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Entrevista Inocência Mata

A professora portuguesa Inocência Mata esteve na Unifra. Foto por odrigo Marques de Bem

A Prof. Dr. Inocência Mata participou do I Ciclo de Palestras 2012 do Curso de Letras da Unifra. Em entrevista para a Agência CentralSul, a autora falou sobre a sua trajetória profissional e os estudos das Literaturas Africanas de Língua Portuguesa em Portugal e no Brasil.

 

Nascida em São Tomé e Príncipe, a estudiosa das Literaturas Africanas de Língua Portuguesa, Inocência Mata, traz de sua genealogia o apreço pelos livros. O incentivo de um pai que valorizava a leitura e as histórias contadas pela avó na infância a tornaram uma leitora assídua. Foi na adolescência que decidiu seguir o rumo das Letras, graças aos bons professores de Literatura e Português, embora seu pai esperasse que Inocência optasse por uma carreira na advocacia devido à sua teimosia e personalidade indagativa.

Até o Ensino Médio, Inocência só havia tido contato com autores portugueses, e o interesse pelas Literaturas Africanas Lusófonas surgiu na faculdade de Letras através de seu professor e mentor, Manoel Ferreira, criador da disciplina de Literaturas Africanas na Faculdade de Letras de Lisboa e nome incontestável na área.

A atração pelas literaturas africanas somada à gana por compreender as motivações de seus autores tornaram Inocência uma autoridade no campo das literaturas africanas, a professora comenta que as pesquisas científicas das universidades portuguesas no campo da literatura africana passaram a ter espaço pelas questões sociais e pelas relações econômicas entre Portugal e alguns países Africanos.

É o caso do crescente número de pessoas nascidas nos países africanos de colonização portuguesa que migravam para Portugal, em muitos casos ao buscar refúgio das guerras civis que mesmo após a independência ainda assolavam países como Angola, por exemplo.  Além da academia, as editoras portuguesas foram determinantes para que houvesse maior visibilidade das obras africanas lusófonas.

Em Portugal, nos cursos da variante do Português, a disciplina de Literatura Africana de Língua Portuguesa é obrigatória e possui várias subdivisões – três cadeiras de Literatura Angola, duas de Literatura Moçambicana, uma de Literatura Cabo-verdiana e São-Tomense –, embora o espaço cedido à cadeira seja menor do que aquele ocupado por Literatura Brasileira.

Porém, Inocência considera o estudo das literaturas africanas tão importante quanto o das outras vertentes literárias, pois nos  países africanos de língua portuguesa há uma grande relação entre Literatura e História, o que ela define como fator de identificação do povo com os autores, os quais tratam em suas obras tratam de questões atuais, como corrupção, terrorismo, racismo e muitas outras “fraturas socioculturais” presentes no dia-a-dia e na lembrança das pessoas.

Cultura afro-brasileira – Para Inocência o primordial veículo para autoestima de um segmento é a dignificação de sua raiz cultural. Em relação ao Brasil, a autora se diz perplexa com a ausência da cultura afrodescendente na superestrutura do país. Para ela, há uma folclorização dessa cultura através de religiões como Umbanda e Candomblé, o que compromete seu papel na constituição de uma maior identidade cultural nacional. Inocência vê na Lei n. 10.639, de 2003, que obriga as escolas brasileiras a ensinarem história e cultura Afro-Brasileira, uma boa alternativa para que haja um resgate cultural no país, porém, considera lamentável que tenha sido necessária uma lei para instigar tal resgate.

Embora em constituição há 9 anos, muitas escolas ainda não a seguem. Inocência credencia isto à falta de preparo dos professores, que em sua geração também não contaram com o estudo das culturas Afro-Brasileiras, mas ela crê que os professores dessa nova safra serão aptos a ensiná-las.

No ensino superior, Inocência, otimista, diz que o estudo da Literatura Africana de Língua Portuguesa ruma a passos largos em direção à obrigatoriedade. Universidades como UFRJ e USP já adotam a obrigatoriedade da disciplina, que há cinco anos ainda era lecionada como optativa.

