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Agnes Barriles

Agnes Barriles

Dia 10 de setembro de 2019, Sahar Khodayari, 30 anos, mulher, mais uma vítima da desigualdade de gênero, no país e no mundo.

Preconceito de gênero no esporte ainda persiste em países como o Irã. Foto: pixabay.

Hoje debatemos todos os dias sobre desigualdade de gênero, mas você sabe qual o conceito dela? Desigualdade de gênero é fenômeno social e acontece quando há discriminação e/ou preconceito com outra pessoa por conta de seu gênero (feminino ou masculino). Blue Girl, como também era conhecida, morreu após atear fogo no próprio corpo, já que poderia ser presa por seis meses após ter tentado entrar num estádio de futebol para assistir a um jogo, vestida de homem. Ela era torcedora do Estaglal, que tem o azul como uma das suas cores principais, por isso Blue Girl.

No Irã, desde 1979, as mulheres foram proibidas de entrar em estádios de futebol, o que nos últimos anos têm gerado conflitos e inúmeras reivindicações por parte do público feminino. Torcedoras chegaram a se fantasiar de homens, com perucas e barbas falsas, como Sahar, para poderem ter acesso aos jogos. Em junho deste ano, algumas iranianas foram agredidas por seguranças e detidas após comprarem ingressos para um amistoso da seleção do  Irã contra a Síria. No ano de 2018, aproximadamente 35 torcedoras foram presas por entrar no estádio Azadi para acompanhar o clássico entre Persépolis e Esteghlal.

Assegurar o direito de uma educação inclusiva e de igualdade de gênero é dever do estado, no entanto, a prática desses direitos não é exercida no Irã, já que existem políticas públicas que restringem a liberdade e os direitos femininos no país.

Após a Revolução Islâmica no final da década de 1970, muitas coisas mudaram no país, se antes as mulheres andavam nas ruas com roupas semelhantes às nossas, como calça jeans e cabelos soltos, a partir da revolução as novas autoridades muçulmanas impuseram um código de vestimenta obrigatório, que determinava o uso do hijab (véu islâmico) por todas as mulheres.

Se no Brasil e no mundo a luta por direitos iguais é uma das principais bandeiras levantadas, no Irã o governo religioso, autoritário e radical, tornou as mulheres reféns de leis que tiram sua autonomia.

Inúmeros jogadores e figuras conhecidas no meio esportivo se comoveram com a morte de Sahar, como o ex-jogador iraniano Ali Karimi, ele foi e é dos principais defensores do direito das mulheres de entrarem em arenas esportivas no país. Karami publicou em uma de suas redes sociais pedindo que os iranianos boicotem os estádios em protesto pela morte de Khodayari.

Há quase 40 anos as mulheres lutam pelo direito de voltarem a frequentar estádios de futebol, seja na liga nacional ou em jogos da seleção, o que acontecia antes da Revolução Iraniana de 1979. No passado, a Arábia Saudita baniu a proibição a mulheres em estádios. Atualmente, o Irã é o único país que ainda impede que mulheres frequentem estádios esportivos, apesar da pressão constante da Fifa.

Na Copa do Mundo da Rússia, em 2018, inúmeras torcedoras puderam realizar o sonho de acompanharem uma partida da seleção de dentro do estádio. Foi após inúmeras reivindicações e luta por acesso aos jogos, no próprio país, que o dia 10 de Outubro será histórico para as iranianas.  Elas poderão assistir a partida da seleção do Irã contra Camboja, pelas eliminatórias da Copa do Mundo de 2022, no estádio em Teerã. Mas é importante salientar que o direito foi concedido antes da morte de Sahar e que não garante que elas terão livre acesso a outros jogos após a data.

A morte de Khodayari causou tamanha indignação no Irã e no mundo que, em redes sociais, internautas pediram para que a federação de futebol iraniana fosse punida, suspensa ou até mesmo banida da próxima copa. Até porque a própria Fifa impõe que a discriminação em razão do sexo é punível com suspensão ou expulsão da equipe.

Se antes já era fundamental falar sobre os direitos femininos no Irã, Sahar Khodayari se tornou símbolo da luta por direitos iguais no país e pelo acesso das mulheres aos estádios de futebol. Posicionamentos precisam ser feitos e medidas tomadas. A trágica morte de Sahar levanta o questionamento: até quando tragédias precisam acontecer para que as coisas mudem?

Agnes Barriles é jornalista egressa da UFN. Foi monitora e repórter da Agência Central Sul durante a graduação e atuou no MULTIJOR. Tem o jornalismo esportivo como referência em pesquisas e reportagens desenvolvidas. É engajada com causas sociais e busca dar espaço e visibilidade às minorias

 

 

Imagem de Esa Riutta por Pixabay

Talvez muitas pessoas se cansem de ouvir ou achem que a luta por igualdade de gênero é mera perda de tempo. Talvez quem não se coloca no lugar do outro ache que persistir e reivindicar direitos básicos é banal. Nos meus textos anteriores, busquei reafirmar a importância do esporte feminino no Brasil e o abismo entre o futebol masculino e o feminino no país e no mundo. Já neste texto quero refletir contigo sobre desigualdade de gênero, e porque muitas pessoas não entendem que o machismo é o principal fator que prejudica a igualdade de gênero e o respeito ao próximo. E é no título desse texto que já começa a nossa reflexão: o que você já deixou de fazer por ser mulher?

Bom, eu já deixei de opinar sobre assuntos que entendia muito mais do que qualquer homem na minha roda de conversa, porque seria desacreditada se falasse, como já fui. Já deixei de usar uma roupa que queria, já deixei de ir e vir por medo, já me calei, mas hoje, não me calo mais.

Subindo um degrau de cada vez, reivindicando e colecionando conquistas importantes ao decorrer da história a luta pelo espaço de fala segue e seguirá até conquistarmos a igualdade. E um passo importante para tornar o futuro um tempo de direitos iguais e um mundo mais seguro para as mulheres é desconstruir a cultura machista  na qual crescemos, e que inúmeras vezes fez com que desacreditássemos em nós mesmas.

A base do machismo é a ideia errônea de que a mulher é um ser inferior, pertencente ao homem e que, por isso, ele tem autonomia sobre ela. Parando para pensar, é quase impossível acreditar que essa essência machista ainda se mantenha em pleno século XXI. O mais triste é dizer que sim, a cultura machista enraizada na sociedade persiste em diminuir as mulheres e criar uma disputa entre os sexos, entre nós na verdade.

Triste também é ver que uma parte do poder público alimenta a cultura machista e governa o país expondo ideias distorcidas sobre igualdade de gênero, colocando como incerta a credibilidade da luta por direitos. De acordo com o Fórum Econômico Mundial, nós, mulheres, vamos levar mais de 100 anos para conseguir direitos iguais em todas as esferas.

