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Religião brasileira completa 114 anos de existência

No censo do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, de 2010, foi mostrado que o Rio Grande do Sul é o estado brasileiro com mais adeptos das religiões de umbanda e candomblé, ultrapassando locais que são conhecidos por essa devoção, como a Bahia.

”A umbanda é paz e amor; é um mundo cheio de luz”. Assim diz o hino da umbanda, composto por José Manoel Alves (letra) e Dalmo da Trindade Reis (música), em 1961. A umbanda, religião que surgiu no Brasil em 15 de novembro de 1908, completou seus 114 anos ontem.  Com forte influência de outras religiões, ela mistura elementos do candomblé, do espiritismo e do catolicismo.

Com diversas linhas de trabalho, essa religião busca trazer conforto espiritual e material para os necessitados, por meio da incorporação de espíritos de luz em médiuns. Mediunidade é a capacidade que muitas pessoas têm de se comunicar com os desencarnados, seja por meio da visão, da audição, de sonhos ou até mesmo da incorporação. 

A falta de conhecimento sobre a religião faz com que muitas pessoas tenham medo de frequentar os terreiros, ou templos, como são chamados os espaços destinados à prática da umbanda. É importante dizer que na incorporação não acontece de a alma do médium sair do corpo para que outra possa entrar, muito menos de qualquer espírito ”incorporar “. O  que ocorre, depois da preparação e do desenvolvimento do médium, é a ligação entre a alma do médium e do espírito de luz (guia ou entidade). Isso só deve ocorrer com a permissão de um Pai de Santo e de um Diretor Espiritual em algum terreiro que seja preparado.

Sessão de Preto Velho aberta ao público no Centro de Umbanda Caboclo Tupiriciguá e Pai Benedito de Aruanda.

Muitas vezes, a umbanda é confundida com outras religiões como o candomblé. Entre suas diferenças, está a origem. O Candomblé é uma religião afro-brasileira, originária da África, trazida pelos povos escravizados e sofreu algumas alterações ao chegar no Brasil. Enquanto isso, a Umbanda é uma religião brasileira, que começou no Rio de Janeiro. Dentre outras diferenças das religiões, o Candomblé trabalha com pontos (cantigas) em iorubá (língua nígero-congolesa), e nas incorporações os médiuns ficam inconscientes e incorporam o próprio orixá. Já na Umbanda, os pontos cantados são em português e não há incorporação de orixás, pois acredita-se que nenhum ser humano poderia receber a energia divina deles, então, quem incorpora são espíritos de luz que vibram na força de um dos orixás.

A umbanda trabalha com diversas linhas e as mais conhecidas são os caboclos (espíritos de índios), os pretos-velhos (espíritos de negros que foram escravizados) e os exus (espíritos que buscam a redenção de seus erros por meio da caridade). O principal lema da religião é o amor e a caridade, por isso, em casas de Lei*, não são feitos de forma alguma trabalho para prejudicar alguém. Acredita-se que o livre-arbítrio deve ser respeitado e o universo irá devolver as energias que você emana.

Os passes podem ser coletivos e individuais.

Segundo Ronaldo Dias Gonçalves, de 61 anos, dirigente do Centro de Umbanda Caboclo Tupiriciguá e Pai Benedito de Aruanda, e Pai de Santo há mais de 40 anos, a umbanda representa os caminhos da evolução moral e espiritual, por meio da pregação da fé, do amor, da humildade e da caridade. Com a mistura de ritos e dos orixás do candomblé, sincretizados com os santos católicos e com a ideia de reencarnação do espiritismo, surge a umbanda.

Pai Ronaldo incorporado do Pai Benedito de Aruanda.

O começo da Umbanda

Em meados de 1907, o jovem Zélio Fernandino de Moraes, de 16 anos, começou a apresentar comportamentos estranhos, como mudar a personalidade e a voz. Ele foi levado ao médico e não foi identificada nenhuma doença. O médico recomendou que ele procurasse um padre, mas a família resolveu buscar ajuda em um centro espírita. Muitas vezes espíritos ancestrais de índios e negros escravizados tentavam se manifestar nas mesas, mas eram ‘’mandados embora’’ por serem considerados maus ou ignorantes, devido ao preconceito contra esses povos na época.  Em 15 de novembro de 1908, em uma sessão mediúnica na Federação Espírita de Niterói, se manifesta, no médium Zélio, o Caboclo das 7 Encruzilhadas, espírito de um indígena que determinou a criação da umbanda, para que todos os espíritos, sejam encarnados ou desencarnados, brancos ou pretos, pudessem buscar a evolução espiritual. 

O Caboclo colocou algumas premissas: assegurou que todas as entidades seriam ouvidas, orientou que os umbandistas deveriam aprender com os espíritos que soubessem mais e ensinar aos que soubessem menos, instruiu que não deveriam virar as costas para ninguém e nem dizer não, pois esta era a vontade do Pai Celestial e preconizou que o verdadeiro umbandista viveria para a umbanda, e não da umbanda. Além disso, o Caboclo vinha para criar uma nova religião, fundamentada no Evangelho de Jesus, e que teria Cristo como seu maior mentor.

Vela, arruda e água são alguns dos elementos utilizados para o trabalho.

Imagens: Camilla Motta

*casas de Lei são as que trabalham com entidades apenas para a prosperidade, por meio da caridade, sem fazer trabalhos para prejudicar outrem. Além disso, elas devem ser legalizadas nos órgãos competentes, o que garante a seriedade do trabalho prestado.

