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coronavírus

A trajetória Covid no Brasil

Desde a detecção do primeiro caso de infecção pelo coronavírus no fim de 2019, foram registrados 518 milhões de pessoas que tiveram Covid-19 e mais de 6,25 milhões de mortes no mundo. No Brasil, são 30,5

As veias abertas da pandemia na América Latina

O coronavírus intensificou os conflitos sociais e escancarou as desigualdades e a crise do capitalismo no território latinoamericano. No início da década de 1970, durante o efervescer da Operação Condor, que representava o controle da América

Caminhos da cultura de Santa Maria durante pandemia

As programações culturais de Santa Maria envolvem muito mais profissionais, participantes, público, tempo e preparo do que se imagina. Em 2020, frente à pandemia da Covid-19, o grande desafio de organizar um festival de cultura se

“Chárreata” para celebrar a vida numa pandemia

Em meio à pandemia do coronavírus surge a dúvida sobre como comemorar as boas notícias e celebrar as pessoas da melhor forma possível, sem correr riscos desnecessários à saúde. A reinvenção acontece de diversas formas como é o

Desde a detecção do primeiro caso de infecção pelo coronavírus no fim de 2019, foram registrados 518 milhões de pessoas que tiveram Covid-19 e mais de 6,25 milhões de mortes no mundo. No Brasil, são 30,5 milhões de infectados e quase 664 mil óbitos até o dia 10 de maio. Mas em outra perspectiva, 60,2% da população global está vacinada e no Brasil esse percentual é de 77,9%, sendo sua maior concentração de vacinados nos estados de São Paulo e Piauí.

Homenagem às vítimas da Covid-19 em frente a Esplanada dos Ministérios em 18 de outubro de 2021.  Imagem : EVARISTO SA / AFP

No dia 11 de março de 2020 a Organização Mundial de Saúde (OMS) declarou como pandemia o adoecimento pelo vírus Sars-Cov-2. Na prática, o termo pandemia se refere ao momento em que uma doença já está espalhada por diversos continentes com transmissão sustentada entre as pessoas. Na época, segundo a OMS, o mundo registrava 118 mil casos e 4.291 mortes.

Mas, de fato, o mundo registrou seu primeiro caso de Covid no dia 17 de novembro de 2019, quando um homem de 55 anos foi detectado com a doença na província de Hubei, próximo de Wuhan, foco do primeiro surto. Desde então a pandemia se agravou muito no mundo, chegando ao Brasil no dia 26 de fevereiro de 2020 no estado de São Paulo, onde um homem de 61 anos com histórico de viagem para a Itália foi identificado com esta enfermidade. No dia 10 de março chegou ao Rio Grande do Sul onde um homem, de 60 anos, residente em Campo Bom, que teve histórico de viagem para Milão foi localizado com sintomas. Já em Santa Maria o primeiro caso surgiu em 22 de março, com um homem de 32 anos que viajou para Joinville(SC)  e quando voltou fez um teste sendo comprovada a infecção.

Foi a partir daí que vimos o caos se formando, milhares de infecções, causando superlotação em hospitais. Com as superlotações, os profissionais da saúde tiveram que manter seu foco no combate à pandemia. Diagnósticos de doenças como o câncer diminuíram por conta do receio de ir em consultas médicas, além de pessoas que apresentaram sinais de acidente vascular cerebral (AVC) e infarto  mas que adiaram a busca por ajuda ou simplesmente não procuraram socorro.

Um dos momentos mais preocupantes da pandemia foi o estoque de oxigênio em Manaus se esgotando e o sistema de saúde colapsado, com dezenas de mortes por asfixia de pacientes com Covid-19. Funerárias passaram a aderir a sepultamentos à noite por conta do número de enterros muito acima do habitual. A prefeitura de Manaus chegou a adotar um sistema de enterros em camadas, ou seja, enterrar caixões um por cima do outro, em valas mais profundas. À época, a justificativa era a necessidade de atender à demanda, que cresceu durante a pandemia.

O isolamento

O mundo parou com o isolamento instaurado, as formas de trabalhos e relacionamentos tiveram que se adequar aos novos tempos, o home office foi estabelecido em muitos casos. Com a recomendação da quarentena as pessoas começaram a consumir muitas notícias, por conta da necessidade de  se manterem informadas. A infodemia, como foi chamada, trouxe uma exposição excessiva de informações tanto verdadeiras quanto falsas. A sobrecarga de informações fez com que a qualidade de vida das pessoas fosse abalada, pois há mais processamento de dados do que daríamos conta de modo saudável. Com esse aumento de informações as fake news, ou notícias falsas, vieram com tudo, como afirmações de que as máscaras não tinham eficácia e de que as vacinas não funcionavam.

A chegada das vacinas

Após uma triagem com voluntários, a vacina de Oxford em parceria com o laboratório AstraZeneca começou a ser testada em profissionais da saúde de São Paulo no dia 20 de junho de 2020. Na ocasião, a vacina era uma das 141 registradas na Organização Mundial da Saúde (OMS) e uma das 13 que tinham conseguido alcançar a terceira fase de testes. Mais tarde, em dezembro, ela seria a primeira a ter os resultados da fase 3 publicados em uma revista científica. Além disso, a vacina de Oxford também foi uma das primeiras a ter um contrato de compra fechado pelo governo brasileiro.

As vacinas eram um sonho que todos aguardavam que se concretizasse, porém somente no dia 8 de dezembro de 2020 Margaret Keenan, de 90 anos, , foi vacinada contra esta doença na cidade de Londres no Reino Unido, e tornou-se a primeira pessoa no mundo a receber a vacina da Pfizer contra a Covid-19 fora de um ensaio clínico.

Margaret Keenan, prestes a completar 91 anos, é a primeira vacinada contra Covid-19 no início da imunização no Reino Unido. Imagem: Reuters

A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) aprovou no dia 17 de janeiro de 2021, para uso emergencial, as duas primeiras vacinas contra o coronavírus no Brasil. Foram compradas 2 milhões de doses da vacina da AstraZeneca, produzida em parceria pela Universidade de Oxford com a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), e 6 milhões da Corona Vac, produzida pela chinesa Sinovac em parceria com o Instituto Butantan. Minutos depois da aprovação, a enfermeira Mônica Calazans, de 54 anos, tornou-se a primeira brasileira a ser vacinada, em São Paulo. O Ministério da Saúde e a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) apresentaram no 22 de Fevereiro as primeiras vacinas contra a covid-19 totalmente produzidas em solo nacional. De forma simbólica, os imunizantes da AstraZeneca foram fabricados na sede da Fiocruz, no Rio de Janeiro.

A enfermeira Mônica Calazans, 54, recebe a vacina contra o coronavírus. Imagem: Reuters/Amanda Perobelli

A primeira pessoa a ser vacinada contra a Covid-19 no Rio Grande do Sul foi uma técnica de enfermagem que atua no Centro de Atendimento Intensivo (CTI) no Hospital de Clínicas (HCPA), em Porto Alegre. A vacinação ocorreu às 23h do dia 18 de janeiro. A primeira pessoa a ser vacinada em Santa Maria foi a enfermeira Mônica Oliveira Galimberti, de 56 anos, que atua na saúde há mais de 30 anos. Desde então são cerca de 60,2% da população global já vacinada, no Brasil esse percentual é de 77,9%, já o Rio Grande do Sul tem cerca de 87,3% dos habitantes vacinados e 88% da comunidade santa-mariense vacinada.

