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Santa Maria, RS, Brazil

O show não pode parar

Banda Marcial Manoel Ribas em desfile no final da década de 1950 na Rua do Acampamento. (Foto: Arquivo pessoal de James Pizarro).

Final dos anos 1950. Jogos da Primavera. Em frente ao Colégio Centenário, 200 componentes da Banda do Maneco, assim carinhosamente chamada, se preparavam para marchar na Rua do Acampamento. Na sacada dos edifícios mais altos da avenida, entre eles o Taperinha, dezenas de alunos, do Colégio Manoel Ribas, esperavam para jogar papéis picados. “Maneco! Maneco!”, ao descer a avenida, assim era recebida a banda comandada pelo mestre Binatão, relembra James Pizarro, ex-componente, que nos contou diversas história numa tarde chuvosa.

Pizarro se emociona ao falar da Banda. (Foto: Mariana Olhaberriet/ LABFEM).

Pizarro, 76 anos, se emociona ao falar a história da Banda do Maneco, a qual ingressou no ano de 1957 e permaneceu por seis anos. O ex-componente relembra os momentos em que tocou flauta pífaro na banda que pertence ao colégio de mesmo nome. Pizarro começou a estudar no Colégio Manoel Ribas, quando ele ainda se chamava Grupo Escolar João Belém.

A Banda Marcial Manoel Ribas, foi fundada em 20 de outubro de 1956, a mais antiga em atividade no Rio Grande do Sul. Para participar da banda naquela época, era exigido que os alunos tivessem boas notas. O ex-componente da banda, conta que o então diretor, Padre Rômulo Zanchi, conferia o boletim dos integrantes e em caso de notas abaixo da média, o aluno deixava a banda.

Pizarro relembra um desfile na Rua do Acampamento. Na banda, ele tocava pífaro. (Foto: Mariana Olhaberriet/ LABFEM).

Em 62 anos de história, já trouxe muita alegria para a cidade de Santa Maria em seus tempos áureos. Durante muito tempo foi considerada a banda referência no Estado. Pizarro relembra que, o diretor, Padre Rômulo Zanchi, entrou em contato com dois componentes da Banda dos Fuzileiros Navais (RJ) , a maior do país, para que viessem até Santa Maria ensaiar com a Banda do Maneco.

Além de ensaiar com os componentes da Banda do Maneco, a Banda dos Fuzileiros Navais também era referência. Pizarro conta que a evolução que mais agradava ao público, era a mesma tocada pela banda do Rio de Janeiro. Além disso, a Banda do Maneco desfilava formando uma grande âncora, que ocupava uma quadra inteira na rua.

A Banda Marcial Manoel Ribas se tornou referência no Rio Grande do Sul e era convidada para viajar por diversas cidades do estado. Em Santa Maria, era presença confirmada em qualquer festividade. Ao relembrar um momento marcante, Pizarro conta a primeira vez que a banda formou a palavra “Maneco”, no campo de futebol do Riograndense. “As arquibancadas estavam lotadas e aquele momento comoveu a todos. Alunos, pais, professores, todo mundo amava a Banda do Maneco”, diz Pizarro. O ex-componente acompanha até hoje os desfiles da banda e se emociona a cada vez que vê uma apresentação.

A Banda ainda faz bonito

Os anos passaram e a tradicional Banda do Maneco não parou no tempo. Após viver seus tempos áureos com grandes apresentações, começou a participar de campeonatos de bandas marciais e de fanfarras, onde fez, e ainda faz bonito. Referência no Rio Grande do Sul, o grupo vem colecionando premiações em diferentes concursos disputados pelo estado, brigando sempre pelas primeiras colocações.

Composta por 140 instrumentistas e 30 balizas, maior corporação do estado, a banda se prepara para uma competição em casa – o 27º Campeonato Estadual de Bandas e Fanfarras, em novembro deste ano. E para dar conta de um grande grupo, a Banda do Maneco conta do quatro coordenadores. José Paulo Rorato é o coordenador geral da banda, junto dele estão outros três, que fazem trabalho voluntário, Geison Nielsen, Daniel Santos e Nátura Mayer.

A Banda chegou a desfilar com 200 componentes no fim da década de 1950. (Foto: Arquivo pessoal de James Pizarro).

No início de cada ano, os coordenadores se reúnem para escolher o enredo da banda, com o intuito de formar um alinhamento perfeito e tornar o resultado final agradável para todas as categorias. Daniel Santos, professor de sopro, evidencia o que poderá dar mais destaque no repertório. De forma geral, as músicas são escolhidas para contemplar a totalidade.

