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Santa Maria, RS, Brazil

Superação e Terra Vermelha

Foto de cottonbro no Pexels

De longa data, vejo o passar do tempo como uma elipse de 24h. Só que, ao invés de um dia, refere-se a anos. A paixão pelo esporte, em específico ao tênis, é de tempos distantes. Algo que perpassava o deslumbrar dos jogos de Roland Garros e levava-me a entrar dentro de quadra, a ponto de me sentir um Nadal da vida, deslizando sobre o saibro. Difícil um jovem que já foi atleta não ter tido um ídolo para se inspirar. Nadal sempre foi mais que um jogador… um herói, dono de batalhas dentro e fora de quadra, contra adversários físicos e psicológicos. Superação… acredito que possa definir a admiração e o deslumbre acerca do atleta, não só pelo seu jogo, mas por me espelhar nele.

Recordo-me, como se fosse hoje, eu entrando em quadra, fardado de Babolat com a mesma Aero do espanhol, só que na mão direita. Batida no tênis antes do saque e dedos contorcidos antes do disparo. Calos nas mãos e a superstição em quadra, de frente com os passos, posicionamento e o pique da bola. Porém, assim como Nadal, meu adversário não era meu único obstáculo no momento do jogo. Uma das coisas mais complicadas que vivi para aprender a controlar, foram as enxurradas de pensamentos e auto menosprezo, independente de quem estivesse do outro lado da rede. Uma crença que me colocava abaixo, fazia sentir compaixão pelo adversário ao vê-lo triste, o que consequentemente me fazia entregar pontos de graça, para sua felicidade e que, posteriormente, me fariam perder o jogo. É claro que não queria entregar a partida, mas quando o adversário volta pro jogo, ele não terá o mesmo dó de você, eu garanto. Só sabia me sentir mal… com o público esperando algo diferente e a seriedade no rosto de meus pais. Não pela derrota, mas por saber o que passava na minha cabeça. Talvez me faltasse um pouco de ambição… espírito competitivo e autoconfiança, e saber que inimigos só existem dentro da quadra.

Ahh aquele cheiro de terra molhada, chão batido. As canelas e joelhos ardiam, e a terra voava com o vento, a qual fazia jus ao nome de “pé-vermelho”, remetendo ao lugar de onde vim. Sentia-me em casa. Pena que a mente ainda não era 100% minha. Por mais que a concentração existisse, um pensamento levava ao outro. Era um dominó. Além da compaixão pelo oponente, por melhor que eu pudesse ser, por mais torneios vencidos, eu estava por baixo, para mim é claro. Custou trabalhar esta maneira de ver as coisas, pois era uma crença individual, nada que fosse realidade para as outras pessoas. Para quem ouve, pode parecer tranquilo, mas só quem sentiu sabe o quão massacrante a fila de obsessões e falsas crenças perturbam nos momentos mais importantes da vida, seja no esporte, jornada profissional ou pessoal. Ainda não me sentia um Nadal… por mais que o TOC e as superstições viessem à tona, carregadas de um perfeccionismo sem limites ao colocar e tirar os pés do saibro, me faltava a seriedade em tentar me enxergar como o melhor naquele esporte, ao menos, uma vez na vida. Valorizar cada saque e procurar ver os pontos bons que eu fazia. É lógico que hoje sou outro. A superação falou mais alto e o sofrimento se transformou em aprendizado. Sim, aquele garoto da Aero amarela, de 9 anos, conseguiu se moldar dentro das quadras. Aprendizado que o tênis me proporcionou, e a quem sou extremamente grato por me ter levado ao autoconhecimento.

 

Produção feita na disciplina de Jornalismo Esportivo, durante o primeiro semestre de 2021, sob coordenação da professora Glaíse Bohrer Palma.

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Foto de cottonbro no Pexels

De longa data, vejo o passar do tempo como uma elipse de 24h. Só que, ao invés de um dia, refere-se a anos. A paixão pelo esporte, em específico ao tênis, é de tempos distantes. Algo que perpassava o deslumbrar dos jogos de Roland Garros e levava-me a entrar dentro de quadra, a ponto de me sentir um Nadal da vida, deslizando sobre o saibro. Difícil um jovem que já foi atleta não ter tido um ídolo para se inspirar. Nadal sempre foi mais que um jogador… um herói, dono de batalhas dentro e fora de quadra, contra adversários físicos e psicológicos. Superação… acredito que possa definir a admiração e o deslumbre acerca do atleta, não só pelo seu jogo, mas por me espelhar nele.

Recordo-me, como se fosse hoje, eu entrando em quadra, fardado de Babolat com a mesma Aero do espanhol, só que na mão direita. Batida no tênis antes do saque e dedos contorcidos antes do disparo. Calos nas mãos e a superstição em quadra, de frente com os passos, posicionamento e o pique da bola. Porém, assim como Nadal, meu adversário não era meu único obstáculo no momento do jogo. Uma das coisas mais complicadas que vivi para aprender a controlar, foram as enxurradas de pensamentos e auto menosprezo, independente de quem estivesse do outro lado da rede. Uma crença que me colocava abaixo, fazia sentir compaixão pelo adversário ao vê-lo triste, o que consequentemente me fazia entregar pontos de graça, para sua felicidade e que, posteriormente, me fariam perder o jogo. É claro que não queria entregar a partida, mas quando o adversário volta pro jogo, ele não terá o mesmo dó de você, eu garanto. Só sabia me sentir mal… com o público esperando algo diferente e a seriedade no rosto de meus pais. Não pela derrota, mas por saber o que passava na minha cabeça. Talvez me faltasse um pouco de ambição… espírito competitivo e autoconfiança, e saber que inimigos só existem dentro da quadra.

Ahh aquele cheiro de terra molhada, chão batido. As canelas e joelhos ardiam, e a terra voava com o vento, a qual fazia jus ao nome de “pé-vermelho”, remetendo ao lugar de onde vim. Sentia-me em casa. Pena que a mente ainda não era 100% minha. Por mais que a concentração existisse, um pensamento levava ao outro. Era um dominó. Além da compaixão pelo oponente, por melhor que eu pudesse ser, por mais torneios vencidos, eu estava por baixo, para mim é claro. Custou trabalhar esta maneira de ver as coisas, pois era uma crença individual, nada que fosse realidade para as outras pessoas. Para quem ouve, pode parecer tranquilo, mas só quem sentiu sabe o quão massacrante a fila de obsessões e falsas crenças perturbam nos momentos mais importantes da vida, seja no esporte, jornada profissional ou pessoal. Ainda não me sentia um Nadal… por mais que o TOC e as superstições viessem à tona, carregadas de um perfeccionismo sem limites ao colocar e tirar os pés do saibro, me faltava a seriedade em tentar me enxergar como o melhor naquele esporte, ao menos, uma vez na vida. Valorizar cada saque e procurar ver os pontos bons que eu fazia. É lógico que hoje sou outro. A superação falou mais alto e o sofrimento se transformou em aprendizado. Sim, aquele garoto da Aero amarela, de 9 anos, conseguiu se moldar dentro das quadras. Aprendizado que o tênis me proporcionou, e a quem sou extremamente grato por me ter levado ao autoconhecimento.

 

Produção feita na disciplina de Jornalismo Esportivo, durante o primeiro semestre de 2021, sob coordenação da professora Glaíse Bohrer Palma.