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Arquitetura inclusiva, uma cultura em construção

Arquiteta inclusiva é a área que respeita a diversidade humana e gera acessibilidade para todos. No Brasil, esse novo conceito começou a ser discutido por volta dos anos 80, sendo que há 20 anos já se tratava sobre o assunto nos Estados Unidos, por exemplo. Aqui no país, o principal objetivo é conscientizar profissionais da área da construção sobre a acessibilidade, definindo projetos e ambientes que possam ser usados por todos, sem necessidade de adaptação ou projeto especializado para pessoas com deficiências. Tal direcionamento não deixa de ser uma prática de inclusão social, uma vez que inclui produtos e materiais acessíveis para todas as pessoas, independentemente de suas características pessoais, idade ou habilidades. Nesse modelo de arquitetura, qualquer ambiente ou produto pode ser manipulado, usado ou alcançado por qualquer pessoa, seja qual for o seu tamanho, sua postura ou mobilidade. A arquitetura inclusiva toma como princípios básicos os mesmos do Desenho Industrial: utilização equitativa, flexibilidade de utilização, utilização simples e intuitiva, informação perceptível, tolerância ao erro, esforço físico mínimo, além da dimensão e espaço de abordagem e de utilização.

Desde junho de 2004 é validada pela Norma Brasileira 9050,  que aborda o tema de Acessibilidade a edificações, mobiliário, espaços e equipamentos urbanos. O assunto também é tratado como disciplina obrigatória na grade curricular dos cursos universitários de arquitetura e urbanismo, afim de formar profissionais capazes de atender às novas exigências, além de expandir a pesquisa na área e abrir espaço à discussão do tema.

Banheiros adaptados ajudam na rotina de uma pessoa com deficiência física. Fonte: Arquivo Elen Bertagnolli, arquiteta.

Segundo a arquiteta e urbanista Elen Bertagnolli, formada há 13 anos, o interesse pela área inclusiva na arquitetura tem aumentado nos últimos anos de modo crescente. “Vejo muito mais esse interesse nas empresas privadas, onde estão cada vez mais criando produtos adaptados e universais do que na pesquisa e na utilização. Ainda é uma área pouca explanada e esclarecida perante os profissionais e órgãos públicos”, explica. Ela ainda completa dizendo que percebe uma lentidão quanto à informação, especialmente comparada a países desenvolvidos, onde as normas e leis são mais fiscalizadas.

Bertagnolli conta que logo quando se formou, em 2005, se deparou com o primeiro projeto de adaptação residencial para uma pessoa com necessidades especiais e, desde então, vem se especializando na área. “Já tenho no currículo a elaboração de duas reformas hospitalares, um setor que ainda possui muitas construções sem espaços adaptados para todos os tipos de pessoas, idade ou habilidade, apesar de ser o local que mais necessita desse cuidado”, finaliza.

[dropshadowbox align=”none” effect=”lifted-both” width=”auto” height=”” background_color=”#ffffff” border_width=”1″ border_color=”#dddddd” ]O livro “Desenho Universal” da jornalista Silvana Cambiaghi, traz informações de que há no Brasil cerca de 27 milhões de deficientes e 19 milhões de idosos. Estima-se que dentro de dez anos, a população com mais de 60 anos chegará a 30 milhões, criando assim novos requisitos para a cidade e seus espaços.[/dropshadowbox]

Para Cláudia Ravazi, funcionária pública, 47 anos,  que faz uso da cadeira de rodas, a adaptação de lugares públicos quanto à acessibilidade não é suficiente. Segundo ela, existem adaptações padrão, como banheiro, mas não há, por exemplo, meio fio na inclinação correta, parques com brinquedos adaptados ou mesmo acesso a determinados prédios públicos onde são feitos eventos abertos em que as pessoas possam se posicionar em locais apropriados para ter uma visão melhor, como praças. “O próprio espaço de apresentação na praça: a pessoa fica ali em cima, mas as pessoas ficam em pé e isso impede um pouco a visibilidade”. Ela completa dizendo que percebe uma mudança aos poucos, mas que ainda há prédios muito antigos que dificultam a acessibilidade: “Eu sinto que as pessoas estão tendo a disposição de mudar. Algumas a gente sabe que é por força de lei. Em outros casos, eu noto que as pessoas tentam ou colocar uma plataforma ou mudam o seu ambiente para adaptar, mas ainda é pouco. Ainda percebi bastante coisa a ser feita”, relata.

