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50 anos de Stonewall e as conquistas do movimento LGBTQ+

Nova York, 28 de junho de 1969. Como de costume, durante a madrugada, policiais invadiram o bar Stonewall Inn. Nessa noite, gays, lésbicas, transexuais e drag queens, decidiram não tolerar mais o abuso durante as batidas

Internacional Week: desafios da internacionalização é tema de debate

Na tarde desta quinta-feira(22), as convidadas para compartilhar suas experiências na Internacional Week no Centro Universitário Franciscano foram a professora Lurdes Lomba, da Escola Superior de Enfermagem de Coimbra, Portugal, e  Margarita Poblete Troncoso, professora da Universidad Catolica

O domingo, 8 de setembro de 2024, marcou o encerramento dos Jogos Paralímpicos de Paris, que foram um espetáculo de superação e conquistas. O Brasil teve um desempenho histórico, conquistando sua melhor colocação em uma edição dos Jogos Paralímpicos ficando no top 5 do quadro de medalhas. Com 89 pódios, sendo 25 medalhas de ouro, 26 de prata e 38 de bronze, o país superou a campanha anterior de Tóquio, onde havia terminado em sétimo lugar, com 72 medalhas.

Os atletas brasileiros se reuniram para foto na vila paralímpica. Crédito:  Alessandra Cabral/CPB

O destaque do Brasil nas piscinas foi Gabriel Araújo o “Gabrielzinho”, que conquistou três medalhas de ouro. Gabrielzinho tem focomelia, uma condição congênita que impede a formação completa de braços e pernas. Com seu desempenho espetacular, foi eleito pela principal rede televisiva da França como o grande nome dos jogos. Se tornou uma verdadeira celebridade em Paris, sendo carinhosamente apelidado de “dauphin” (golfinho). Além das conquistas na natação, o Brasil brilhou no atletismo, com 10 medalhas de ouro, e o judô surpreendeu ao conquistar quatro ouros nos últimos dias de competição. O atletismo fechou com 36 medalhas e a natação com 26 pódios, marcando as melhores campanhas do Brasil nessas modalidades. No judô, o país consolidou sua liderança com uma performance impressionante, destacando-se como uma das modalidades mais competitivas

Durante a cerimônia de encerramento dos Jogos, Tony Estanguet, presidente do Comitê Organizador de Paris 2024, fez questão de destacar a importância de Gabrielzinho e sua mensagem de inclusão: “Quando Léon Marchand fez toda a França gritar em uníssono cada vez que ele levantava a cabeça da água no nado peito, isso inspirou milhares de crianças a entrarem em um clube de natação. Quando o nadador brasileiro Gabrielzinho conquistou suas três medalhas de ouro, mudou, definitivamente, a forma como pensamos sobre a diferença e enviou uma mensagem poderosa a todas as pessoas com deficiência: o esporte também é para você. A cada aparição, a revolução paralímpica ganhou mais espaço. Este encontro entre atletas e torcedores ficará conosco para sempre, pois as emoções que vivenciamos nos uniram.”

Gabrielzinho, conquista o ouro nos 100m costas. Créditos: Alexandre Schneider/CPB

O fim dos jogos paralímpicos trouxe uma despedida marcante: o anúncio de aposentadoria de Phelipe Rodrigues, um dos maiores nomes da natação paralímpica. Aos 34 anos, Phelipe encerra sua carreira com nove medalhas conquistadas nas Paralimpíadas, deixando um legado gigante para a natação brasileira.

Um novo esporte, a escalada, será incluído nos Jogos Paralímpicos de Los Angeles 2028, aumentando o número de modalidades para 23 e mostrando o contínuo crescimento e diversificação do evento.

Adieu Paris! À medida que celebramos o incrível sucesso de 2024, estamos cheios de expectativa para o que vem a seguir. See you soon, Los Angeles! Mal podemos esperar para ver novas histórias e grandes conquistas na próxima edição dos Jogos!

A fachada do bar Stonewall na década de 1960. O bar ainda está em atividade no mesmo lugar nos EUA e foi tombado como patrimônio nacional.

