas de projetos aprovados pelo Museu, foram feitas reformas para estruturar o lugar que não tinha condições de ser ocupado”, conta. A companhia de dança da qual a bailarina participa, é uma das oficinas oferecidas pelo museu.
Andressa ainda ressalta a importância das oficinas: “A Euwa Dandaras tem o objetivo de resgatar a autoestima de meninas negras e reconhecimento da cultura afro. As oficinas são destinas à população carente, de periferias, na sua maioria negros”.
Além da Cia de dança, há grupos de hip hop, samba e coral. Uma delas é a oficina de capoeira Barra Vento. O professor Tiago Bello e o mestre do grupo, Sandro Rogério Militão, contam como se desenvolveu a oficina no museu. “Sempre houve contato entre a diretoria do Treze de Maio e o grupo de capoeira”, revela Militão.
Conforme Militão e Bello, a oficina de capoeira existe há 13 anos e a proposta é fazer um resgaste étnico e reunir os jovens negros da região. O mestre ainda revela que o museu Treze de Maio é o segundo espaço de debate, discussão e restauração da cultura afro no país. Ainda afirmam que há um projeto do museu para a construção de pequenos núcleos em algumas regiões da cidade.
Desde o ano passado o museu se encontra fechado por enfrentar dificuldades financeiras, já que está interditado por apresentar a estrutura em más condições. “Os custos para a reforma do telhado, projeto de engenheiros, laudos do Plano de Prevenção e Proteção Contra Incêndios (PPCI) são altos”, conta Macedo.
Com isso, as oficinas tiveram de mudar de endereço provisoriamente. De acordo com Millena Lima, bailarina do Euwa Dandaras, os ensaios de dança já ocorreram em diversos locais. “Já dançamos em uma quadra de escola de samba, ensaiamos em lugares públicos, como as quadras do Itaimbé, e por fim estávamos ensaiando em um espaço alugado na rua Rio Branco”, relata.
Millena conheceu o museu por meio de um convite de uma professora da escola em que estudava e na qual fazia parte de um projeto de dança. Para ela, o Treze de Maio é importante para o desenvolvimento dos jovens, além de ser gratuito para a realização das oficinas. “Ele ressalta a autoestima de cada um que compõe aquele espaço, já que a grande massa é negra. Além disso, dá direções a esses alunos, faz com que eles descubram seus potenciais e se valorizem, e a partir disso, possam buscar por seus ideais, se aperfeiçoar e ingressar em cursos superiores e técnicos para mudar as histórias de seus antepassados”, conclui.
Os grupos Barra Vento e Euwa Dandaras estão em atividade na Avenida Rio Branco, 135, no Hotel Samara. As aulas de capoeira acontecem nas segundas, quartas e sextas-feiras, das 20h30 às 22h.
Para o Treze de Maio reabrir, o custo necessário, inicialmente, é de 40 mil reis, de acordo com Militão. Há mais de quatro anos a prefeitura assumiu o prédio e é responsável pelo pagamento das contas de água e luz.
João Heitor e Andressa Messias revelam que a expectativa quanto ao futuro do Treze de Maio é de que o ele seja reformado e reaberto. “A expectativa é que o Treze de Maio possa expandir a relação com a comunidade, por meio das escolas e oficinas, e atingir um universo muito maior de pessoas, principalmente da periferia”, pontua Silva.
Em 2006, alunos do Centro Universitário Franciscano produziram o documentário Pérola Negra – em que a história do Treze de Maio é contada por quem frequentou o clube e pelos administradores do museu.