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Cultura

Cidade Passageira: os prós e contras de ficar em Santa Maria após a formação

Entre idas e vindas, Santa Maria é conhecida por ser uma cidade universitária que forma acadêmicos em instituições de ensino e capacita-os para ingressar no mercado de trabalho após a entrega do diploma. A cidade recebe interessados em começar o ensino superior que moram em cidades vizinhas, na região sul e em outros estados.

Imagem gerada com recurso da IA. Foto: Freepik

Antigamente, quando era preciso escolher um corte de cabelo, as pessoas procuravam em revistas os modelos usados por atrizes e celebridades. Para saber como se vestir sem sair de moda, bastava folhear a revista até a parte dos desfiles e analisar cada look. Hoje em dia, as coisas ficaram mais modernas e práticas: basta um vídeo viralizar no TikTok ou uma foto ser postada no Instagram e pronto, está lançada uma nova tendência. Roupas, acessórios e até jeitos de se vestir se espalham rapidamente. Mas será que estamos realmente escolhendo nosso estilo ou apenas copiando o que vemos nas redes?

Isso é algo que vem de muito antes — a prática de buscar inspiração em revistas já reforçava a ideia de que “nada se cria, tudo se copia”. No entanto, as redes sociais mudaram completamente a forma como lidamos com a moda. De um lado, há pontos positivos: hoje, qualquer pessoa pode mostrar seu estilo, influenciar outras e até criar novas tendências. Isso dá mais visibilidade à diversidade e ajuda a romper padrões antigos.

Além disso, os números mostram o impacto dessa influência: segundo pesquisa do Sebrae de 2023, 73% dos brasileiros já realizou compras influenciados por conteúdos nas redes sociais. Isso revela como o ambiente digital se tornou um verdadeiro influenciador de consumo.

Por outro lado, essa liberdade esconde uma nova forma de pressão. Quando todo mundo segue o que está em alta e quem decide manter seu estilo próprio pode se sentir excluído. A vontade de agradar e “estar por dentro” acaba apagando o gosto pessoal.

Diante disso, é importante refletir: estamos escolhendo nossas roupas porque gostamos ou porque queremos aprovação? A moda é uma forma de expressão, não de comparação ou obrigação. Encontrar um estilo próprio, mesmo com tanta influência externa, pode ser um ato de liberdade. Usar o que gostamos e o que combina com a nossa personalidade é mais importante do que agradar o algoritmo.

No fim, a pergunta que fica é: você se veste para se sentir bem ou para ganhar curtidas?

Artigo produzido na disciplina de Narrativa Jornalística no 1º semestre de 2025. Supervisão professora Glaíse Bohrer Palma.

Imagens: divulgação Royal

Na noite da última terça-feira, 06, o Royal Plaza Shopping realizou o Royal Fashion Walk, desfile de moda para apresentar as coleções de outono e inverno deste ano. O evento contou com 40 modelos percorrendo os três andares e representando 17 lojas do shopping.

Segundo a Social Media do Royal, Ana Cecília Montedo, a inspiração surgiu de um desfile realizado em Dubai, que ocorreu em frente a um shopping center. O objetivo era que lojas trouxessem os seus clientes para um coquetel e já proporcionar a oportunidade de assistir a um desfile de moda.

A proposta era que o evento fosse aberto ao público, para que as pessoas se sentissem parte da experiência. Além disso, a produção e organização foi feita por pessoas que moram ou tiveram alguma relação com Santa Maria, para mostrar que o ambiente faz parte da história da cidade.

O evento encerrou com a participação de 25 produções desenvolvidas por estudantes e professores do curso de Design de Moda da Universidade Franciscana. Um dos destaques da apresentação foi que os próprios estudantes desfilaram com suas peças na passarela, assumindo não apenas o papel de designers, mas também de modelos.

Imagem: Divulgação Royal

Colaboração Maria Valenthine Feistauer

Documentário Casa Darling em exibição na semana de Art Déco. Imagem: Enzo Martins/LABFEM

Produzido pelos cursos de Jornalismo e Arquitetura e Urbanismo da Universidade Franciscana, o documentário “Casa Darling” foi lançado na última sexta-feira, 25, durante a semana da Art Déco em Santa Maria. O documentário conta a história da casa 176, onde viveu a família de Ana Prates e é resultado de uma produção conjunta do Laboratório de Produção Audiovisual – LabSeis, do curso de Jornalismo, com a disciplina de Ateliê de Projetos Integrados III, do curso de Arquitetura e Urbanismo, que elabora propostas de intervenção em prédios pré-existentes.

O lançamento foi realizado no Lab Criativo na Vila Belga. Antes da exibição do filme, o arquiteto e professor Luiz Gonzaga Binato de Almeida fez uma apresentação sobre Retrato e Memórias do estilo Art Déco. Na sua fala, o arquiteto contou histórias sobre artefatos antigos em Santa Maria que carregam esta arquitetura.

Arquiteto Luiz Gonzaga Binato palestrando sobre monumentos históricos de Santa Maria. Imagem: Enzo Martins/LABFEM

Casa Darling é um projeto dirigido por Petrius Dias, acadêmico de jornalismo, e Larissa Lima Schimdt arquiteta e urbanista formada pela UFN. Larissa conta que produzir esse documentário foi enriquecedor, pois possibilitou que existisse uma conexão com o patrimônio, tendo laços afetivos e históricos, além de ter a oportunidade de interação com profissionais da área. Gabriel Moreira de Souza, que está no 10° semestre de Arquitetura e Urbanismo e que também trabalhou no projeto, afirma que participar da produção foi muito relevante pra sua trajetória e salienta que um patrimônio não precisa ser tombado para ser valorizado.

O professor do curso de Arquitetura e Urbanismo, Francisco Queruz, considera que além da experiência para os alunos, o documentário é muito importante para os santa-marienses, pois o projeto contém informações inéditas sobre a edificação, de grande relevância histórica.

Exibição do documentário Casa Darling. Imagem: Enzo Martins/LABFEM

A professora de Jornalismo, Neli Mombelli, responsável pela orientação e montagem do filme, destaca que o valor do documentário para os cursos está em possibilitar o contato com a história de Santa Maria, assim como conhecer as pessoas que fizeram parte dela. Além disso, a produção faz parte da construção da memória da cidade.

Texto produzido com a colaboração de Isadora Rodrigues.