Variantes

Após mutações, uma nova variante do coronavírus se tornou comum no Reino Unido. Governos mundo todo fecharam as fronteiras para o país tentando evitar a propagação do vírus mutado. Essa nova versão recebeu o nome de linhagem B.1.1.7. e já teria sofrido pelo menos 23 mutações. A principal delas mudou a forma do espinho do novo coronavírus, que é a proteína que o vírus usa para abrir a célula. A agência inglesa de saúde tinha identificado a variante em setembro e notificou a OMS. O diretor de emergências da organização, Michael Ryan, afirmou no dia 21 de dezembro 2021 que a nova variante do coronavírus não estava “fora de controle”, mas que os bloqueios adotados por diferentes países eram “prudentes”.

Desobrigação do uso de máscara

A queda de casos de covid possibilitou órgãos de saúde do país optarem pela desobrigação do uso da proteção. O Projeto de Lei 5412/20, aprovado no dia 1 de abril, findou a obrigatoriedade do uso de máscaras,  ficando dispensado o uso e fornecimento de máscaras cirúrgicas ou de tecido em estados ou municípios que deixaram de exigir a utilização da proteção em ambientes fechados. No dia 6 de abril Santa Maria aderiu a lei tornando facultativo o uso da máscara em ambientes fechados.

Segundo dados da última segunda-feira, dia 9 de maio, o quadro da cidade de Santa Maria é bastante favorável e esperançoso. Há apenas dois adultos confirmados com Covid e um suspeito em leitos de UTI , um paciente em UTI pediátrica, e mais 20 adultos  hospitalizados em leitos normais. Totalizando 24 pessoas hospitalizadas na cidade.

O coronavírus intensificou os conflitos sociais e escancarou as desigualdades e a crise do capitalismo no território latinoamericano.

Foto: Santiago Torrado @santitorrado1

No início da década de 1970, durante o efervescer da Operação Condor, que representava o controle da América Latina pelos Estados Unidos através das ditaduras militares, o escritor uruguaio Eduardo Galeano eternizou-se nas linhas de “As veias abertas da América Latina”. O sucesso de vendas, publicado há 50 anos, narrou através de uma pesquisa jornalística, histórica e antropológica, a exploração, as riquezas, a cultura e as realidades da terra e do povo latinoamericano.

Poucos anos antes de sua morte, Galeano, que era jornalista e escritor, chegou a revelar que lamentava que depois de décadas de sua publicação original, “As veias abertas” não tenha perdido sua atualidade.

O livro passou a ser considerado uma bíblia por parte da esquerda intelectual e ferozmente criticado pela direita conservadora. As controvérsias acerca do texto se intensificaram após Galeano considerar que não o leria novamente e que não era qualificado quando escreveu o clássico anticolonialista, antiimperialista e anticapitalista nos anos 70. 

Válido ou datado, o fato é que o livro marcou o pensamento dos estudos sociais latinoamericados e cumpriu sua proposta de analisar e fazer pensar sobre as relações de exploração e dominação que há séculos regem a política e a sociedade das Américas para além dos Estados Unidos.

O fim da primavera progressista

La lluvia que irriga a los centros del poder imperialista ahoga los vastos suburbios del sistema. Del mismo modo, y simétricamente, el bienestar de nuestras clases dominantes – dominantes hacia dentro, dominadas desde fuera – es la maldición de nuestras multitudes condenadas a una vida de bestias de carga.” Tal trecho, retirado da décima sétima página, representa com fidelidade a América Latina de ontem mas também a de hoje.

Após anos de hiato democrático, milhares de mortos, torturados e desaparecidos, os governos populares e o neoliberalismo passaram a dividir espaço nos países da região. Durante a primeira década do século XXI, progressistas foram eleitos por toda a região. A guinada à esquerda trouxe políticos como Néstor Kirchner e Cristina Kirchner na Argentina, Evo Morales na Bolívia, Lula e Dilma no Brasil e José Mujica no Uruguai. Mesmo que esses governos tenham garantido direitos das classes populares e respondido às lutas históricas dos subalternizados, não foram capazes de quebrar, de fato, com os interesses neoliberais dos grupos dominantes. 

Segundo o doutor em História Social do Trabalho e professor da UFSM (Universidade Federal de Santa Maria), Diorge Konrad, “esses governos aplicam políticas sociais e econômicas, inclusive de reparação das perdas do poder aquisitivo das classes trabalhadoras”. Conforme Konrad, mesmo que tenha havido um aumento real de salários “é muito pouco perto das perdas anteriores para repor níveis, por exemplo, do salário mínimo quando ele foi criado” e completa que governos como o do Lula e o de Néstor Kirchner, que chegou a crescer 8% a economia na Argentina, “são governos que não mudaram a macroestrutura neoliberal”.

A não ruptura dos governos progressistas com a ordem neoliberal culminou no declínio de seus próprios políticos. Sob os holofotes da mídia, os escândalos de corrupção e de autoritarismo mancharam a história desses governos e acarretaram num bem elaborado movimento de retomada e manutenção do poder pelas classes políticas e sociais historicamente dominantes.

Os holofotes apontam para a direita extrema e para o neoliberalismo

Guiada pelo discurso anticorrupção, a América Latina abraçou a nova onda conservadora que teve início na Europa na década de 2010. A Operação Lava Jato no Brasil que contou com a midiatização do juiz Sérgio Moro, talvez seja um dos melhores exemplos das características da política latinoamericana atual. 

O discurso neoliberal da extrema direita vende o Estado como real e único vilão responsável por toda corrupção e miséria e, como única forma de combater-se esse mal, é preciso desinflá-lo e diminuir o seu controle ao mínimo possível. Em “A Elite do Atraso”, o sociólogo brasileiro Jessé Souza evidencia a existência de uma distorção da realidade na qual a real elite encontra-se fora do Estado.

Jessé propõe uma analogia, para ele essa construção funciona como um narcotráfico. Nesse sentido, “os políticos são os aviõezinhos do esquema e ficam com as sobras do saque realizado na riqueza social de todos em proveito de uma meia dúzia.” Ainda para o sociólogo, a verdadeira corrupção estaria em permitir que meia dúzia de superpoderosos ponham no bolso a riqueza que é de todos, deixando o resto na miséria.

A partir dessa construção, onde é imprescindível corrigir os erros cometidos pela esquerda através da eleição de políticos extremistas, conservadores e com características fascistas, elegeram-se nos últimos anos, uma gama de novos líderes de direita. 

Entre esses políticos estão Sebastián Piñera no Chile e Iván Duque na Colômbia. Não por causalidade, nesses países eclodiram as maiores manifestações sociais dos últimos tempos na América Latina. Mas além disso, não podemos deixar de citar o presidente brasileiro Jair Bolsonaro, da “nova direita” que, entretanto, continua representando ideais e pensamentos já conhecidos do cenário político brasileiro. 

A política entreguista e sem espaço para as reivindicações dos movimentos sociais não esperava encontrar pelo caminho uma pandemia que mudaria, mesmo que temporariamente, os rumos político-sociais da América Latina, escancarando fraquezas e reais intenções por trás dos novos líderes do cenário político-ideológico.

A pandemia de conflitos sociais

Foto: Santiago Torrado @santitorrado1

Em 2019, antes mesmo do início da pandemia de coronavírus, a situação social e política da América Latina já apresentava os sinais da crise. No mesmo ano, uma campanha pela passagem do metrô realizada por estudantes do ensino médio de Santiago, tornou-se um dos maiores protestos que o Chile já viu e provocou a queda da constituição datada do governo do ditador Augusto Pinochet. 

