Santa Maria, RS (ver mais >>)

Santa Maria, RS, Brazil

O que ficou das queimadas devastadoras de 2024

Fumaça densa sob Brasília no Distrito Federal Foto: Joédson Alves/Agência Brasil

Em um dos anos mais críticos para incêndios no Brasil, Santa Maria enfrentou as consequências de uma onda de queimadas recordes que já devastou uma área maior que o Japão e afetou a qualidade do ar, saúde pública e o bem-estar dos moradores.

2024 foium ano alarmante para o Brasil no que diz respeito a incêndios florestais. Com mais de 208 mil focos registrados pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) até outubro, os incêndios ultrapassaram os números totais de 2023, afetando a Amazônia e o Pantanal. Segundo o Serviço de Monitoramento Atmosférico Copernicus, os incêndios liberaram 180 megatoneladas de carbono na atmosfera apenas entre janeiro e setembro. Esta onda de queimadas não se restringiu às regiões Norte e Centro-Oeste do país, pois sua fumaça densa foi transportada por correntes de ar até o Sul, atingindo cidades como Santa Maria, onde seus efeitos se tornaram evidentes.

Fumaça nos céus de Santa Maria

Céu ensolarado em Santa Maria após as fumaças. Foto: Cauã Fontoura/Labfem

Entre agosto e setembro, o estado chegou a ser classificado como “insalubre” pela agência IQAir. Para muitos moradores de Santa Maria, os efeitos das queimadas foram sentidos na própria respiração. A estudante de odontologia Maria Fernanda, 21 anos, relata o impacto direto em sua rotina. “Nos dias de fumaça intensa, evitei abrir as janelas do apartamento. Minha respiração ficou prejudicada, e, com rinite, foi ainda mais difícil. Tivemos semanas complicadas em que a fumaça encobriu o sol e tornou o ar quase insuportável,” conta. Ela reflete que os impactos atuais são reflexo da destruição causada pelo homem ao meio ambiente. “Precisamos agir com práticas mais sustentáveis; nossa intervenção na natureza precisa ser de cuidado, não de destruição,” completa.

Efeitos na Saúde Pública

Uso de máscara devido ao aumento das fumaças em Brasília. Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil

A situação em Santa Maria também se reflete nas estatísticas de saúde. De acordo com a secretária adjunta de Saúde, Ana Paula Seerig, setembro registrou um aumento significativo de atendimentos relacionados a problemas respiratórios, especialmente entre crianças. “Observamos uma procura maior por atendimento para sintomas como falta de ar, tosse e irritação nos olhos, embora não possamos associar diretamente as queixas à fumaça devido às mudanças climáticas sazonais,” explica. Ela destaca que, durante os dias mais críticos, a população foi orientada a evitar atividades ao ar livre, manter janelas fechadas e redobrar cuidados com hidratação e sintomas respiratórios, especialmente para crianças, idosos e pessoas com doenças respiratórias preexistentes.

O meteorologista Gustavo Verardo, da BaroClima Meteorologia, explica que as correntes de vento conhecidas como Jato de Baixos Níveis foram responsáveis por transportar a fumaça das queimadas até o Sul do Brasil. “Esses ventos fortes de Norte a Sul trazem consigo grandes quantidades de fumaça. Quanto maior a área devastada, maior a concentração de partículas no ar,” ressalta. Verardo comenta que a presença de fuligem e outros materiais particulados na atmosfera agrava a qualidade do ar e gera uma “cobertura” que bloqueia a radiação solar direta, mantendo o céu escurecido em diversas cidades da região.

“Esse fogo é criminoso”, diz Lula sobre incêndios pelo país

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) disse que as queimadas que atingiram o Brasil são resultado de ações criminosas. “Esse fogo é criminoso. É gente que está tentando colocar fogo para destruir esse país”, afirmou, ao citar que em um mesmo dia foram registrados incêndios em 45 cidades do estado de São Paulo. Lula também apontou que 85% das propriedades afetadas no Pantanal são particulares. O que, segundo ele, reforça a necessidade de uma resposta mais rigorosa às queimadas ilegais. As declarações foram dadas durante visita a municípios do Amazonas que sofrem com os efeitos da estiagem. Na ocasião, representantes do governo federal assinaram o edital para obras de dragagens de manutenção nos rios Amazonas e Solimões.