Uma mudança de mentalidade é mais do que urgente, seja no meio esportivo, nas torcidas, no mercado jornalístico, dentro dos clubes e das federações. Me incomoda tanto a objetificação da mulher, seja no esporte ou em outra esfera social.

Um case meu mesmo exemplifica essa objetificação. Como uma amante do futebol faço parte de grupos sobre o esporte em algumas redes sociais e o número de mulheres, se comparado ao número de homens, é mínimo, no entanto ,existe um crescimento de interações e solicitações para fazer parte desses grupos. De dez notificações que recebo do grupo no meu perfil, nove são publicações de homens e sete dessas publicações contém a foto de alguma mulher ou torcedora. Os comentários são do mais baixo calão. Grupo que tem o intuito de debater, compartilhar notícias e discutir futebol objetifica e expõe mulheres todos os dias, incansavelmente. E tudo isso é tratado com naturalidade pela maior parte dos homens do grupo e se alguém (mulher ou homem) faz algum comentário crítico à postagem é “linchado” nas redes.

A naturalidade com que objetificação da mulher é tratada entristece, e quando é apontada e discutida, muitas vezes é dita como – problematização de tudo. Por essas e outras que o feminismo é o principal escudo das mulheres por direitos políticos, econômicos e sociais iguais.

O futuro é feminino?

Outra reflexão que deu origem à série documental produzida pelo Canal GNT, com três jornalistas, feministas e ativistas, Bárbara Bárcia, Claudia Alves e Fernanda Prestes que viajam em busca de pautas reveladoras de como é ser mulher em diferentes partes do mundo. A série tem cinco episódios, estreou no dia 6 de março às vésperas do dia internacional da mulher. Elas viajaram para a Islândia, pelo Paquistão e pelo Brasil, para entender a luta das mulheres por igualdade de gênero pelo mundo.

Os países visitados foram escolhidos de acordo com os dados divulgados anualmente pelo Fórum Econômico Mundial, que apontaram a Islândia como o melhor país para se viver se você é uma mulher. Já o Paquistão se encontra no penúltimo lugar do ranking, na frente apenas do Iêmen. E o Brasil caiu cinco posições em 2018, e ocupa no momento um decepcionante 95º lugar em uma lista de 149 países.

Uma análise entre os países que se encontram nos extremos, para entender como é ser mulher onde os direitos se aproximam da igualdade e se distanciam ao mesmo tempo. A série está disponível no canal da emissora no Youtube. A análise, a crítica social e a reflexão são excelente, além de multiplicar o espaço de fala de inúmeras mulheres pelo mundo, sendo assim, reafirmando a luta por igualdade de gênero.

 

Agnes Barriles é jornalista egressa da UFN. Foi monitora e repórter da Agência Central Sul durante a graduação e atuou no MULTIJOR. Tem o jornalismo esportivo como referência em pesquisas e reportagens desenvolvidas. É engajada com causas sociais e busca dar espaço e visibilidade às minorias

Enaltecer mulheres e desconstruir o machismo recorrente da sociedade conservadora e com origem do patriarcado é mais do que importante para igualdade de gênero. Marta Vieira da Silva é um dos maiores exemplos de reivindicação por direitos iguais no esporte mundial. A brasileira eleita seis vezes melhor jogadora do mundo tem usado a cobertura midiática da Copa do Mundo Feminina 2019 – uma cobertura histórica para o futebol feminino por sinal – a favor das mulheres e da igualdade salarial e de gênero.

No dia 18 de junho de 2019, Marta escreveu, mais uma vez, o seu nome na história do futebol mundial. A atacante se tornou a maior artilheira de Copas do Mundo, marcando seu décimo sétimo gol em uma copa, ultrapassando o alemão Miroslav Klose. Quem já leu meus outros textos aqui da coluna deve saber o quanto as coisas mudaram no esporte feminino desde o século passado, mas o reconhecimento tardio e a desigualdade de gênero ainda se fazem presente.

Se pararmos para pensar e construirmos uma linha histórica de principais acontecimentos do esporte no Brasil, relembramos aqui que, durante o governo de Getúlio Vargas, as mulheres eram proibidas por lei de qualquer prática esportiva. O decreto de 14 de abril de 1941 expunha regras no artigo 54 que impediam o público feminino de praticar qualquer esporte no país. Lei que caiu no final dos anos 1970.

Seguindo a linha de fatos históricos para o esporte feminino, é praticamente impossível falar de esporte e resistência no Brasil sem citar Aída dos Santos. Pulando obstáculos, literalmente, por ser uma atleta da  modalidade salto com vara, e quebrando barreiras, a brasileira foi a primeira mulher representante do país a disputar uma final olímpica, única atleta da equipe de atletismo nacional e única mulher da delegação brasileira nos Jogos de Tóquio, em 1964. Ela chegou à Olimpíada sem apoio algum, sem patrocínio, sem técnico e muito menos com uniforme próprio, precisando adaptar e ajustar a roupa de outra modalidade e competição. E mesmo com todas as dificuldades, Aída ficou em quarto lugar naquela olimpíada. Muitas mulheres mudaram a história do esporte no país e colaboraram para a desconstrução da ideia de que mulheres não podem praticar esportes.

O ano tem sido marcado por momentos importantes para o esporte feminino. A Copa do Mundo da França 2019 está sendo transmitida em dois canais na TV aberta, Rede Globo e Rede Bandeirantes, além do canal fechado SporTV. Com os holofotes do mundo inteiro virados para elas, finalmente, as atletas tem ocupado seus espaços de fala, além de usar a seu favor a mídia.

A atacante brasileira Marta não chamou a atenção somente pelo grande futebol nessa copa, mas a atleta tem reivindicado direitos de patrocínio iguais, usando uma chuteira sem marca alguma, mas com a bandeira de igualdade de gênero estampada. Marta não aceitou nenhuma proposta das grandes marcas esportivas por um simples motivo: elas ofereceram a ela um valor muito abaixo do pago aos homens, o que é um absurdo.

A expectativa é grande e o apoio às brasileiras tem batido recordes nessa copa, empresas têm parado o expediente durante os jogos da seleção feminina, pela primeira vez, para que os funcionários assistam às partidas. Neste domingo, 23, a seleção brasileira entra em campo contra a França, às 16h, pelas oitavas de final. O apoio e o incentivo dado às atletas, principalmente, nas redes sociais durante a fase de grupos deve continuar nos próximos jogos e permanecer após essa histórica Copa do Mundo Feminina. Poste, compartilhe e use as hashtags #GuerreirasdoBrasil #CopadoMundoFeminina e #SeleçãoFeminina para aumentar cada vez mais a circulação e a visibilidade do esporte feminino.