O povo foi às ruas contra a política ultra-neoliberal herdada da ditadura Pinochet e contra a enorme desigualdade social do país. O governo e a polícia reprimiram com violência as manifestações, o que acarretou na resistência dos participantes e popularização do protesto que terminou com mais de 30 mortos e 11 mil feridos. Atualmente o país está em processo de redação da nova constituinte.

Já em 2020, no meio de diferentes políticas de contenção ao coronavírus, altos índices de morte, desemprego e inflação, a população latinoamericana seguiu organizando protestos contra o abandono e má condução dos governos.

O primeiro exemplo que podemos citar são as manifestações no Peru em novembro do ano passado. Inconformados com o impedimento do presidente Martín Vizcarra, os peruanos lotaram a capital Lima, em protesto ao que chamaram de golpe à democracia. As manifestações foram consideradas as maiores dos últimos 20 anos segundo a imprensa local. 

Os manifestantes seguiram se reunindo contra o governo inteiro de Manuel Merino e após denúncias de mortes de participantes, 11 ministros do governo pediram demissão. Em 15 de novembro, cinco dias após assumir o cargo, Merino apresentou sua renúncia e seu lugar foi assumido por um governo de transição. 

Neste ano, o Haiti entrou em uma forte ebulição social após uma onda de violência e sequestros assolar o país. Os haitianos exigiam atitude por parte do governo contra os grupos criminosos. Os conflitos passaram a se intensificar desde fevereiro, quando o então presidente Jovenel Moise recusou deixar o cargo e prendeu opositores políticos. Em 7 de junho, Moise foi assassinado em sua residência nos subúrbios de Porto Príncipe em um crime ainda sem solução.

Um dos maiores conflitos sociais que podemos destacar em 2021 foi o ocorrido na Colômbia. No dia 15 de abril o presidente colombiano Iván Duque apresentou ao Congresso uma proposta de reforma tributária que visava aumentar a base de arrecadação do imposto sobre serviços básicos e IVA. A medida buscava liberar 6,3 bilhões de dólares para financiar os gastos do governo durante a pandemia e a recuperação econômica para os próximos anos.

Desde que foi lançada, a proposta de reforma foi considerada onerosa para a classe média do país. Segundo especialistas, a medida retiraria dinheiro dos que movem a economia da Colômbia, deixando-os vulneráveis e incapazes. A partir daí, sindicatos, movimentos sociais e diversos setores da sociedade se manifestaram contra a reforma, o que ocasionou forte turbulência social e rapidamente os protestos se espalharam pelo país.

A cidade de Cali, terceira mais populosa da Colômbia, se tornou o epicentro do embate entre policiais militares e manifestantes. O governo criticou a violência das manifestações e acusou dissidentes guerrilheiros e grupos criminosos de participação nos atos. Desde então, os protestos contra o governo e as denúncias de desaparecimento e morte de manifestantes se intensificaram. Os atos contra o governo e a política neoliberal de Iván Duque resultaram em 67 mortes segundo um relatório do Human Rights Watch.

A forte repressão e violência policial na Colômbia foi relatada pela jornalista colombiana Gina Piragauta que esteve presente na cobertura dos protestos:

“A situação na Colômbia é de conflito social crescente desde muito tempo, há elementos que contribuíram para que aumentassem os conflitos como a falta de emprego, educação, péssimo sistema de saúde e houve protestos muito significativos no ano passado mas foram suspendidos por questão da pandemia. A pandemia veio a acrescentar os conflitos sociais e políticos no país. Esta greve não é de nenhum partido político, de nenhuma organização política, é do povo colombiano trabalhador e nesse sentido levou as pessoas massivamente para a rua. Temos visto que a repressão policial tem sido dirigida especialmente às pessoas da imprensa e também dirigida às pessoas que cuidam dos direitos humanos durante as manifestações. Temos visto que estão disparando nos olhos dos manifestantes, temos muitos desaparecidos. Algumas dessas pessoas desaparecidas aparecem mortas nos rios e de outras nada se sabe e também tivemos muitos presos.”

Os relatos da ação policial disseminaram-se pelas redes sociais e pela imprensa. No dia 1º de maio, Alejandro Zapata, um jovem de 20 anos, foi gravemente ferido pelo esquadrão de choque Esmad durante um protesto em Bogotá e não resistiu. No dia 5 de maio, Lucas Villa, de 37 anos, recebeu vários disparos em uma marcha pacífica na cidade de Pereira. O universitário morreu no dia 11 do mesmo mês. 

Em 14 de maio, Sebastián Munera de 22 anos morreu após ser atingido por uma granada lançada por agentes da Esmad. Um dos casos que mais revoltou os manifestantes e que provocou a convocação de novos atos pelo país foi o da jovem de 17 anos Alison Meléndez. Alison foi presa na noite de 12 de maio e violentada sexualmente por agentes da polícia. Um dia depois a jovem se suicidou.

O êxodo venezuelano

Para além dos conflitos sociais que eclodiram nos últimos anos e que vimos anteriormente, a América Latina também passa por um momento de intensos processos migratórios. Tais movimentos podem ser deslocamentos entre os países latinoamericanos, como os decorrentes de crises humanitárias, mas também, pelos processos de imigrantes de outros países do globo que chegam na América Latina todos os anos. A política de recepção dessas pessoas em processo de deslocamento é diferente em cada país.

De acordo com o cientista político venezuelano Xávier Franco, “nada define mais a espécie humana desde suas origens do que sua capacidade de se mover ao redor do mundo”. Entre os motivos que podem levar uma pessoa a sair de seu país de origem estão as crises humanitárias como a venezuelana, mas também existem outros, como a legítima aspiração por uma melhor qualidade de vida.

Entretanto, no caso da Venezuela, é preciso compreender os aspectos que levaram aos processos de deslocamento populacional. A crise no país vem se intensificado desde 2013 após a eleição de Nicolás Maduro. A população começou a sofrer os impactos econômicos a partir de 2014, quando o barril do petróleo se desvalorizou e a economia venezuelana começou a desmoronar. 

Desde então o país atravessa uma grave crise humanitária onde parte da população é obrigada a se refugiar em países vizinhos. O número de venezuelanos que migraram forçadamente para outros países só em 2020 é de 3,9 milhões. Esses dados são do relatório anual da UNHCR (Agência da Organização das Nações Unidas para Refugiados)

O relatório  mostra um crescimento no número de refugiados venezuelanos no continente latinoamericano. Houve aumento do fluxo de migrações para o Brasil, México e Peru. Porém, mais de 120 mil refugiados venezuelanos que estavam na Colômbia retornaram ao país de origem em 2020. Segundo o documento, entre os motivos para o retorno estão as dificuldades enfrentadas desde o início da pandemia do coronavírus.

Atualmente a Colômbia hospeda cerca de 1,7 milhões de imigrantes venezuelanos. Dados do novo relatório também estimam que entre refugiados e venezuelanos deslocados no exterior, quase um milhão de crianças nasceram em situação de deslocamento entre 2018 e 2020, uma média de entre 290 mil e 340 mil por ano.

O Xávier Franco evidencia que a imigração em massa da Venezuela nos últimos anos “se expandiu em todas as direções mas principalmente para os países fronteiriços, o que gerou uma verdadeira crise política, diplomática e humanitária de proporções continentais para as quais nenhum governo foi preparado e coordenado”.

Para a professora da UFSM e coordenadora do Migraidh (Grupo de Pesquisa, Ensino e Extensão Direitos Humanos e Mobilidade Humana Internacional da UFSM) a migração de venezuelanos é “potencializada pelas questões socioeconômicas e que tem muito forte a própria mobilidade como uma possibilidade de promover as chamadas remessas, levar ao país de envio o suporte para os que ficaram”. Ou seja, nesses casos, a população migrante envia recursos financeiros para os familiares que continuam a residir no país de origem. 

