Lembro de quando ganhei o meu primeiro computador. Foi em 2010, eu tinha 12 anos. Não entendia muita coisa na época, mas precisava dele para fazer meus trabalhos da escola. Com o tempo, eu fui aprendendo sobre as outras funcionalidades e, depois de alguns meses, já entendia melhor os recursos da internet. O que eu mais gostava era jogar online, mas, com a influência dos meus amigos, logo entrei para o mundo das redes sociais. Comecei no Orkut e logo fui para o Facebook. Naquele tempo, a maioria das pessoas usava as redes sociais para conversas em grupo, jogos e publicação de fotos. Conforme as transformações na sociedade, tudo foi se modificando no mundo virtual. Logo começou a criação de conteúdo e a era da influência digital chegou com tudo. Hoje são poucas as pessoas que não fazem parte desse universo, seja para uso pessoal ou profissional.
Voltamos ao início de 2020. Antes da pandemia, o fluxo nas redes sociais era intenso, agora é gritante. Encontramos uma válvula de escape nessa estrutura social composta de pessoas que se relacionam de diversas maneiras e compartilham conteúdos com valores comuns. Como estamos em meio a uma pandemia e as relações físicas estão temporariamente restringidas, buscamos conforto ao enviar e receber mensagens instantâneas através desse recurso. E, além das mensagens, vemos e compartilhamos conteúdos das mais diversas categorias. Mas como diz aquele velho ditado de vó, nem tudo são flores.
Nesta altura, todo mundo já deve ter se sentido esgotado ou pressionado demais em algum momento desde que a pandemia começou. Não tem como se sentir a pessoa mais positiva do mundo dentro de uma rotina desgastante e com uma enxurrada de informações todos os dias. Mas a vida nas redes sociais é outra. É como se você entrasse em um mundo paralelo onde há vidas perfeitas, rotinas muito bem planejadas e pessoas sempre bem apresentadas. Há sim pessoas que compartilham suas vidas de maneira real, mas nem todo mundo quer aparecer mostrando os contratempos, não é mesmo? E o problema não está totalmente no conteúdo postado, mas em como as pessoas levam para si. Por isso insistimos em nos comparar a algo inexistente: uma vida perfeita.
No início da pandemia todo mundo parecia ser produtivo. Alguns faziam exercícios físicos em casa, outros estavam aprimorando seu inglês e a maioria parecia estar com a vida profissional sob controle. E ver esse tipo de conteúdo circulando nas redes sociais tem nos tornado cada vez mais imediatistas. A autocobrança desnecessária se tornou algo normal. Também queremos ser felizes, produtivos e saudáveis o tempo todo. E existe um porém, isso não é possível.
Uma vez eu li em um livro de autoajuda que nunca teremos uma vida sem contrariedades, elas sempre existirão de alguma forma e a chave da nossa felicidade é conseguir solucionar cada uma delas. Ou seja, segundo o autor, uma pessoa é feliz — em certos momentos porque a felicidade é um estado de espírito e não uma condição — se resolver suas questões e continuar vivendo aquilo que é possível para ela. Sem comparação, sem pressão. Agora imagine uma outra vida se todos buscassem por esse ideal.
Mas, a realidade é que estamos vivendo uma epidemia virtual dentro de uma pandemia. Resultado da busca de querer amarrar a vida em um estado perfeito criado através da internet. Nossa vacina teria que ser a liberdade. Liberdade dos status publicados nas redes sociais e da pressão imposta por si mesmo. Há sempre tempo de viver conquistas e objetivos, o segredo é respeitar seu próprio percurso. Era isso que eu queria que meu eu de 2010 pudesse ter ouvido antes de entrar nesse mundo virtual.
Este texto faz parte do Projeto Experimental em Jornalismo, do curso de Jornalismo da Universidade Franciscana, realizado pela acadêmica Lavignea Witt durante o primeiro semestre de 2021, com orientação da professora Neli Mombelli.