Uma das grandes lutas das mulheres é por espaço, espaço de fala, espaço de visibilidade, espaço e direito de ir e vir sem ser assediada, espaço pra ser quem quiser e fazer o que bem entender e não ser julgada. Ser mulher no esporte é resistir para poder existir, é treinar sem apoio, é trabalhar enquanto eles descansam. Ser mulher no esporte é ser resistência e acreditar que eu posso, que ela pode, que você pode e que todas nós podemos juntas.

 

Agnes Barriles é jornalista egressa da UFN. Foi monitora e repórter da Agência Central Sul durante a graduação e atuou no MULTIJOR. Tem o jornalismo esportivo como referência em pesquisas e reportagens desenvolvidas. É engajada com causas sociais e busca dar espaço e visibilidade às minorias.


Quem me conhece sabe o meu envolvimento com o esporte e a minha paixão por futebol. No meu primeiro texto para a ACS falei da dificuldade de ser mulher e falar sobre o assunto, não só no interior do Rio Grande do Sul, mas em todo território nacional.

Nas últimos anos, nós, mulheres, estamos ocupando espaços de fala antes inimagináveis na sociedade machista em que vivemos. E por mais que isso seja um orgulho imenso, o estereótipo de que mulher não pode praticar esporte ou comentar sobre ele, ainda se faz presente. Nenhum homem é questionado com perguntas bobas quando se trata, principalmente, de futebol como as mulheres o são. Sem falar na diferença de visibilidade entre os esportes masculinos e femininos, também já mencionados no texto anterior.

É nítido o abismo de coberturas esportivas entre o esporte feminino e o masculino. O futebol feminino não recebe o mesmo incentivo e dinheiro que o futebol masculino. Coberturas insuficientes e rasas de informações, muitas vezes, traduzem a gritante necessidade de investimento no esporte feminino no país até porque, para o brasileiro, o futebol ainda é considerado coisa de homem, o que é um absurdo.

No ano passado, nos meses que antecederam a Copa do Mundo da Rússia, inúmeras marcas produtos como celulares e até de fast food, contaram com a participação de jogadores e, inclusive,  do técnico da seleção masculina de futebol para divulgar a marca da equipe brasileira e da competição mundial.  E agora eu faço um questionamento importante: quantas jogadoras da seleção você viu estrelando campanhas na tv aberta nesses meses que antecedem a Copa do Mundo de Futebol Feminino? Foi pensando nessa gritante diferença de apoio e incentivo que a marca Guaraná Antárctica, patrocinador oficial da CBF (Confederação Brasileira de Futebol), lançou uma campanha convocando outros anunciantes a incentivarem o esporte feminino no Brasil, como você pode ver no vídeo.

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Fatos importantes e históricos relacionados às jogadoras da seleção não são apurados pela mídia tradicional às vésperas do início da copa. Um exemplo é a meia Formiga. A atleta bate dois recordes no Mundial da França, com 41 anos ela vai ser a jogadora mais velha a participar de uma copa e a única entre homens e mulheres a jogar 7 mundiais.  E sem falar da camisa 10 da seleção, eleita seis vezes melhor jogadora do mundo – a atacante Marta, com 15 gols marcados é a maior artilheira do esporte em Mundiais.

Outro fato interessante relacionado a seleção feminina é que a Editora Panini, responsável pela maioria de álbuns de figurinhas comercializados no Brasil está vendendo o álbum da Copa do Mundo feminina, você sabia disso?

A empresa colocou à venda um álbum elaborado em parceria com a FIFA no final do mês de abril. O álbum contém 17 jogadoras de cada uma das 24 seleções participantes. Esta é a terceira vez que a editora comercializa o álbum ilustrado para o torneio feminino, como já feito nos anos de 2011 e 2015. O álbum custa 8,90 reais e cada pacote, que contém cinco figurinhas, é comercializado por 2,50 reais. 

Historicamente o álbum colecionável da seleção masculina faz muito sucesso, diferente do feminino que mal é divulgado pela editora. Mas o exemplar deste ano viralizou nas redes sociais através de comentários machistas e repugnantes. Mais uma mostra e exemplo da sociedade machista e preconceituosa em que vivemos. Quando achamos que as coisas estão mudando para melhor nos deparamos com comentários intolerantes e hostis como este.

CONVOCAÇÃO DA SELEÇÃO

Na última quinta, 16, o treinador da seleção brasileira Vadão anunciou as 23 atletas convocadas para a disputa da Copa do Mundo feminina que acontece na França, entre os dias 7 de junho a 7 de julho.

A lista de convocadas para a copa da França tem nomes que se destacaram na Europa nos últimos anos; uma delas é a Andressa Alves, atacante do Barcelona e finalista da Liga dos Campeões Feminina. Já aqui no Brasil, a equipe brasileira que emplacou mais convocações foi o Corinthians, com três atletas chamadas para integrar o grupo. A onda de derrotas consecutivas da seleção feminina não tira a sua confiança para a competição mundial. O treinador da seleção destacou que está otimista e garantiu que há uma “expectativa altamente positiva”  para o torneio, além de apostar nas individualidades das brasileiras que deverão fazer a diferença em campo.

As convocadas

Goleiras: Aline, Bárbara e Letícia Isidoro.

Laterais: Fabiana Baiana, Letícia Santos, Tamires e Camila.

Zagueiras: Érika, Kathellen, Mônica e Tayla.

Meio-campistas: Andressinha, Formiga, Adriana e Thaisa.

Atacantes: Bia Zaneratto, Cristiane, Raquel, Debinha, Geyse, Ludmila, Marta e Andressa Alves.

Ser mulher é ser resistência, principalmente no esporte, área majoritariamente composta por homens, o que já faz parte da construção cultural e histórica. Felizmente  isto vem sendo desconstruído aos poucos por mulheres fortes e determinadas. No esporte feminino nada vem fácil, tudo é conquistado com muito suor e luta por igualdade de gênero e, principalmente, por respeito.

 

Agnes Barriles é jornalista egressa da UFN. Foi monitora e repórter da Agência Central Sul durante a graduação e atuou no MULTIJOR. Tem o jornalismo esportivo como referência em pesquisas e reportagens desenvolvidas. É engajada com causas sociais e busca dar espaço e visibilidade às minorias.

Foto: arquivo ACS

Há décadas a luta das mulheres por direitos iguais e por espaço ocorre no esporte e em todos os âmbitos da sociedade. É dura a realidade do esporte feminino e, principalmente, a do futebol onde a falta de investimento e visibilidade do poder público interferem no rendimento das equipes e na formação de novas atletas.

Existem inúmero argumentos por parte, principalmente dos homens, para tentar explicar a ausência de investimento nos esportes femininos. Um desses motivos é a falta de interesse por parte do público. No entanto, existe a questão que nos leva a pensar no porquê da falta de interesse.