Nátura, além de fazer parte da coordenação, também é coreógrafa das balizas, e acredita que o concurso na cidade seja a oportunidade de ganhar visibilidade diante da comunidade santamariense. Ela, que passou de aluna à professora, viveu diferentes momentos junto à banda.

A coreógrafa entrou no Colégio Manoel Ribas no ano de 2003, e seu interesse pela dança fez com que escolhesse o clube nas aulas de Educação Física. Ainda como caloura, se tornou Mór – integrante responsável pelas balizas. Anos depois, entrou na faculdade de Educação Física, e durante seu primeiro estágio, voltou às origens para coordenar as coreografias da banda – onde trabalha de forma voluntária até hoje.

Seu trabalho junto às balizas rendeu sete prêmios desde 2010. Referência quando se trata de novidades, no último ano Nátura deixou sua apresentação às escuras, sem nenhuma divulgação na internet e surpreendeu a cada novo passo. “Se um dia a gente lança uma menina no ar, no outro dia está nas redes sociais, e quando chegamos nos concursos sempre tem alguma coisa parecida, por isso, tentamos guardar segredo e chegar com muitas surpresas”, declara a coreógrafa, que pretende usar a mesma tática para o campeonato desde ano.

Apesar de ser considerada uma banda tradicional, a Banda do Maneco abre espaço para novas possibilidades. O grupo das balizas, que sempre foi composto por meninas, agora abriu espaço para dois meninos. Depois de três anos tentando essa inclusão no corpo coreográfico, esta é a primeira vez que o grupo participará de um campeonato de forma mista. Marcelo Dorneles, 18 anos, um dos balizas, contou que sempre recebeu convites para entrar no  time da dança, no entanto, o receio de sofrer preconceito por parte de outros meninos nunca deixaram com que ele tomasse coragem. Durante seus dois primeiros anos com a banda, o estudante participou do grupo de percussão.

Desfile na Avenida Medianeira em 2015. (foto: Arquivo pessoal de James Pizarro).

Depois que começou a ensaiar com as meninas, o estudante percebeu que nada mudou no comportamento dos outros colegas. “Não to nervoso para participar desse concurso, já havia me apresentado junto à banda. Apesar de não ter tanto tempo nas balizas como as meninas, eu sempre estava assistindo os ensaios, então já sabia as coreografias de cor e estou bem tranquilo”, declara Marcelo.

A Banda do Maneco além de formar músicos, também atrai os que já tem essa formação. Fernando Trindade, Mór do Sopro, conta que está na banda desde de 2014. Ele relembra como momento marcante, o campeonato vencido pela banda em Quaraí, no ano de 2015. Trindade, que conheceu a banda ainda como aluno do Maneco, toca trompete e auxilia os novos integrante na execução das músicas.

Por já ter passado por vários momentos com a banda, Nátura se incomoda quando é abordada por pessoas que já estudaram no Maneco, e afirmam “que no tempo delas, era muito melhor”. Como ex-aluna, ela reconhece as evoluções da banda todos os anos. “Sempre fomos muito além que outras corporações do estado. Somos exemplo, muito visados, e hoje concorremos na categoria musical porque mudamos nosso instrumental para melhorar o arranjo. Colocamos saxofones e outros instrumentos que não são mais da categoria marcial, justamente pra continuar melhorando”, explica a professora.

“Precisamos de ajuda!”

Com os olhos cheio de esperança, Nátura afirma que naquele cantinho de Santa Maria, há uma grande potência, que muita pessoas não conhecem. A escola conta com o projeto da Lei Rouanet, enviado a aprovado pelo Ministério da Cultura, com captação de R$ 295 mil. No entanto, ainda não conseguiram uma empresa da cidade que converta a dedução de imposto de renda em forma de doação para a banda. Para a professora, algumas pessoas não sabem que podem contribuir, ou acreditam que o processo possa ser muito burocrático.

Para ajudar a banda a arrecadar contribuições, um vídeo foi produzido pela Pastel Store Filmes e postado no Facebook da Banda do Maneco, pedindo o engajamento da sociedade santamarienses.

https://www.facebook.com/Bandadomaneco/videos/1587506571362337/

 

 

Reportagem produzida para a disciplina de Jornalismo Cultural, no primeiro semestre de 2018, sob orientação do profº Carlos Alberto Badke.

