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Reforma ortográfica: o desafio para 2009

Não se escreve mais como se escrevia antigamente. Antigamente? Não, até há poucos dias atrás. Desde o primeiro dia de 2009, 0,5% das palavras escritas no Brasil estão modificadas devido ao Acordo Ortográfico que unifica a escrita da Língua Portuguesa em todos os países onde o idioma é oficial. A mudança de regras não foi submetida à consulta popular, mas agora é hora de se adaptar. O governo, que assinou e implantou a novidade, admite que para 2009 não vai aparelhar as escolas públicas com livros atualizados. De que forma tudo isto afeta as pessoas que estudam e ensinam?
A Reforma Ortográfica, que terá um período de quatro anos de transição já está modificando, principalmente, a leitura de periódicos no Brasil. Jornais como a Folha de São Paulo e os do grupo RBS já estão adotando as novas regras ortográficas em suas edições diárias.
Embora já implantadas oficialmente, existem muitas discussões sobre as novas regras ortográficas. De um lado estão linguistas (sem trema, que foi extinto) que acreditam no fortalecimento e unificação da Língua Portuguesa em todos os países em que ela é adotada. Do outro, está o custo financeiro destas mudanças e o questionamento de muitos professores e alunos sobre a real necessidade de toda esta mudança na escrita da língua.

 Em Santa Maria, muitos professores já estão alterando seu material didático de 2009 para introduzir as novas regras que apresentam 0.5% de alteração. A professora de pré-vestibulares e do ensino médio em Santa Maria  e que também foi corretora do processo seletivo de redação da UFRGS, Vanessa Pagnussat, acha inviável, porque há outras questões mais importantes que deveriam ser repensadas antes da reforma ortográfica e alerta: “imagine o desperdício de dinheiro quando várias gramáticas não terão mais a sua utilidade de consulta”.

Vanessa também defende a idéia de que o governo deveria ter feito um  plebiscito para saber se a população apoiava a decisão ou não. “O presidente decide como vamos escrever e devemos nos submeter às suas exigências?” complementa a professora.  Em sua análise, Vanessa também enfatiza que o problema maior entre os estudantes,  na construção do texto, é a coesão textual, a relação de idéias entre um parágrafo e outro e depois os erros ortográficos.

Entre os estudantes a questão também é polêmica. A Agência CentralSul foi a um cursinho pré-vestibular para saber o que eles pensam sobre as alterações e as suas  justificativas, embora as novas regras ainda não sejam exigidas no processo de seleção de 2009 para as universidades. Os alunos estavam em um plantão tira-dúvidas com a professora de Redação.

 Alice Foletto é contra as mudanças. “A pronúncia vai se tornar mais difícil porque muitas palavras deixam de ser acentuadas”.

 André Venturini é contra e argumenta: “já estamos habituados e será mais uma coisa para se estudar e memorizar”.

Camila David, que se prepara para o vestibular de Direito, também é contra porque “sempre que há uma modificação nós é que teremos que estudar tudo de novo, por isso que eu sou contra. E depois ter  que aprender tudo sozinhos porque estamos saindo do colégio.”

  “Mais ou menos”, esta é a opinião de Fabiano Neves Fontana. “Creio que a trema fará falta para a pronúncia, mas os acentos de vôo, crêem, são realmente desnecessários.”
 Tiago Camargo posicionou-se também contras as novas regras e, assumindo suas fraquezas, explica: “já tenho sérios problemas com acentuação e agora acho que vai piorar.”

 Como cobrar? De que maneira ensinar?
Desde 1990 o acordo de unificação ortográfica foi firmado, e aprovado no Brasil em 1995, mas Portugal ainda não havia aderido. São muitos os questionamentos de como ensinar, a partir desta nova regra, de que maneira corrigir uma redação.
"Esta é uma brincadeira de mau gosto, porque uma criança que está entrando agora vai aprender desta maneira, mas quem está saindo, ou pior quem está no meio do caminho, como meu filho na 7° série, que vai pegar um vestibular pela frente onde as novas regras já estão valendo, como explicar essas mudanças?", diz Silvana Medeiros, professora.
 "Corrijo da maneira velha e faço um quadro ao lado com as palavras novas, ou simplesmente corrijo e desconto de quem escreveu "errado", que na verdade não é errado?", diz Luciana Regina Bernardi, professora da escola Estadual Cilon Rosa e Escola  Metodista Centenário.

Mesmo que para o vestibular a nova lei só passe a valer a partir de 2012, a mudança ortográfica vem dando o que falar além da atenção especial que deve ser dada àqueles que aprenderam pelo método antigo, nas salas de aula. Professores se questionam de que maneira dar exemplos, pois se a palavra "lingüiça", tinha esta pronúncia devido à trema, hoje a trema é extinta e como explicar que a pronúncia é a mesma?

 

Estas são inquietações sem respostas convincentes, professores ainda não sabem responder, pois, segundo Luciana Regina, nada lhes foi passado com relação a isto. Segundo ela, os professores devem se unir e, juntos, tomarem uma decisão, “é nece
ssário que sentemos juntos, pois nós também não sabemos, a gente só vai aprender isto com a prática, no dia-a-dia”. É necessária a ajuda de todos os professores, diz ela, “um professor sozinho de Português em cada escola não é nada…"

 

 Natiele Almeida, 17 anos, estudante de pré-vestibular, se encaixa na mesma linha de pensamento das professoras: “Quem saiu do terceiro ano agora, saiu praticamente analfabeto, porque prá aprender tudo de novo teria que ter um curso… mas já que querem mudar, pode ser que isto traga alguma melhoria”.