Ataques à imprensa 

Assim como com os movimentos sociais, a imprensa latinoamericana tem sofrido recorrentes ataques e censura. Entre janeiro a junho de 2020 foram mais de 600 violações à liberdade de imprensa na América Latina segundo dados do último dossiê levantado pelo Voces del Sur, um projeto que monitora as agressões à imprensa e a liberdade de expressão em 11 países da região e que no Brasil conta com o apoio da Abraji (Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo).

Conforme o levantamento, entre as vítimas estão 336 jornalistas, 27 repórteres independentes, 220 meios de comunicação, 46 fotógrafos e cineastas, 37 diretores, editores e executivos de meios de comunicação, 11 trabalhadores de comunicação e 1 produtor de conteúdo. Além disso, os dados apontam que 453 desses ataques foram realizados por parte dos governos, 95 por meios não estatais e 61 de forma desconhecida.

Outra denúncia do Voces del Sur é sobre as leis que buscam criminalizar a desinformação, as conhecidas notícias falsas. Apesar dessas leis serem propostas como formas de se conter a difusão de rumores e conteúdos falsos que prejudiquem a sociedade, elas podem se tornar ambíguas e quando usadas de forma estratégica por governos, até prejudiciais à democracia.

Segundo a Comissão Internacional dos Direitos Humanos, as proibições de divulgação de desinformações são baseadas em conceitos vagos como “notícias falsas” ou “informação não objetiva”. Porém, é importante que os aspectos sejam analisados cuidadosamente para que se evite imprecisões que possam vir a favorecer atos de arbitrariedade.

Com a covid-19, por exemplo, alguns governos latinoamericanos estão redigindo leis que, por sua vez,  acabam por censurar a informação incômoda. Ou seja, aquela que prejudica ou denuncia a atuação dos governos. Na Venezuela, por exemplo, a Lei Contra o Ódio e o Código Penal foram utilizadas para prender cidadãos e jornalistas que divulgaram informações não oficiais.

O relatório ainda evidencia que o país com mais casos de violação ao jornalismo em 2020 foi o Brasil com 168 casos. Logo depois estão Nicarágua com 123, Equador e Honduras com 50, Peru com 18, Argentina com 16,  Uruguai com 10 e Guatemala com uma violação à liberdade de imprensa.

Texto produzido na disciplina de Jornalismo Internacional, do Curso de Jornalismo da Universidade Franciscana sob a orientação da professora Carla Torres.

Novo sistema de distanciamento mudou regras para atividades em campos e quadras esportivas | Foto: Jcomp/Freepik

Na metade do mês de maio, o governo do estado apresentou o novo modelo de distanciamento controlado: o Sistema 3As de Monitoramento. Na prática, os protocolos por setor econômico foram reduzidos e simplificados, dando poder para os municípios e regiões estipularem a restrição necessária.

O primeiro “A” corresponde ao Aviso, pois quando o estado detectar uma tendência de piora no cenário avisará ao respectivo comitê regional. Caso a tendência seja grave, será emitido uma Alerta e passa para a última fase, a Ação, quando a região deverá apresentar um plano a ser adotado.

A região de Santa Maria (R01, R02), que abrange 32 municípios, recebeu alerta no dia 18 de maio e permanece desde então. Segundo o Grupo de Trabalho (GT) Saúde do Comitê de Dados, os índices ainda não exigem a necessidade de um alerta, porém aconselha que a região redobre os cuidados.

Segundo a Associação dos Municípios da Região Central do Estado (AMCentro) está em vigor o protocolo estipulado pelo governo do estado, não havendo, até o momento, restrições ou flexibilizações por parte da região como um todo. Cabe ressaltar que cada prefeito, se julgar necessário, pode alterar o protocolo exclusivamente em seu município. Reuniões constantes estão sendo realizadas entre os gestores municipais para analisar o Sistema 3As e a necessidade ou não de adequações.

Atividades físicas em campos e quadras esportivas são consideradas de risco alto, bem como em academias, clubes, centro de treinamento, piscinas e similares. A diferença é que o protocolo de atividades variáveis, no caso de campos e quadras, não exige a presença obrigatória de no mínimo um profissional habilitado no Conselho Regional de Educação Física (CREF).

As regras

Deve haver um rígido controle da ocupação máxima de pessoas ao mesmo tempo, sendo permitido uma pessoa para cada 8m² de área útil no caso de ambientes abertos, e uma pessoa para cada 16m² de área útil quando em ambiente fechado. É vedado o público espectador e as áreas comuns, como churrasqueiras e lounges, devem estar fechadas.

O distanciamento interpessoal é de no mínimo 2m entre atletas durante as atividades e o uso de máscara é obrigatório, salvo exceções regulamentadas por portarias da Secretaria Estadual de Saúde. Não é permitido compartilhar equipamentos sem prévia higienização. Deve haver, ainda, um reforço na comunicação sonora e visual dos protocolos para público e colaboradores.

As quadras e campos geralmente sediam esportes coletivos, com dois ou mais participantes. Neste caso, será necessário um agendamento e intervalo de 30 minutos entre jogos, com o objetivo de evitar aglomeração na entrada e saída, além de permitir a higienização necessária.

No caso de uma competição esportiva, a Federação Esportiva deverá apresentar para a Secretaria de Saúde Municipal um plano de prevenção e controle visando receber uma autorização do município. O documento deve seguir, no mínimo, as recomendações da Nota Informativa 18 COE/SES-RS. 

Para acessar o documento com protocolos gerais e de atividades basta clicar aqui. 

Texto produzido na disciplina de Jornalismo Esportivo, durante o primeiro semestre de 2021, sob coordenação da professora Glaíse Bohrer Palma.

Foto: Assessoria de Comunicação PMSM / Programações como o Viva o Natal levam cultura a milhares de santa-marienses, evidenciam artistas locais e trazem nacionais ao Coração do Rio Grande

As programações culturais de Santa Maria envolvem muito mais profissionais, participantes, público, tempo e preparo do que se imagina. Em 2020, frente à pandemia da Covid-19, o grande desafio de organizar um festival de cultura se tornou ainda maior.

Neste momento, há dúvidas latentes por parte de quem encabeça estas ações. Se adaptar ao formato à distância, adiamento ou, o tão evitado mas às vezes inevitável, cancelamento da edição anual são algumas delas.

Os festivais culturais são parte importante da manutenção da cidade, envolvendo instituições, governo, população e organizações, visto que movem a economia, são planejados com larga antecedência, envolvem muitos profissionais e marcam tradição.

Entre estes festivais, está a, tão querida pelos tradicionalistas, Tertúlia Musical Nativista, pelos amantes de leitura, a Feira do Livro, pelos cinéfilos, o Santa Maria Vídeo e Cinema (SMVC), e pelos bailarinos, o Santa Maria em Dança (SMD).

Além destes, é impossível pensar em cultura local e não lembrar dos shows e demais atrações do Viva Santa Maria, programação cultural alusiva ao aniversário da cidade, e o Viva o Natal, que atraem tanta gente à Praça Saldanha Marinho, à Locomotiva da Gare, ao Theatro Treze de Maio, entre outros cantos da Cidade Cultura.

Só quem está à frente destas organizações tem a real dimensão do alcance e movimento que estes festivais provocam.

Como tudo muda rapidamente neste novo momento da humanidade, não há como prever acontecimentos, mas, para quem coordena projetos, é preciso arriscar e tomar decisões.

