É assim que talvez a Globo, usando da credibilidade do Dr. Dráuzio
Varella – nessas alturas já devemos procurar saber um pouco mais
sobre esse atencioso médico global -, inicia uma cartada pesada contra o uso tradicional de plantas medicinais. Sim, porque esse é o ponto crítico: o uso tradicional/popular de
resistência contra o uso irracional de medicamentos, contra a
empurroterapia, contra o abuso econômico, contra a desumanização da
farmacoterapia. Antagonismo claro aos valores da poderosa Globo.
O programa já iniciou sentenciando plantas "ditas" medicinais, colocando abaixo toda a construção de conceitos, de legislação e de acumulação de conhecimento que existe sobre as
plantas medicinais.
Apresentou inserções de feirantes, populares de forma a serem
ridicularizados, assim como pequenos depoimentos de cientistas
como prof. João Calixto, muito breves, que não deram a chance de uma
maior contextualização e de análise.
Também apresenta um representante da OMS em contradição com sua própria
organização, pois a OMS recomenda sim, o uso das práticas tradicionais
e reconhece seus benefícios para as pessoas e para os sistemas de saúde
dos países.
Equivocadamente tenta associar, a reportagem, o uso de plantas
medicinais com a pobreza e a ignorância, ignorando a adesão
crescente nos países ricos. Busca explicação para seus benefícios,
não à curas mas à minimização de sinais e sintomas e a efeito placebo.
Nesse momento, com voz macia, Dr. Dráuzio atira a pérola "uma coisa é tomar chá pra relaxar e dormir e outra é tomar chá pra tratar doença, pois isso pode ser perigoso!" E
remetem
a matéria a situações que demonstram ineficácia e riscos que serão
apresentados na sequência. E ainda menospreza a tradicionalidade com
outras pérolas, a de que "não há evidências"
e de que "não foi testado", o que caracterizou como "arremedo de tratamento".
Ora, serão quatro Fantásticos denegrindo as políticas nacionais que dão
base para a afirmação da fitoterapia no SUS, em horário e período
eleitoralmente nobre, quando no que se refere ao tema, o candidato
apologista dos genéricos e financiado pela indústria
farmacêtuica multinacional, amarga índices que nenhum remédio poderá
fazer melhorar. É bom eles tomarem um chá de camomila…
E se a questão eleitoral não for pano de fundo para essas reportagens,
o que fazer então com as inúmeras edições de "Globo Repórter" que
evidenciaram as maravilhas das plantas medicinais na promoção da saúde?
Agora talvez não dêem Ibope…
* Silvia Czermainski é farmacêutica e farmacêutica-bioquímica, presidente da Comissão Assessora de Fitoterápicos do Conselho Regional de Farmácia do Rio Grande do Sul.