O Governo disponibilizou R$514 milhões em crédito extra para combate às queimadas na Amazônia, o BNDES ( Banco Nacional do Desenvolvimento) reforçou as medidas de contenção com mais de R$400 milhões. O montante foi utilizado para apoio aos Corpos de Bombeiros dos estados da Amazônia Legal para compra de equipamentos, materiais e viaturas. 

Algumas medidas tomadas pelo Governo Federal foram punições mais rigorosas (o governo revisará os valores das multas para infrações ambientais e introduziu novas modalidades de sanções). Penas mais duras para incêndio ambiental ( o ministro Rui Costa afirmou que o governo estuda equiparar a pena para incêndios florestais à de incêndios em áreas urbanas). Novo fundo para biomas e proteção às populações indígenas. 

Além de Lula,  a ministra do Meio Ambiente e Mudanças Climáticas, Marina Silva, o ministro das Relações Institucionais, Alexandre Padilha, e o chefe da Polícia Federal (PF), Andrei Rodrigues, também destacaram a possibilidade de ação criminosa para explicar as queimadas em todo Brasil.  “Tem uma situação atípica. Você começa a ter, em uma semana, praticamente em dois dias, vários municípios queimando ao mesmo tempo, e isso não faz parte da nossa curva de experiência na nossa trajetória de tantos anos de abordagem do fogo. No caso do Pantanal, a gente estava tendo ali a abertura de dez frentes de incêndios por semana. No caso da Amazônia, nós identificamos o mesmo fenômeno. E em São Paulo não é natural, em hipótese alguma, que em poucos dias você tenha tantas frentes de incêndio envolvendo concomitantemente vários municípios”, declarou Marina Silva em uma reunião com o presidente Lula, na sede do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama).

Orientações de Saúde e Prevenção

Para mitigar os efeitos da poluição decorrente das queimadas, o Conselho Federal de Química (CFQ) e especialistas em saúde recomendam medidas de proteção, como o uso de máscaras PFF2, especialmente eficazes para filtrar partículas finas e tóxicas. O CFQ também aconselha a instalação de purificadores de ar em ambientes fechados e a manutenção dos filtros do ar-condicionado. “Em áreas próximas às queimadas, a fumaça aumenta drasticamente a concentração de poluentes, o que impacta diretamente a saúde respiratória”, alerta o conselho no podcast “ QuinCast”, enviado à reportagem.
A professora de Enfermagem Liliane Alves Pereira reforça a importância dos cuidados com a saúde durante os períodos de alta poluição: “Evitar exposição ao ar livre, beber bastante água e manter ambientes fechados são atitudes cruciais para minimizar o impacto das queimadas na saúde.” Ela ainda alerta sobre o risco de asfixia e de agravamento de doenças respiratórias em indivíduos que já apresentam condições crônicas, como asma ou bronquite.

Confira dicas no infográfico


Fonte: Secretaria de saúde e Conselho Federal de Química (CFQ)
Produção própria

Dados do MapBiomas indicam que 70% da área queimada em 2024 era de vegetação nativa. Apenas em agosto, quase metade das queimadas do ano foi registrada, atingindo especialmente o cerrado e áreas de pastagens. Os incêndios, além de liberarem carbono na atmosfera, ameaçam ecossistemas inteiros e afetam a biodiversidade. Como muitos em Santa Maria podem observar, as queimadas deixaram de ser um problema apenas das regiões afetadas e se tornaram uma questão de saúde e de conscientização coletiva.

Loidemar Luiz Bressan, professor de Filosofia na Universidade Franciscana (UFN), analisa as queimadas como uma responsabilidade coletiva e uma crise ética sobre como tratamos o meio ambiente. “O antropocentrismo e o desejo de domínio sobre a natureza têm provocado um desequilíbrio com consequências graves. Este impacto é sentido por todos os brasileiros e afeta todas as formas de vida, não apenas no presente, mas também nas gerações futuras,” comenta. O professor sugere que cada pessoa pode e deve contribuir para reverter este cenário, adotando um estilo de vida mais sustentável e incentivando outros a fazer o mesmo.

Veja a seguir o debate sobre o impacto das queimadas na saúde no brasileiro.

Reportagem produzida por Laura Pedroso, Rian Lacerda, Luiza Fantinel e Karina Fontes na disciplina de Narrativa Multimídia, no 2º semestre de 2024, sob orientação da professora Glaíse Bohrer Palma.