E quais são os destinos destas programações, até agora?

Santa Maria Vídeo e Cinema

Foto: Divulgação \ Facebook / O tema central da 14ª edição será Memória

O SMVC está indo para a 14ª edição. Cada festival tem, em  média, 250 espectadores por noite, assistindo aos filmes expostos. Pela Praça Saldanha Marinho, espiando e tendo a oportunidade de desfrutar de obras cinematográficas, são milhares incontáveis.

No ano passado, a competição teve mais de 50 diretores com obras inscritas, sem contar o restante das equipes.

O presidente Luiz Alberto Cassol coordena o SMVC ao lado de Alexandra Zanela, ambos residindo em Porto Alegre, e Luciano Ribas, em Santa Maria.

A competição de curtas e longas-metragens deste ano não foi cancelada. Por enquanto, os organizadores aguardam a regularidade da vida social.

Ao final do 13º SMVC, o tema Memória foi anunciado para 2020, dando um ano de antecedência aos candidatos.

“O tema não mudará, pois combina com este momento. Antes, falaríamos a respeito da história do Cinema de Santa Maria. Atualmente, a memória é discutida a todo tempo”, diz Cassol.

Em um período típico, o SMVC ocorre no mês de novembro. Nos dois primeiros meses deste ano, Luiz esteve em Santa Maria reservando datas do Centro de Convenções da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM) para garantir o local de abertura da edição. Atualmente, as reuniões semanais entre os organizadores estão sendo realizadas pela internet.

“Neste momento, muitos detalhes já estariam prontos. Teríamos cartazes na rua, a praça reservada e as inscrições abertas, por exemplo”, conta o coordenador.

Para o cineasta, a edição será uma oportunidade de refletir a nova realidade, junto do audiovisual:

“O festival sempre foi muito ligado a questões atuais, aquilo que retumba… Então, neste ano, vamos refletir diante desta nova realidade, como as maneiras de apropriação”.

Segundo Cassol, transferir a programação para o ambiente virtual, como tantos outros do país e de fora, seria interessante, mas deixaria de lado o essencial ao SMVC. Há cerca de 10 anos, foi o primeiro festival de cinema do Brasil a realizar oficinas online, ele recorda:

“A praça e as o público, hoje, não o nosso diferencial, o contato humano. Não podemos abrir mão. Nossa singularidade é ir para a cidade, debater, promover seminários e oficinas presenciais, encontrar os pares… não encontrar as pessoas é o que mais me frustra. Só quando tivermos a praça, mesmo que só no ano que vem, é que promoveremos a próxima edição”.

O coordenador também supõe que, na próxima edição, serão vistos muitos filmes feitos durante a pandemia, refletindo acerca desta fase e, também, adaptando a produção audiovisual aos obstáculos do período de isolamento:

“Acredito que veremos produções a partir de recursos adaptáveis, como celular, câmera fotográfica, locação interna, de casa e equipes menores. O audiovisual não será mais o mesmo”.

A previsão dos organizadores é que a 14ª edição seja cancelada ou transferida para o início de 2021.

Tertúlia Musical Nativista

Foto: Assessoria de Comunicação PMSM / O público da 26 edição chegou a 3 mil espectadores

A Tertúlia Musical Nativista, que já havia tido a edição de 2019 transferida para junho este ano, foi adiada novamente.

Previsto para os dias 14 a 17 de maio, o festival já não tem prazo para ocorrer. O festival nativista já é consagrado no Estado e atrai artistas de todos os cantos do Rio Grande e de fora.

A 26 Tertúlia Musical, de 2018, teve mais de mil trabalhos inscritos. Destes, 44 foram apresentados no palco da Associação Tradicionalista Estância do Minuano. O público da edição chegou a 3 mil espectadores.

A equipe é constituída por 40 membros e conta com mais de 15 empresas prestadoras de serviços.

O festival deste ano já está pronto, organizado de maneira presencial e aguardando a possibilidade de estabelecer uma data.

Embora a dúvida sobre a data, a próxima edição do festival é garantida devido aos recursos públicos, já que o projeto ocorre através de Leis de Incentivo municipais, por meio de incentivos fiscais ou direto do governo.

Coordenador do festival há quatro anos, Carlinhos Lima afirma que a vontade é da equipe é de realizar a programação ainda neste ano, mas não há como garantir:

“A Tertúlia depende de recursos públicos. Como temos dificuldades para a área de Cultura desde o ano passado, as projeções são incertas”.

Por isso, os ingressos não são cobrados. Os CDs e DVDs produzidos a partir dos vencedores da competição são distribuídos gratuitamente. Lima explica que o objetivo não é gerar lucros.

Conforme o coordenador, a cada ano, no mínimo 20 novos trabalhos são divulgados e artistas se lançam:

“Nosso maior dano se resume ao prejuízo de quem é sustentado pela produção cultural, como artistas e prestadores de serviços. Esta situação nos frustra porque, desta forma, a cultura perde. Os objetivos do festival, de preservação da identidade cultural tradicionalista, são prejudicados”.

Santa Maria em Dança

Foto: Divulgação \ Facebook / As edições anuais do SMD são ininterruptas desde 1994

Um dos maiores festivais de dança do país, o SMD ocorre anualmente desde 1994, com edições ininterruptas. A média de inscritos, há mais de cinco anos, não baixa de 2.500. No ano passado, mais de 3 mil bailarinos subiram ao palco.

O festival é auto-suficiente através de patrocínios, parceiros culturais e cobrança de ingressos e inscrições. A comissão organizadora é composta por bailarinos e ex-bailarinos.

Paulo Xavier, idealizador e coordenador do festival, explica que o trabalho para alguns dias dura todo o ano e é mantido há 25 anos ininterruptamente.

A programação ocorre, tipicamente, no mês de setembro mas, neste ano, foi adiada para outubro.

A 26º edição tem os apoios culturais mantidos, ainda de acordo com Xavier. Mas os tantos inscritos do Brasil e de fora tem receio de participar da competição ainda neste ano, devido à pandemia provocada pela Covid-19.

“Para este ano, tínhamos mais de 350 inscritos da Argentina e Uruguai. O público de longe lota hotéis durante todos os dias do festival e contribui com a economia local”.

As inscrições desta edição foram abertas ainda em fevereiro e a primeira fase encerraria ainda em junho. O SMD ocorreria, tipicamente, em setembro. Hoje, a previsão é de 20 a 22 de novembro.

O coordenador explica que a organização do festival será retomada conforme os grupos e escolas de dança retomarem suas atividades. Por isso, a programação será formatada se adaptando à realidade atual, como a supressão de noites.

“Não terá o mesmo número de participantes, mas estamos cientes e tranquilos em relação a isto. Estamos bem organizados e podendo olhar para a situação com tranquilidade. Com tanta experiência, conseguimos valorizar as vitórias e enfrentar as dificuldades”.

Viva Santa Maria e Feira do Livro

162º aniversário da cidade foi comemorado à distância, do Theatro Treze de Maio

Maio é o mês da tradicional celebração pelo aniversário da Cidade Cultura. Para tal, não faltam shows e atrações diversas promovidas pela prefeitura municipal.

Viva Santa Maria é o nome da festa, que, em 2020, além de driblar os obstáculos, apoiou cerca de 150 artistas que foram contratados para agregar à programação a distância.

Para a secretária de Cultura de Santa Maria, Rose Carneiro, a ação foi uma grata surpresa:

“Passando da metade de março a cidade simplesmente “fechou”. Precisamos organizar o aniversário bem em cima da hora, mas a recepção foi muito boa. Em tudo isto, estamos reaprendendo a pensar fora dos padrões e a fazer produção cultural de forma inédita”.