 

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Não se escreve mais como se escrevia antigamente. Antigamente? Não, até há poucos dias atrás. Desde o primeiro dia de 2009, 0,5% das palavras escritas no Brasil estão modificadas devido ao Acordo Ortográfico que unifica a escrita da Língua Portuguesa em todos os países onde o idioma é oficial. A mudança de regras não foi submetida à consulta popular, mas agora é hora de se adaptar. O governo, que assinou e implantou a novidade, admite que para 2009 não vai aparelhar as escolas públicas com livros atualizados. De que forma tudo isto afeta as pessoas que estudam e ensinam?
A Reforma Ortográfica, que terá um período de quatro anos de transição já está modificando, principalmente, a leitura de periódicos no Brasil. Jornais como a Folha de São Paulo e os do grupo RBS já estão adotando as novas regras ortográficas em suas edições diárias.
Embora já implantadas oficialmente, existem muitas discussões sobre as novas regras ortográficas. De um lado estão linguistas (sem trema, que foi extinto) que acreditam no fortalecimento e unificação da Língua Portuguesa em todos os países em que ela é adotada. Do outro, está o custo financeiro destas mudanças e o questionamento de muitos professores e alunos sobre a real necessidade de toda esta mudança na escrita da língua.

 Em Santa Maria, muitos professores já estão alterando seu material didático de 2009 para introduzir as novas regras que apresentam 0.5% de alteração. A professora de pré-vestibulares e do ensino médio em Santa Maria  e que também foi corretora do processo seletivo de redação da UFRGS, Vanessa Pagnussat, acha inviável, porque há outras questões mais importantes que deveriam ser repensadas antes da reforma ortográfica e alerta: “imagine o desperdício de dinheiro quando várias gramáticas não terão mais a sua utilidade de consulta”.

Vanessa também defende a idéia de que o governo deveria ter feito um  plebiscito para saber se a população apoiava a decisão ou não. “O presidente decide como vamos escrever e devemos nos submeter às suas exigências?” complementa a professora.  Em sua análise, Vanessa também enfatiza que o problema maior entre os estudantes,  na construção do texto, é a coesão textual, a relação de idéias entre um parágrafo e outro e depois os erros ortográficos.

Entre os estudantes a questão também é polêmica. A Agência CentralSul foi a um cursinho pré-vestibular para saber o que eles pensam sobre as alterações e as suas  justificativas, embora as novas regras ainda não sejam exigidas no processo de seleção de 2009 para as universidades. Os alunos estavam em um plantão tira-dúvidas com a professora de Redação.

 Alice Foletto é contra as mudanças. “A pronúncia vai se tornar mais difícil porque muitas palavras deixam de ser acentuadas”.

 André Venturini é contra e argumenta: “já estamos habituados e será mais uma coisa para se estudar e memorizar”.

Camila David, que se prepara para o vestibular de Direito, também é contra porque “sempre que há uma modificação nós é que teremos que estudar tudo de novo, por isso que eu sou contra. E depois ter  que aprender tudo sozinhos porque estamos saindo do colégio.”

  “Mais ou menos”, esta é a opinião de Fabiano Neves Fontana. “Creio que a trema fará falta para a pronúncia, mas os acentos de vôo, crêem, são realmente desnecessários.”
 Tiago Camargo posicionou-se também contras as novas regras e, assumindo suas fraquezas, explica: “já tenho sérios problemas com acentuação e agora acho que vai piorar.”

 Como cobrar? De que maneira ensinar?
Desde 1990 o acordo de unificação ortográfica foi firmado, e aprovado no Brasil em 1995, mas Portugal ainda não havia aderido. São muitos os questionamentos de como ensinar, a partir desta nova regra, de que maneira corrigir uma redação.
"Esta é uma brincadeira de mau gosto, porque uma criança que está entrando agora vai aprender desta maneira, mas quem está saindo, ou pior quem está no meio do caminho, como meu filho na 7° série, que vai pegar um vestibular pela frente onde as novas regras já estão valendo, como explicar essas mudanças?", diz Silvana Medeiros, professora.
 "Corrijo da maneira velha e faço um quadro ao lado com as palavras novas, ou simplesmente corrijo e desconto de quem escreveu "errado", que na verdade não é errado?", diz Luciana Regina Bernardi, professora da escola Estadual Cilon Rosa e Escola  Metodista Centenário.

Mesmo que para o vestibular a nova lei só passe a valer a partir de 2012, a mudança ortográfica vem dando o que falar além da atenção especial que deve ser dada àqueles que aprenderam pelo método antigo, nas salas de aula. Professores se questionam de que maneira dar exemplos, pois se a palavra "lingüiça", tinha esta pronúncia devido à trema, hoje a trema é extinta e como explicar que a pronúncia é a mesma?

 

Estas são inquietações sem respostas convincentes, professores ainda não sabem responder, pois, segundo Luciana Regina, nada lhes foi passado com relação a isto. Segundo ela, os professores devem se unir e, juntos, tomarem uma decisão, “é nece
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 Natiele Almeida, 17 anos, estudante de pré-vestibular, se encaixa na mesma linha de pensamento das professoras: “Quem saiu do terceiro ano agora, saiu praticamente analfabeto, porque prá aprender tudo de novo teria que ter um curso… mas já que querem mudar, pode ser que isto traga alguma melhoria”.