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Fumaça densa sob Brasília no Distrito Federal Foto: Joédson Alves/Agência Brasil

Em um dos anos mais críticos para incêndios no Brasil, Santa Maria enfrentou as consequências de uma onda de queimadas recordes que já devastou uma área maior que o Japão e afetou a qualidade do ar, saúde pública e o bem-estar dos moradores.

2024 foium ano alarmante para o Brasil no que diz respeito a incêndios florestais. Com mais de 208 mil focos registrados pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) até outubro, os incêndios ultrapassaram os números totais de 2023, afetando a Amazônia e o Pantanal. Segundo o Serviço de Monitoramento Atmosférico Copernicus, os incêndios liberaram 180 megatoneladas de carbono na atmosfera apenas entre janeiro e setembro. Esta onda de queimadas não se restringiu às regiões Norte e Centro-Oeste do país, pois sua fumaça densa foi transportada por correntes de ar até o Sul, atingindo cidades como Santa Maria, onde seus efeitos se tornaram evidentes.

Fumaça nos céus de Santa Maria

Céu ensolarado em Santa Maria após as fumaças. Foto: Cauã Fontoura/Labfem

Entre agosto e setembro, o estado chegou a ser classificado como “insalubre” pela agência IQAir. Para muitos moradores de Santa Maria, os efeitos das queimadas foram sentidos na própria respiração. A estudante de odontologia Maria Fernanda, 21 anos, relata o impacto direto em sua rotina. “Nos dias de fumaça intensa, evitei abrir as janelas do apartamento. Minha respiração ficou prejudicada, e, com rinite, foi ainda mais difícil. Tivemos semanas complicadas em que a fumaça encobriu o sol e tornou o ar quase insuportável,” conta. Ela reflete que os impactos atuais são reflexo da destruição causada pelo homem ao meio ambiente. “Precisamos agir com práticas mais sustentáveis; nossa intervenção na natureza precisa ser de cuidado, não de destruição,” completa.

Efeitos na Saúde Pública

Uso de máscara devido ao aumento das fumaças em Brasília. Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil

A situação em Santa Maria também se reflete nas estatísticas de saúde. De acordo com a secretária adjunta de Saúde, Ana Paula Seerig, setembro registrou um aumento significativo de atendimentos relacionados a problemas respiratórios, especialmente entre crianças. “Observamos uma procura maior por atendimento para sintomas como falta de ar, tosse e irritação nos olhos, embora não possamos associar diretamente as queixas à fumaça devido às mudanças climáticas sazonais,” explica. Ela destaca que, durante os dias mais críticos, a população foi orientada a evitar atividades ao ar livre, manter janelas fechadas e redobrar cuidados com hidratação e sintomas respiratórios, especialmente para crianças, idosos e pessoas com doenças respiratórias preexistentes.

O meteorologista Gustavo Verardo, da BaroClima Meteorologia, explica que as correntes de vento conhecidas como Jato de Baixos Níveis foram responsáveis por transportar a fumaça das queimadas até o Sul do Brasil. “Esses ventos fortes de Norte a Sul trazem consigo grandes quantidades de fumaça. Quanto maior a área devastada, maior a concentração de partículas no ar,” ressalta. Verardo comenta que a presença de fuligem e outros materiais particulados na atmosfera agrava a qualidade do ar e gera uma “cobertura” que bloqueia a radiação solar direta, mantendo o céu escurecido em diversas cidades da região.

“Esse fogo é criminoso”, diz Lula sobre incêndios pelo país

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) disse que as queimadas que atingiram o Brasil são resultado de ações criminosas. “Esse fogo é criminoso. É gente que está tentando colocar fogo para destruir esse país”, afirmou, ao citar que em um mesmo dia foram registrados incêndios em 45 cidades do estado de São Paulo. Lula também apontou que 85% das propriedades afetadas no Pantanal são particulares. O que, segundo ele, reforça a necessidade de uma resposta mais rigorosa às queimadas ilegais. As declarações foram dadas durante visita a municípios do Amazonas que sofrem com os efeitos da estiagem. Na ocasião, representantes do governo federal assinaram o edital para obras de dragagens de manutenção nos rios Amazonas e Solimões.

