Na última quinta-feira (15), na Praça dos Bombeiros, aconteceu o 2º Nei Day, dia dedicado a homenagear o ativista social Vilnes Gonçalves Flores Junior, popularmente conhecido como Nei D’ogum. A programação comemora o dia de nascimento de Nei, símbolo de resistência e luta para a comunidade negra e LGBT de Santa Maria.
Organizado pela Associação Ará Dudu, o Nei Day contou com a presença de familiares de Nei, como a sua irmã Zanza e seu companheiro Ricardo Pereira e apresentações de inúmeros artistas que conheciam e foram incentivados pelo ativista, falecido em 2017.
A tarde iniciou com apresentação do rapper Bnegão e contou com bate-papo com Marta Nunes, Cátia Cilene e Maria Rita Py Dutra, apresentações do grupo Cadência Bonita do Samba, do coletivo Negressencia e da Bateria da Escola de Samba Arco-Íris. A programação completa pode ser conferida no final da notícia.
A professora Maria Rita Py Dutra, do Centro de Educação da Universidade Federal de Santa Maria, 70 anos, destacou que o Nei Day é uma forma de a juventude não se sentir órfão de alguém que deu a vida pela sua luta. A professora, escolhida a primeira patronesse do Mês da Consciência Negra pela UFSM, lembrou que, após sua saída da coordenação do Núcleo de Ações Culturais e Educativas do Museu Treze de Maio, Nei assumiu, idealizando o Festival Municipal de Artes Negras (FESMAN) e o Concurso Beleza do Ébano. “Ele lutou e reivindicou em favor dos negros, da orientação sexual e da educação. Mesmo não estando vinculada a ele, eu sempre admirei muito o Nei”, comentou.
Um dos idealizadores do Coletivo Voe (grupo de ativistas LGBT de Santa Maria), Nei é relembrado com carinho por Verônica Oliveira, empresária e administradora do Alojamento Verônica, destinado à travestis e transexuais. “Ele era aquela pessoa que corria pelas trans. Ele combatia qualquer tipo de agressão e maus tratos que elas sofriam. Para nós, LGBTs, a perda do Nei foi muito triste. A palavra dele era muito forte”, relembrou.
Negressencia, coletivo artístico que promove projetos na área das artes protagonizadas por artistas negros, também se apresentou no Nei Day. Elen Janine Ortiz, 29 anos, integrante do Negressencia, destaca a importância de pessoas como o ativista: “O Nei sempre foi da comunidade. A gente carece de pessoas assim, que levantam essa bandeira. Ele sempre teve muita coragem para enfrentar, sem papas na língua. Deixou um legado de muita resistência”, lembra.
Um dos momento mais emocionantes ficou por conta do Tio Cida, que recentemente recebeu o Premio Nacional de Mestre Popular da Cultura, fazendo uma homenagem a Umbanda.
Para o comissário de bordo Gustavo Rocha, 30 anos, Nei D’ogum foi exemplo de resistência não apenas em Santa Maria, mas em todo o Rio Grande do Sul. Para Gustavo, Nei também contribuiu para a sua consciência negra, sendo uma figura essencial para se pensar em uma sociedade mais justa e igualitária: “Pensar em Nei é pensar em resistência. Resistência sempre se fez presente no movimento negro, quilombola e também nas religiões de matrizes africanas. Ele sempre acionava todas estas entidades periféricas”, afirma.
O Nei Day encerrou com a exibição do documentário Pobre Preto Puto – PPP (2016), que aborda a trajetória do ativista. A produção recebeu o Troféu Prêmio Assembleia Legislativa de Melhor Produção Executiva no Festival de Cinema de Gramado 2016 e é um registro da lutas do homenageado, que no mesmo ano também foi premiado com a Comenda Zumbi dos Palmares entregue pelo legislativo gaúcho.
Marias Bonitas, a Associação de Capoeira de Rua Berimbau do Mestre Militar também participaram da homenagem. A organização do 2º Nei Day contou ainda com Marta Nunes, Carmem Lucia- Baiana, Isadora Bispo, e Franciele Oliveira.
Produzido para as disciplinas de Jornalismo I e Jornalismo Digital I sob a orientação dos professores Sione Gomes e Maurício Dias
Uma resposta
Parabéns para toda equipe envolvida,em especial para a Nathy Arantes! Espaços como esse e o foco dado, à eventos como o Neiday( importante ativista e um cidadão exemplo para todxs nós), são muito urgentes e necessários para o fortalmecimento de uma sociedade antiracista.