Nova York, 28 de junho de 1969. Como de costume, durante a madrugada, policiais invadiram o bar Stonewall Inn. Nessa noite, gays, lésbicas, transexuais e drag queens, decidiram não tolerar mais o abuso durante as batidas policiais, que eram rotina à época. Na década de 1960 a homossexualidade era considerada doença e o sexo homossexual era ilegal no Estados Unidos. Os LGBT+ viviam escondidos em bares clandestinos. O grito em Stonewall deu início à luta pelos direitos de uma comunidade que, até então, era reprimida e presa sem razão.

Diante da forte represália naquela noite, a partir de uma reação inesperada, os policiais foram acuados pelos frequentadores do bar. Durante vários dias de confronto e violência, carros foram incendiados e muitas pessoas agredidas. O ato recebeu o apoio da população da cidade, que se uniu para defender uma comunidade que era obrigada a viver escondida, marcando uma virada do movimento LGBT+ nos Estados Unidos e no mundo. Um ano após a data, cerca de 10 mil pessoas se reuniram em uma marcha e deram início às passeatas em favor dos direitos LGBT+.

No Brasil, o movimento LGBT+ se estabelece no início da década de 1970, quando alguns grupos começaram a se mobilizar. Entre eles o SOMOS e o Jornal Lampião da Esquina, este último, um importante veículo de comunicação que facilitou a articulação dos movimentos sociais em meio à ditadura. Mesmo com um grupo estabelecido, muitos LGBT+ foram perseguidos e presos durante o governo militar. Conhecida como uma prática de “higienização”, segundo relatório da Comissão Nacional da Verdade, estima-se que a polícia prendeu 1,5 mil pessoas somente na cidade de São Paulo. Além disso, policiais torturaram e espancaram sobretudo as travestis. 

 Com o fim da ditadura na década de 1980, o movimento LGBT+ se enfraquece com a chegada da AIDS. Essa fase é marcada pelos inúmeros casos da doença, que foram diretamente relacionadas com o comportamento sexual de homossexuais, sendo apelida de “câncer gay” ou “peste gay”. A partir de uma desmoralização pública, o movimento que prezava pela liberdade sexual é posto em xeque, então é necessária uma reestruturação da comunidade LGBT+, que se voltou para a luta no combate à AIDS. Sendo assim, outros grupos se estabeleceram, como o Grupo Gay da Bahia, a mais antiga associação em atividade na luta pelos direitos homossexuais.

 No fim da década de 1980, junto do combate a AIDS, o movimento LGBT+ começa a crescer. Mas é nos 1990 que começamos a ocupar espaços. Já no início da década, no mês de maio, a Organização Mundial da Saúde (OMS) retirou a homossexualidade da sua lista de doença. Com o reconhecimento, os grupos de militância começam a se estabelecer de forma plural e em constante ascensão. Nessa década também começam a se organizar as primeiras paradas do orgulho LGBT+. Hoje, o Brasil tem a maior parada LGBT+ do mundo, reunindo milhões de pessoas na cidade de São Paulo. Em 2019, cerca de três milhões de pessoas estiveram presentes na Avenida Paulista, segundo a organização.

A primeira marcha a favor do direitos LGBT+ em 1970, um ano após a revolta de Stonewall.

Nossas conquistas

Nos últimos anos, a comunidade LGBT+ garantiu muitos direitos, entre eles o reconhecimento da união estável entre pessoas do mesmo sexo, aprovada pelo Supremo Tribunal Federal (STF) em 2011. Essa ação concedeu aos parceiros direitos e deveres semelhantes ao casamento, como à adoção. Já em 2013, o Conselho Nacional de Justiça (CNJ) aprovou uma resolução que obriga todos os cartórios do país a celebrar casamentos homoafetivos.

No que confere aos direitos da população transexual, desde 2008, o Sistema Único de Saúde (SUS) oferece tratamentos hormonais e realiza procedimentos cirúrgicos, incluindo a chamada de “redesignação sexual” para mulheres trans. Nesta semana, o mesmo procedimento foi autorizado pelo Ministério da Saúde aos homens trans. O SUS também reconhece a utilização do nome social em seus formulários desde 2009. Em 2011, o Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM), também passou a utilizar o nome social em suas provas. Já em 2018, todos os servidores públicos transexuais passaram a ter seu nome social reconhecido.