   Santa Maria celebra, nesta semana, o centenário do Art Déco no mundo, já que o movimento também marca a história da cidade. São diversas edificações, mas a presença do Art Déco é mais perceptível para quem anda pela Avenida Rio Branco, que possui  diversos exemplares em sequência.
  Um deles é a Casa Darling, tema do documentário homônimo que será lançado amanhã, (25/04), a partir das 19h no Lab Criativo da Vila Belga, e integra a programação 100 anos Art Déco Santa Maria no Mundo.
  Dirigido por Petrius Dias, acadêmico de Jornalismo, e Larissa Lima Schmidt, aluna do curso de Arquitetura e Urbanismo, o filme retrata a história da casa 176, onde viveu a família de Ana Prates. O documentário é uma produção conjunta do Laboratório de Produção Audiovisual – LabSeis, do curso de Jornalismo, com a disciplina de Ateliê de Projetos Integrados III, do curso de Arquitetura e Urbanismo, que elabora propostas de intervenção em prédios pré-existentes. E, para isso, o primeiro passo é fazer uma pesquisa para compreender o contexto histórico e a arquitetura original do espaço. Assim nasce o documentário Casa Darling.     
Antes da exibição do filme, haverá uma apresentação do arquiteto e professor Luiz Gonzaga Binato de Almeida sobre Retrato e Memórias do Art Déco.

Sinopse
 Uma casa é o local em que se habitam pessoas, sonhos, histórias e, por que não, a História?! Casa Darling é uma desses locais que, além de ser herança de família, também é herança de um período histórico de Santa Maria: o Art Déco.

O que: Lançamento documentário Casa Darling
Quando: Sexta-feira, 25/04/2025, às 19h
Onde: Lab Criativo – rua Manoel Ribas, 2038, Vila Belga

  • Texto e imagem Neli Mombelli

A exposição 100 Anos de Art Déco – Santa Maria no Mundo, começa nesta quarta-feira, 16, às 17h30, na sala de exposições Angelita Stafani no prédio 14 do conjunto III da Universidade Franciscana. O evento ocorre até o dia 8 de maio. Os horários de funcionamento da sala serão terça, quarta e quinta-feira pela manhã, das 8 às 12h e segunda, terça e quinta-feira pela tarde, das 13h30 às 17h30.

Além de objetos do acervo do Museu Franciscano, a exibição contará com uma maquete do Edíficio Mauá executada pelo Sr. Fumagalli, imagens de edifícios no estilo Art Déco e projeções visuais. Os 100 anos de Art Déco é promovido pelo Coletivo Memória Ativa, que atua em defesa do patrimônio da cidade há mais de cinco anos. Segundo a arquiteta Lídia Rodrigues, o objetivo é mostrar a importância desses patrimônios para a comunidade do município e região, e valorizar a memória do patrimônio cultural.

Confira a programação:

Quarta, dia 16, a partir das 17h30, Sala Imas, UFN, prédio 14
PRÉ – LANÇAMENTO : ABERTURA DA EXPOSIÇÃO 100 ANOS DE ART DÉCO SANTA MARIA NO MUNDO
Sala de Exposição Angelita Stefani
Sala 114 – Prédio 14 – Conjunto III
Rua Silva Jardim, 1175

Terça, dia 22, das 14h às 16h, LabCriativo da Vila Belga
OFICINA DE ILUSTRAÇÃO COM ALUNOS DE ESCOLAS PÚBLICAS MUNICIPAIS
ATIVIDADE CONJUNTA COM DIA MUNDIAL DA CRIATIVIDADE
A ideia é conectar mais as crianças com o patrimônio histórico de Santa Maria, explicando sua origem e através do desenvolvimento de uma atividade lúdica e interativa.
Por Matheus Ruffino, graduado em Design de Animação pela escola Méliès, de São Paulo.
EM EXPOSIÇÃO: GRUPO TECER

Quarta, dia 23, a partir das 19h, LabCriativo da Vila Belga
SOLENIDADE DE ABERTURA
EXPOSIÇÃO ART DÉCO – PRODUÇÃO DE ARTISTAS PLÁSTICOS, COQUETEL, MÚSICA

Quinta, 24 de abril, LabCriativo da Vila Belga
EXPERIÊNCIAS PROFISSIONAIS E ACADÊMICAS
NO DESENVOLVIMENTO DE PROJETOS COM INSPIRAÇÃO ART DÉCO
16h – 18h
Museu Franciscano – André Denardin
Hotel Jantzen – Paula Carvalho e Márcia Kümmel
Ylys – Michelle Flores

19h – 21h
Joias – Junior Odorizzi
Podcast Rio Branco Déco
Design emocional em produtos de Realidade Aumentada – Keven Keller

Sexta, dia 25, LabCriativo da Vila Belga
EXPERIÊNCIAS PROFISSIONAIS E ACADÊMICAS NO DESENVOLVIMENTO DE PROJETOS COM INSPIRAÇÃO ART DÉCO
16h-18h
Casa Pedra – Clarissa Pereira
Casa Marvin Green – Alex Scherer
Sicredi – Zé Barbosa

19h – 21h
RETRATOS & MEMÓRIAS
Arq. Luiz Gonzaga Binato De Almeida
LANÇAMENTO DO DOCUMENTÁRIO CASA DARLING
Curso de Jornalismo – UFN

Sábado, 26, a céu aberto
15h – 18h AVENIDA RIO BRANCO
Caminhos Pela Arquitetura+ Mapeando Memórias
Carros Antigos
Orquestras – Banda Basm
Brique da Vila Belga
19h Mapping em edifício da Avenida Rio Branco
Todas as atividades têm entrada franca

A partir das 21h, confraternização de encerramento (por adesão) no Left+ da Vila Belga (Manuel Ribas, 1991)

LabCriativo do Mercado da Vila Belga (Rua Manoel Ribas, 2038, Distrito Criativo Centro-Gare)
Inscrições aqui

Certificados: até 60 dias após a conclusão do evento

Colaboração da acadêmica de Jornalismo Isadora Rodrigues.

  • Com informações de Assessoria de Imprensa/ Jornalista Bebeto Badke







 

O programa De Papo com está de volta com episódios inéditos. Um programa sobre jornalismo a partir de jornalistas. A convidada da vez é Thays Ceretta, jornalista e radialista da Rádio Verde Oliva, emissora da Fundação Cultural do Exército Brasileiro, e egressa do curso de Jornalismo da UFN.

