Os cursos de licenciatura do Centro Universitário Franciscano promoveram aula inaugural, na última terça-feira (11), com o jornalista e sociólogo Marcos Rolim, que abordou o tema “Educação, Violência e Pensamento” ,
Jornalista graduado pela Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), doutor e mestre em Sociologia pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), especialista em Segurança Pública pela Universidade de Oxford, Rolim é conhecido por defender os direitos humanos e lutar pela educação de crianças e adolescentes no Brasil.
O sociólogo lançou há pouco tempo o livro ‘A Formação de Jovens Violentos – Estudo sobre a etiologia da violência extrema’, no qual busca explicações sobre a origem da violência praticada pelos jovens que estão à margem da criminalidade extrema e hoje estão afastados da sociedade, devido aos crimes que cometeram.
A análise foi desenvolvida por meio de entrevistas em profundidade com jovens presos, que cumprem medidas socioeducativas, traçando um perfil. A pesquisa apontou dados preocupantes e que chamam a atenção.
A educação como saída
Um dos principais pontos é a evasão escolar. A escola está perdendo seu papel para o crime, que todos os dias recruta jovens e adolescentes. O fato é que a instituição escolar está desabilitada a manter jovens por mais tempo do que os anos iniciais, o que gera desistência da maioria dos jovens de baixa renda.
Rolim afirma que a educação é fundamental para que as pessoas possam reconstruir a vida, ter perspectiva e pensar em um futuro melhor.
“Os dados expostos aqui hoje evidenciam e demonstram que, especialmente no Brasil, se as pessoas não alcançarem uma escolarização superior, elas não possuem condições de aprender mais, o que acaba implicando em subemprego e dificuldade de empregabilidade. O que está relacionado com alternativas ilegais de sobrevivência, como o crime”, explica ele.
Hoje, o grande desafio da escola é ser repensada, como ela pode se transformar um espaço que seja agradável e atraente para esses meninos e meninas que vivem em uma realidade completamente diferente das classes médias. E que não tiveram relação com a cultura dentro de casa, que não tiveram livros, pelo fato também dos pais serem analfabetos e não desenvolverem o hábito da leitura.
“Hoje uma criança de cinco e seis anos, quando chega na escola, se ela vem de classe média, chega praticamente alfabetizada. Ela tem o domínio de folhear um livro, mesmo que não saiba ler, porque na sua casa tem livros e porque seus pais lêem. Agora nas periferias, nas famílias semi-alfabetizadas não há se quer um livro dentro de casa, os pais não têm tempo e, muitas vezes, não sabem contar uma história para os seus filhos”, compara.
Escola defasada provoca evasão
Segundo Rolim, a escola continua a mesma que há 50 anos e é evidente que essas coisas não funcionam e com a fuga das crianças e adolescentes das escolas, eles acabam sendo atraídos e recrutados pelo crime. “No tráfico, eles são socializados de uma forma perversa. E exatamente ali onde a escola fracassou em acolhê-los o tráfico triunfa” observa Rolim.
A sociedade mudou bruscamente no últimos 30 anos. A escola e a forma de ensino continuam as mesmas dos pais desses adolescentes. Se o ensino não mudar, se a forma de desenvolver as habilidades dos alunos permanecer a mesma de anos atrás, cada vez mais o tráfico irá recrutar esses jovens.