Durante o início da década de 40, período da Segunda Guerra Mundial, o pai da Computação, Alan Turing, mudou a história. Ao criar uma máquina capaz de decodificar as mensagens do exército alemão, o matemático foi capaz de diminuir a duração da guerra em cerca de dois anos, segundo alguns historiadores. Entretanto, nem mesmo Turing era capaz de imaginar a evolução que sucederia sua criação. Ele é considerado um dos principais responsáveis pela criação dos computadores.
A eficiência e praticidade da computação e da internet na sociedade contemporânea é indiscutível. Além da globalização e democratização da informação, estas tecnologias também nos influenciam no campo da criação. Naturalmente, estas ferramentas não trazem apenas benefícios. É muito comum hoje o incômodo que resulta do atendimento ao cliente adotado por diversas empresas que contam com esta ferramenta.
Ainda que estejamos vivendo o início da popularização da inteligência artificial (IA), já se tornou uma preocupação o seu uso na elaboração de trabalhos acadêmicos. Outro assunto muito debatido em relação à tecnologia é o seu aspecto legal e ético. Ainda que estejam sendo criados projetos de leis, tal como a Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD), de 2018, a legislação brasileira ainda não tem muita abrangência em relação a crimes virtuais. Neste contexto, existem muitos conteúdos produzidos hoje em dia que trazem debates sobre a sua questão moral. Em uma procura em plataformas de vídeo da internet, é fácil encontrar figuras famosas dando voz a canções que nunca interpretaram, ou vivendo situações que não são reais. Isso é resultado de criações da inteligência artificial.
Recentemente, houve uma polêmica envolvendo uma propaganda que trazia a cantora Elis Regina, falecida em 1982, em um dueto com sua filha, Maria Rita. Ainda que muitas pessoas tenham apreciado e até mesmo se emocionado com esta produção, outras consideraram ofensivo “reviver” a artista. Um processo contra a empresa responsável pela ação foi aberto, sendo, posteriormente, arquivado. Esse futuro da inteligência artificial em todos os campos da sociedade é um dos maiores temores que vivemos atualmente.
Um dos motivos que justificam essa popularização da inteligência artificial é a praticidade que os aparelhos eletrônicos nos proporcionam. Hoje em dia, é raro encontrar pessoas que não possuam um telefone celular ou algum meio de se conectar à internet. O gráfico abaixo, criado durante a pesquisa do site Cetic.br, nos mostra como o aumento do consumo de aparelhos está relacionado com o consumo destas ferramentas.
Qual o futuro da evolução?
Entre os principais receios que envolvem o tema, estão o de que as pessoas se tornem muito dependentes desta nova tecnologia e que a inteligência artificial subjugue a humanidade. Ainda que alguns temores sejam infundados, outros podem e devem ser debatidos para que a sociedade abrace esta nova ferramenta que, querendo ou não, fará parte do futuro tanto pessoal quanto profissional do homem, afinal, como indagou o filósofo francês, Paul Valéry, “pode a mente humana dominar o que a mente humana criou?”.
Com o intuito de desmistificar estes possíveis cenários que preocupam a população, foi necessário recorrer a umas das principais fontes sobre inteligência artificial, a própria inteligência artificial. Um dos principais programas usados para gerar textos atualmente é o ChatGPT. Quando questionado sobre a validade de uma possível revolução tecnológica entre as máquinas e os humanos, ele ressaltou que, “embora seja válido considerar os riscos associados à IA, é importante não cair em um pânico profundo. A preocupação com a escravidão da humanidade pela IA está mais relacionada a cenários distópicos de ficção científica do que à realidade atual da tecnologia”.
Já o programa Bard comentou que existem alguns argumentos que sustentam a preocupação de que a IA pode se tornar uma ameaça à humanidade. “Os sistemas de IA atuais já são capazes de realizar tarefas que eram consideradas exclusivamente humanas. À medida que continuar se desenvolvendo, é possível que se torne tão poderosa que seja capaz de superar a inteligência humana em todos os aspectos”, comenta. Outro aspecto preocupante é a sua capacidade de criar sistemas que são capazes de aprender e se adaptar de forma independente, estes sistemas podem se tornar tão complexos que é possível que se tornem imprevisíveis e difíceis de controlar.