Thays se formou em 2012 e tem uma trajetória marcada por passagens em diferentes veículos de comunicação, como RBS TV, TV Pampa e TV Diário. Durante o bate-papo, ela relembra momentos emocionantes da sua carreira e compartilha experiências que marcaram sua atuação como jornalista.

O programa vai ao ar nesta sexta-feira, 11 de abril, às 19h30, na UFN TV, canal 15 da Net, e também no YouTube do LabSeis. Você pode acompanhar cortes das entrevistas no Instragam do programa e no Instagram do LabSeis. Por lá, você confere em primeira mão os próximos convidados e temas das futuras edições.

Em 2024, foram 23 programas que trouxeram nomes como Marcelo Canellas, que foi repórter especial do Fantástico da TV Globo por décadas e atualmente trabalha com streaming; Silvana Silva, que atuou como editora-chefe do Diário de Santa Maria no Grupo RBS e hoje atua em assessoria de comunicação; Lucas Amorim, jornalista e radialista da Rádio Gaúcha Santa Maria; Fabiana Lemos, repórter da RBS TV de Porto Alegre; Rômulo D’Ávila, repórter da TV Globo São Paulo; entre outros nomes que reportam histórias e fazem história no jornalismo. Veja as entrevistas na playlist do programa no YouTube do LabSeis.

De Papo Com é uma produção laboratorial do Curso de Jornalismo da UFN, apresentado pelos acadêmicos do 5º semestre, Yasmin Zavareze e Nicolas Morales; com Ana Cecília Montedo, Isadora Rodrigues e Thine Feistauer na produção; Alexsandro Pedrollo na operação de câmera e direção de fotografia; Jonathan de Souza no switcher e finalização; Emanuelle Rosa na identidade visual; e direção geral da professora Neli Mombelli.

Texto e fotos: divulgação LabSeis

 A época escolar é uma etapa de formação individual que, para muitos, está repleta de memórias marcantes. E o mais interessante é que esse processo ocorre dentro de um meio coletivo, que permite realizar trocas com outros indivíduos, estabelecer laços e, ao mesmo tempo,  ter contato com outras mentalidades e estilos de vida. Muitas vezes, é nesses ambientes onde afloram as primeiras amizades, se formam os primeiros grupos e até se descobrem as primeiras paixões. Essas lembranças são frequentemente associadas a uma memória afetiva que caminha em sintonia com o processo de aprendizagem e aquisição de conhecimento. No entanto, ao explorarmos o papel da educação pública nesse cenário, emergem questões que vão além das recordações pessoais e tocam temas sociais e estruturais. A escola é um ambiente que zela pela preparação cognitiva e intelectual das pessoas que integram uma sociedade. Porém, quando se trata das escolas estaduais, muitas vezes não retrata o que se espera para um sistema educacional eficaz.

Em primeira análise, é preciso partir do princípio de que o acesso à educação pública é um direito de todos, garantido pela Constituição. Esse direito é um valor e um objetivo a unir toda a população e que deve ser sustentado pelos formuladores de políticas públicas em todos os níveis geográficos.

 Em Santa Maria, as escolas Manoel Ribas (Maneco), Cilon Rosa e Maria Rocha, da rede estadual de ensino da região, passaram por transformações significativas ao longo das últimas décadas. Ao explorar essas histórias de transformação, busca-se entender como essas escolas não apenas se adaptaram às novas demandas educacionais, mas também como impactam a vida de alunos e educadores. 

Segundo o IBGE, em 2023, cerca de 80% dos estudantes brasileiros do ensino básico estavam matriculados em escolas públicas, fator que reflete a dependência de um sistema educacional acessível por uma grande parcela da população. Para Celma Pietczak, professora e coordenadora na escola Maria Rocha, o maior impacto positivo, com o passar dos anos, foi a formação profissionalizante. Ela exalta os cursos profissionalizantes disponibilizados pela escola, e com isso, a demanda de profissionais que acaba crescendo e impactando a sociedade. Um ponto de fragilidade destacado por Pietczak é a questão estrutural. Para ela as verbas destinadas para a escola não dão conta da demanda que se tem e, por muitas vezes, acaba-se gerindo o colégio com menos dinheiro do que seria o necessário.

Celma Pietczak é coordenadora da escola Maria Rocha. Imagem: Nelson Bofill/LABFEM

Segurança em Risco: O Desafio da Proteção nas Escolas

De acordo com o resultado da Pesquisa Nacional de Saúde do Escolar (PeNSe), de 2019, conduzida pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e publicada em 2022, 17,3% dos estudantes consultados relataram que faltaram a alguma aula devido a problemas com segurança. O quadro é alarmante: em 2009, quando teve início a pesquisa, esse número era de apenas 8,6%. O estudo, que tem o apoio do Ministério da Educação, conta com a participação de adolescentes na faixa etária de 13 a 17 anos.

Durante a apuração foi possível observar que a problemática da precariedade da segurança é um ponto em comum que afeta as três escolas. Para Celma, a segurança é um fator preocupante. “Até um determinado horário tem gente na portaria, no entanto, tem horários que a gente não tem ninguém. Se o responsável sai, a gente tem que controlar o portão lá na direção, nós não temos ninguém que possa garantir a integridade desse processo. O entorno da nossa escola também tem complicações com relação a isso. A gente tem a situação de um aluno nosso que saiu e apanhou na quadra. Pessoas que não eram daqui, que eram de outra escola, vieram por causa de um conflito particular e bateram nele no entorno da escola.”, comenta a vice-diretora.

O cenário não é diferente na escola Cilon Rosa. Para a diretora Maribel da Costa Dal Bem, não existe nenhuma segurança nas escolas públicas hoje em dia: “Constantemente envio ofícios para a coordenadoria da escola solicitando melhorias no que diz respeito à questão da segurança pública. É muito difícil. […] O Cilon, como é uma escola com um alto número de alunos, a saída é sempre uma aglomeração, independente do horário. […] Nós precisaríamos de um policiamento aqui. Hoje, nós enquanto escola não conseguimos lidar com isso. […] O governo deveria pensar nessa segurança.”

Já na escola Manoel Ribas (Maneco), o estudante Ernesto Corrêa relata que nunca viu nenhuma briga, mas já ouviu diversos relatos de amigos e colegas. Ele também pontua que é muito raro ver policiamento fazendo a segurança da escola, só em ocasiões mais sérias. Apesar disso, ele diz sentir-se seguro para voltar para casa.