Somando as visualizações das lives de toda a semana de festival, mais de meio milhão de espectadores puderam, de casa e protegidos, prestigiar, destaca a secretária.

Com os artistas direto do Palco da Cultura, o Theatro Treze de Maio, a produção cultural pôde ser movimentada.

“Conversando com os artistas, eles destacam a diferença entre um show com público presente e com plateia vazia. É meio estranho, principalmente para os do público infantil, porque as apresentações são repletas de interatividade. Assim, precisaram imaginar a reação dos espectadores”.

A secretária enxerga o presente com boa perspectiva e o futuro com otimismo:

“Penso que, daqui em diante, não voltemos aquele normal  de  mensurar os resultados de um festival pelo número de público, isso perde o sentido. Agora, pensamos  na sobrevivência do planeta, na sustentabilidade e na humanidade. Esta maneira não é melhor nem pior, é apenas diferente”, avalia Rose.

Feira do Livro

Foto: Assessoria de Imprensa da Feira do Livro \ Eduardo Camponogara LABFEM UFN / A maior programação cultural de Santa Maria não poderia deixar de acontecer. virtual, presencial ou híbrida, alcançará

A Feira do Livro, que ocorreria de 24 de abril a 9 de maio, ocorre de 1º a 10 de outubro. As reuniões e de planejamento estão sendo feitas há cerca de dois meses.

Embora por tempo limitado, a edição será, como de costume, repleta de atrações, novidades e convidados, é o que garante a secretária:

“Vamos propor, em breve, uma nova Feira do Livro, em novo formato, combinando com os tempos atuais”.

Por enquanto, o que pode ser revelado é que tudo será adaptado. Embora não possa ser igual, a programação de palco, cultural, os lançamentos de livros de escritores de Santa Maria e região e as tradicionais bancas de livros estão sendo pensadas para um novo formato. Ela garante que os propósitos da feira se manterão.

Rose, embora tenha adentrado à secretaria de cultura do município ainda neste ano, atua com  a feira desde 2011, com grande bagagem como produtora cultural. Para ela, o momento é uma oportunidade de inovar e pensar fora da caixa.

Por mais que ainda não tenha detalhes divulgados, já é possível perceber que o festival será bem conectado. A secretária mencionou lives e podcasts como fortes possibilidades de levar a cultura da feira ao público.

Uma forma de venda de livros ainda não foi definida, mas é cogitada e será melhor engendrada junto da Câmara do Livro.

Dentro do possível, parte da programação será presencial, com medidas de cautela bem planejadas, mas ainda é cedo para tantos detalhes. Como a secretária conclui: “tudo pode acontecer”.

Os festivais agora
Como estão programados os festivais, até o momento:

47ª Feira do Livro

  • Formato: on-line
  • Quando: previsão do final de setembro ao início de outubro
  • Situação: confirmada
  • Onde: plataformas ainda indefinidas
  • Informações: pelo site ou pela página

27ª Tertúlia Musical Nativista

  • Formato: indefinido
  • Quando: sem previsão
  • Situação: festival confirmado, data pendente
  • Onde: sem previsão
  • Inscrições: encerradas
  • Informações: pelo site da prefeitura municipal

14º Santa Maria Vídeo e Cinema

  • Formato: presencial
  • Quando: sem data definida
  • Situação: pendente
  • Onde: na Praça Saldanha Marinho
  • Inscrições: sem data definida
  • Informações: pela página

26º Santa Maria em Dança

  • Formato: presencial
  • Quando: de 20 a 22 de novembro
  • Situação: pendente
  • Onde: no Centro de Convenções Park Hotel Morotin
  • Inscrições: sem data definida
  • Informações: pela página

Por: Gabriele Bordin

Em tempos de pandemia, novas formas de celebrar as boas notícias. Fotos: Bianca Pereira

Em meio à pandemia do coronavírus surge a dúvida sobre como comemorar as boas notícias e celebrar as pessoas da melhor forma possível, sem correr riscos desnecessários à saúde.

A reinvenção acontece de diversas formas como é o caso da comemoração do chá de bebê do casal Aline de Moraes Poerschke e Mateus Simon, que aguardam a chegada da primeira filha.

A família e os amigos decidiram surpreender o casal com uma “chárreata” de bebê aconteceu neste domingo, 05 de julho, e levou 16 carros e 45 pessoas à rua Felipe de Oliveira para fazer a festa no estilo “drive-thru” e com um “buzinaço”.

A  gravidez chegou no início do ano, e junto com a descoberta de que era uma menina, veio a pandemia. Familiares e amigos conseguiram acompanhar o crescimento da barriga e da neném por fotos durante os últimos meses, mas a vontade de celebrar a nova vida precisou ser repensada para a segurança de todos.

A bebê Paola deve chegar em agosto.

A ideia da “chárreata” partiu das futuras “dindas”, Nathália Teixeira e Graciela Simon, através do Facebook, onde comemorações nesse estilo viraram um sucesso. Foi criado, então, um grupo no whatsApp com os convidados, onde a organização foi focada na segurança de todos, com as seguintes recomendações: cada um no seu carro, usando máscaras; não descer do carro; entregar o presente e tirar fotos pela janela. As lembrancinhas, bisnagas de álcool gel, também foram pensadas levando em conta o momento atual.

Será a primeira neta de Ana Alice Franco Moraes, que conta: “A Paola é uma criança abençoada que vem para a família, depois de vários anos. A Aline teve um problema muito sério de saúde […] um linfoma em 2006. Chegamos a pensar que, por causa da químio, ela não poderia engravidar”, diz a futura avó.

O casal, que está junto há 6 anos, espera a Paola para início de agosto.

Por Bianca Pereira, jornalista pela UFSM

Para saber o verdadeiro cenário do Coronavírus e os números reais de infectados com a doença, especialistas e Organização Mundial de Saúde (OMS) apresentam uma concordância de ideias: é preciso que a população seja testada o máximo possível, baseados no fato de que países que apresentaram alta capacidade de realizar testes em suas populações também tiveram maior capacidade de controlar a pandemia.

Em contrapartida, no Brasil, por exemplo, existe uma grande insuficiência de testes disponíveis no sistema de saúde. Isso faz com que os profissionais da área priorizem os pacientes com sintomas graves e do grupo de risco, a fim de “economizar” testes para esses casos e ir apenas isolando os possíveis assintomáticos e pessoas que tiveram contato com os infectados. Segundo Eduardo Furtado que atua no setor de virologia da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM) e está coordenando os testes diagnósticos da região, a prioridade de testagem é dos pacientes internados nas unidades de hospitais da cidade e profissionais da saúde em contato com os pacientes.

Para interpretar os dados da pandemia corretamente, o ideal seria saber quantos testes há disponíveis e quantos são aplicados em cada município de cada estado. No entanto, a Open Knowledge Brasil (OKBR) divulgou em seus índices de transparência da COVID-19 que somente quatro estados estão divulgando em seus boletins oficiais a quantidade de testes disponíveis, são o Espírito Santo (ES), Goiás (GO), Pernambuco (PE) e Paraná (PR).

Tipos de testes para o Coronavírus

Todos os testes para COVID-19 são totalmente seguros e não causam problemas a quem está sendo testado. Quanto à confiança na conclusão, há pontos que devem ser observados na hora da interpretação do resultado.

