Toda vez que eu paro para pensar sobre o momento que estamos vivendo, me encontro naquela linha tênue entre raiva/ódio por estar presenciando esse evento histórico (dessa forma), e a gratidão. Palavra “tão batida” dos últimos anos. Mas eu explico.
Sou jovem. Nem cheguei aos 30 anos ainda. Sou feita de sonhos e teria muitos deles para realizar.
Como jornalista sempre sonhei em trabalhar em um grande veículo de comunicação, mudar a vida das pessoas, mudar o mundo! Desejava morar numa capital, crescer, ganhar prêmios, contar histórias.
Eu cheguei. Sim! Seis anos de diploma, e dois deles de Porto Alegre. Em uma das maiores rádios do Estado, contei os “primeiros passos” desse vírus -maldito- no mundo, no país e no estado. Eu também fiquei trancada em casa e me assustei a primeira vez que vi as pessoas de máscara nas ruas.
Mas depois, o mesmo vírus que mata milhares de pessoas, tirou o emprego de muita gente, inclusive o meu. Dois meses depois da primeira morte registrada no Rio Grande do Sul, fui demitida. Eu estava vivendo um fato histórico, sem emprego e sem poder falar sobre aquilo. Nós jornalistas, quando presenciamos um grandioso “evento” como este, queremos estar lá… na frente dele, com papel e caneta, microfone, gravador, celular nas mãos. Mas eu ouvi uma frase que mudou minha trajetória e me fez acreditar em mim. “Pra quem é bom (na profissão), nunca falta espaço”. E acho que posso me considerar boa, então. Porque dois meses depois, eu já estava lá de novo. Agora atrás da TV, para, meses depois, presenciar a chegada do primeiro lote de vacinas no Estado.
E mesmo com todo negacionismo, desgoverno e corrupção, a imunização tinha chegado. É aí que entra a raiva/ódio. Mas a ela, o que mais importa, está cada vez mais próxima. Daí eu lembro da gratidão, de novo. Os trabalhos que nunca faltaram. E por não ter precisado dar adeus para os meus. A vacina não chegou aqui ainda. No meu braço. Mas ela está dentro da minha mãe, do meu pai, dos meus avós, dos meus tios…
Como nosso trabalho é fundamental, né? E cada dia que passou desde que essa pandemia começou, me fez perceber ainda mais isso.
Hoje, as histórias que são contadas por mim, são um pouco diferentes. Mas mesmo que o futebol não devesse estar acontecendo, ele entretém. Ele faz as pessoas ficarem em casa, ele move sonhos.
E independente do que eu vá contar, de uma coisa eu tenho certeza, eu vou sempre buscar mudar a vida de quem está lendo, ouvindo ou assistindo.
A caminhada não tem sido fácil. Uns dias de mais raiva/ódio, outros de mais gratidão. Mas eu tento seguir forte… para contar mais um fato histórico: o dia em que vencemos o coronavírus.
Por Laura Gross, jornalista formada na UFN, atua na RBS TV.