No estado do Rio Grande do Sul como um todo, a segurança nas escolas estaduais tem sido um tema de preocupação crescente. O estado enfrenta desafios específicos relacionados à violência escolar, como agressões físicas entre alunos, furtos e até situações mais graves, como ameaças envolvendo armas. Segundo dados da Secretaria da Educação do Rio Grande do Sul (SEDUC), em 2022, cerca de 10% das escolas estaduais relataram incidentes violentos. 

Desafios da Estrutura Escolar: Necessidades e Melhorias para um Ambiente Adequado

Questões estruturais acabam virando o centro de discussões quando se fala em escola pública e em Santa Maria acontece o mesmo. As três escolas já mencionadas tem suas deficiências estruturais. Recentemente, a escola Manoel Ribas (Maneco) juntamente com uma parceria entre a Secretaria da Educação (Seduc) e o Movimento União BR, com fiscalização da Secretaria de Obras Públicas (SOP), concluíram a reforma do telhado. O investimento foi avaliado em mais de 647 mil reais. 

Infográfico sobre as infraestruturas das escolas de Santa Maria em 2023. Fonte: QEDU

O vice-diretor da escola, Helder Luiz Santini, ressalta que algumas pequenas reformas acabam demorando pelo fato do prédio ser um patrimônio do estado, no qual existem regras que impossibilita algumas mudanças sem passar por uma avaliação antes. Sobre a reforma no telhado, o vice-diretor afirma que foi uma “briga” conseguir a autorização para a reforma. Briga essa que se tornou de extrema importância, tendo em vista que a escola alagava quando chovia, e com as fortes chuvas que assolaram o estado do Rio Grande do Sul em maio, a reforma se tornou necessária. Para o estudante Ernesto Corrêa, a escola tem bastante pontos a serem melhorados, salas com vidros e janelas quebradas, e o telhado esburacado. Ele também conclui que por ser um patrimônio histórico, entende as obras demorarem para serem concluídas.

Hélder Santini é vice-diretor da escola Manoel Ribas, o Maneco. Imagens: Vitória Oliveira/LABFEM

Esse problema também pode ser observado nas escolas Maria Rocha e Cilon Rosa quando aconteceram as chuvas torrenciais de maio. “Realmente alagaram os corredores, laboratórios de informática, teve banheiro que parecia uma cachoeira. Teve gente que subiu no telhado do prédio da escola, que possui 4 andares, para fazer uma limpeza. Não temos verbas para chamar profissionais especializados para exercer essas funções. Então, de fato, em termos de estrutura, na minha opinião, nos sobressaímos em relação às demais escolas da rede estadual, porém, ainda estamos em uma situação bastante deficitária.” diz Celma Pietczak, professora e coordenadora na escola Maria Rocha. 

Segundo a diretora do Cilon Rosa, Maribel da Costa Dal Bem, desde os anos 2000 ela pode perceber um processo de degradação na infraestrutura do colégio. Ela explica que, ao ingressar na instituição no início daquela década, a estrutura já enfrentava problemas frequentes com pichações e com as fortes chuvas, que ocasionaram o alagamento das dependências internas.  Com o passar dos anos foram efetuadas melhorias através de reparos nos espaços internos e externos da instituição, como no pátio, nos corredores e nas salas de aula. 

Maribel conta sobre os desafios enfrentados diariamente pela escola Cilon Rosa. Imagem: Nelson Bofill/LABFEM

Evasão Escolar: Causas, Impactos e Caminhos para a Retenção dos Estudantes
O censo escolar 2023, divulgado no final de fevereiro de 2024 pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (INEP), apresenta uma tendência de redução do papel da educação pública, enquanto escolas particulares ganham terreno. Isso ocorre também a nível estadual, onde é ainda mais forte o recuo do papel do Estado frente à iniciativa privada. 

Taxas de rendimento por etapa escolar nas instituições estaduais de ensino de Santa Maria – RS

Celma destaca que, apesar do aumento no número de alunos no primeiro ano do ensino médio de 2023 para 2024, se observarmos um recorte mais amplo, englobando a última década, realmente houve uma diminuição drástica no número de estudantes que frequentam a escola. Ela relata que no ano de 2012, quando ingressou na instituição, a escola contava com doze turmas de primeiro ano, sendo possível notar uma nítida retenção em relação aos últimos anos. Celma ainda argumenta que a reforma do ensino médio contribuiu de maneira significativa para a disparidade em relação às instituições de ensino privadas: “A alteração que teve na matriz do ensino médio deixou tudo muito incerto, com isso muitas disciplinas novas foram adicionadas à grade curricular, e a percepção que eu tenho é que não há uma formação profissional adequada para isso, o educador precisa ir se moldando, dependendo muito do esforço dele.” Além disso, ela acredita que o fato dos estudantes vislumbrarem uma preparação mais direcionada aos vestibulares e ao ENEM, contribuiu para esse movimento no contexto educacional, afinal, as escolas privadas possuem mais autonomia no que tange a esse processo do que as escolas públicas, que necessitam seguir a risca o protocolo imposto pelo governo do estado.

No país, a quantidade de matrículas na educação básica da rede pública em 2023 reduziu para 37,9 milhões, frente a 38,4 milhões em 2022 – uma queda de 1,34%. Ao mesmo tempo, as matrículas na rede privada passaram de 9 milhões em 2022, para 9,4 milhões, em 2023.

Essa realidade pôde também ser observada na escola Manoel Ribas. Helder explica que ocorreu uma queda no número de alunos por turma. Ele ainda ressalta que, por muito tempo, as salas estavam completamente lotadas, com mais de 30 alunos, realidade que hoje não existe mais. Ele completou alegando que muitos jovens preferem trabalhar e acabam saindo do ambiente escolar. Outro ponto destacado pelo vice-diretor é de que a evasão escolar não se dá somente pela troca da educação pelo trabalho. Santini alega que cada vez mais no Brasil a taxa de natalidade vai diminuindo, fator esse que acaba justificando a baixa de alunos nas escolas. Dados de 2021 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) registrou um recorde de mortes, o maior desde 1974, e queda de nascimentos, a maior desde 2003.

Maneco faz parte da história da cidade desde 1930

O Colégio Manoel Ribas, popularmente conhecido como Maneco, foi fundado em 1930 e tem uma longa história de contribuição para a educação pública em Santa Maria. Como uma escola estadual, o Maneco foi responsável por formar muitas gerações de estudantes, com destaque para o ensino médio e técnico, focando em uma educação de qualidade e acessível. Com o passar do tempo, o colégio se destacou por sua tradição acadêmica e por sua participação em eventos culturais e esportivos da cidade.

