“Nós não esperávamos que o índice de doenças fosse emergir tanto”, afirma Gabriela Fragoso, acadêmica de enfermagem do Centro Universitário Franciscano, ao constatar os altos índices de gripe e infecção urinária entre os alunos da rede escolar de educação como resultado da pesquisa aplicada junto à escola da rede municipal de ensino.
Os dados apurados evidenciam um elevado número de doenças respiratórias, tais como: gripe: 47%; alergia respiratória: 21%; bronquite: 16% e pneumonia: 16% indicando que a saúde escolar tem lacunas que exigem atenção. E também doenças que acometem o sistema digestivo dos alunos: diarréia: 45%; verminose: 24%; dor gástrica: 16% e constipação intestinal: 15%.
Os números constatados na pesquisa sobre as doenças do sistema digestório são considerados preocupantes, uma vez que, diarréia e verminose são condições possíveis de serem reparadas. Já a dor gástrica, pode estar associada à carência alimentar, visto que durante uma manhã de coleta de dados foi verificado que quatro estudantes sofriam de dor gástrica. E mesmo com algum problema de saúde, 42% dos alunos não deixaram de frequentar à escola. Os motivos apontados para tanto, mostram que a escola oferece alimento, além do fato dos responsáveis trabalharem em turno integral e não terem onde deixar os filhos, faz com que os estudantes se encaminhem para a escola mesmo com dor.
Tais resultados são parte da pesquisa Doenças que acometem os escolares: principais causas e como prevenir, aprovada em 2015 e registrada na Comissão Nacional de Ética em Pesquisa (CONEP), coordenada pela professora, Regina Gema Santini Costenaro, doutora em filosofia da enfermagem.
Desenvolvida desde 2015, a pesquisa avalia as condições de saúde dos escolares da rede pública em Santa Maria e foi aplicada na escola municipal Adelmo Simas Genro, região oeste da cidade, quando avaliou cerca de 120 alunos com idade entre 06 e 17 anos. Através de questionário lido e preenchido junto aos responsáveis pelos alunos, investigou incidência de doenças como gripe, bronquite, pneumonia, alergia respiratória, otite, diarréia, hepatite, rubéola, catapora, caxumba, verminose, infecção urinária, constipação intestinal e dor gástrica. Os responsáveis pelos estudantes foram questionados se algumas dessas patologias impediam os alunos de realizarem as atividades escolares, se possuíam saneamento básico em suas residências e de que maneira acreditavam que essas doenças poderiam ser prevenidas.
Segundo Regina Costenaro, “a avaliação das condições de saúde dos escolares é uma ferramenta de saúde pública importante, uma vez que permite a identificação precoce de sinais, tendências patológicas ou doenças instaladas na população de escolares”. Para ela é necessário que a saúde escolar tenha uma visão especial por parte dos profissionais da saúde, e ressalta a importância do trabalho de enfermeiros atuando nas dependências escolares. “Não consigo imaginar temas de grande importância separados. Estas duas ciências trabalhando juntas podem contribuir para amenizar muitas situações e prevenir doenças”, observa a coordenadora ao defender que os profissionais da saúde estejam inseridos na educação.
Mão-pé-boca
Dentre outras infecções presentes na saúde escolar da rede pública está a doença mão-pé-boca que interditou, em março deste ano, 12 escolas em Santa Maria e deixou mais de três mil alunos sem aulas na cidade. A suspensão se deu após 84 estudantes serem diagnosticados com os sintomas da infecção.
A virose é transmitida pelo enterovírus 71, também chamado de vírus cosxackie e afeta, principalmente, crianças menores de cinco anos. A transmissão ocorre pelo contato direto entre as pessoas por meio de tosse, espirros, saliva, objetos, alimentos contaminados e pelo contato com fezes infectadas.
Os sintomas da doença são febre, feridas na boca e na garganta, além de manchas avermelhadas pelo corpo. O tempo de ação do vírus no corpo varia de cinco a sete dias e o tratamento para aliviar o sintomas é a base de analgésicos e anti-inflamatórios.
Orientada pela Vigilância em Saúde do Município, as instituições que tiveram alunos diagnosticados com o vírus passaram por um processo de higienização. Os coordenadores das escolas receberam treinamentos para que fossem adotados os primeiros procedimentos caso uma criança fosse diagnosticada com a doença.
A Superintendente da Vigilância em Saúde, Selena Michel, declara que as medidas integram o Manual de Boas Práticas de Higiene criado pela Vigilância para a Educação Infantil. “As creches foram fechadas para que fossem higienizadas, de modo a evitar assim a propagação viral. Nas escolas em que tomamos essas medidas, a propagação parou”, afirma Selena.
As creches passaram por uma faxina geral: pisos e paredes foram lavados, brinquedos e louças desinfetados. Foram usados produtos como água sanitária, álcool, água, sabão e escova. Alguns brinquedos, por exemplo, foram deixados de molho na água sanitária com sabão, e desinfetados com álcool 70. “Esse tipo de higienização serve para prevenir que outras pessoas contraiam a doença”, explica a superintendente.
Uma das escolas de educação infantil de Santa Maria, em que a doença mão – pé – boca se manifestou nos alunos e provocou a suspensão das aulas, foi o Centro de Educação Infantil Sinos de Belém, no bairro Nova Santa Marta, região oeste da cidade. Na instituição, apenas um aluno dos 230 matriculados foi diagnosticado com a virose e outro apresentou os sintomas. Apesar disso, por prevenção, as escolas foram suspensas.
Por Márcio Fontoura, Suellen Krieger e Victória Luiza. Matéria produzida na disciplina de Jornalismo Especializado II.