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Mesa redonda discute intolerância nas universidades

Na tarde da quarta-feira, 29,  o 9º Interfaces no Fazer Psicológico da Universidade Franciscana  encerrou com a mesa redonda que discutiu o papel social da universidade para além do debate sobre as (in)tolerâncias. Estavam presentes na mesa redonda Moisés Romanini, o doutor em Psicologia Social,  a doutora em Antropologia Social, Monalisa Dias e a estudante de pedagogia e psicologia e integrante do Coletivo de Resistência Artística Periférica de Santa Maria, Letícia dos Santos.

Moisés inicia a sua fala propondo aos presentes uma reflexão baseada em textos da filósofa Judith Butler, para pensar o seu lugar na universidade. Para o pesquisador, as  obrigações éticas do ser humano que se dão a partir das relações de proximidade e distância (sejam culturais ou territoriais) de algumas situações e a convocação ética que cada indivíduo sente a partir de imagens como, por exemplo, a situação das fronteiras e limites dos estados-nação e as segregações, no caso brasileiro hoje, os imigrantes venezuelanos. Tais movimentos refletem nas reações, de aceitação ou não, dos cidadãos, “o quanto nós, brasileiros temos que conviver com aqueles que talvez não desejamos”, instiga o psicólogo.

“Do lado de cá, aqui dentro das nossas fronteiras, quais imagens nos invocam eticamente? O que cabe à universidade e o que cabe na universidade? ” Com esse questionamento, Moisés apresenta imagens de duas pichações de cunho racista nas portas dos de alguns banheiros da Universidade de Santa Cruz do Sul – RS (UNISC). “Então, partindo da realidade de que as universidades são majoritariamente brancas e cisheteronormativas, a primeira reação do ser humano é negar e dizer que não somos racistas nem homofóbicos. Porque a negação é a primeira reação moral de responder a esses tipos de ataques”, explica o Psicólogo. E essa estratégia, na opinião de Moisés não só não resolve o problema como não condena os ataques.

Para Monalisa Dias, quando se pensa em universidade só se pensa em pesquisa ensino e extensão, mas também a universidade, além de ser um lugar de construção do conhecimento, é um lugar de muitos afetos, um lugar onde as pessoas passam muito tempo, conhecem pessoas, um lugar de muitos privilégios e tem sido também, um lugar racista, machista e homofóbico. Esta constatação leva a antropóloga ao questionamento: que conhecimento é esse que estamos produzindo?

Monalisa relembra um caso semelhante da UNISC, porém na Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), “isso aconteceu dentro de um curso das Ciências Sociais, e foi um choque maior ainda para a gente, por que a gente não espera. E então, me parece que tem lugares dentro das universidades que estudam mais as relações étnico-raciais e não deveria ser assim’, afirma.  Em sua fala, a antropóloga rebate ainda, o argumento de que as universidades são o reflexo de uma sociedade preconceituosa. “Mas não é bem assim, tem a ver com um pensamento do Brasil colonial, algo que deveria ser discutido em todas as áreas, não só na História e nas Ciências Sociais” acredita Monalisa.

A estudante de pedagogia Letícia dos Santos, conta que seu processo de aprendizagem acadêmica, passou também pelas suas experiências em movimentos sociais e da resistência de uma mulher negra. “Pensando na qualidade de ensino, eu me pergunto: que universidade é essa que não reconhece e não respeita a minha raça, minha cor, minha religião, minha identidade? ” reafirmando o  argumento de Monalisa.

Letícia se questiona: “a serviço de que e de quem estão as universidades? ” A estudante acredita que nesse sentido, as universidades e os cursos ainda estão muito a serviço do mercado de trabalho e aos cargos bem remunerados. “Eu não conseguia me ver como psicóloga, uma psicóloga negra fazendo atendimento de consultório, pois a graduação não dava conta de me fazer existir naquele espaço”, declara Letícia sobre ensino e representatividade. “Por isso, é que precise que se pense como estão se dando as formações dentro das universidades, o quanto a nossa intolerância enquanto indivíduo influencia no processo de aprendizagem com o outro e com o sistema”, finaliza.