Atualmente a escola conta com aproximadamente, 2.600 alunos, 140 professores e 36 funcionários, divididos em três turnos.

Maneco foi inaugurado em 1930. Foto: Labfem

A Banda Marcial Manoel Ribas foi fundada em 20 de outubro de 1956, a mais antiga em atividade no Rio Grande do Sul. Para participar da banda naquela época, era exigido que os alunos tivessem boas notas. A banda se tornou referência no Rio Grande do Sul e era convidada para viajar por diversas cidades do estado. Em Santa Maria, era presença confirmada em qualquer festividade. Os anos passaram e a tradicional Banda do Maneco não parou no tempo. Após viver seus tempos áureos com grandes apresentações, começou a participar de campeonatos de bandas marciais e de fanfarras, onde fez, e ainda faz bonito. Referência no Rio Grande do Sul, o grupo vem colecionando premiações em diferentes concursos disputados pelo estado, brigando sempre pelas primeiras colocações.

Colégio Cilon Rosa contava com aulas de corte, costura, rendas e bordados em 1946

Fundado em 1946, o Colégio Estadual Cilon Rosa também faz parte do cenário educacional de Santa Maria. Em 26 de agosto foi criada a Escola Artesanal Dr. Cilon Rosa, de Santa Maria, onde eram oferecidos cursos de corte e costura, rendas e bordados, com duração de dois anos. A escola não tinha sede própria e funcionou no prédio do Colégio Manuel Ribas, com total de 36 alunas. Em 1957 a escola passou a ser denominada Escola Industrial Cilon Rosa, quando foi instalado o curso de Aprendizagem Industrial Cilon Rosa. De 1963 a 1967 o número de matriculados chegou a 713 alunos, passando a denominar-se Colégio Industrial Cilon Rosa.

Em 1966 a escola passou a ocupar um pavilhão do prédio da nova sede à Avenida Presidente Vargas. Em 1971, com a conclusão do 2º pavilhão, a escola passou ocupar sua sede própria. 

O Cilon Rosa se destacou ao longo dos anos por promover um ambiente de inclusão e uma educação voltada para o desenvolvimento integral dos alunos, com ênfase no fortalecimento da cidadania e nos valores sociais.

Cilon Rosa começou sua história como uma escola de corte e costura. Imagem: Labfem

Colégio Maria Rocha começou como escola ginasial anexada à escola Olavo Bilac

O Colégio Maria Rocha recebeu esse nome em homenagem à Maria Manuela Rocha, filha de Manoel Marques da Rocha e Bertholina Junqueira Rocha, que era professora. A história da escola tem muitos capítulos que podem ser acompanhados aqui.

Também pertencente à rede pública estadual, o Maria Rocha focou-se no atendimento à comunidade local e na promoção de uma educação de qualidade para crianças e adolescentes. Ao longo de sua história, o Maria Rocha desenvolveu atividades que integravam a escola com a comunidade, promovendo eventos culturais, esportivos e cívicos. Atualmente a escola conta com, aproximadamente, 1200 alunos e cerca de 100 professores e funcionários, divididos em três turnos.

Perspectiva Histórica

Esses colégios são testemunhas da evolução do ensino público em Santa Maria, refletindo as transformações sociais e educacionais da cidade ao longo do século XX. Com a crescente urbanização, as instituições educacionais assumiram um papel central no desenvolvimento das comunidades locais, sendo espaços não apenas de ensino, mas também de formação cidadã e cultural.

Além disso, a história dessas escolas está ligada às políticas educacionais do estado do Rio Grande do Sul e às necessidades emergentes da população em diferentes momentos históricos, como a expansão do ensino médio e técnico, e a busca por uma educação mais inclusiva e de qualidade.

Reportagem produzida por Isaac Brum, Gabriel Deon e Thomás Ortiz na disciplina de Narrativa Multimídia, no 2º semestre de 2024, sob orientação da professora Glaíse Bohrer Palma.

De tempos em tempos, o mercado imobiliário se transforma, a depender da situação econômica e política do país.

Segundo a professora do curso de Economia da UFN, Taíze Lopes, o público trabalhador  depende dos bancos públicos na hora de comprar um imóvel na cidade e, caso as condições de financiamento sejam altas e restritas, as chances de ocorrer uma compra e venda ficam mais difíceis. “Períodos de recessão, alta taxa de juros ou alta taxa de desemprego levam este público a ter dificuldades de financiamento.”, frisa a professora. 

Em 2015, uma pesquisa realizada pela consultoria Prospecta Inteligência Imobiliária mostrou que na lista de 100 melhores cidades do Brasil para investir em imóveis , o município de Santa Maria estava na 79ª posição. A pesquisa indicou à época que a cidade tinha um déficit habitacional de 28,17%, enquanto outras acima do ranking estavam acima de 30%. 

Taize pontua que “Santa Maria tem passado por um boom imobiliário, pois há investidores que desejam colocar seu dinheiro em um bem, que quase sempre só se valoriza.” Além disso, a professora destaca que as taxas de juros são definidas pelos próprios bancos.

Taxa de juros de cada banco do mês de Outubro/2024 extraídas do site do Banco Central do Brasil  

“Há um grupo de trabalhadores que financiam seus únicos imóveis com entrada usando o FGTS. Este público financia em torno de 30 anos, mas consegue pagar antes dos 30 anos, justamente por causa do FGTS acumulado a cada ano” , pontua a professora. 

Segundo o proprietário da Cancian Imóveis, Giuliano Cancian, que atua no ramo imobiliário há 20 anos, em 2019 o mercado estava em crescimento na cidade. Neste período, a empresa se reinventou e Giuliano dividiu a equipe em presencial e home office. “A empresa deu todo suporte para os moradores ao invés de proporcionar um atendimento frio, como outras imobiliárias fizeram. E funcionou, pois a empresa cresceu em todos os aspectos”, relata o dono da imobiliária. 

Apesar da pandemia, 2020 e 2021 foram os anos de maior venda na história da Cancian Imóveis. Foto: Nelson Bofill/LABFEM 

Segundo Cancian, o lucro aumentou durante os anos de 2020 e 2021. “Na pandemia, nunca as pessoas utilizaram tanto os seus imóveis. Como elas ficaram em casa, deram mais valor para o seu lar. Naquela época, também a taxa selic estava muito baixa, então o crédito estava barato, o juro estava baixo para você financiar”, comenta o empresário.

