
Foto: Marcelo Oliveira (PMSM)
Santa Maria tenta, mas a cada dia, é mais difícil esconder os problemas socioestruturais dos cantos da cidade, ou, melhor dizendo, os cantos esquecidos da cidade. Para aqueles que penetram os centros urbanos durante o dia e retornam para suas casas durante a noite, isso é ainda mais evidente. É quase como se não fossem pertencentes deste admirável mundo novo, isolado geograficamente por longas estradas esburacadas, que o precário transporte público leva, com sorte, 1h para chegar.
Esse povo dos cantos travestido pela natureza de seus amargos empregos encaram diariamente uma derradeira constatação: há uma cidade feita para o centro e outra feita para seus arredores subjacentes.
Cultura, música, arte, símbolos históricos… estão sempre concentrados no centro. Nos cantos periféricos da cidade, o trabalhador, após um longo dia de labor, só encontra espaços públicos degradados, como as praças com equipamentos precários de musculação fornecidos pela prefeitura. Essas pessoas são verdadeiros impostores na cidade à parte, para a qual produzem, mas não pertencem.
O pobre pai de família, ao tentar frequentar esses centros, é olhado de cima para baixo ou esnobado por aqueles que, com seus egos inflados, o enxergam como verdadeiro forasteiro do seu mundo ideal. Esses forasteiros passam o dia inteiro trancafiados no centro, privados de ver a luz do sol, muitas vezes convivendo com forasteiros de outros cantos. Quando o senhor feudal, dono do tempo deste cidadão, é questionado por outro senhor feudal sobre ele, responde apenas: “não ligue, ele mora para aqueles cantos”.
Artigo produzido na disciplina de Narrativa Jornalística no 1º semestre de 2025. Supervisão professora Glaíse Bohrer Palma.