Rampas de acesso são fundamentais ao deslocamento de cadeirantes. Foto: divulgação

Para fazer a adaptação de sua casa, ela fez uso rampas de acesso e barras de apoio no banheiro, principalmente no box. Além disso, o banheiro é um pouco maior, para que ela possa ter um pouco mais de liberdade com a cadeira. A funcionária pública explica que isso é bem pouco perto de algumas necessidades de outras pessoas. “Eu tive a facilidade de ter um pai que era construtor. Então houve uma facilidade em função da família ser envolvida com isso. O que é diferente de uma pessoa que se torna deficiente e que não tem, mas necessita do amparo de um profissional. Às vezes, acaba sendo muito oneroso. No meu caso a gente foi fazendo de acordo com aquilo que eu sentia necessidade” conta.

Símbolo internacional de acesso. A figura deve estar sempre voltada para o lado direito e nenhuma modificação, estilização ou adição deve ser feita a este símbolo. Fonte: ABNT NBR 9050, 31/05/2004.

Quanto à prática do debate e a exploração do assunto, Ravazi diz que tem lido bastante e sido muito sensível aos princípios do desenho universal. Ela cita um exemplo acerca do banheiro adaptado, onde há a placa do símbolo internacional de acesso: “Às vezes, eu vou utilizar o banheiro e ele está ocupado. Então a pessoa sai, um pouco assustada, e diz: “usei o teu banheiro”. Não, o meu banheiro é o de casa. Esse banheiro é apenas adaptado. É o espaço que pode ser utilizado tanto pelo cadeirante como pela pessoa com andador. A pessoa obesa ou a pessoa baixa. Todos os grupos podem utilizar o mesmo espaço sem que aquele seja um espaço exclusivo” , afirma.

Reportagem produzida para a disciplina de Jornalismo Científico

 

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Arquiteta inclusiva é a área que respeita a diversidade humana e gera acessibilidade para todos. No Brasil, esse novo conceito começou a ser discutido por volta dos anos 80, sendo que há 20 anos já se tratava sobre o assunto nos Estados Unidos, por exemplo. Aqui no país, o principal objetivo é conscientizar profissionais da área da construção sobre a acessibilidade, definindo projetos e ambientes que possam ser usados por todos, sem necessidade de adaptação ou projeto especializado para pessoas com deficiências. Tal direcionamento não deixa de ser uma prática de inclusão social, uma vez que inclui produtos e materiais acessíveis para todas as pessoas, independentemente de suas características pessoais, idade ou habilidades. Nesse modelo de arquitetura, qualquer ambiente ou produto pode ser manipulado, usado ou alcançado por qualquer pessoa, seja qual for o seu tamanho, sua postura ou mobilidade. A arquitetura inclusiva toma como princípios básicos os mesmos do Desenho Industrial: utilização equitativa, flexibilidade de utilização, utilização simples e intuitiva, informação perceptível, tolerância ao erro, esforço físico mínimo, além da dimensão e espaço de abordagem e de utilização.

Desde junho de 2004 é validada pela Norma Brasileira 9050,  que aborda o tema de Acessibilidade a edificações, mobiliário, espaços e equipamentos urbanos. O assunto também é tratado como disciplina obrigatória na grade curricular dos cursos universitários de arquitetura e urbanismo, afim de formar profissionais capazes de atender às novas exigências, além de expandir a pesquisa na área e abrir espaço à discussão do tema.

Banheiros adaptados ajudam na rotina de uma pessoa com deficiência física. Fonte: Arquivo Elen Bertagnolli, arquiteta.