E cabe dizer que a construção midiática em torno do futebol masculino é uma das causas do sucesso e do comércio  que se tornou o esporte. Sem falar que uma coisa puxa a outra. Se não existe interesse por parte da mídia  em visibilizar o esporte feminino, isso resultará na falta de interesse dos telespectadores.

A mídia tem sua parcela de culpa na falta de apoio ao esporte feminino, como mostra uma pesquisa realizada pela Unisinos. De acordo com os dados levantados, apenas 2,7% da cobertura midiática no país é voltada ao esporte feminino, 37 vezes menos que o esporte masculino.

O preconceito e a falta de incentivo às mulheres no esporte não é de hoje. O artigo 54 do Decreto-lei 3199, de abril de 1941, expõe: “Às mulheres não se permitirá a prática de desportos incompatíveis com as condições de sua natureza”. Na época as mulheres tinham a prática esportiva negada por lei, enquanto a seleção masculina de futebol iniciava a sua trajetória de conquistas. Após anos de proibição, a lei só foi abolida no final da ditadura militar em 1979. Assim, após quarenta anos da queda do decreto que proibia as mulheres de praticarem esportes no país, o futebol feminino começou a ganhar espaço e credibilidade.

[dropshadowbox align=”none” effect=”lifted-both” width=”auto” height=”” background_color=”#ffffff” border_width=”1″ border_color=”#dddddd” ]O Corinthians é o atual campeão feminino e recebeu a premiação de R$120 mil, já o Palmeiras, campeão masculino, foi gratificado com R$30 milhões. E ainda tem pessoas que dizem não ver diferença na luta por igualdade de gênero no esporte.[/dropshadowbox]

A partir deste ano todos os clubes que disputam a série A do Campeonato Brasileiro devem ter uma equipe feminina adulta e uma de base, além disso elas precisam disputar pelo menos um campeonato oficial. E se cada conquista é considerada uma grande vitória no combate ao preconceito no esporte feminino no país,  a diferença de investimentos e de patrocínio entre o futebol masculino e feminino continuam chamando a atenção.

Historicamente a Confederação Brasileira de Futebol segue mantendo a diferença de investimentos entre o campeão feminino e o masculino do Campeonato Brasileiro. O Corinthians é o atual campeão feminino e recebeu a premiação de R$120 mil, já o Palmeiras, campeão masculino, foi gratificado com R$30 milhões. E ainda tem pessoas que dizem não ver diferença na luta por igualdade de gênero no esporte.

Mesmo com a obrigação imposta pela CBF para que os clubes criem equipes de mulheres, o caminho ainda é longo para valorização e o reconhecimento do futebol feminino.

Um grande passo está sendo dado neste ano de 2019, pela primeira vez na história todos os jogos da seleção brasileira na Copa do Mundo Feminina de Futebol serão transmitidos em canal aberto. A Rede Globo transmitirá todos os jogos da seleção feminina na principal competição da modalidade que inicia em 7 de Junho, na França. O Sportv, canal fechado da emissora, transmitirá todas as partidas do torneio.

O Brasil vai em busca do título inédito da competição, já que em 2007 a conquista bateu na trave e a Alemanha se consagrou a campeã mundial daquele ano.

No mundial deste ano, o Brasil está no grupo C e estreia dia 9 de Junho, contra a Jamaica. Na segunda rodada, o duelo será contra a Austrália, no dia 13. E pra fechar a fase de grupos no dia 18 as brasileiras enfrentam a Itália. Com o objetivo de expandir o alcance do futebol feminino no Brasil, o aumento na visibilidade e a transmissão de todos os jogos da seleção feminina é um indício do crescente interesse, ainda pequeno, pelo esporte no país.

[dropshadowbox align=”none” effect=”lifted-both” width=”auto” height=”” background_color=”#ffffff” border_width=”1″ border_color=”#dddddd” ]A maior jogadora de futebol de todos os tempos é a brasileira Marta, que também foi eleita seis vezes como a melhor jogadora do mundo. Sem falar que a  camisa 10 da seleção, tem 15 gols marcados, o que a torna a maior artilheira do esporte em Mundiais.[/dropshadowbox]

E respondendo a pergunta inicial deste texto, 2019 é o ano das mulheres no esporte sim. E isto porque pela primeira vez a Adidas pagará às atletas patrocinadas pela marca, a mesma premiação paga aos homens.  Erick Liedt, diretor da marca, explicou em comunicado oficial que o objetivo de igualar as premiações vai além de corrigir a desigualdade de gênero, mas também busca incentivar as próximas gerações de jogadoras.

Com este posicionamento vindo de uma marca conhecida mundialmente chega a dar um conforto no coração e a esperança por apoio e incentivo ao futebol se multiplicam cada vez mais. Vitórias como essas citadas aqui são o resultado de décadas de luta e reivindicações que continuaram até que a desigualdade diminua, que a absurda diferença de salários diminua, que o preconceito diminua e que as mulheres tenham o suporte necessário para a prática de esportes no Brasil e no mundo.

 

Agnes Barriles é jornalista egressa da UFN. Foi monitora e repórter da Agência Central Sul durante a graduação e atuou no MULTIJOR. Tem o jornalismo esportivo como referência em pesquisas e reportagens desenvolvidas. É engajada com causas sociais e busca dar espaço e visibilidade às minorias

Na tarde do próximo domingo, 24,  acontece mais uma edição da festa Sambarilove, na Gare da Estação Férrea de Santa Maria, a partir das 14h.  Nessa edição a  festa passa a ser realizada em espaço público e o valor de entrada é de R$ 10,00. A taxa de entrada será destinada para organização do evento como estrutura de palco, músicos e artistas.

Com o objetivo de expandir a música popular brasileira, o Largo da Gare contará  com muitas sonoridades, intervenções artísticas e gastronomia. Quem abrirá os microfones no domingo é o cantor Vitor Trevisan,  seguido pela Banda Buena Onda que comanda os vocais e prepara o terreno para o grupo de samba e pagode Samba Move. Para encerrar a festa a Banda Charm’s promete fechar mais uma edição com chave de ouro.

A Plug Produtora organizadora do evento busca desenvolver cada vez mais a cultura na cidade e proporcionar ambientes de integração para o público santamariense. Para mais informações você pode entrar no evento no Facebook “Sambari DAY” ou na página da Sambarilove.

Foto: arquivo Sambariday

O quê? Sambari DAY.

Quando? 24/03, domingo a partir das 14h às 22h.

Onde? Gare da Estação Férrea.

Quanto? R$ 10,00.

Atrações: Vitor Trevisan, Banda Buena Onda, Samba Move, Banda Charm’s, intervenções artísticas, gastronomia e brechó.

