A crise provocada pela pandemia da Covid-19 impôs novos desafios a profissionais de diversos segmentos, incluindo os relacionados à cultura. Não foi diferente com os artistas plásticos. Sem exposições, com museus e galerias de artes fechadas, o lugar onde os artistas têm encontrado o público é nas redes sociais. Para a artista plástica Marília Chartune, o mais importante é que o artista não desanime com a pandemia, mesmo com desafios impostos pela quarentena.
Marília nasceu na cidade de Tocantins, interior de Minas Gerais, é formada em pintura e restauração pela UFRJ, porém, fez de Santa Maria sua casa. De 2013 a 2016 atuou como Secretária de Cultura do Município, mas à noite ou nos finais de semana, sempre ia para o ateliê pintar e desenvolver seu trabalho, apesar de que a pasta exigia tempo integral de atenção. Atualmente, desde o início do mês de maio deste ano, Marília é diretora do Museu de Arte de Santa Maria (Masm) e proprietária de um ateliê que leva o seu nome que atua no ramo de pintura, restauração e orientação técnica.
Para pintura de seus quadros, suas principais inspirações são os elementos comuns do cotidiano. No início de sua carreira, as montanhas e cidades mineiras eram os temas preferidos; no Rio de Janeiro, suas principais inspirações eram as marinas do Rio e litoral fluminense, os estaleiros, que via da janela do sétimo andar da Escola Nacional de Belas Artes, onde aprendeu a técnica da aquarela.
Confira abaixo a entrevista realizada com a artista plástica e pintora Marília Chartune Teixeira.
Mateus Facco: Como os artistas vêm fazendo para conseguir passar por essa pandemia? (em relação ao lado financeiro).
Marília Chartune: Os artistas são muito vulneráveis a qualquer mudança na economia porque exercem atividade informal sem renda fixa. Por isso, um dos cortes em orçamento é o investimento em arte, talvez o primeiro. Os artistas que têm produção tentam vender através da internet ou oferecem pelas redes sociais. Nesse momento de reclusão, é importante produzir e pesquisar, mas sem retorno financeiro, se torna uma tarefa difícil! Estão acontecendo mudanças nos processos de alcance ao público consumidor, os artistas estão reinventando com transmissão de conhecimentos através das lives e conquistando o mercado virtual.
MF: Você que é mineira, formada no Rio de Janeiro, por que se interessou tanto por Santa Maria? O que te trouxe para cá?
MC: Sou mineira de Tocantins, vivi minha infância até me formar no ensino médio em Ubá, fui estudar em Juiz de Fora onde iniciei Engenharia Civil e, posteriormente, fui para o Rio de Janeiro onde me formei em Pintura e Restauração na UFRJ. Em 1989 vim para Santa Maria, por motivo de casamento, cidade que acolhe e valoriza quem aqui se instala e sempre procurei participar de atividades culturais!
MF: Por que você gosta de pintar as paisagens da cidade?
MC: Santa Maria tem muitos atrativos, sua arquitetura art dèco, Neo clássica, seus morros, igrejas, ruas movimentadas, o mais lindo e instigante pôr do sol e as estações definidas são minha inspiração! Gosto de gente, bicicletas e flores! Eu tento criar umas cenas de cidades ideais e Santa Maria me encanta por ter tudo isso que, como artista, vejo com poesia!
MF: À frente da direção do Museu de arte de Santa Maria (Masm), quais são as suas propostas para o museu?
MC: Atualmente aceitei esse convite que muito me interessou por sempre ter atuado junto ao Masm desde sua criação! Tenho que seguir as normas que o museu se propõe como instituição e os projetos como editais, concursos, salões e exposições. Atualmente estamos passando por essa crise sanitária e o espaço físico está impossibilitado de receber visitações. Criamos uma série de eventos no projeto Viva Masm que abrange um mercado de arte no hall, exposição virtual na Sala Jeanine Viero e faremos mostras das coleções do acervo para visitas virtuais. Estamos começando pela coleção de Érico Santos que foi feita doação de pinturas a óleo neste ano e está exposta na Sala Iberê Camargo, mas será veiculada através das redes sociais. Faremos com a AAPSM a mostra em homenagem a Carlos Scliar, no Sesc pelo centenário de nascimento e uma mostra virtual. Sobre a obra de Eduardo Trevisan que também comemoraria em 2020 cem anos! Estão abertas as inscrições para o Concurso Fotográfico Cidade de Santa Maria e divulgaremos também pela internet. Teremos outra forma de movimentar e principalmente disponibilizando nosso acervo.
MF: Quem é a tua inspiração no mundo da arte?
MC: Tenho muitos artistas onde busquei inspiração, mas considero Joaquim Sorolla, impressionista espanhol como minha grande fonte de inspiração na técnica, desenho e luz!
MF: Qual é o seu quadro favorito? E por que ele?
MC: Gosto muito do romantismo inglês e da profusão de cores de William Turner, por isso elejo o “The Burning of the Houses of Parliament, 1834, meu quadro favorito!
Imagem: The Burning of the Houses of Parliament, 1834
MF: Quando secretária de cultura, qual foi teu maior desafio?
MC: Após assumir em 2013, ano em que ocorreu a tragédia que abalou a todos nós, tivemos que reinventar a Cultura! Santa Maria recebeu em novos moldes, uma forma de buscar a autoconfiança e autoestima, tarefa desafiadora. Uma delas foi dar condições a que todos os segmentos buscassem recursos, e com a aprovação do Plano, Fundo e Sistema de Cultura, nos capacitamos junto aos outros pilares Secretaria, Conselho e Conferência a andar em consonância com o Sistema Nacional e o Estadual.
MF: O que a pandemia te deixa de lição. poderá sair algum quadro em relação a isso?
MC: A pandemia já está mudando o comportamento de todos nós, mas na arte, confirmando sua importância, quando nos sentimos isolados, nós acompanhamos de música, arte culinária, design, pintura etc.! A cultura salva, isso está comprovado! Fiz uma pintura para a exposição ConfinArte da Galeria Gravura em Porto Alegre em que a cidade vazia, sem as pessoas se tornou melancólica!
Mais informações sobre os quadros de Marília Chartune acesso o link: https://www.galeriaarte12b.com/marilia-chartune
Por Mateus Facco, acadêmico do curso de Jornalismo da UFN. Matéria produzida para a disciplina de Jornalismo Cultural, orientada pelo professor Carlos Alberto Badke.