Os testes RT-PCT são os que identificam o vírus, ou seja, detectam a presença de seu material genético no corpo. Eles são 100% confiáveis se a coleta for realizada na janela de tempo certa, que é entre o 3º e o 10º dia após o início dos sintomas no paciente suspeito, pois esse é o tempo médio em que o vírus está totalmente ativo. Já se a coleta do material for realizada antes ou depois desse período, fica mais difícil detectar o material genético do vírus e, então, os resultados podem ser falsos. O teste RT-PCR é o único capaz de mostrar que a pessoa tem o vírus no momento da coleta e o único que pode provar que a infecção acabou, que é quando o teste para de detectar o material genético do vírus COVID-19 no paciente, pois ele já está recuperado.

Já os testes sorológicos usados para COVID-19 detectam anticorpos, ou seja, revelam se a pessoa teve contato com o vírus, ficou doente e então se recuperou. Com esse tipo de teste o sangue da pessoa deve ser coletado após o décimo dia desde o início dos sintomas. Se o teste for feito antes do décimo dia, haverá resultados falsos negativos, que é quando a pessoa está infectada, mas recebe um resultado negativo em função do exame ter sido feito no período errado. Já quando o sangue é coletado no período de tempo certo, a sensibilidade do teste sorológico é de 85%, ou seja, os resultados detectados nos anticorpos são corretos em 85% dos casos.

Existe também o teste rápido, que mostra o resultado em apenas alguns minutos e detecta a proteína do vírus no sangue do indivíduo. Em contrapartida, se o teste proporciona rapidez no resultado, sua sensibilidade é baixa. Segundo Laura de Freitas, Mestra e Doutora em Biociências e Biotecnologia Aplicadas à Farmácia, a sensibilidade desse teste é de apenas 25%, ou seja: só acerta 1 a cada 4 testes positivos. Isso pode gerar grande insegurança na população e nos dados da pandemia, além de não ajudar na decisão sobre se determinado paciente deve ou não ficar em isolamento.

Os testes mais utilizados para COVID-19 são o RT-PCR e o teste sorológico, ambos têm resultados em algumas horas. No entanto, esses resultados podem demorar para chegar ao paciente, pois precisam ser feitos em laboratórios autorizados e certificados para isso. Como poucos se encaixam nesse padrão, as análises acabam por sobrecarregá-los.

Os testes disponíveis no HUSM são o RT-PCR, já em laboratórios particulares o RT-PCR e teste rápido e em farmácias, o teste rápido. Segundo Flores, o tempo de espera para obter os resultados de testes da COVID-19 leva em torno de 6 a 8 horas desde o recebimento das amostras até o resultado, mas em virtude da logística o HUSM está liberando entre 24h até 48h. Quanto ao custeio e número de testes disponíveis, Flores revela que “os testes disponibilizados pelo HUSM foram custeados pelo Ministério Público do Trabalho, ou seja, seis mil testes que devem durar até agosto/setembro, depois teremos que buscar mais recursos”.

Testes no mercado

 Para que haja liberação dos testes para COVID-19, há um processo com várias etapas. Uma delas é o registro junto à Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA) com apresentação de documentos, ensaios clínicos e dados que indiquem sua segurança e eficácia, para que assim o produto seja avaliado, já que só é liberado se for capaz de dar o resultado correto para o qual foi desenvolvido. Segundo a ANVISA, entre os dias 18 de março e 16 de abril houve 157 solicitações, das quais apenas 39 foram aprovadas. Dos 39 aprovados, 21 eram testes rápidos.

Conforme a resolução nº 337 publicada no Diário Oficial da União, as farmácias também podem realizar testes rápidos de anticorpos e antígenos – substâncias estranhas no organismo que provocam a produção de anticorpos –  para o novo Coronavírus, porém a medida tem caráter temporário e excepcional. Mas mesmo que seja permitido, as farmácias devem atender aos requisitos técnicos de segurança para a testagem constantes nas diretrizes e o teste só pode ser realizado por um farmacêutico.

Com isso, a proposta ajuda a ampliar a testagem e acaba por reduzir a sobrecarga dos serviços públicos durante a pandemia, evitando que muitas pessoas vão até hospitais sem necessidade. Os resultados dos testes realizados pelas farmácias devem ser informados às autoridades de saúde, mesmo que sejam negativos.

O que dizem os pesquisadores?

 A Agência Bori divulgou o Webinar “Testes do Coronavírus: Possibilidades e Limites” realizado através do canal Cidacs Fiocruz em que o imunologista Manoel Barral Neto explica que um teste não substitui o outro. Segundo Barral, os testes são necessários e devem ser usados para se complementar e para que se entenda a presença, a eliminação do vírus e o desenvolvimento da resposta imune para uma eventual proteção. Outra medida, segundo ele, é fazer o teste em grupos populacionais.

A necessidade de testagem em massa mostrou a dificuldade que o Brasil tem na produção de testes, pois são poucas empresas que produzem o equipamento aqui no país e muitos componentes ainda são importados. A imunologista e pesquisadora do Laboratório de  Parasitologia Médica, Ester Sabino, é uma das líderes do sequenciamento genético do COVID-19 e esclarece como pode ser possível frear a disseminação do vírus: “É preciso aumentar a oferta de testes e achar formas se seguir rapidamente todos os compactantes das pessoas infectadas, essa é a questão chave para achar os locais de alta transmissão e bloquear populações de forma mais efetiva. Isso vai depender de sistemas de informação”.

A pesquisadora e cientista Jaqueline de Jesus, mestre em Biotecnologia em Saúde e Medicina Investigativa pelo Instituto de Pesquisas Gonçalo Moniz – Fundação Oswaldo Cruz (IGM-FIOCRUZ), também explica que outro fator importante é fazer a vigilância desse vírus, pois não se sabe como ele está se adaptando ao ambiente e à população brasileira. “A gente recebe amostras de diversos locais do país, mas tudo é subnotificado, por isso a importância da testagem até pra prever novos surtos. Há cidades do Brasil que ainda não foram atingidas pelo COVID-19, mas acreditamos que pelo fato da população não ter a imunidade para o vírus, ainda vão ter casos sim”, declara.

Dados e pesquisa

 Os dados da pandemia divulgados pelos canais oficiais não refletem a real situação do alcance do vírus, pois há vários empecilhos no caminho como a falta de testes e a circulação de pessoas, visto que mesmo que todos fossem testados agora, se a pessoa A está negativa hoje, pode se infectar daqui a dois dias e testar positiva, o que resulta em alteração de dados.

A primeira pesquisa brasileira que busca realizar um levantamento do número de infectados é uma iniciativa do Rio Grande do Sul (RS) que foi ampliada para o país. No estado, o estudo está sendo conduzido por pesquisadores da Universidade Federal de Pelotas (UFPel) e é realizado em nove cidades, sendo elas Porto Alegre, Canoas, Pelotas, Caxias do Sul, Santa Cruz do Sul, Santa Maria, Passo Fundo, Ijuí e Uruguaiana. Com uma amostra representativa da população, o estudo é o único no mundo que tem quatro pontos de dados em uma mesma população, que são estimar o percentual de pessoas com anticorpos para o vírus, a velocidade, o número de infecções assintomáticas e a letalidade.