 

Foi durante a infância que criei relação com o esporte. Dentro de casa o assunto futebol sempre foi muito presente, no entanto, nunca tive influência familiar por qual time torcer, ou por qual esporte me interessar. Percebia uma certa resistência ao falar de futebol por parte dos homens com os quais eu convivia e escutava coisas do tipo:

– O que que tu sabe? Me diz a escalação do time então!

E sem me dar conta do que realmente estava acontecendo, dizia toda a escalação da dupla Gre-Nal, como se eu tivesse que provar, principalmente, para os meus colegas de escola, que eu sabia sobre o assunto e só assim eles iriam me respeitar. Todos os dias eu buscava informações e lia sobre a temática. Me informar era uma das maneiras de mostrar que o esporte não era apenas um mero interesse, mas a minha futura profissão.

Desde o início da vida acadêmica me interessei por uma das editorias que é composta majoritariamente por homens. Não foi fácil e não é fácil. O meu lugar de fala sempre foi abafado pelos meus colegas ou homens em que discutia esporte, principalmente futebol.

No país pentacampeão mundial no futebol masculino, o respeito e o reconhecimento para o público feminino tem muito a amadurecer. A presença de mulheres no futebol, seja praticando ou comentando, ainda busca uma maior afirmação no país do futebol. E uma das maiores dificuldades, dentre tantas, é desconstruir aos poucos o machismo tão predominante na nossa cultura.

Dentro da história do futebol mundial um ponto que chama atenção é primeira edição da copa do mundo feminina, que teve início 61 anos depois início do torneio masculino.

A falta de incentivo, de apoio e o preconceito presente na sociedade, vindos da cultura machista construída ao decorrer das décadas dificulta a vida de inúmeras mulheres que buscam seguir a carreira profissional dentro do futebol e de tantos outros esportes.

No Brasil,  a falta de visibilidade e patrocínio prejudicam o crescimento do futebol feminino. Sem falar na desigualdade de gênero presente no esporte e no jornalismo esportivo. Não será de um dia para o outro que o preconceito vai acabar, mas diariamente a luta por espaço e reconhecimento ajudam a desconstruir a ideia machista de que mulheres não podem gostar, praticar ou comentar esportes.

Um fato curioso e triste ao mesmo tempo aconteceu nas Olimpíadas de Londres, em 2012, ano em que pela primeira vez na história tivemos a participação de mulheres em todas as modalidades olímpicas.
As mulheres são diminuídas, criticadas, questionadas e suas opiniões e conhecimentos são colocados à prova diariamente. A união e a sororidade dentro do esporte sustentam a luta por igualdade de espaço, de fala e de direitos.

Meu interesse pelo esporte não diminui a cada questionamento ou preconceito que sofro, seja como jornalista ou torcedora, mas sim, aumenta cada vez mais. É claro que as brincadeiras e piadinhas que nos diminuem incomodam e causam repulsa por desconhecidos, colegas e até amigos. No entanto, precisamos cada vez mais refletir e debater dentro da sociedade o machismo e a conduta de inúmeros jornalistas e atletas que tentam esconder por trás de suas imagens a desigualdade de gênero presente em suas falas e atitudes.

[dropshadowbox align=”center” effect=”curled” width=”auto” height=”” background_color=”#ffffff” border_width=”1″ border_color=”#dddddd” ] É difícil ser mulher, em todas as esferas da sociedade, é difícil ser mulher no esporte, é difícil ser mulher no jornalismo esportivo.[/dropshadowbox]

As equipes femininas precisam de espaço apropriado para treinar e desenvolverem seus trabalhos. O futebol feminino precisa de uniformes específicos e feitos sob medida para elas e não ficar com os restos dos times masculinos. As mulheres precisam de salários equivalentes aos homens para se manter e viver do esporte.

E foi pensando nisso que a Nike apresentou na última quinta-feira (14) em São Paulo, em um evento no Estádio do Pacaembu, um uniforme completo, desenvolvido especialmente para a seleção feminina de futebol…pela primeira vez na história. E além disso, a marca mostrou que se preocupa com o público feminino e anunciou suas principais iniciativas para romper barreiras e elevar o desenvolvimento do futebol feminino no Brasil.

O projeto chamado Nike Futebol Clube, idealizado pela marca esportiva irá reunir jogadoras amadoras de futebol com três encontros semanais no Parque do Ibirapuera, com jogos e treinos para as atletas e amantes do esporte. E uma vez por mês, a empresa usará o Pacaembu para fazer a ação. O projeto é gratuito, todas estão convidadas e as inscrições poderão ser feitas através do site Nike.com/SP.

A iniciativa tem como sede a cidade de São Paulo, mas em todo o país mulheres praticam o esporte e lutam por espaço e igualdade. Esperamos que este seja o pontapé inicial para o crescimento do futebol feminino no país, junto do apoio de grandes empresas para a difusão do esporte no Brasil.

Agnes Barriles é jornalista egressa da UFN. Foi monitora e repórter da Agência Central Sul durante a graduação e atuou no MULTIJOR. Tem o jornalismo esportivo como referência em pesquisas e reportagens desenvolvidas. É engajada com causas sociais e busca dar espaço e visibilidade às minorias.

 

Wander Schlottfeldt é acadêmico de jornalismo na Universidade Franciscana e tem um talento nato para a charge! É dele a ilustração do texto de hoje.

Empatia no dicionário significa ação de se colocar no lugar de outra pessoa, buscando a cumplicidade com o outro. É o ato de agir e pensar do mesmo modo, nas mesmas circunstâncias. Porém, pode-se dizer que empatia é uma palavra rara na sociedade atual, ainda mais quando se trata de se colocar no lugar de uma mulher, de sentir na pele como é ser mulher em meio a tantas pressões sociais, políticas e religiosas.

A cada um minuto uma mulher faz aborto no Brasil – de acordo com a Pesquisa Nacional do Aborto de 2016. O trabalho revela que uma em cada cinco mulheres até 40 anos já fez, pelo menos, um aborto no país. Mesmo assim, nenhuma ação política eficaz é feita em prol da questão. As mulheres já conquistaram o direito ao voto, ganharam voz, mas ainda buscam pela autonomia sobre seu próprio corpo e por espaço em uma sociedade machista e conservadora.

As lembranças das mulheres que vivenciaram um aborto, transformam-se em luta ao longo dos tempos. Petúnia e Bromélia são codinomes escolhidos para identificar as vozes anônimas dessa reportagem. Os codinomes representam flores, a escolha se deu pela delicadeza inerente elas, pelas particularidades que cada uma possuí e pelos significados das flores, a primeira simboliza resistência e é muito usada para demonstrar força, a segunda refere-se as palavras ressentimentos, transformações e recomeço.