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A professora portuguesa Inocência Mata esteve na Unifra. Foto por odrigo Marques de Bem

A Prof. Dr. Inocência Mata participou do I Ciclo de Palestras 2012 do Curso de Letras da Unifra. Em entrevista para a Agência CentralSul, a autora falou sobre a sua trajetória profissional e os estudos das Literaturas Africanas de Língua Portuguesa em Portugal e no Brasil.

 

Nascida em São Tomé e Príncipe, a estudiosa das Literaturas Africanas de Língua Portuguesa, Inocência Mata, traz de sua genealogia o apreço pelos livros. O incentivo de um pai que valorizava a leitura e as histórias contadas pela avó na infância a tornaram uma leitora assídua. Foi na adolescência que decidiu seguir o rumo das Letras, graças aos bons professores de Literatura e Português, embora seu pai esperasse que Inocência optasse por uma carreira na advocacia devido à sua teimosia e personalidade indagativa.

Até o Ensino Médio, Inocência só havia tido contato com autores portugueses, e o interesse pelas Literaturas Africanas Lusófonas surgiu na faculdade de Letras através de seu professor e mentor, Manoel Ferreira, criador da disciplina de Literaturas Africanas na Faculdade de Letras de Lisboa e nome incontestável na área.

A atração pelas literaturas africanas somada à gana por compreender as motivações de seus autores tornaram Inocência uma autoridade no campo das literaturas africanas, a professora comenta que as pesquisas científicas das universidades portuguesas no campo da literatura africana passaram a ter espaço pelas questões sociais e pelas relações econômicas entre Portugal e alguns países Africanos.

É o caso do crescente número de pessoas nascidas nos países africanos de colonização portuguesa que migravam para Portugal, em muitos casos ao buscar refúgio das guerras civis que mesmo após a independência ainda assolavam países como Angola, por exemplo.  Além da academia, as editoras portuguesas foram determinantes para que houvesse maior visibilidade das obras africanas lusófonas.

Em Portugal, nos cursos da variante do Português, a disciplina de Literatura Africana de Língua Portuguesa é obrigatória e possui várias subdivisões – três cadeiras de Literatura Angola, duas de Literatura Moçambicana, uma de Literatura Cabo-verdiana e São-Tomense –, embora o espaço cedido à cadeira seja menor do que aquele ocupado por Literatura Brasileira.

Porém, Inocência considera o estudo das literaturas africanas tão importante quanto o das outras vertentes literárias, pois nos  países africanos de língua portuguesa há uma grande relação entre Literatura e História, o que ela define como fator de identificação do povo com os autores, os quais tratam em suas obras tratam de questões atuais, como corrupção, terrorismo, racismo e muitas outras “fraturas socioculturais” presentes no dia-a-dia e na lembrança das pessoas.

Cultura afro-brasileira – Para Inocência o primordial veículo para autoestima de um segmento é a dignificação de sua raiz cultural. Em relação ao Brasil, a autora se diz perplexa com a ausência da cultura afrodescendente na superestrutura do país. Para ela, há uma folclorização dessa cultura através de religiões como Umbanda e Candomblé, o que compromete seu papel na constituição de uma maior identidade cultural nacional. Inocência vê na Lei n. 10.639, de 2003, que obriga as escolas brasileiras a ensinarem história e cultura Afro-Brasileira, uma boa alternativa para que haja um resgate cultural no país, porém, considera lamentável que tenha sido necessária uma lei para instigar tal resgate.

Embora em constituição há 9 anos, muitas escolas ainda não a seguem. Inocência credencia isto à falta de preparo dos professores, que em sua geração também não contaram com o estudo das culturas Afro-Brasileiras, mas ela crê que os professores dessa nova safra serão aptos a ensiná-las.

No ensino superior, Inocência, otimista, diz que o estudo da Literatura Africana de Língua Portuguesa ruma a passos largos em direção à obrigatoriedade. Universidades como UFRJ e USP já adotam a obrigatoriedade da disciplina, que há cinco anos ainda era lecionada como optativa.