No ano de 2023, o empresário ressalta que foi um ótimo ano para a empresa devido a volta total das faculdades. “Em 2022 ainda tava naquele misto um pouco home office e presencial. Então, neste período alguns estudantes acabaram entregando o imóvel, e voltando para a sua terra natal, pois eles não quiseram deixar o apartamento fechado.“, frisa o empresário. 

Segundo dados do IBGE, em abril deste ano a cidade tinha 17 mil imóveis fechados. Foto: Michélli Silveira/LABFEM

Por outro lado, há também as dificuldades dos pequenos empresários. Este é o caso do proprietário da Douglas Maia Imóveis, envolvido no mercado imobiliário desde 2014 quando entrou no ramo por meio da empresa Casarão Imóveis. O empresário abriu a sua própria empresa em 2023, e ressalta que o maior aprendizado que se tira de momentos como a pandemia e as enchentes é o de possuir um capital de giro que será utilizado caso for necessário para sustentar a empresa. “O mercado é um ramo competitivo e sendo menor em tamanho, nem sempre teremos um capital disponível para enfrentar crises”, pontua Douglas Maia. 

O mercado imobiliário de Santa Maria passou por transformações significativas nos últimos anos, impulsionadas pela pandemia e pelas condições econômicas. Para os próximos anos, a cidade necessita de uma melhor infraestrutura para a segurança de atuais e futuros moradores, o que irá atrair novos investimentos dentro do ramo imobiliário. 

Veja a seguir o debate sobre Mercado Imobiliário.

Reportagem produzida por Nicolas Krawczyk na disciplina de Narrativa Multímidia no 2ª semestre de 2024, sob a supervisão da professora Glaise Palma.

Santa Maria é conhecida por ser um polo acadêmico de peso, porém grande parte dos estudantes formados aqui mudam de cidade após ingressar no mercado de trabalho. Foto: Michélli Silveira/LABFEM

Entre idas e vindas, Santa Maria é conhecida por ser uma cidade universitária que forma acadêmicos em instituições de ensino e capacita-os para ingressar no mercado de trabalho após a entrega do diploma. A cidade recebe interessados em começar o ensino superior que moram em cidades vizinhas, na região sul e em outros estados. Entretanto, apenas a qualidade de ensino é ressaltada quando estes jovens se formam e decidem como irão seguir com suas carreiras. A ideia de permanecer e trabalhar na cidade é percebida em poucas falas quando o tema “futuro” é colocado em pauta.  

Para os que permanecem na cidade, a tendência explorada é a capacitação para aprimorar conhecimento e se tornarem aptos para buscar empregos com salários mais altos. Para os que partem, a busca por oportunidades surge com a mudança de ares, explorando lugares e empresas que Santa Maria ainda não possui. O empreendedorismo surge como uma terceira via para aqueles que querem se diferenciar daqueles que fazem parte do mesmo mercado de trabalho.  A seguir você confere três perspectivas diferentes de profissionais que compartilham suas experiências e percepções sobre a vida acadêmica e profissional em Santa Maria. 

 O Desafio do Mercado 

Francinny Nunes se formou no curso de Publicidade e Propaganda em 2019 na Universidade Franciscana e depois de permanecer por 1 ano em Santa Maria, escolheu voltar para sua cidade natal por um mercado de comunicação mais amplo. Foto: Arquivo Pessoal

Francinny Nunes, publicitária de 27 anos, natural de Quaraí, escolheu Santa Maria em 2015 pela proximidade de sua cidade natal e pela qualidade do ensino da Universidade Franciscana (UFN). Após um ano e meio de formada, sua perspectiva mudou drasticamente com a pandemia. “Faltam empregos e um plano de carreira para quem se forma em Comunicação. Santa Maria parece ter um prazo de validade para os estudantes. A maioria acaba indo embora assim que se formam, pois o mercado é limitado”, afirma Francinny. 

Ela destaca que as oportunidades e salários como pessoa jurídica são muito melhores fora da cidade. Mesmo com os desafios impostos pela pandemia, a área de comunicação permanece pouco explorada em Santa Maria, onde muitos empreendimentos focam no marketing digital e em serviços terceirizados, como produção de eventos. 

A publicitária recorda que, em 2015, as opções eram escassas: “Era Santa Maria ou Porto Alegre. Optei por Santa Maria por ser mais perto e porque passei de primeira no vestibular. O plano de estudo da UFN era ótimo, e jamais trocaria isso”. No entanto, após a formatura, as circunstâncias mudaram. “Permaneci em Santa Maria por um ano e meio, mas com a pandemia, pedi demissão e voltei para Quaraí, onde trabalho como PJ (pessoa jurídica) até hoje.” 

Quando questionada sobre o que poderia tê-la feito ficar, ela responde: “Talvez se o mercado da comunicação fosse maior e mais valorizado, eu teria mudado de ideia. O que ganho como PJ hoje, jamais ganharia como CLT em Santa Maria”. 

Ela ainda observa que a cidade não está preparada para a quantidade de estudantes que se formam anualmente. “Falta emprego, plano de carreira, entretenimento e cultura. Esse foi um dos pilares que me fez ir embora durante a pandemia e não querer voltar mais.” 

A busca por pertencimento 

Ana Paula, formada em Psicologia, se graduou em 2019 mas com a chegada da pandemia escolheu regressar para Uruguaiana, sua cidade natal, para ter oportunidades de emprego. Foto: Arquivo pessoal

Ana Paula Devitte Fontes, psicóloga de 28 anos, mudou-se para Santa Maria após o ensino médio, com o objetivo de cursar Psicologia na UFN. Após a formatura, em 2019, a pandemia complicou suas chances de emprego e ela retornou para Uruguaiana. “Acredito que sempre vi Santa Maria como um lugar transitório. Se tivesse encontrado melhores oportunidades, poderia ter permanecido mais tempo. A falta de um sentimento de pertencimento contribuiu para minha decisão de sair”, revela Ana Paula.  

De acordo com o IBGE, com base nos dados coletados no Censo em 2022, Santa Maria tem a população jovem como dominante no município. Cerca de 22.869 dos habitantes têm a faixa etária de 20 a 24 anos.  