A dor das mulheres expressa nos traços de um desenho. Ilustração: Mateus Ferreira

“Eu não tenho muita certeza de que a
descriminalização ou legalização do aborto vai salvar muitas mulheres.  Ninguém faz um ‘abortinho’ como método anticoncepcional. É horrível. É um trauma. Por mais de boa que tu leve a situação, é péssimo. É um fardo que tu carrega.  A gente nunca tem total ideia do que é um aborto até passar por aquilo, porque militar ou ser a favor é muito distante, é defender uma causa DELAS, das mulheres. Mas tu não se inclui nisso. Tu entende porque tanta mulher morre, porque tanto relato horrível na internet, mas não vivência. NENHUMA mulher tinha que passar por isso sozinha e essa PEC (…), ela é horrorosa, simplesmente anulam o fato da mulher ser um humano”. – Bromélia, 21 anos.

 

 

O aborto é interrupção de uma gravidez pela remoção de um feto ou embrião, pondo fim no desenvolvimento dentro do útero. Existem dois tipos de aborto, o espontâneo que ocorre naturalmente e o aborto induzido, aquele que acontece quando a gestação é interrompida por meio da ingestão de remédios ou da curetagem – procedimento cirúrgico em que há a raspagem da parede uterina para a retirada do embrião ou feto.

No Brasil, o aborto é considerado crime contra a vida humana – conforme o Código Penal de 1984. O aborto no país só é direito da mulher quando existe risco de vida para a gestante, quando a gravidez é resultado de estupro ou quando o feto é anencéfalo. No caso de estupro, a vítima deve denunciar numa delegacia e fazer o exame de corpo delito. Só após estes procedimentos o aborto é liberado em caso de violação do corpo da vítima. Sabe-se que, por vezes, esses processos demoram longos períodos já que em determinadas situações o caso é encaminhando a um juiz e este analisa o processo, julga e indica a medida que deve ser tomada.

De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS) anualmente, 25 milhões de abortos ilegais são realizados no mundo. Segundo este levantamento 97% dos abortos ilegais que colocam a vida da mulher em risco, ocorrem em países em desenvolvimento como África, Ásia e na América Latina. E é na América do Sul que existe a segunda maior taxa de gravidez na adolescência no âmbito mundial, sendo que 18% de todos os partos são de mulheres com menos de 20 anos de idade – segundo a Organização das Nações Unidas (ONU). Muitos abortos induzidos ocorrem justamente na adolescência, fazer um aborto induzido, aqui, no Brasil pode desencadear de um a três anos de prisão para a gestante que induzir o aborto e para todas as pessoas que o provocarem, mesmo com o consentimento da gestante, como médicos, enfermeiros ou qualquer pessoa envolvida no caso.

Remédios Abortivos

O nome mais conhecido quando o assunto é remédios abortivos é o Cytotec, nome comercial, cujo composto farmacológico é o Misoprostol. De acordo com a médica clínica geral Fernanda Dorneles, o medicamento tem como efeito a dilatação do colo do útero e promove contrações semelhantes as dores do parto. Isso quer dizer que o composto contribui para a expulsão do feto de dentro do organismo. O medicamento é usado via oral, sublingual e vaginal. “Dependendo do tempo de gestação que a mulher se encontra a dilatação do colo do útero pode significar uma indução ao trabalho de parto ou um aborto”, explica a médica. Em países onde o aborto é legalizado, o medicamento é utilizado e tem 95% de eficácia. Já no Brasil, como o aborto não é legalizado (somente em casos previstos por lei), o remédio não deve ser comercializado ao público no geral, mas não é isso que acontece.

É visto que a cada dia clínicas e mais clínicas clandestinas surgem e atuam realizando abortos fora da lei. Para a remoção do feto, nesses locais são utilizados diversos métodos, não apenas o Cytotec. Há o uso de utensílios nada seguros como agulhas de tricô e cabides, além de tentativas de rasgar o útero com algum objeto de ferro. A partir destas questões a reportagem saiu às ruas de Santa Maria/RS e buscou por métodos abortivos ilegais, houve a descoberta comercialização do Cytotec em nosso município. O remédio é comercializado livremente em um ponto central da cidade, especificamente, a banca fica localizada no Shopping Popular de Santa Maria.

De acordo com a investigação das acadêmicas para ter acesso ao remédio a pessoa interessada deve fazer o pedido e mediante ao pagamento de metade do valor a encomenda é feita. O vendedor marca um horário no mesmo local para a entrega do medicamento. O valor total é de R$800,00 e a única forma de pagamento é em dinheiro.

O aborto e o que pode mudar com a PEC 181

Está em andamento no Congresso Nacional a PEC (Proposta de Emenda à Constituição) 181, o projeto de lei visa proibir todas as formas de aborto no Brasil, inclusive em casos de estupro ou risco de morte a gestante, tornando o ato um crime. A proposta de emenda constitucional praticamente inviabiliza a questão do aborto no Brasil, tornando ilegal a interrupção da gravidez mesmo nos casos permitidos hoje pela lei. Caso a PEC seja aprovada haverá a criminalização do aborto em qualquer situação.

Uma proposta de emenda constitucional só entra em vigor a partir de quatro votações no Congresso Nacional: na primeira etapa o texto é avaliado por uma Comissão Especial na Câmara dos Deputados, em seguida passa por uma votação entre todos os deputados no plenário; na segunda etapa o texto é encaminhado para uma comissão, depois para uma votação no plenário com os senadores. Então em cada casa legislativa, são feitos dois turnos de votação. Se houver mudança na proposta quando passar pelo senado, o texto volta para análise da Câmara. A PEC 181 aguarda ser votada no senado. No gráfico abaixo percebe-se a opinião das mulheres residentes em Santa Maria, a respeito do projeto de lei 181.

A comissão formada inicialmente tinha outro intuito, o de discutir a proposta de maneira diferente, ela visava aumentar o tempo de licença-maternidade no caso de bebês prematuros. A PEC 181/2015, aqui em questão, foi pautada e apresentada pelo senador Aécio Neves, sendo avaliada em conjunto com a PEC 58/2011, de conteúdo parecido. O propósito era estender o período da licença-maternidade pela quantidade de dias em que o bebê recém-nascido ficasse internado no hospital. A licença de 120 dias poderia aumentar até 240 dias, tudo estabelecido de acordo com o tratamento da criança. No entanto, ao longo das análises da proposta houve uma alteração que parece mero detalhe, mas que faz uma diferença significativa na problemática do aborto.

Em novembro de 2017, o texto aprovado pela comissão foi alterado, para assim incluir na constituição a ideia de que a vida deve ser respeitada desde a sua concepção, não só depois do nascimento. E é essa mudança que pode tornar qualquer caso de aborto crime, mesmo os que hoje em dia são permitidos pela Lei, como já dito.