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Na tarde da quarta-feira, 29,  o 9º Interfaces no Fazer Psicológico da Universidade Franciscana  encerrou com a mesa redonda que discutiu o papel social da universidade para além do debate sobre as (in)tolerâncias. Estavam presentes na mesa redonda Moisés Romanini, o doutor em Psicologia Social,  a doutora em Antropologia Social, Monalisa Dias e a estudante de pedagogia e psicologia e integrante do Coletivo de Resistência Artística Periférica de Santa Maria, Letícia dos Santos.

Moisés inicia a sua fala propondo aos presentes uma reflexão baseada em textos da filósofa Judith Butler, para pensar o seu lugar na universidade. Para o pesquisador, as  obrigações éticas do ser humano que se dão a partir das relações de proximidade e distância (sejam culturais ou territoriais) de algumas situações e a convocação ética que cada indivíduo sente a partir de imagens como, por exemplo, a situação das fronteiras e limites dos estados-nação e as segregações, no caso brasileiro hoje, os imigrantes venezuelanos. Tais movimentos refletem nas reações, de aceitação ou não, dos cidadãos, “o quanto nós, brasileiros temos que conviver com aqueles que talvez não desejamos”, instiga o psicólogo.

“Do lado de cá, aqui dentro das nossas fronteiras, quais imagens nos invocam eticamente? O que cabe à universidade e o que cabe na universidade? ” Com esse questionamento, Moisés apresenta imagens de duas pichações de cunho racista nas portas dos de alguns banheiros da Universidade de Santa Cruz do Sul – RS (UNISC). “Então, partindo da realidade de que as universidades são majoritariamente brancas e cisheteronormativas, a primeira reação do ser humano é negar e dizer que não somos racistas nem homofóbicos. Porque a negação é a primeira reação moral de responder a esses tipos de ataques”, explica o Psicólogo. E essa estratégia, na opinião de Moisés não só não resolve o problema como não condena os ataques.

Para Monalisa Dias, quando se pensa em universidade só se pensa em pesquisa ensino e extensão, mas também a universidade, além de ser um lugar de construção do conhecimento, é um lugar de muitos afetos, um lugar onde as pessoas passam muito tempo, conhecem pessoas, um lugar de muitos privilégios e tem sido também, um lugar racista, machista e homofóbico. Esta constatação leva a antropóloga ao questionamento: que conhecimento é esse que estamos produzindo?

Monalisa relembra um caso semelhante da UNISC, porém na Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), “isso aconteceu dentro de um curso das Ciências Sociais, e foi um choque maior ainda para a gente, por que a gente não espera. E então, me parece que tem lugares dentro das universidades que estudam mais as relações étnico-raciais e não deveria ser assim’, afirma.  Em sua fala, a antropóloga rebate ainda, o argumento de que as universidades são o reflexo de uma sociedade preconceituosa. “Mas não é bem assim, tem a ver com um pensamento do Brasil colonial, algo que deveria ser discutido em todas as áreas, não só na História e nas Ciências Sociais” acredita Monalisa.

A estudante de pedagogia Letícia dos Santos, conta que seu processo de aprendizagem acadêmica, passou também pelas suas experiências em movimentos sociais e da resistência de uma mulher negra. “Pensando na qualidade de ensino, eu me pergunto: que universidade é essa que não reconhece e não respeita a minha raça, minha cor, minha religião, minha identidade? ” reafirmando o  argumento de Monalisa.

Letícia se questiona: “a serviço de que e de quem estão as universidades? ” A estudante acredita que nesse sentido, as universidades e os cursos ainda estão muito a serviço do mercado de trabalho e aos cargos bem remunerados. “Eu não conseguia me ver como psicóloga, uma psicóloga negra fazendo atendimento de consultório, pois a graduação não dava conta de me fazer existir naquele espaço”, declara Letícia sobre ensino e representatividade. “Por isso, é que precise que se pense como estão se dando as formações dentro das universidades, o quanto a nossa intolerância enquanto indivíduo influencia no processo de aprendizagem com o outro e com o sistema”, finaliza.