Posição dos órgãos públicos
Em Santa Maria, existe a Lei de Incentivo à Cultura (LIC) que por meio de Poder Público Municipal apoia a cultura na cidade e tem como objetivo estimular o financiamento de projetos culturais. A responsável pela LIC/SM, Marcia Rocha, relata que vários projetos vêm sendo beneficiados nos últimos anos, como por exemplo: “Por onde passa a memória da cidade”, “Narrativas em movimento”, “Olhares da comunidade” e o “Festival Internacional de Cinema Estudantil – CINEST”. Segundo a Secretaria de Município da Cultura, Esporte e Lazer, o papel que os órgãos públicos tem feito é de estimular o desenvolvimento cultural e apoiar as manifestações culturais que acontecem na cidade, em especial, nas áreas de cinema, fotografia e audiovisual.
Entretanto, para a crítica de cinema, Bianca de França Zasso, jornalista formada pela Universidade Franciscana e que, desde 2012, trabalha profissionalmente como crítica de cinema em Santa Maria, “esse apoio municipal não é suficiente”. Bianca tem uma ligação intensa com o cinema nacional, tendo interesse desde a graduação, no jornalismo cultural. A crítica conta que seu papel na área é ser uma mediadora entre o público e o espetáculo cinematográfico. Os filmes trazem questões que, muitas vezes, não são vistas numa única sessão, então o crítico serve para alertar sobre alguns pontos e trazer ao telespectador alguma informação que compõe com a experiência cinematográfica.
A jornalista se dedicou ao cinema ainda na graduação, participando do CineClubeUnifra, onde escrevia e discutia sobre filmes e assuntos relacionados. Atualmente, ela é editora do site Formiga Elétrica, que tem sede em São Paulo, colunista no site do Claudemir Pereira, compõe o Elviras – Coletivo de Mulheres Críticas de Cinema, integra a Associação de Críticos do RS e a Associação Brasileira de Críticos de Cinema (Abraccine), além de colaborar com diversos outros sites.
Bianca não trabalha diretamente com a produção audiovisual na cidade, mas percebe que, com o tempo, houve uma certa diminuição de produções. Para ela, a necessidade de um posicionamento do Estado faz muita falta e não se refere a simples apoio,mas sim de novos editais serem abertos para valorizar a produção local e regional.
Sobre o tema da redação do Enem, de 2019, refletir sobre a democratização do cinema, Bianca opina que foi “um tanto quanto arriscada”. A jornalista considera que o acesso diz respeito ao cinema em lugares afastados dos grandes centros, bem como para pessoas que não tem condições de pagar o valor estipulado nos shoppings. Segundo ela, o jovem brasileiro, médio, assiste muito pouco cinema brasileiro e, quando assiste, quase sempre são os famosos blockbusters. “Cinema nacional deveria ser matéria dada na escola: cinema é arte, é história do nosso povo, pois os filmes retratam a sociedade de determinado período histórico”, conclui Bianca.
Também o diretor de cena da produtora Toca Audiovisual, Fabrício Koltermann, opina sobre o cenário do cinema nacional nos últimos anos. Com
início muito cedo na área cinematográfica e tendo experiências em sua própria casa, o diretor conta que sempre foi encantado por cinema e produção. Assistiu diversos filmes que lhe deram inspiração e confiança para seguir em busca de seus objetivos, disse ele.
Buscando conhecimento, Fabrício viajava de Restinga Seca a Santa Maria para acompanhar o SMVC. O Festival, segundo ele, serviu de escola para o seu aperfeiçoamento. Seu primeiro produto foi “O vítima de nós”, pelo qual recebeu diversos prêmios. A partir daí suas produções foram aumentando, sempre priorizando sua cidade natal, que é Restinga Seca.
Para o diretor, a democratização do cinema está nas atividades realizadas na rua, nos cineclubes, nas exibições itinerantes. “Atividades assim não trazem apenas o filme, mas também promovem debates entre os diretores, produtores e o público. Cinema não é apenas o que está em cartaz nas grandes cidades”, comenta Fabrício.
Segundo ele, Santa Maria tem potencial para o audiovisual, com produções de qualidade, material e profissionais especializados. Para ele é necessários que as pessoas tenham curiosidade e saiam de suas “bolhas” e busquem inovação e novidade para abrilhantarem seus trabalhos.
Como diretor, ele considera que o trabalho exige um olhar criterioso , pois o cinema provoca sensações para quem vê, então é necessário que exista naturalidade e verdade. Para ele que produz, o estudo e a pesquisa são muito necessários, pois o trabalho de quem está por trás das câmeras tem que ser muito pensado para transmitir aquilo que é planejado para o público.
Cinema na universidade
O incentivo ao audiovisual também é pauta nas instituições de ensino. A UFN oferece a cadeira de Cinema I e Cinema II para os cursos de Jornalismo e Publicidade e Propaganda, além de ser aberto aos demais cursos como cadeira optativa. Na disciplina de Cinema I, ministrada por Carlos Alberto Badke, é realizado um estudo teórico sobre a história e a produção nacional e local. As aulas servem de apoio para os alunos criarem bases dentro da área e se descobrirem no mundo do cinema.
Já na disciplina Cinema II, ministrada pela professora Neli Mombelli, os alunos elaboram e desenvolvem um produto audiovisual. Geralmente são produzidos dois curtas-metragens no semestre e toda produção é realizada pelos alunos. A professora conta que, em aula, são elaborados enredos e, por votação, são escolhidos quais serão produzidos. Assim, é feita uma divisão das tarefas e cada grupo é responsável pela produção.
A atividade é proposta para apresentar aos alunos o mundo cinematográfico de modo com que realizem um pouco de cada tarefa e tenham a experiência de vivenciar uma produção. Além disso, os produtos são apoiados por empresas que os próprios alunos buscam e, assim que finalizados, são lançados e postos em concursos e festivais de cinema. Segundo a professora, não basta produzir um material audiovisual, ele deve ser exposto e circulado, para que outras pessoas possam ver.
No segundo semestre de 2019 foram produzidos dois curta-metragens, “A visita” e “¼ de memória”. Os dois curtas trazem algo em comum: ambos remetem questões atuais e pontuais que envolvem o universo feminino.
Atividades como estas são essenciais para que o aluno ponha “a mão na massa” e também seja inserido no processo produtivo. “Embora o aluno passe por todas as etapas em apenas um semestre, ele já pode ter noção do trabalho e do empenho que é efetuado na área do cinema “, encerra Neli.
Para saber mais sobre as produções do ano passado, confira a matéria que foi publicada na Agência Central Sul.