No banco de dados da pesquisa feita pelas estudantes concluiu-se que a maioria da população de mulheres participantes da pesquisa defende a não aprovação da PEC 181.

A voz das mulheres

Uma pesquisa foi feita com 100 mulheres de Santa Maria, de 18 a 60anos de idade. As questões foram feitas para saber como as mulheres lidam com a temática do aborto nos dias de hoje e qual a posição delas em relação a PEC 181, que visa anular o aborto no país.

Entre os dados extraídos, concluiu-se que 85% das mulheres entrevistadas conhecem outra mulher que já passou pela situação do aborto, seja ele espontâneo ou induzido. Isso quer dizer que a cada 5 mulheres, 4 delas conhecem alguém ou já tiveram contato com o aborto, como mostra o gráfico número 4. Sendo que dentre as que já induziram o aborto, mais da metade das mulheres tomou remédios abortivos, botando a própria vida em risco.

 

A falta de informação em relação ao aborto, principalmente nos casos permitidos por lei, no exercício do direito das mulheres é uma realidade no país, a ausência de informações predomina e revela um cenário de negligência. As mulheres buscam por alternativas que colocam a vida em perigo, segundo a Pesquisa Nacional do Aborto de 2016, cerca de metade das mulheres que fizeram aborto recorreram ao sistema de saúde e foram internadas por complicações relacionadas ao aborto, pelo uso de medicamentos ou outras formas de interromper a gravidez. Um pouco dessa realidade você pode conferir em números abaixo, a partir da pesquisa feita pelas repórteres:

 

 

Quando tinha 20 anos Bromélia abortou. “Descobrir foi muito bizarro porque simplesmente não passava pela minha cabeça que uma coisa dessas ia acontecer, ainda mais do jeito que aconteceu. Eu fiz o teste de gravidez muito brincando. E a sensação de quando o teste deu positivo, nossa, eu me senti muito suja eu só conseguia sentir muito nojo e vergonha. Eu fiz mais dois exames de sangue e um ultrassom porque eu simplesmente não acreditava que aquilo era real.” A semana da realização do aborto e as consequências deixadas no corpo físico e psicológico são marcas que ficam para toda vida de uma mulher.

Segundo a psicóloga Regina Silva os traumas podem surgir em qualquer pessoa que vivencie uma perda, porém, “o modo como cada pessoa reage depende muito de sua estruturação psíquica e das estratégias que ela vai desenvolver para elaborar essa perda. O mesmo se aplica a uma mulher que sofre ou induz um aborto; não é possível mensurar quem sofre mais. Divulga- se muito a informação de que as mulheres que optam pelo aborto sofrem mais de quadros depressivos e acabam se arrependendo, mas se tu fores buscar na literatura especializada no assunto vais ver que isso não é uma verdade”,
afirma a psicóloga Regina.

Bromélia conta que a ideia de ter um filho nunca nem passou pela sua cabeça, sempre teve bastante certeza do que queria – não seguir uma gravidez. Na semana que antecedeu o aborto se enxergava como uma mulher fisicamente e psicologicamente exausta.

“Lembro do dia antes de fazer, eu cheguei do
trabalho muito enjoada e nervosa, só tive força pra
chegar em casa e chorar. Isso foi numa sexta-feira e
eu só levantei no domingo de tarde. É tudo muito
esquisito. Todo o tabu que gira em torno, tudo que
as pessoas falam. Tu nunca acha que vai passar por
uma coisa dessas. Tu se questiona se tu ta certa
sobre aquilo, se de fato é só sobre o teu corpo. E é
assim. Vivi toda situação do aborto estando no ápice
dos privilégios, por ser mulher branca, universitária,
e com muito apoio emocional, sei que podia ter sido
muito pior. Meus amigos me apoiando foi essencial,
não sei nem explicar, mas o próprio ato de ir
comprar o remédio é duro, não saber se tu ta
tomando um remédio falsificado é duro. E eu ainda
tive essa opção de tomar o remédio. Não é qualquer
mulher que tem quase 1000 reais pra comprar meia
dúzia de comprimidos e realizar exames. Enquanto
eu fazia o procedimento eu sentia muita raiva por
estar passando por aquilo, podia ser muito mais
simples, eu não precisava estar sentindo tanta dor e
sangrando. Tinha horas que eu achava que não ia
aguentar” – desabafa Bromélia.

Bromélia não teve a chance de um tratamento humano e tranquilo quando sentiu a necessidade de abortar, assim como milhares de mulheres. Na pesquisa feita na internet, muitas não entendem o Sistema Único de Saúde como uma solução eficaz para a problemática.

O assédio e a revolta

“É meio louco falar em assédio, estupro, o abuso… parece que isso não condiz com a minha realidade ou com a realidade dele. Porque ele é o “amigão” da galera, mas foi e é difícil aceitar isso. Uma das poucas coisas que eu lembro é de um certo momento pedir muito pra ele parar, mas acordei sem nem saber onde eu tava.” – Bromélia, 21 anos.

A outra flor de nossa história chama-se Petúnia – significa transformação e ressentimentos. A idade da flor é também de 21 anos, encontrava-se com 17 quando toda dor começou. “Quando eu acordei depois de tudo falei com o agressor e ele me garantiu, disse que tinha plena certeza que eu não estaria grávida. Não estava assimilando as coisas que aconteceram e não tinha como eu saber tudo que tinha acontecido sabe? Mas o que eu sabia era que nunca ia querer ter um filho, uma lembrança de uma coisa traumatizante, e eu nunca cheguei a saber se de fato eu estava grávida, ou não porque eu não tomava anticoncepcional, mas assim que eu pude eu tomei a pílula do dia seguinte”, relata a jovem.

Petúnia era muito nova quando foi abusada, e não estava em sã consciência na hora do ato. Mas teve o apoio e ajuda de amigas que lutam pelos direitos das mulheres e então foi orientada a denunciar o estupro, e perceber que o que tinha acontecido era errado. Passaram-se cinco anos desde então, e na delegacia nada foi feito a respeito do caso.

“Eu acordei no susto mesmo, com dor e
sangrando, eu era virgem. Foi assim o
momento que voltei um pouco para mim,
recuperei minha consciência. Eu
provavelmente teria levado adiante um aborto.
Minha mãe é muito religiosa, não sei como ela
reagiria, mas provavelmente ela teria me
apoiado nessa decisão. A minha primeira
atitude depois de tudo isso, foi ir na delegacia,
não foi uma atitude pensada por mim, não foi
uma atitude que eu tomei sozinha, porque no
momento tu fica muito assustada e pensa,
não ta acontecendo comigo, ta?”

– Petunia, 21
anos.