Segundo a arquiteta e urbanista Elen Bertagnolli, formada há 13 anos, o interesse pela área inclusiva na arquitetura tem aumentado nos últimos anos de modo crescente. “Vejo muito mais esse interesse nas empresas privadas, onde estão cada vez mais criando produtos adaptados e universais do que na pesquisa e na utilização. Ainda é uma área pouca explanada e esclarecida perante os profissionais e órgãos públicos”, explica. Ela ainda completa dizendo que percebe uma lentidão quanto à informação, especialmente comparada a países desenvolvidos, onde as normas e leis são mais fiscalizadas.

Bertagnolli conta que logo quando se formou, em 2005, se deparou com o primeiro projeto de adaptação residencial para uma pessoa com necessidades especiais e, desde então, vem se especializando na área. “Já tenho no currículo a elaboração de duas reformas hospitalares, um setor que ainda possui muitas construções sem espaços adaptados para todos os tipos de pessoas, idade ou habilidade, apesar de ser o local que mais necessita desse cuidado”, finaliza.

[dropshadowbox align=”none” effect=”lifted-both” width=”auto” height=”” background_color=”#ffffff” border_width=”1″ border_color=”#dddddd” ]O livro “Desenho Universal” da jornalista Silvana Cambiaghi, traz informações de que há no Brasil cerca de 27 milhões de deficientes e 19 milhões de idosos. Estima-se que dentro de dez anos, a população com mais de 60 anos chegará a 30 milhões, criando assim novos requisitos para a cidade e seus espaços.[/dropshadowbox]

Para Cláudia Ravazi, funcionária pública, 47 anos,  que faz uso da cadeira de rodas, a adaptação de lugares públicos quanto à acessibilidade não é suficiente. Segundo ela, existem adaptações padrão, como banheiro, mas não há, por exemplo, meio fio na inclinação correta, parques com brinquedos adaptados ou mesmo acesso a determinados prédios públicos onde são feitos eventos abertos em que as pessoas possam se posicionar em locais apropriados para ter uma visão melhor, como praças. “O próprio espaço de apresentação na praça: a pessoa fica ali em cima, mas as pessoas ficam em pé e isso impede um pouco a visibilidade”. Ela completa dizendo que percebe uma mudança aos poucos, mas que ainda há prédios muito antigos que dificultam a acessibilidade: “Eu sinto que as pessoas estão tendo a disposição de mudar. Algumas a gente sabe que é por força de lei. Em outros casos, eu noto que as pessoas tentam ou colocar uma plataforma ou mudam o seu ambiente para adaptar, mas ainda é pouco. Ainda percebi bastante coisa a ser feita”, relata.

Rampas de acesso são fundamentais ao deslocamento de cadeirantes. Foto: divulgação

Para fazer a adaptação de sua casa, ela fez uso rampas de acesso e barras de apoio no banheiro, principalmente no box. Além disso, o banheiro é um pouco maior, para que ela possa ter um pouco mais de liberdade com a cadeira. A funcionária pública explica que isso é bem pouco perto de algumas necessidades de outras pessoas. “Eu tive a facilidade de ter um pai que era construtor. Então houve uma facilidade em função da família ser envolvida com isso. O que é diferente de uma pessoa que se torna deficiente e que não tem, mas necessita do amparo de um profissional. Às vezes, acaba sendo muito oneroso. No meu caso a gente foi fazendo de acordo com aquilo que eu sentia necessidade” conta.

Símbolo internacional de acesso. A figura deve estar sempre voltada para o lado direito e nenhuma modificação, estilização ou adição deve ser feita a este símbolo. Fonte: ABNT NBR 9050, 31/05/2004.

Quanto à prática do debate e a exploração do assunto, Ravazi diz que tem lido bastante e sido muito sensível aos princípios do desenho universal. Ela cita um exemplo acerca do banheiro adaptado, onde há a placa do símbolo internacional de acesso: “Às vezes, eu vou utilizar o banheiro e ele está ocupado. Então a pessoa sai, um pouco assustada, e diz: “usei o teu banheiro”. Não, o meu banheiro é o de casa. Esse banheiro é apenas adaptado. É o espaço que pode ser utilizado tanto pelo cadeirante como pela pessoa com andador. A pessoa obesa ou a pessoa baixa. Todos os grupos podem utilizar o mesmo espaço sem que aquele seja um espaço exclusivo” , afirma.

Reportagem produzida para a disciplina de Jornalismo Científico