Se baterias, baixos e guitarras demandam esforço das bandas que sobem e descem dos palcos, alguns grupos possuem apenas uma missão: estar com as vozes afinadas. O canto a cappella tem suas origens na prática do canto gregoriano, que não exige o auxílio do órgão ou de qualquer outro instrumento, sendo executado apenas por vozes de monges ou clérigos que formavam o grupo de cantores.
Muitas vezes os cantores desciam do presbitério e se punham a cantar em uma capela lateral da igreja, daí a origem da expressão. Essa forma de arranjo musical vem sendo executado por artistas de diversos estilos diferentes, o que lhe confere popularidade.
As músicas cantadas a cappella se modernizaram com a entrada da percussão vocal, o chamado beatbox, com a modificação do papel do baixo, que não só canta a letra como é responsável pelo grave do ritmo, e os cantores ganham trabalho no quesito extensão vocal e/ou sons imitáveis.
No Rio Grande do Sul existem diversos grupos a cappella, e em nossa cidade não seria diferente. Aqui temos o grupo VocaPampa, composto por seis integrantes, que juntos, encontraram uma forma de realizar o sonho de cantar. Todos os componentes são graduados em Música pela Universidade Federal de Santa Maria.
O grupo foi formado em 2016, a partir do desejo de um dos componentes, o músico e professor Josemar Dias, possuir o desejo de trazer para o coração do Rio Grande essa forma de canto, criando a identidade do grupo, que possui um repertório de músicas nativistas e originais. Josemar, já conhecendo os demais componentes a partir do Departamento Tradicionalista Gaúcho Noel Guarany, projeto de extensão da UFSM, convidou os demais cantores a se unirem a ele. Sendo assim, atualmente o VocaPampa é formado pelos seguintes músicos: Ediana Larruscain, soprano; Gabriel Zeppe, contratenor; Josemar Dias, tenor; Lucas Siduoski e Julio Cezar Pires, Barítono;Matheus Lameira, Baixo. (Vídeo música Céu, Sol, Sul, Terra e Cor – VocaPampa).
O grupo VocaPampa preparou um arranjo inédito desta canção “Céu, Sol, Sul, Terra e Cor” retratando a cultura do Rio Grande do Sul. O vídeo conta com mais 7 mil visualizações no Youtube. Confira no vídeo como a mágica acontece:
Conversamos com alguns integrantes que nos contaram das suas experiências e trajetórias musicais, e explicaram como são definidas as vozes nas partituras.
Jornalismo Cultural – Você sempre quis cantar desde criança? Quando surgiu o amor pela música?
Matheus Lameira (baixo) – Comecei os estudos em música aos 5 anos através do método Suzuki, aqui em Santa Maria, aprendendo violino, meu instrumento principal de trabalho. Até chegar à faculdade (com 17 anos) nunca tinha explorado a minha voz. No Curso de Licenciatura em Música comecei cantando no Coral Universitário, onde fui conhecendo melhor o trabalho vocal.
JC – Qual a tua formação? Quais projetos trabalhou antes de entrar no VocaPampa e quais possui agora fora do grupo?
ML – Sou licenciado em Música pela UFSM. Antes do VocaPampa toquei na Orquestra Sinfônica de Santa Maria. Atualmente, além do VocaPampa, sou regente de três corais (Coral Allan Kardec, Coral Nativista do CTG Sentinela da Querência e Coral Vozes do Vagão, do Colégio Militar); sou educador musical no colégio Nossa Senhora de Fátima, professor de violino e violoncelo na AMEART (Tupancireta), diretor do musical do CTG Sentinela da Querência e administrador do grupo Cadenza – Assessoria Musical (para eventos em geral).
JC – Como você se sente em relação ao sucesso e a notoriedade que o grupo vem ganhando ultimamente?
ML – Sinto-me grato à todas as pessoas que abraçam o VocaPampa e reconhecem o trabalho vocal a capella que é realizado, pois esta cultura ainda está em fase de crescimento no Brasil.
JC – Um dos diferenciais do grupo é a música tradicionalista. Como que você percebe essa questão no trabalho do VocaPampa?
ML – Por nós fazermos músicas nativistas e regionais do Rio Grande do Sul, isso acaba sendo um dos selos do VocaPampa. Embora a gente tenha canções de Natal, um show de Natal, canções de rock, pois já participamos de dois festivais de rock em Porto Alegre.
JC – O VocaPampa também anda por outros meios, mas o selo que traz a identidade do grupo e a música nativista e regional. O que acaba sendo um diferencial pela dificuldade de encontrar para grupos a cappella no Brasil, no Rio Grande do Sul, ou até mesmo, aqui em Santa Maria e que ainda faça esse estilo de música.
JC –Você sempre quis cantar desde criança? Como que surgiu a sua experiência musical?
Josemar Dias (tenor) – Tudo surgiu de um desejo pessoal, muito ligado com a minha experiência musical desde os meus 10 anos de idade, na cidade. Pelas minhas oficinas de canto coral no colégio, que durou toda a minha adolescência até o terceiro ano do ensino médio, onde eu participei dessas oficinas. Então, meu contato com o grupo vocal aconteceu desde muito cedo.
JC – Como que surgiu a ideia de criar um grupo a cappella?
