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Santa Maria, RS, Brazil

O que você já deixou de fazer por ser mulher?

Imagem de Esa Riutta por Pixabay

Talvez muitas pessoas se cansem de ouvir ou achem que a luta por igualdade de gênero é mera perda de tempo. Talvez quem não se coloca no lugar do outro ache que persistir e reivindicar direitos básicos é banal. Nos meus textos anteriores, busquei reafirmar a importância do esporte feminino no Brasil e o abismo entre o futebol masculino e o feminino no país e no mundo. Já neste texto quero refletir contigo sobre desigualdade de gênero, e porque muitas pessoas não entendem que o machismo é o principal fator que prejudica a igualdade de gênero e o respeito ao próximo. E é no título desse texto que já começa a nossa reflexão: o que você já deixou de fazer por ser mulher?

Bom, eu já deixei de opinar sobre assuntos que entendia muito mais do que qualquer homem na minha roda de conversa, porque seria desacreditada se falasse, como já fui. Já deixei de usar uma roupa que queria, já deixei de ir e vir por medo, já me calei, mas hoje, não me calo mais.

Subindo um degrau de cada vez, reivindicando e colecionando conquistas importantes ao decorrer da história a luta pelo espaço de fala segue e seguirá até conquistarmos a igualdade. E um passo importante para tornar o futuro um tempo de direitos iguais e um mundo mais seguro para as mulheres é desconstruir a cultura machista  na qual crescemos, e que inúmeras vezes fez com que desacreditássemos em nós mesmas.

A base do machismo é a ideia errônea de que a mulher é um ser inferior, pertencente ao homem e que, por isso, ele tem autonomia sobre ela. Parando para pensar, é quase impossível acreditar que essa essência machista ainda se mantenha em pleno século XXI. O mais triste é dizer que sim, a cultura machista enraizada na sociedade persiste em diminuir as mulheres e criar uma disputa entre os sexos, entre nós na verdade.

Triste também é ver que uma parte do poder público alimenta a cultura machista e governa o país expondo ideias distorcidas sobre igualdade de gênero, colocando como incerta a credibilidade da luta por direitos. De acordo com o Fórum Econômico Mundial, nós, mulheres, vamos levar mais de 100 anos para conseguir direitos iguais em todas as esferas.

Uma mudança de mentalidade é mais do que urgente, seja no meio esportivo, nas torcidas, no mercado jornalístico, dentro dos clubes e das federações. Me incomoda tanto a objetificação da mulher, seja no esporte ou em outra esfera social.

Um case meu mesmo exemplifica essa objetificação. Como uma amante do futebol faço parte de grupos sobre o esporte em algumas redes sociais e o número de mulheres, se comparado ao número de homens, é mínimo, no entanto ,existe um crescimento de interações e solicitações para fazer parte desses grupos. De dez notificações que recebo do grupo no meu perfil, nove são publicações de homens e sete dessas publicações contém a foto de alguma mulher ou torcedora. Os comentários são do mais baixo calão. Grupo que tem o intuito de debater, compartilhar notícias e discutir futebol objetifica e expõe mulheres todos os dias, incansavelmente. E tudo isso é tratado com naturalidade pela maior parte dos homens do grupo e se alguém (mulher ou homem) faz algum comentário crítico à postagem é “linchado” nas redes.

A naturalidade com que objetificação da mulher é tratada entristece, e quando é apontada e discutida, muitas vezes é dita como – problematização de tudo. Por essas e outras que o feminismo é o principal escudo das mulheres por direitos políticos, econômicos e sociais iguais.

O futuro é feminino?

Outra reflexão que deu origem à série documental produzida pelo Canal GNT, com três jornalistas, feministas e ativistas, Bárbara Bárcia, Claudia Alves e Fernanda Prestes que viajam em busca de pautas reveladoras de como é ser mulher em diferentes partes do mundo. A série tem cinco episódios, estreou no dia 6 de março às vésperas do dia internacional da mulher. Elas viajaram para a Islândia, pelo Paquistão e pelo Brasil, para entender a luta das mulheres por igualdade de gênero pelo mundo.

Os países visitados foram escolhidos de acordo com os dados divulgados anualmente pelo Fórum Econômico Mundial, que apontaram a Islândia como o melhor país para se viver se você é uma mulher. Já o Paquistão se encontra no penúltimo lugar do ranking, na frente apenas do Iêmen. E o Brasil caiu cinco posições em 2018, e ocupa no momento um decepcionante 95º lugar em uma lista de 149 países.

Uma análise entre os países que se encontram nos extremos, para entender como é ser mulher onde os direitos se aproximam da igualdade e se distanciam ao mesmo tempo. A série está disponível no canal da emissora no Youtube. A análise, a crítica social e a reflexão são excelente, além de multiplicar o espaço de fala de inúmeras mulheres pelo mundo, sendo assim, reafirmando a luta por igualdade de gênero.

