O advento da internet e a globalização proporcionaram novas perspectivas de conexões entre os seres humanos. Uma dessas distintas “novas maneiras” de se comunicar e transmitir conhecimentos e informações são os “memes”. Oriundos da internet, começaram como pequenas “face reactions”– reações faciais -, evoluíram, tomando várias formas, e estabeleceram-se como símbolos globais.
De imagens engraçadas como, por exemplo, da Inês Brasil somada a frases aleatória e fora de contextos, até fenômenos “virais” como Grumpy Cat ou Chewbacca Mom, os memes se manifestam de diversas maneiras em várias mídias. Mas qual o real significado destes virais e como foram “criados”?
De acordo com o criador do termo, o biólogo Richard Dawkins que escreveu em 1976 seu livro “O gene Egoísta”, a melhor definição do gênero é como uma unidade de informação que se multiplica de cérebro em cérebro ou entre locais onde a informação é armazenada como, por exemplo, na internet. No que diz respeito à sua funcionalidade, o meme é considerado uma unidade de evolução cultural que pode de alguma forma auto propagar-se.
Com o intuito de ser objetivo e ter rápida percepção, as imagens “partem” de ideias, línguas, sons, desenhos, capacidades, valores estéticos e morais para serem transmitidos como unidade autônoma a exemplo de uma foto da Inês Brasil. O estudo dos modelos evolutivos da transferência de informação é conhecido como memética.
No Brasil é notável a extensão dos memes e sua influência indiscutível nas mídias, não se restringindo apenas ao Facebook e Twitter. Um fato que destaca esta afirmativa está no exemplo do “Olha ela!” da Ana Carolina, participante do BBB 2016, que depois de virar vinheta, agora apresenta um bloco no programa de televisão da rede Globo, Vídeo Show. O caso mais atual da força desses virais foi a “guerra memeal”: uma disputa entre a qualidade e a quantidade de memes “bons” que o Brasil tem em relação a Portugal. A “guerra” que aconteceu nas redes sociais ganhou “proporções mundiais” e, hoje, inclui países como Argentina e Espanha na luta para ver quem tem os melhores conteúdos.
Com bases nesses estudos que o acadêmico de Publicidade e Propaganda, Eduardo Biscayno de Prá, com orientação da publicitária e professora universitária, Michele Kapp Trevisan, desenvolveu um artigo para o SIC (Salão de Iniciação Cientifica) da Unifra, sobre os memes, apresentando uma proposta de caracterização temática.
O objetivo da pesquisa é entender como ocorre a ressignificação das imagens, ou seja, que pessoas possam atribuir novo significado a acontecimentos através da mudança de sua visão de mundo, e textos através dos memes nas mídias digitais. A metodologia aplicada no trabalho foi a coleta de dados e a análise qualitativa de documentos.
O trabalho também contou com investigação das definições do termo e sua re-apropriação enquanto forma de expressão e linguagem, assim como levantamento de algumas das suas principais páginas.
Critica social: caracterizados por conter uma mensagem implícita, ou explícita. Uma das páginas, por exemplo, é Memes Messiânicos, que doutrina suas publicações à esquerda política.
Arte e Cultura: Apresenta algumas obras de arte personagem fictício ou celebridade já existente na cultura erudita ou popular seguida de mensagem textual com vários temas. A página Olha Só Kiridinha, sublinha este contexto, pois têm suas publicações atribuídas à atriz britânica, Audrey Hepburn. A “page“ apresenta uma linguagem sátira com tom de desabafo.
Institucionais: empresas, ONGS e entidades passam a aderir linguagem
dos memes para se promover ou gerar identificação ou interação com o público nas redes sociais. A Prefeitura de Curitiba é famosa por usar imagens com capivaras- símbolo do município- chamando a atenção para os problemas sociais da cidade. Os memes são a forma de comunicação e engajamento com a população.
Segundo a pesquisa do acadêmico, Eduardo de Prá, Dawkins previu que a internet potencializa a propagação dos memes, mas a simbologia adquirida nas redes sociais seria inimaginável. “As redes sociais estão repletas de memes, mas percebi também, que as mídias tradicionais passaram a dar enfoque, importância para estas repercussões de conteúdo. Então comecei a procurar e percebi que ali cabia um estudo”, destaca o estudante. O futuro publicitário ainda supõe que os virais da internet tendem a permanecer como “parte da cultura comunicativa brasileira”. Já o jornalista e pesquisador em mídias digitais, Maurício Dias,entrevistado pela reportagem, esclarece algumas dúvidas:
ACS -Tudo pode ser um meme?
MD -Meme significa imitação tudo que possa ser imitado e também modificado. Portanto, uma paródia é um meme um bordão também, uma cena de um filme ou de um seriado que é reconhecida pelos fãs ou mesmo uma frase de um vídeo amador.
ACS -De que forma entende-se esses virais? Podem serem considerados uma forma de linguagem?
MD – Os memes ganham espaço ampliado na internet, embora existam antes da grande rede algumas características que propiciam isto, é a facilidade ao acesso a ferramentas que permitem criar ou modificar figuras, fotos, vídeos, gifs, tirinhas muitas delas são gratuitas, como o Gerador de Memes. Outra questão é a conversação em rede e a conexão. As pessoas estão conectadas em função de interesses e esses interesses incluem humor, diversão. As redes sociais permitem essa conexão à troca de mensagens e até de memes, bem como reações instantâneas, memes é uma “evolução” do modo de conversar, ou se expressar nas redes sociais.
ACS – Eles caracterizam uma evolução?
MD -Não acredito que seja uma evolução, mas uma forma pela qual as pessoas conseguem expressar sentimentos. Não eliminamos as demais formas de expressão e comunicação só temos outras, mais diversificadas, se a gente parar para pensar, o ser humano imita o outro desde que começa o seu desenvolvimento.
ACS -De que forma essa “nova linguagem” interfere no jornalismo?
MD – O jornalismo se apropria da linguagem das redes para promover a participação, e engajar o público. As editorias usufruem desse potencial massificador para midiatizar conteúdo. É um acréscimo na produção das notícias.
ACS – Como ser um coprodutor de conteúdo e criar um meme?
MD – Usar a criatividade ao seu favor. Utilizar temas, imagens em voga na sociedade e soltar a imaginação. Estas podem ser a “receita” para um novo meme. Quem tem interesse em se “aventurar”, bastar fazer uma busca rápida na loja virtual dos seus smartphone com as tags: gerador e memes. Baixar, instalar e divertir-se. Há muitas plataformas e alguns sites também disponibilizam o serviço de forma gratuita como IMGUR, LIVEMEME, QUICKMEME, MEMEDAD, IMGFLIP, GERADOR DE MEMES, MEME FUN.
Por Lorenzo Franchi, Petterson Lucas Vieira e Victor Mostajo. Matéria produzida para a disciplina de Jornalismo Especializado II
Uma resposta
Olá, bom dia.
Estou iniciando meu TCC e como base no meu tema gostaria de saber como tenho acesso ao artigo do aluno Eduardo?
Desde já agradeço.