Em 2018, o STF reconheceu que transgêneros podem alterar o nome e o gênero no registro civil, mesmo sem a realização da cirurgia de redesignação sexual para comprovar sua identidade. Antes disso, a alteração só era feita diante da comprovação via atestados médicos. Com a medida, transexuais podem se dirigir aos cartórios para solicitar a mudança apenas por autodeclaração. Mesmo com alguns avanços para a população trans, a transexualidade ainda não saiu da lista de doenças da OMS. Apesar de não ser mais considerada uma doença mental, passou a ser considerada uma “incongruência de gênero”.

A conquista mais recente da população LGBT+ no Brasil foi a criminalização da LGBTfobia. No dia 13 deste mês, o STF aprovou a ação que pune crimes de ódio contra a população LGBT+, equiparando as penas por ofensas às previstas na lei contra racismo. Uma das pautas mais antigas e necessárias da comunidade foi aprovada por oito do 11 ministros.

Os parágrafos acima retratam um pouco do que é a luta dos LGBT+ desde a revolta de Stonewall. Em 50 anos de história, o movimento passou por diversas fases que nos permitiram refletir a força da comunidade que, mesmo com dificuldade, continua na luta em busca de igualdade, respeito e liberdade. Muitos direitos foram conquistados, mas ainda é pouco frente à violência que a comunidade LGBT+ está submetida diariamente. 

Imagem do confronto entre policiais e frequentadores do bar.

Nesses 50 anos, devemos muito da nossa luta à Stonewall. Aquele 28 de julho foi um grito de basta frente às atrocidades que a comunidade LGBT+ vivia. Mas ainda não descansamos. Vivemos no país que mais mata LGBT+ no mundo. O país que mais consome filme adulto com travestis e transexuais, também é o que mais extermina. Que histórias como a de Dandara dos Santos não se repitam.

E mesmo diante que um governo abertamente LGBTfóbico, conquistamos a criminalização da LGBTfobia. Esse é só um sinal de que o movimento LGBT+ resiste e ninguém tomba . Se há 50 anos lutamos para garantir nossos direitos, hoje a nossa luta é para não perdê-los.

 

Deivid Pazatto é jornalista egresso da UFN. Foi repórter da Agência Central Sul e monitor do Laboratório de Produção Audiovisual (Laproa) durante a graduação. É militante do movimento LGBTQ+, aborda questões pertinentes sobre essa temática em seus textos.

 

Professora Lurdes Lomba e reitora Irmã Iraní Rupolo. Fotos: Mariana Olhaberriet/LABFEM

Na tarde desta quinta-feira(22), as convidadas para compartilhar suas experiências na Internacional Week no Centro Universitário Franciscano foram a professora Lurdes Lomba, da Escola Superior de Enfermagem de Coimbra, Portugal, e  Margarita Poblete Troncoso, professora da Universidad Catolica del Maule, no Chile. A reitora do Centro Universitário Franciscano, Irmã Iraní Rupolo também participou da mesa redonda sobre as conquistas e desafios da internacionalização, que teve a mediação do professor Rodrigo Jappe.

Em sua apresentação, Lurdes conta sobre o Protocolo Erasmus, um programa de apoio interuniversitário de mobilidade de estudantes e docentes do Ensino Superior entre Estados-membros da União Europeia e Estados associados, permitindo que alunos estudem em outro país. A professora diz que 29% dos alunos da Escola Superior de Enfermagem de Coimbra fazem parte do programa, e que ela acredita que a mobilidade é o primeiro passo na procura de novas ideias e experiências. Já a reitora Irani Rupolo menciona a importância da internacionalização no ensino superior do Brasil. “Cada lugar oferece uma vivencia e aprendizado diferente. O aluno voltar com esse conhecimento de fora, é algo de grande valor acadêmico”, afirmou a reitora.

Equipe de organização da Internacional Week.

Após a mesa redonda, os participantes foram convidados a descer ao pátio da instituição para a Internacional Cuisine, onde ocorreu uma integração gastronômica com comidas típicas de alguns países.

Amanhã(23), sexta-feira, será o último dia da 1ª Semana Internacional onde será ministrado o Workshop: Classificação Internacional para a Prática de Enfermagem. O evento de manhã, às 8h30min, e a tarde, ás 14h, na Sala de Conferências, no 10º andar do prédio 17, no Conjunto III da Unifra.