Texto: Camila Fogliarini e Deivid Pazatto

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Banda Marcial Manoel Ribas em desfile no final da década de 1950 na Rua do Acampamento. (Foto: Arquivo pessoal de James Pizarro).

Final dos anos 1950. Jogos da Primavera. Em frente ao Colégio Centenário, 200 componentes da Banda do Maneco, assim carinhosamente chamada, se preparavam para marchar na Rua do Acampamento. Na sacada dos edifícios mais altos da avenida, entre eles o Taperinha, dezenas de alunos, do Colégio Manoel Ribas, esperavam para jogar papéis picados. “Maneco! Maneco!”, ao descer a avenida, assim era recebida a banda comandada pelo mestre Binatão, relembra James Pizarro, ex-componente, que nos contou diversas história numa tarde chuvosa.

Pizarro se emociona ao falar da Banda. (Foto: Mariana Olhaberriet/ LABFEM).

Pizarro, 76 anos, se emociona ao falar a história da Banda do Maneco, a qual ingressou no ano de 1957 e permaneceu por seis anos. O ex-componente relembra os momentos em que tocou flauta pífaro na banda que pertence ao colégio de mesmo nome. Pizarro começou a estudar no Colégio Manoel Ribas, quando ele ainda se chamava Grupo Escolar João Belém.

A Banda Marcial Manoel Ribas, foi fundada em 20 de outubro de 1956, a mais antiga em atividade no Rio Grande do Sul. Para participar da banda naquela época, era exigido que os alunos tivessem boas notas. O ex-componente da banda, conta que o então diretor, Padre Rômulo Zanchi, conferia o boletim dos integrantes e em caso de notas abaixo da média, o aluno deixava a banda.

Pizarro relembra um desfile na Rua do Acampamento. Na banda, ele tocava pífaro. (Foto: Mariana Olhaberriet/ LABFEM).

Em 62 anos de história, já trouxe muita alegria para a cidade de Santa Maria em seus tempos áureos. Durante muito tempo foi considerada a banda referência no Estado. Pizarro relembra que, o diretor, Padre Rômulo Zanchi, entrou em contato com dois componentes da Banda dos Fuzileiros Navais (RJ) , a maior do país, para que viessem até Santa Maria ensaiar com a Banda do Maneco.

Além de ensaiar com os componentes da Banda do Maneco, a Banda dos Fuzileiros Navais também era referência. Pizarro conta que a evolução que mais agradava ao público, era a mesma tocada pela banda do Rio de Janeiro. Além disso, a Banda do Maneco desfilava formando uma grande âncora, que ocupava uma quadra inteira na rua.

A Banda Marcial Manoel Ribas se tornou referência no Rio Grande do Sul e era convidada para viajar por diversas cidades do estado. Em Santa Maria, era presença confirmada em qualquer festividade. Ao relembrar um momento marcante, Pizarro conta a primeira vez que a banda formou a palavra “Maneco”, no campo de futebol do Riograndense. “As arquibancadas estavam lotadas e aquele momento comoveu a todos. Alunos, pais, professores, todo mundo amava a Banda do Maneco”, diz Pizarro. O ex-componente acompanha até hoje os desfiles da banda e se emociona a cada vez que vê uma apresentação.

A Banda ainda faz bonito

Os anos passaram e a tradicional Banda do Maneco não parou no tempo. Após viver seus tempos áureos com grandes apresentações, começou a participar de campeonatos de bandas marciais e de fanfarras, onde fez, e ainda faz bonito. Referência no Rio Grande do Sul, o grupo vem colecionando premiações em diferentes concursos disputados pelo estado, brigando sempre pelas primeiras colocações.

Composta por 140 instrumentistas e 30 balizas, maior corporação do estado, a banda se prepara para uma competição em casa – o 27º Campeonato Estadual de Bandas e Fanfarras, em novembro deste ano. E para dar conta de um grande grupo, a Banda do Maneco conta do quatro coordenadores. José Paulo Rorato é o coordenador geral da banda, junto dele estão outros três, que fazem trabalho voluntário, Geison Nielsen, Daniel Santos e Nátura Mayer.

A Banda chegou a desfilar com 200 componentes no fim da década de 1950. (Foto: Arquivo pessoal de James Pizarro).

No início de cada ano, os coordenadores se reúnem para escolher o enredo da banda, com o intuito de formar um alinhamento perfeito e tornar o resultado final agradável para todas as categorias. Daniel Santos, professor de sopro, evidencia o que poderá dar mais destaque no repertório. De forma geral, as músicas são escolhidas para contemplar a totalidade.

