Em meio à tristeza e à crise econômica provocada pela pandemia do coronavírus, uma promissora alegria para muitos santa-marienses – a fábrica de refrigerantes Cyrilla, que havia fechado as portas em 2008 por questões financeiras, retomou suas atividades na cidade após 12 anos. Agora, a busca pelo popular refrigerante e os demais itens Cyrilla se mostra surpreendente, dificultando, inclusive, o abastecimento da mercadoria nas prateleiras dos supermercados que esvaziam rapidamente.
A Cyrilla surgiu no ano de 1910 em Santa Maria e é considerada um dos refrigerantes mais antigos do país. A fábrica foi uma das pioneiras no envase do guaraná, sendo um dos primeiros refrigerantes desse sabor no Brasil.
Sua fórmula foi produzida no ano de 1905 pelo médico Luiz Pereira, na cidade de Resende, no Rio de Janeiro. Porém, só passou a ser utilizada em 1910, quando o médico trouxe a fórmula para Santa Maria, e ela adquirida e registrada pela Cyrilla. “Com o passar do tempo foram produzidos novos sabores, como por exemplo, a gasosa limão, a Cyrillinha, bebida na cor alaranjada transparente, produzida a partir do óleo da casca da laranja, e a tônica”, afirma Luiz Marquezan Bagolin, hoje sócio-administrativo da fábrica.
Bagolin conta que após o final da primeira Guerra Mundial, a Cyrillinha parou de ser fabricada. Nessa época, a lei do suco estava em vigor no país e proibia a venda de bebidas que não fossem feitas diretamente da fruta. “Desse modo, foi feito um novo sabor laranja, que contém 10% do suco natural da fruta”, revelou Bagolin. Como a lei do suco não permaneceu na ativa por muito tempo, o retorno da fabricação da Cyrillinha deu continuidade ao trabalho da empresa que marcou a história de Santa Maria, mesmo em meio aos muitos revezes sofrido.
Da retomada da empresa à distribuição dos produtos
“Alguns anos após o fechamento da indústria, na época em que a cidade era administrada pelo prefeito Cezar Schirmer, nos aliamos a ele para tentar trazer de volta a empresa, aproveitando que o prefeito era muito voltado ao trabalho e desenvolvimento empresarial de empresas daqui e, com isso, começamos as negociações que ajudaram a pôr em prática este sonho”, conta Bagolin.
O sócio administrativo da Cyrilla diz que com a apoio da prefeitura, à época, foi adquirido o prédio e a marca em um leilão federal. Hoje a Cyrilla pertence a três empresários e amigos. Ao lado de Bagolin estão Lairton Padoin, dono dos postos Padoin, e José Antônio Saccol, proprietário da Minami (Honda). “Nos unimos com intuito de não deixar uma marca centenária morrer e, assim, trabalhamos duro para sua volta neste ano de 2020”, afirma Bagolin.
A indústria foi remontada do zero, mantendo apenas a sua fachada. Todos equipamentos foram readquiridos com a mais moderna tecnologia do mercado atual.
A Cyrilla possui duas fontes de água originadas de aproximadamente 100 metros de profundidade do solo. Estas águas têm o ph 7.1, ou seja, uma água mineral que é usada para o consumo industrial, bem como a água gaseificada, conhecida como “Diamantina”, presente na antiga Cyrilla.
Sucesso de vendas desde sua volta, a bebida que mais se destaca é a Cyrillinha, a única produzida em garrafas de vidro, utilizando material reciclável.
A demanda do refrigerante que é o carro chefe da empresa, é quase maior que a quantidade comercializada todos os dias. São produzidas 6 mil garrafas de vidro/dia e quase todas são vendidas no mesmo dia. Ela é oferecida em embalagens de vidro de 275ml e pet de 500ml.
Para dar conta da demanda total de refrigerantes, a empresa começou a produzir também em garrafas pet. São quinze mil garrafas pet de 2 litros e de 500 ml produzidas diariamente.
A ideia inicial é o atendimento municipal, mas com o tempo o objetivo será servir outras distribuidoras, vinculadas à empresa: “Assim, eles vendem nossos produtos em conjunto. e aos poucos vamos chegando até outras cidades do Estado”, afirma Bagolin.
De acordo com o mesmo, a fábrica lida apenas com produtos que na época eram de maior demanda, mas o objetivo da companhia é logo apresentar novos sabores de refrigerantes. Neste caso, algo que visa chamar a atenção do público. “Até então é fabricado o sabor uva, que daqui uns dias já estará a venda. Refrigentes para o público infantil também estão sendo desenvolvidos. Outra demanda é a produção de refrigerantes zero açúcar. Para um futuro mais distante temos a ideia de fabricar águas saborizadas, considerada um produto que está em alta no mercado, além de bebidas alcoólicas, como vodkas, gins e licores”, diz ele.
Questionado sobre o porquê do logotipo ter a imagem de uma zebra, Bagolin diz que ela representa a diversa gama de produtos que a marca tinha na época. Eram oito sabores de refrigerantes, vários tipos de bebidas alcoólicas, como vodka, licor, gim, bonekamp entre outras. Não há documentos que confirmem, mas há relatos de pessoas que falam que cada listra da zebra refere-se a um determinado produto da marca.