Censo 2022: População por idade e sexo – Resultados do universo

A visão do comércio Santa-mariense 

Ademir José da Costa é presidente do Sindilojas e vice de Varejo da Fecomércio-RS
Foto: Aryane Machado/LABFEM

A evasão de jovens universitários em Santa Maria é considerada um fenômeno normal para Ademir José da Costa, presidente do Sindilojas região central. Ele destaca que em uma cidade, que possui 2 universidades e 8 faculdades, com uma população universitária significativa, a retenção de jovens formados representa um desafio constante. “A retenção não vai ocorrer muito. Sabemos que se a gente pudesse reter aqui metade dos jovens que formam, a cidade daria um pulo de qualidade, mas a gente não consegue. Então, é normal essa situação da juventude buscar outros voos.”, ressalta o empresário. 

A preparação inadequada dos estudantes no ensino médio e na graduação contribui para essa evasão: “As universidades têm que formar gente olhando para o lado mais técnico. De maneira geral, as universidades estão formando gente para ser focada em concursos públicos. Isso tem que mudar. A cabeça das universidades tem que gerar empreendedores.”, afirma Ademir. Outro aspecto abordado é o imediatismo: “Os jovens, hoje em dia, buscam resultados rápidos sem ter paciência para esperar que seu negócio tenha êxito.” Ainda de acordo com ele, em Santa Maria, 80% dos empregos são gerados pelo comércio e serviços, limitando a oferta de salários mais altos, uma vez que a matriz industrial da cidade é pequena. Ele acredita que a retenção dos recém-formados depende da capacidade dos jovens de identificar setores promissores: “O jovem precisa pesquisar os setores que estão gerando mais oportunidades hoje, olhando para o futuro, pensando se o mercado não irá saturar de tudo isso.” Ele cita a informática e a tecnologia como áreas em alta, dada a crescente automação nas empresas. “Todos aqueles serviços que são possíveis de serem feitos por máquinas que facilitam a vida do ser humano vão estar sempre em tendência.”, afirma Ademir. 

Atualmente, Santa Maria conta com cerca de 74 mil empregos privados, dos quais aproximadamente 45 mil são gerados pelo comércio e serviços. Ademir reconhece que isso traz desafios para a geração de empregos de qualidade. “Nesse sentido, a gente tem um problema da geração do emprego e da retenção das pessoas. As pessoas se graduam e querem trabalhar naquela área, sabe? Mas nem todos os cursos que têm em Santa Maria mantêm essas ofertas de emprego para todo mundo.” 

Para Ademir, a retenção de jovens em Santa Maria não depende apenas de um ambiente econômico mais favorável, mas também de uma transformação na educação que prepare os estudantes para um mercado em constante evolução. A mudança de mentalidade e a busca por novas oportunidades podem ser o caminho para que a cidade não apenas retenha seus talentos, mas também prospere. 

Desafios de uma profissional em busca de crescimento 

Franciele Moreira, natural de Formigueiro, se formou em Administração em 2018 na FISMA e veio para Santa Maria em busca de oportunidades de trabalho e estudo.
Foto: Michélli Silveira/LABFEM

Franciele de Oliveira é assistente financeira e tem 30 anos. Formada em Administração desde 2018, na Faculdade Integrada de Santa Maria (FISMA), veio de Formigueiro em busca de oportunidades. Embora tenha se adaptado à vida na cidade, ela também sentiu falta de oportunidades para os formados em sua área. “Profissionalmente, trocaria de cidade sem pensar duas vezes. Santa Maria parou no tempo. O mercado é escasso e as oportunidades são limitadas. O custo de vida alto torna a situação ainda mais complicada”, afirma. Segundo o site Expatistan, que calcula o custo de vida nas cidades do mundo, o custo mensal para uma única pessoa morar em Santa Maria é o valor de R$3.257,00. Apesar do aumento salarial anunciado em 2024, passando para R$1.412,00, a inexistência dos planos de carreira se torna um dos fatores para escolher sair da cidade, assim como a falta de benefícios oferecidos pelas empresas, como vale alimentação e plano de saúde.  

Para Franciele, o empreendedorismo pode ser uma saída, mas enfrenta desafios como a alta concorrência e os custos iniciais elevados. “Faltam empresas que fomentem o crescimento profissional na cidade. O distrito industrial, que poderia ser uma solução, está subutilizado”, ressalta Franciele. Entre os assuntos citados pelos candidatos à prefeitura de Santa Maria nas eleições municipais de 2024, o apoio ao Distrito Industrial surge para atrair eleitores que criticam o descaso com o distrito, sendo um dos geradores de emprego da cidade.

Empreender pode ser uma via? 

Mateus Frozza é professor universitário e coordenador do curso de Administração da UFN.
Foto: Nelson Bofill/LABFEM

A vontade de sair de Santa Maria é um tema comum nas conversas dos jovens sobre o mercado de trabalho. Mateus Frozza, professor e coordenador do curso de Administração na Universidade Franciscana, além de mestre em Ciências Econômicas, ressalta que a cidade enfrenta um grande desafio para manter seus formandos. Segundo ele, há muitas oportunidades fora de Santa Maria. “Formamos muitos profissionais mas, com tantas opções disponíveis em outros lugares, é natural que os jovens queiram buscar novos caminhos”, explica. 

Frozza observa que muitos recém-formados parecem descompromissados com as exigências do mercado, buscando flexibilidade e qualidade de vida em vez de empregos que exigem mais dedicação. “O que as empresas esperam são profissionais que valorizem a responsabilidade e o cumprimento de horários. Essa desconexão entre o que os jovens querem e o que o mercado oferece é uma barreira”. Enfatiza a importância de reconhecer as diversas oportunidades que surgem em torno das indústrias e serviços em Santa Maria, como contabilidade, marketing e finanças, áreas que ainda precisam de profissionais qualificados. 

Além disso, o professor sugere que o empreendedorismo pode ser uma saída viável para aqueles que não se veem inseridos nas profissões tradicionais. “Se os jovens olharem para o que está sendo demandado, como a criação de conteúdo e serviços digitais, poderão encontrar caminhos promissores”, analisa. Ele argumenta que, assim como a diferenciação de produtos no mercado, os profissionais também devem se destacar em suas áreas para garantir sua relevância. 

Frozza destaca que a cidade, com suas universidades e instituições de ensino, tem um potencial incrível para formar líderes e inovadores. “Os jovens precisam enxergar que a educação vai além do diploma; é uma ferramenta para se tornarem agentes de mudança em Santa Maria”. Para ele, criar um ambiente de colaboração entre estudantes, empresários e instituições pode ser a chave para revitalizar a economia local e manter os talentos na região. 