 

Agnes Barriles é jornalista egressa da UFN. Foi monitora e repórter da Agência Central Sul durante a graduação e atuou no MULTIJOR. Tem o jornalismo esportivo como referência em pesquisas e reportagens desenvolvidas. É engajada com causas sociais e busca dar espaço e visibilidade às minorias

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Imagem de Esa Riutta por Pixabay

Talvez muitas pessoas se cansem de ouvir ou achem que a luta por igualdade de gênero é mera perda de tempo. Talvez quem não se coloca no lugar do outro ache que persistir e reivindicar direitos básicos é banal. Nos meus textos anteriores, busquei reafirmar a importância do esporte feminino no Brasil e o abismo entre o futebol masculino e o feminino no país e no mundo. Já neste texto quero refletir contigo sobre desigualdade de gênero, e porque muitas pessoas não entendem que o machismo é o principal fator que prejudica a igualdade de gênero e o respeito ao próximo. E é no título desse texto que já começa a nossa reflexão: o que você já deixou de fazer por ser mulher?

Bom, eu já deixei de opinar sobre assuntos que entendia muito mais do que qualquer homem na minha roda de conversa, porque seria desacreditada se falasse, como já fui. Já deixei de usar uma roupa que queria, já deixei de ir e vir por medo, já me calei, mas hoje, não me calo mais.

Subindo um degrau de cada vez, reivindicando e colecionando conquistas importantes ao decorrer da história a luta pelo espaço de fala segue e seguirá até conquistarmos a igualdade. E um passo importante para tornar o futuro um tempo de direitos iguais e um mundo mais seguro para as mulheres é desconstruir a cultura machista  na qual crescemos, e que inúmeras vezes fez com que desacreditássemos em nós mesmas.

A base do machismo é a ideia errônea de que a mulher é um ser inferior, pertencente ao homem e que, por isso, ele tem autonomia sobre ela. Parando para pensar, é quase impossível acreditar que essa essência machista ainda se mantenha em pleno século XXI. O mais triste é dizer que sim, a cultura machista enraizada na sociedade persiste em diminuir as mulheres e criar uma disputa entre os sexos, entre nós na verdade.

Triste também é ver que uma parte do poder público alimenta a cultura machista e governa o país expondo ideias distorcidas sobre igualdade de gênero, colocando como incerta a credibilidade da luta por direitos. De acordo com o Fórum Econômico Mundial, nós, mulheres, vamos levar mais de 100 anos para conseguir direitos iguais em todas as esferas.

Uma mudança de mentalidade é mais do que urgente, seja no meio esportivo, nas torcidas, no mercado jornalístico, dentro dos clubes e das federações. Me incomoda tanto a objetificação da mulher, seja no esporte ou em outra esfera social.

Um case meu mesmo exemplifica essa objetificação. Como uma amante do futebol faço parte de grupos sobre o esporte em algumas redes sociais e o número de mulheres, se comparado ao número de homens, é mínimo, no entanto ,existe um crescimento de interações e solicitações para fazer parte desses grupos. De dez notificações que recebo do grupo no meu perfil, nove são publicações de homens e sete dessas publicações contém a foto de alguma mulher ou torcedora. Os comentários são do mais baixo calão. Grupo que tem o intuito de debater, compartilhar notícias e discutir futebol objetifica e expõe mulheres todos os dias, incansavelmente. E tudo isso é tratado com naturalidade pela maior parte dos homens do grupo e se alguém (mulher ou homem) faz algum comentário crítico à postagem é “linchado” nas redes.

A naturalidade com que objetificação da mulher é tratada entristece, e quando é apontada e discutida, muitas vezes é dita como – problematização de tudo. Por essas e outras que o feminismo é o principal escudo das mulheres por direitos políticos, econômicos e sociais iguais.

O futuro é feminino?

Outra reflexão que deu origem à série documental produzida pelo Canal GNT, com três jornalistas, feministas e ativistas, Bárbara Bárcia, Claudia Alves e Fernanda Prestes que viajam em busca de pautas reveladoras de como é ser mulher em diferentes partes do mundo. A série tem cinco episódios, estreou no dia 6 de março às vésperas do dia internacional da mulher. Elas viajaram para a Islândia, pelo Paquistão e pelo Brasil, para entender a luta das mulheres por igualdade de gênero pelo mundo.

Os países visitados foram escolhidos de acordo com os dados divulgados anualmente pelo Fórum Econômico Mundial, que apontaram a Islândia como o melhor país para se viver se você é uma mulher. Já o Paquistão se encontra no penúltimo lugar do ranking, na frente apenas do Iêmen. E o Brasil caiu cinco posições em 2018, e ocupa no momento um decepcionante 95º lugar em uma lista de 149 países.

Uma análise entre os países que se encontram nos extremos, para entender como é ser mulher onde os direitos se aproximam da igualdade e se distanciam ao mesmo tempo. A série está disponível no canal da emissora no Youtube. A análise, a crítica social e a reflexão são excelente, além de multiplicar o espaço de fala de inúmeras mulheres pelo mundo, sendo assim, reafirmando a luta por igualdade de gênero.

 

Agnes Barriles é jornalista egressa da UFN. Foi monitora e repórter da Agência Central Sul durante a graduação e atuou no MULTIJOR. Tem o jornalismo esportivo como referência em pesquisas e reportagens desenvolvidas. É engajada com causas sociais e busca dar espaço e visibilidade às minorias