JM – Quando eu fui para Santa Maria, consegui trabalhar com os CTGs para trocar nas invernadas que tem como uma das suas características o trabalho vocal muito forte, já que utiliza bastante da voz para construir a música que embala os sonhos dos dançarinos. A partir disso eu conheci a maioria dos integrantes por experiências de convívio em ambientes tradicionalistas. Eu tive a ideia de convidá-los a formar o grupo que, na verdade, era uma ideia antiga minha, pois eu já acompanhava outros grupos a capella. Na época nem tinha o YouTube. Então a ideia surgiu dessa influência. Nós todos somos oriundos da Universidade Federal de Santa Maria, do curso de Música, e a gente acabou de se conhecendo lá e também pelo trabalho que nós desenvolvemos em entidades tradicionalistas.
JC – O que é o canto a cappella?
Ediana Larruscain (soprano) – A cappella é um termo italiano que significa você fazer música, sem usar nenhum instrumento musical. A voz seria o único instrumento musical, que não precisa comprar. Então, fazer um grupo a capella tem esse sentido, um grupo musical, que não utiliza nenhum tipo de instrumento, que não seja a voz.
JC – Por que fazer um grupo a cappella?
EL – Eu me identifico como cantora. Eu toco teclado, violão e outros instrumentos musicais, mas o meu instrumento principal é o canto. Então, eu sou meio suspeita de querer fazer um grupo a capella porque, às vezes, a profissão do cantor é solitária, e até mesmo carrega uma grande responsabilidade. Imagina juntar várias pessoas, que tem uma grande responsabilidade de fazer musical e querem fazer música junto, que estão cansados dessa solidão… o grupo a capella é perfeito para a gente se unir e fazer música, que é o que a gente gosta de fazer.
JC – Um dos diferenciais do grupo é a música tradicionalista. Como que você percebe essa questão no trabalho do VocaPampa?
EL – A música gaúcha é uma das principais características que chama a atenção para o nosso grupo. Se você procurar outros grupos a capellas tem alguns com beatbox, que geralmente nesses grupos mais modernos, e tem grupos vocais aqui do Rio Grande do Sul, que usam um repertório variado. Partindo da música gaúcha para o pop, nacional, internacional, samba. O VocaPampa foca na música gaúcha e esse é um grande diferencial do nosso grupo.
JC – Você sempre quis cantar desde criança? Quando surgiu o amor pela música?
Gabriel Zeppe ( contratenor) – Eu nasci em uma família de músicos, então sempre tive esse contato com a música. Fui estimulado desde berço a ter essa disponibilidade musical. Então foi muito bom para mim, e algumas coisas foram muito fáceis por ter essa pré-disponibilidade musical. Eu canto há um bom tempo em função de que minha mãe e minha irmã sempre cantaram, meu pai também sempre cantou um pouco e eu sempre estava junto, então esse contato desde novo estimula como qualquer outra forma de aprendizagem. Eu comecei a cantar desde muito pequeno e comecei a participar de festivais, até que comecei a fazer aulas canto, de técnica vocal, onde meu professor, que estudava música na UFSM, me apresentou o curso. Foi então que eu pensei que era isso o que eu queria fazer, foi paixão à primeira vista. A partir daí eu comecei a me dedicar e estudar para entrar no curso. Dentre os demais estudos que tinha de canto, tinha o coral e uma orquestra. Eu comecei cantando no coral do SESI Santa Rosa. Eu morava com meus pais em Porto Lucena e ia até Santa Rosa para ter uma aula por semana. Em 2016, eu entrei no curso de licenciatura em Música na UFSM. A partir daí, eu comecei a cantar no coro da UFSM e onde conheci o Josemar e a Ediana, que também cantavam no coro. Em 2017, eles me convidaram para entrar no VocaPampa. Também foi uma paixão à primeira vista, pois fui muito bem recebido e hoje eles são uma família para mim.
JC – Quais projetos trabalhou antes de entrar no VocaPampa e quais possui agora fora do grupo?
GZ – Além de cantar no VocaPampa, eu estava dando aulas, antes da pandemia, na extensão de música que a UFSM oferece, de canto, de técnica vocal e de grupo vocal. Além disso, aulas de canto particulares.
JC – Como você se sente em relação ao sucesso e a notoriedade que o grupo vem ganhando ultimamente?
GZ – Feliz, é um trabalho minucioso. São vários detalhes que precisam ser estudados e precisam de muita atenção para fazer a coisa acontecer. Como todos estudamos música, temos uma bagagem e queremos colocar tudo no VocaPampa, no trabalho que a gente faz. Isso requer bastante estudo e conhecimento, porque além de tudo eu aprendo muito com meus colegas, e isso é notável nas nossas músicas, é possível notar que temos um trabalho muito rico, tanto musical como interpretacional, que nós tentamos fazer da melhor forma. Eu acho que o nosso sucesso é em função disso, de fazermos da melhor forma possível, porque tudo aquilo que se coloca amor, dedicação, um grupo, uma unidade trabalhando em prol daquilo, sempre vai ter sucesso.
JC – Quais os planos para o futuro do VocaPampa?
GZ – O que eu espero é que o VocaPampa siga colhendo os frutos que ele já plantou ao longo de todos esses anos. O que eu acho admirável no VocaPampa, é a união, a qualidade musical e a amizade entre todo mundo. É isso que rege nosso trabalho e faz com que a gente colha todas as coisas boas que acontecem conosco. É isso que eu espero, sucesso e muitas coisas boas que virão.
Por Allysson Marafiga, Gabriele Braga e Mariama Granez, acadêmicos de Jornalismo da UFN – Universidade Franciscana. Matéria produzida para a disciplina de Jornalismo Cultural, com a orientação do Professor Bebeto Badke.