Culturalmente a mulher sempre foi induzida e direcionada a atender as exigências construídas pela sociedade machista e pouco favorável a mudanças – uma das reflexões acerca do tema, de Regina Silva, psicóloga. A profissional explica que em determinado momento histórico as mulheres foram convencidas a darem mais atenção aos filhos, como se a mulher tivesse como única função: o ser mãe. “O amor incondicional ao filho, na verdade não passa de algo moldado, trabalhado nas mulheres, que ao longo das décadas foi se tornando cada vez mais presente e visto como natural”, aponta Regina. Petúnia
desabafa e compartilha da mesma visão da psicóloga “O mais natural é tu te culpar na hora, se tu falar sobre isso com a tua mãe ou com alguém da tua família um pouco mais conservador, eles vão te julgar por pensar no aborto, vão te julgar por ser estuprada, vão te julgar por não querer ser mãe. Mas eu entendo as mulheres, existem muitos fatores que fazem com que a pessoa não queira ter um filho, não queira vivenciar todo processo de gerar uma criança. Eu acredito que cada um tem seu livre arbítrio para escolher se quer ou não ter um filho”, afirma a jovem flor.

Foram os amigos, as rodas conversas na universidade, as trocas em grupos feministas que ampliaram a visão de Petúnia a respeito do assunto aborto. Já para Regina Silva foram os livros. A leitura da obra de Elisabeth Bandinter “O mito do Amor Eterno” foi principal chama para a tomada de consciência de Regina Silva. Ela mulher, militante e feminista passou a acreditar e a defender a descriminalização do aborto, percebeu que muito do que pensava sobre a maternidade na realidade sobre o desejo de não ter filho – estava descrito e embasado no livro de acordo com os momentos históricos e culturais. Na academia Regina estudou o aborto realizando o trabalho final de graduação com ênfase nessa temática e tendo como título: “Filho é fruto do desejo, o resto é feto!”- uma análise dos discursos produzidos nas redes sociais sobre o aborto, durante o ano de 2016. Regina por fim ressalta: “muitas pessoas argumentam ah, mas existem tantos métodos se engravidou foi porque quis, não existe acidente. Será que não existe mesmo? Será que essas pessoas já ouviram histórias de mulheres que tomavam seu anticoncepcional rigorosamente, e por conta do uso de algum outro medicamento, o primeiro teve seu efeito reduzido e com isso uma gravidez? E então, será que toda mulher vai ter o desejo e dispor de estrutura física e emocional para arcar com uma gestação? A questão é muito mais complexa que simplesmente apontar e dizer que “ah, você não se cuidou porque não quis”.

Reportagem produzida na disciplina de Jornalismo Investigativo, sob orientação da professora Carla Torres.

Texto: Agnes Barriles e Tayná Lopes

Foto: Agnes Barrilles

Na tarde desta sexta-feira (24), os laboratórios de comunicação do curso de Jornalismo da Unifra, se reuniram para organizar a cobertura do Vestibular de Verão 2018. O Laboratório de Produção Audiovisual (Laproa), Laboratório de Fotografia e Memória (Labfem), Laboratório de Jornalismo Multimídia (Multijor) e a Agência CentralSul de Notícias farão reportagens online, com cobertura instantânea nas suas páginas e no site da agência.

O Vestibular de Verão da Unifra é composto por uma prova com questões objetivas de múltipla escolha e uma redação, que propõem à avaliação de conhecimentos desenvolvidos e adquiridos ao decorrer do Ensino Médio. A redação tem o mínimo de 20 linhas e máximo de 27.

Reunião preparatória à cobertura do vestibular de verão da Unifra. Foto: Andressa Rodrigues, LABFEM

A prova é constituída ao todo 50 questões de múltipla escolha, cinco questões de cada disciplina que são  língua portuguesa, física, biologia, matemática, química, literatura brasileira, geografia, história, filosofia e língua estrangeira.

Para qualquer dúvida você pode entrar em contato com a Coordenadoria de Seleção e Ingresso, e falar com Adilção ou Luciane, através do fone: (55) 3220-1220

Você pode acompanhar a cobertura do Vestibular de Verão da Unifra pelas páginas no Facebook:

Multijor 

Laproa 

Agência CentralSul de Notícias

HORÁRIO DA PROVA 

Início: 13h30 (chegar com meia-hora de antecedência)
Duração: 4h

O QUÊ LEVAR NO DIA DA PROVA

  • Documento de identidade
  • Caneta BIC, preta ou azul, transparente.
  • Lápis ou lapiseira de corpo transparente.
  • Embalagem de água sem rótulo.
  • Alimentos dentro de embalagem transparente.

 

 

 

 

 

 

O Salão de Atos do Conjunto I, da Unifra, foi palco de mais um colóquio organizado pela TV OVO. (Foto: Pedro Piegas / Divulgação)
O Salão de Atos do Conjunto I, da Unifra, foi palco de mais um colóquio organizado pela TV OVO. (Foto: Pedro Piegas / Divulgação)

Na última sexta-feira, 17, o Salão de Atos do Conjunto I, da Unifra, foi palco de mais um colóquio organizado pela TV OVO. O debate teve como tema a Produção audiovisual em série e contou com a presença da diretora, roteirista, produtora executiva e integrante da Casa de Cinema de Porto Alegre, Ana Luiza Azevedo.

E com o roteirista, produtor, sócio da Coelho Voador e um dos idealizadores do Frapa (Festival de Roteiro Audiovisual de Porto Alegre), Leonardo Garcia.

O colóquio integra o projeto Narrativas em Movimento, e este em especial foi organizado em função do importante papel da Lei da TV Paga, que impulsionou o mercado audiovisual e fez crescer o número de produtoras no país, um salto de 129% em sete anos, apesar do nascimento de mais produtoras, o número de estabelecimentos ligados ao mercado audiovisual encolheu quase 30%, puxado pelo fechamento de 4.590 lojas de varejo e aluguel de DVDs e vídeo entre 2007 e 2014.

Diretora, roteirista, produtora executiva e integrante da Casa de Cinema de Porto Alegre, Ana Luiza Azevedo.
Diretora, roteirista, produtora executiva e integrante da Casa de Cinema de Porto Alegre, Ana Luiza Azevedo.

Ana salientou a mudança no mercado audiovisual nos últimos 20 anos, e afirmou que a forma de produzir mudou radicalmente com a Lei da TV Paga. “A demanda de conteúdos audiovisuais independentes brasileiros cresceram e são políticas públicas, parcerias entre o poder público e as comunidades que vão estimular cada vez mais a produção independente”, comenta ela.

A Lei da TV Paga entrou em vigor em 2012 e estabeleceu, para a maior parte dos canais de TV por assinatura, o mínimo de 3 horas e meia de conteúdo produzido no Brasil, com metade desse material obrigatoriamente criado por empresas independentes.