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”A umbanda é paz e amor; é um mundo cheio de luz”. Assim diz o hino da umbanda, composto por José Manoel Alves (letra) e Dalmo da Trindade Reis (música), em 1961. A umbanda, religião que surgiu no Brasil em 15 de novembro de 1908, completou seus 114 anos ontem.  Com forte influência de outras religiões, ela mistura elementos do candomblé, do espiritismo e do catolicismo.

Com diversas linhas de trabalho, essa religião busca trazer conforto espiritual e material para os necessitados, por meio da incorporação de espíritos de luz em médiuns. Mediunidade é a capacidade que muitas pessoas têm de se comunicar com os desencarnados, seja por meio da visão, da audição, de sonhos ou até mesmo da incorporação. 

A falta de conhecimento sobre a religião faz com que muitas pessoas tenham medo de frequentar os terreiros, ou templos, como são chamados os espaços destinados à prática da umbanda. É importante dizer que na incorporação não acontece de a alma do médium sair do corpo para que outra possa entrar, muito menos de qualquer espírito ”incorporar “. O  que ocorre, depois da preparação e do desenvolvimento do médium, é a ligação entre a alma do médium e do espírito de luz (guia ou entidade). Isso só deve ocorrer com a permissão de um Pai de Santo e de um Diretor Espiritual em algum terreiro que seja preparado.

Sessão de Preto Velho aberta ao público no Centro de Umbanda Caboclo Tupiriciguá e Pai Benedito de Aruanda.

Muitas vezes, a umbanda é confundida com outras religiões como o candomblé. Entre suas diferenças, está a origem. O Candomblé é uma religião afro-brasileira, originária da África, trazida pelos povos escravizados e sofreu algumas alterações ao chegar no Brasil. Enquanto isso, a Umbanda é uma religião brasileira, que começou no Rio de Janeiro. Dentre outras diferenças das religiões, o Candomblé trabalha com pontos (cantigas) em iorubá (língua nígero-congolesa), e nas incorporações os médiuns ficam inconscientes e incorporam o próprio orixá. Já na Umbanda, os pontos cantados são em português e não há incorporação de orixás, pois acredita-se que nenhum ser humano poderia receber a energia divina deles, então, quem incorpora são espíritos de luz que vibram na força de um dos orixás.

A umbanda trabalha com diversas linhas e as mais conhecidas são os caboclos (espíritos de índios), os pretos-velhos (espíritos de negros que foram escravizados) e os exus (espíritos que buscam a redenção de seus erros por meio da caridade). O principal lema da religião é o amor e a caridade, por isso, em casas de Lei*, não são feitos de forma alguma trabalho para prejudicar alguém. Acredita-se que o livre-arbítrio deve ser respeitado e o universo irá devolver as energias que você emana.

Os passes podem ser coletivos e individuais.

Segundo Ronaldo Dias Gonçalves, de 61 anos, dirigente do Centro de Umbanda Caboclo Tupiriciguá e Pai Benedito de Aruanda, e Pai de Santo há mais de 40 anos, a umbanda representa os caminhos da evolução moral e espiritual, por meio da pregação da fé, do amor, da humildade e da caridade. Com a mistura de ritos e dos orixás do candomblé, sincretizados com os santos católicos e com a ideia de reencarnação do espiritismo, surge a umbanda.

Pai Ronaldo incorporado do Pai Benedito de Aruanda.

O começo da Umbanda

Em meados de 1907, o jovem Zélio Fernandino de Moraes, de 16 anos, começou a apresentar comportamentos estranhos, como mudar a personalidade e a voz. Ele foi levado ao médico e não foi identificada nenhuma doença. O médico recomendou que ele procurasse um padre, mas a família resolveu buscar ajuda em um centro espírita. Muitas vezes espíritos ancestrais de índios e negros escravizados tentavam se manifestar nas mesas, mas eram ‘’mandados embora’’ por serem considerados maus ou ignorantes, devido ao preconceito contra esses povos na época.  Em 15 de novembro de 1908, em uma sessão mediúnica na Federação Espírita de Niterói, se manifesta, no médium Zélio, o Caboclo das 7 Encruzilhadas, espírito de um indígena que determinou a criação da umbanda, para que todos os espíritos, sejam encarnados ou desencarnados, brancos ou pretos, pudessem buscar a evolução espiritual. 

O Caboclo colocou algumas premissas: assegurou que todas as entidades seriam ouvidas, orientou que os umbandistas deveriam aprender com os espíritos que soubessem mais e ensinar aos que soubessem menos, instruiu que não deveriam virar as costas para ninguém e nem dizer não, pois esta era a vontade do Pai Celestial e preconizou que o verdadeiro umbandista viveria para a umbanda, e não da umbanda. Além disso, o Caboclo vinha para criar uma nova religião, fundamentada no Evangelho de Jesus, e que teria Cristo como seu maior mentor.

Vela, arruda e água são alguns dos elementos utilizados para o trabalho.

Imagens: Camilla Motta

*casas de Lei são as que trabalham com entidades apenas para a prosperidade, por meio da caridade, sem fazer trabalhos para prejudicar outrem. Além disso, elas devem ser legalizadas nos órgãos competentes, o que garante a seriedade do trabalho prestado.