Passando para uma fonte humana, o gerente de negócios digitais da RBS, Alan Streck, ressalta que as tecnologias e os dispositivos vão mudando em ondas que são normalmente de 10 a 20 anos. “O processo da transformação tecnológica ainda está no começo, as pessoas passam a consumir conteúdos, notícias e experiências, sentindo de diversas formas. É bem provável que, ao longo desse ciclo, que nos dias atuais passa pela primeira massificação, a Inteligência Artificial se torne mais amigável, mais humana”, comenta. Tratando sobre os malefícios, ele destacou a possibilidade de “gerar vício da tecnologia, ansiedade, timidez, incapacidade de relacionamento social, raiva, entre muitas outras coisas”.
Aplicações da inteligência artificial na atualidade
A inteligência artificial vem tomando proporções acima do esperado, levando em consideração o seu início. A IA já era utilizada em jogos de videogame, fazendo o papel dos bots. EaFC, CSGO, entre outros games já usavam a IA como adversários em partidas offline. Hoje em dia, o seu trabalho nos games quebrou a barreira dos bots, atuando como o jogo completo. Jogador, adversário, gerador de mundos, tudo feito pela ferramenta. HideOut – Hide and Seek é o primeiro e único game produzido e jogado por uma IA. A história da tecnologia com os jogos é antiga, principalmente no desenvolvimento de sistemas capazes de realizar tarefas que normalmente requerem inteligência humana, como reconhecimento de padrões, aprendizado e tomada de decisões. Nos videogames, a inteligência artificial é usada para criar personagens não-jogáveis (NPCs) mais realistas, gerar ambientes e comportamentos dos inimigos de forma processual e melhorar a jogabilidade geral.
Desde os anos 1950, a inteligência artificial tem desempenhado um papel fundamental nos videogames, proporcionando comportamentos inteligentes e reativos, sobretudo em personagens não controlados pelos jogadores.
Começando com jogos estratégicos baseados em matemática e programas de damas, a IA gradualmente se infiltrou no design de jogos mais elaborados. Nos anos 1970, títulos como Space Invaders e Pac-Man introduziram padrões de IA e movimentações distintas, elevando a experiência de jogo a um novo nível.
À medida que avançamos nas décadas de 1980 e 1990, a IA passou a ser empregada em jogos esportivos para simular estilos de treinamento e gerenciamento, conferindo uma experiência de jogo mais personalizada e envolvente. Tecnologias de IA formais, como máquinas de estados finitos (FSM), foram utilizadas na criação de novos videogames nos anos 1990. Jogos de estratégia em tempo real começaram a incorporar a IA para avaliar as ações dos jogadores e gerar diálogos interativos.
Atualmente, a IA é praticamente ubíqua nos videogames, tornando os personagens mais realistas e os jogos mais envolventes, adaptáveis e responsivos. A evolução da IA possibilitou experiências de jogo mais sofisticadas e personalizadas, criando momentos inesquecíveis e permitindo que os jogadores interajam de maneiras novas e emocionantes com personagens não-jogáveis.
Quando o assunto é Inteligência Artificial, um dos temas mais debatidos é sobre seus benefícios e seus malefícios na sociedade. Para o professor de Jornalismo e Jogos Digitais, Iuri Lammel, dentro da parte boa das IA’s é destacável “o aumento da produtividade em atividades e serviços profissionais que envolvam análise e produção de informações e automatização.” Já nos pontos ruins, o doutorando em Informática na Educação diz que “há o problema da substituição muito rápida de certas atividades profissionais desempenhadas por humanos, mais rápido inclusive que a capacidade do mercado em se adaptar e absorver essas pessoas, aumentando o desemprego em alguns setores e a pressão nos sistemas de assistência social dos países e na economia das famílias.” Lammel ainda ressalta que um grande malefício é a facilidade crescente em produzir e difundir informações falsas na internet.
Conclui-se, portanto, que o futuro da tecnologia depende do próprio homem. Não é possível saber se esta ferramenta será usada para o bem ou para o mal. Como dizia o escritor norte-americano, Isaac Asimov “A ciência acumula conhecimento mais rápido do que a sociedade acumula sabedoria”, portanto, cabe ao tempo nos dizer quão sabiamente será utilizada esta nova tecnologia. Entretanto, uma coisa é certa: ela já faz parte do nosso presente e fará parte do nosso futuro.
Para saber mais, confira os episódios de A Evolução da Tecnologia do podcast Pauta Fria:
Reportagem produzida por Nelson Bofill e Felipe Perosa na disciplina de Narrativa Multimídia, no 2º semestre de 2023, sob supervisão da professora Glaíse Bohrer Palma.
Podcasts gravados na disciplina de Jornalismo em Mídia Sonora, sob supervisão da professora Sione Gomes. 1º podcast da acadêmica Maria Rossato, 2º podcast de Felipe Perosa.