O Governo disponibilizou R$514 milhões em crédito extra para combate às queimadas na Amazônia, o BNDES ( Banco Nacional do Desenvolvimento) reforçou as medidas de contenção com mais de R$400 milhões. O montante foi utilizado para apoio aos Corpos de Bombeiros dos estados da Amazônia Legal para compra de equipamentos, materiais e viaturas. 

Algumas medidas tomadas pelo Governo Federal foram punições mais rigorosas (o governo revisará os valores das multas para infrações ambientais e introduziu novas modalidades de sanções). Penas mais duras para incêndio ambiental ( o ministro Rui Costa afirmou que o governo estuda equiparar a pena para incêndios florestais à de incêndios em áreas urbanas). Novo fundo para biomas e proteção às populações indígenas. 

Além de Lula,  a ministra do Meio Ambiente e Mudanças Climáticas, Marina Silva, o ministro das Relações Institucionais, Alexandre Padilha, e o chefe da Polícia Federal (PF), Andrei Rodrigues, também destacaram a possibilidade de ação criminosa para explicar as queimadas em todo Brasil.  “Tem uma situação atípica. Você começa a ter, em uma semana, praticamente em dois dias, vários municípios queimando ao mesmo tempo, e isso não faz parte da nossa curva de experiência na nossa trajetória de tantos anos de abordagem do fogo. No caso do Pantanal, a gente estava tendo ali a abertura de dez frentes de incêndios por semana. No caso da Amazônia, nós identificamos o mesmo fenômeno. E em São Paulo não é natural, em hipótese alguma, que em poucos dias você tenha tantas frentes de incêndio envolvendo concomitantemente vários municípios”, declarou Marina Silva em uma reunião com o presidente Lula, na sede do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama).

Orientações de Saúde e Prevenção

Para mitigar os efeitos da poluição decorrente das queimadas, o Conselho Federal de Química (CFQ) e especialistas em saúde recomendam medidas de proteção, como o uso de máscaras PFF2, especialmente eficazes para filtrar partículas finas e tóxicas. O CFQ também aconselha a instalação de purificadores de ar em ambientes fechados e a manutenção dos filtros do ar-condicionado. “Em áreas próximas às queimadas, a fumaça aumenta drasticamente a concentração de poluentes, o que impacta diretamente a saúde respiratória”, alerta o conselho no podcast “ QuinCast”, enviado à reportagem.
A professora de Enfermagem Liliane Alves Pereira reforça a importância dos cuidados com a saúde durante os períodos de alta poluição: “Evitar exposição ao ar livre, beber bastante água e manter ambientes fechados são atitudes cruciais para minimizar o impacto das queimadas na saúde.” Ela ainda alerta sobre o risco de asfixia e de agravamento de doenças respiratórias em indivíduos que já apresentam condições crônicas, como asma ou bronquite.

Confira dicas no infográfico


Fonte: Secretaria de saúde e Conselho Federal de Química (CFQ)
Produção própria

Dados do MapBiomas indicam que 70% da área queimada em 2024 era de vegetação nativa. Apenas em agosto, quase metade das queimadas do ano foi registrada, atingindo especialmente o cerrado e áreas de pastagens. Os incêndios, além de liberarem carbono na atmosfera, ameaçam ecossistemas inteiros e afetam a biodiversidade. Como muitos em Santa Maria podem observar, as queimadas deixaram de ser um problema apenas das regiões afetadas e se tornaram uma questão de saúde e de conscientização coletiva.

Loidemar Luiz Bressan, professor de Filosofia na Universidade Franciscana (UFN), analisa as queimadas como uma responsabilidade coletiva e uma crise ética sobre como tratamos o meio ambiente. “O antropocentrismo e o desejo de domínio sobre a natureza têm provocado um desequilíbrio com consequências graves. Este impacto é sentido por todos os brasileiros e afeta todas as formas de vida, não apenas no presente, mas também nas gerações futuras,” comenta. O professor sugere que cada pessoa pode e deve contribuir para reverter este cenário, adotando um estilo de vida mais sustentável e incentivando outros a fazer o mesmo.

Veja a seguir o debate sobre o impacto das queimadas na saúde no brasileiro.

Reportagem produzida por Laura Pedroso, Rian Lacerda, Luiza Fantinel e Karina Fontes na disciplina de Narrativa Multimídia, no 2º semestre de 2024, sob orientação da professora Glaíse Bohrer Palma.