Assim, para o professor, manter os jovens em Santa Maria vai além de apenas oferecer empregos. É uma oportunidade de mudar a forma de pensar e de se preparar para o mercado. Estar disposto a buscar novas chances e a inovar pode realmente ajudar a cidade a se desenvolver. Se os jovens se dedicarem a isso, Santa Maria não só poderá reter seus talentos, mas também crescer e ter um futuro mais promissor. 

Entre permanência e partida 

Uma pesquisa exploratória realizada por nossa equipe de reportagem revelou aspectos importantes sobre a intenção de permanência de universitários em Santa Maria após a graduação. De 43 entrevistados, 70% não são naturais da cidade e vieram para cursar o ensino superior. No entanto, 24 desses estudantes afirmaram não ter planos de permanecer no município após se formarem, enquanto outros 19 estudantes responderam que pretendem continuar em Santa Maria. 

Entre os motivos mais citados pelos que desejam deixar a cidade, destacam-se a falta de oportunidades para desenvolvimento profissional e a ausência de mercado de trabalho em diversas áreas. Um dos participantes ressaltou que, apesar das boas opções de ensino, “as condições para o desenvolvimento pós-graduação são limitadas e as áreas de trabalho estão ficando escassas”. A pesquisa questionou o que teria que mudar para que os jovens permanecessem na cidade: a necessidade de mais cursos de pós-graduação, maior número de oportunidades de emprego e incentivo ao empreendedorismo tiveram destaque entre as respostas. Também foram citadas melhorias no transporte público, condições mais acessíveis para jovens inexperientes e ajustes nos valores de serviços. “Seria necessário que a cidade se desenvolvesse em áreas socioculturais e abrisse mais espaços para a juventude”, afirmou outro participante. 

Por outro lado, o questionário também apontou os motivos daqueles que planejam permanecer em Santa Maria após a formatura. Para muitos, a cidade oferece condições favoráveis e uma estrutura que outras localidades, especialmente interioranas, não conseguem proporcionar. Um dos participantes comentou que Santa Maria é uma cidade “que proporciona oportunidades melhores, mesmo com muitos profissionais na minha área, é uma cidade que ‘abraça’ todos”. Ele destacou que, em comparação com sua cidade natal, o município é mais desenvolvido e oferece melhores condições de vida. 

Outros estudantes mencionaram a variedade de opções de entretenimento, comércio e lazer. “Aqui tem mais atrativos não só na área de trabalho, mas em outros aspectos, como entretenimento e lazer”, comentou um entrevistado. Outro participante reforçou a vantagem do custo de vida na cidade, mencionando que “Santa Maria possui um potencial grande e um custo de vida bom para os padrões atuais”. Para alguns, o desejo de permanecer está ligado ao fato de já estarem bem adaptados à vida na cidade. “Me adaptei à cidade, não quero voltar para a minha antiga, e já tenho um lugar fixo para morar, sem pagar aluguel”, declarou um participante. Outros planejam ficar até se estabilizarem financeiramente, para então decidir sobre o futuro. 

Os dados mostram que, embora muitos estudantes planejem partir após a graduação, uma parcela significativa encontrou em Santa Maria um lugar para viver, construir uma carreira e desenvolver laços com a cidade.  

Acompanhe a seguir o debate sobre o tema.

Reportagem produzida por Aryane Machado, Michélli Silveira e Luíza Maicá Gervásio na disciplina de Narrativa Multimídia, no 2º semestre de 2024, sob orientação da professora Glaíse Bohrer Palma.

A 11ª edição da Mostra Integrada de Produções Audiovisuais (MIPA) da UFN traz o tema: “O que nos move?”, convidando todos a refletirem sobre o que inspira e impulsiona a criação e a produção audiovisual, conectando as ideias e os sentimentos que nos motivam no dia a dia. O evento ocorre no dia 11 de dezembro, às 20h, no pátio do prédio 14, no Conjunto III da UFN. A entrada é aberta ao público.

Organizada pelo LabSeis, o Laboratório de Produção Audiovisual dos cursos de Jornalismo e Publicidade e Propaganda, a MIPA tem o objetivo de incentivar a produção e o compartilhamento das criações audiovisuais dos alunos da universidade. Ao longo dos anos, a Mostra tem se tornado um espaço importante para os estudantes exporem seus trabalhos.

PERÍODO DE INSCRIÇÃO:

As inscrições para a 11ª MIPA estão abertas até o dia 29 de novembro de 2024. Qualquer estudante ou egresso da UFN pode participar, desde que o audiovisual tenha sido produzido no âmbito de alguma disciplina ou laboratório da instituição a partir de 2023. Os interessados devem inscrever seus trabalhos em uma das seguintes categorias do edital:

  • Ficção
  • Documentário
  • Crônica Audiovisual
  • Experimental
  • Videoclipe
  • Animação

As inscrições podem ser feitas por meio de um formulário disponível no site da Mostra. O limite máximo de duração das obras é de 20 minutos. Para mais detalhes sobre critérios de avaliação e seleção, acesse o edital no site oficial da MIPA.

Os trabalhos selecionados serão divulgados no dia 6 de dezembro, pelo Instagram @lab_seis e pelo site www.labseis.ufn.edu.br.

A MIPA se destaca por ser um espaço de troca entre os alunos dos cursos de comunicação da UFN e também entre o público. Ela dá a chance para os estudantes experimentarem e apresentarem diferentes formatos de audiovisual, além de ser uma oportunidade para o público conhecer a produção dos futuros profissionais da área.

Maria Eduarda Rossato, estudante de Jornalismo da UFN e diretora do curta-metragem “Desejo errado”, que será exibido na 11ª MIPA, destacou sobre a experiência de criação do filme. “A gente se preocupou muito com os detalhes na hora de criar o curta. Antes e durante as gravações, a equipe se reunia para planejar os cenários, os objetos, as falas, e até os movimentos de câmera. A gente queria que tudo fosse bem pensado, para não deixar nada passar batido”, conta a acadêmica. Para ela, essa atenção aos detalhes fez toda a diferença para o resultado final.

No entanto, como em qualquer trabalho coletivo, o processo não foi sem desafios. “O maior desafio foi ouvir as opiniões dos colegas e saber escolher o que fazia sentido. Tinha muita ideia boa, mas era preciso filtrar o que realmente funcionava para o projeto. Decidir sozinho pode ser difícil, mas também é importante tomar essas decisões”, explica a diretora.