Nátura, além de fazer parte da coordenação, também é coreógrafa das balizas, e acredita que o concurso na cidade seja a oportunidade de ganhar visibilidade diante da comunidade santamariense. Ela, que passou de aluna à professora, viveu diferentes momentos junto à banda.

A coreógrafa entrou no Colégio Manoel Ribas no ano de 2003, e seu interesse pela dança fez com que escolhesse o clube nas aulas de Educação Física. Ainda como caloura, se tornou Mór – integrante responsável pelas balizas. Anos depois, entrou na faculdade de Educação Física, e durante seu primeiro estágio, voltou às origens para coordenar as coreografias da banda – onde trabalha de forma voluntária até hoje.

Seu trabalho junto às balizas rendeu sete prêmios desde 2010. Referência quando se trata de novidades, no último ano Nátura deixou sua apresentação às escuras, sem nenhuma divulgação na internet e surpreendeu a cada novo passo. “Se um dia a gente lança uma menina no ar, no outro dia está nas redes sociais, e quando chegamos nos concursos sempre tem alguma coisa parecida, por isso, tentamos guardar segredo e chegar com muitas surpresas”, declara a coreógrafa, que pretende usar a mesma tática para o campeonato desde ano.

Apesar de ser considerada uma banda tradicional, a Banda do Maneco abre espaço para novas possibilidades. O grupo das balizas, que sempre foi composto por meninas, agora abriu espaço para dois meninos. Depois de três anos tentando essa inclusão no corpo coreográfico, esta é a primeira vez que o grupo participará de um campeonato de forma mista. Marcelo Dorneles, 18 anos, um dos balizas, contou que sempre recebeu convites para entrar no  time da dança, no entanto, o receio de sofrer preconceito por parte de outros meninos nunca deixaram com que ele tomasse coragem. Durante seus dois primeiros anos com a banda, o estudante participou do grupo de percussão.

Desfile na Avenida Medianeira em 2015. (foto: Arquivo pessoal de James Pizarro).

Depois que começou a ensaiar com as meninas, o estudante percebeu que nada mudou no comportamento dos outros colegas. “Não to nervoso para participar desse concurso, já havia me apresentado junto à banda. Apesar de não ter tanto tempo nas balizas como as meninas, eu sempre estava assistindo os ensaios, então já sabia as coreografias de cor e estou bem tranquilo”, declara Marcelo.

A Banda do Maneco além de formar músicos, também atrai os que já tem essa formação. Fernando Trindade, Mór do Sopro, conta que está na banda desde de 2014. Ele relembra como momento marcante, o campeonato vencido pela banda em Quaraí, no ano de 2015. Trindade, que conheceu a banda ainda como aluno do Maneco, toca trompete e auxilia os novos integrante na execução das músicas.

Por já ter passado por vários momentos com a banda, Nátura se incomoda quando é abordada por pessoas que já estudaram no Maneco, e afirmam “que no tempo delas, era muito melhor”. Como ex-aluna, ela reconhece as evoluções da banda todos os anos. “Sempre fomos muito além que outras corporações do estado. Somos exemplo, muito visados, e hoje concorremos na categoria musical porque mudamos nosso instrumental para melhorar o arranjo. Colocamos saxofones e outros instrumentos que não são mais da categoria marcial, justamente pra continuar melhorando”, explica a professora.

“Precisamos de ajuda!”

Com os olhos cheio de esperança, Nátura afirma que naquele cantinho de Santa Maria, há uma grande potência, que muita pessoas não conhecem. A escola conta com o projeto da Lei Rouanet, enviado a aprovado pelo Ministério da Cultura, com captação de R$ 295 mil. No entanto, ainda não conseguiram uma empresa da cidade que converta a dedução de imposto de renda em forma de doação para a banda. Para a professora, algumas pessoas não sabem que podem contribuir, ou acreditam que o processo possa ser muito burocrático.

Para ajudar a banda a arrecadar contribuições, um vídeo foi produzido pela Pastel Store Filmes e postado no Facebook da Banda do Maneco, pedindo o engajamento da sociedade santamarienses.

https://www.facebook.com/Bandadomaneco/videos/1587506571362337/

 

 

Reportagem produzida para a disciplina de Jornalismo Cultural, no primeiro semestre de 2018, sob orientação do profº Carlos Alberto Badke.

Texto: Camila Fogliarini e Deivid Pazatto