No dia 27 de maio, o governador do Estado do RS, Eduardo Leite, divulgou em videoconferência conjunta com  o Reitor da UFPel, Pedro Hallal, dados da quarta fase desta pesquisa, na qual foram realizados mais 4.500 testes rápidos, sendo 500 em cada cidade onde o estudo está sendo feito. Dos 4.500 testes, 8 apresentaram resultado positivo (4 deles em Passo Fundo), o que representa um infectado a cada 562 habitantes e uma estimativa de 20.226 pessoas com anticorpos no Rio Grande do Sul. O estudo mostra que não há um crescimento descontrolado do Coronavírus no estado gaúcho, mas, sim, uma estabilidade no crescimento do número de casos. Estima-se, portanto, que há três vezes mais casos confirmados do que os números notificados, mas o Estado é um dos que mais tem apresentado resultados favoráveis em relação ao enfrentamento da COVID-19. Segundo Leite, houve também uma estabilidade nas internações em hospitais do estado.

Das quatro fases já realizadas pelo estudo, esses são os melhores resultados até agora. Conforme anunciado pelo reitor da UFPel, a pesquisa terá ainda mais quatro fases e a previsão é de que ao total 36 mil pessoas sejam entrevistadas e testadas.

A pandemia no município de São Pedro do Sul

 O primeiro caso de Coronavírus em São Pedro do Sul foi confirmado nesta semana, no entanto, as ações solidárias para ajudar aqueles que já sentem os impactos da pandemia já acontecem desde muito antes. A Banda Marcial Independente de São Pedro do Sul (BMISPS) tem pouco menos de um ano de existência e – em decorrência do Coronavírus – as atividades tiveram que ser suspensas. Por conta disso, a BMISPS decidiu realizar uma campanha para contribuir com a sociedade, como a arrecadação de alimentos e materiais de higiene pessoal.

Segundo Emanoel Santos da Rocha, Presidente da Associação da Banda, a campanha possui pontos de coleta no Guincho do Tunicão, próximo à rodoviária, e na Igreja Pentecostal Mistérios da Fé, próximo ao cemitério municipal. “Toda doação é bem vinda e pedimos a colaboração de todos para que ajudem as campanhas que aparecerem. A música serve para unir e integrar as pessoas, e o objetivo da BMISPS é ajudar o máximo de pessoas que mais precisam nesse momento”, ressalta o Presidente. As doações farão parte de cestas básicas que vão ser confeccionadas e distribuídas. A arrecadação irá até o dia 13 de junho. Para mais informações, interessados em colaborar podem entrar em contato pelo telefone (55) 99905-2941, falar com Emanoel.

A Secretaria Municipal de Educação (SMEC) investiu em tecnologia para os professores da rede municipal utilizar para fins de pesquisas, controle, registro de aulas e da vida escolar dos alunos. A medida empregou em torno de 150 mil reais em tablets e capas protetoras. Desde o dia 01 de junho a reportagem tentou contato com a Secretaria para obter mais informações, mas até o fechamento desta reportagem não obteve retorno.

 

Esta  reportagem integra o Projeto Experimental em Jornalismo que busca aproximar a informação científica da comunidade de São Pedro do Sul, a fim de combater a desinformação e as Fake News por meio da produção de conteúdo com base científica, produzido pela acadêmica Lilian Streb sob orientação da professora Carla Torres.

Eu tenho um sonho. Foi com essas palavras que Martin Luther King Jr. tornou-se um dos mais importantes ativistas na luta contra a segregação racial nos Estados Unidos. O discurso proferido em 1963 inspirou o movimento dos direitos civis no país, e ainda é utilizado como referência nos movimentos de luta contra o racismo. Outro ativista e – posteriormente – líder político, Nelson Mandela, também recorreu a discursos que instigavam a movimentação política e reivindicavam o fim do Apartheid na África do Sul. Não apenas discursos que demandam o fim da violência e a luta por igualdade foram marcantes na história: Adolf Hitler apostou na oratória para fomentar a superioridade da “raça ariana” e a construção dos campos de concentração.

Hoje, os discursos ainda ocupam espaço na política. A recorrência a prática discursiva é visível na pandemia do coronavírus, já que líderes políticos precisam aumentar a comunicação e a transparência com a população. Porém, os discursos proferidos durante a pandemia também expõem os conflitos inerentes da sociedade contemporânea. Eliane Brum explica que a crise da palavra, resultado da era da pós-verdade é um exemplo. Nesse momento, as emoções e as crenças pessoais assumem maior relevância diante de fatos objetivos, e as consequências não tem respaldo apenas no processo político, mas também na saúde pública.

De acordo com Jonivan de Sá, argumentar e discutir sobre ideias e opiniões é um mecanismo natural e essencial da condição humana. Nesse sentido, quando se traduz essa atividade para a política, o cientista político explica: “o que chamamos corriqueiramente por “discurso” é a alma da política, diz respeito à ideologia, a posicionamento e a tudo aquilo que vise à obtenção de consenso dentro de um determinado grupo”.

O contexto brasileiro: O Coronavírus por Bolsonaro

Desde o início da pandemia, Jair Bolsonaro tem demonstrado em discursos um ceticismo em relação às recomendações das instituições de saúde e organismos internacionais. Em pronunciamento na rádio e na televisão (24/03), o presidente utiliza os termos “gripezinha” e “resfriadinho” para se referir ao coronavírus, e declara que a mídia produziu uma “histeria” ao tratar da propagação do vírus e da necessidade de isolamento social. Em outro momento, quando questionado por jornalistas sobre as mortes por coronavírus no Brasil, Bolsonaro respondeu: “E daí? Lamento. Quer que eu faça o quê? Sou Messias, não faço milagre”.

O sociólogo Francis Moraes de Almeida entende que Bolsonaro utiliza os discursos como forma de agressão, promovendo, assim, um estado de constante embate. Além disso, revela a apreensão do presidente com o cenário eleitoral. “A preocupação parece ser mais com a sua condição de presidente e a continuidade do exercício de poder, do que necessariamente com o enfrentamento da crise”, interpreta Francis.

Bolsonaro fala a imprensa e cumprimenta apoiadores no Palácio da Alvorada. Foto: Antonio Cruz/Agência Brasil

Cleber Martins entende que as posições adotadas por Bolsonaro têm o objetivo de gerar controvérsias e reforçar uma política de confronto com grupos políticos adversários e com a ideia de estabilidade e produção de consenso. O professor de ciência política ainda lembra que essa postura fez parte da carreira do presidente: “A lógica do confronto permanente, característica da carreira de cerca de três décadas de Bolsonaro, é reveladora dos interesses e concepções políticas que defende. Todas elas têm como base um processo centralizado de tomada de decisões, de caráter conservador e, em parte, reacionário, com baixa capacidade de gerar diálogo e negociação. Acima de tudo estão os interesses de seus apoiadores, setores empresariais e religiosos”.

O jornalista político Celso Schroder também acredita que as declarações de Bolsonaro como deputado federal já demonstravam posições controversas na prática política. A mídia, segundo Schroder, acabou naturalizando e acolheu este discurso como uma possibilidade de ser aceito socialmente. “Ao negar a pandemia e assumir o risco de produzir um verdadeiro genocídio, Bolsonaro está concretizando o que alguns pensadores chamam de necropolítica, ou seja, a compreensão de que os recursos são escassos, e a humanidade precisa decidir quem viverá e quem morrerá”, conclui Celso.

Outro aspecto presente em discursos de Bolsonaro são declarações falsas ou contraditórias sobre o coronavírus. Não apenas o presidente brasileiro fez uso destas falas. De acordo com reportagem da BBC News Brasil, o discurso de Donald Trump, presidente dos Estados Unidos, compartilha semelhanças com as declarações de Bolsonaro. Ambos minimizaram a doença no estágio inicial e apontaram para o uso de medicamentos ainda não comprovados eficazes para o combate a Covid-19, como a cloroquina e a hidroxicloroquina. Trump, assim como Bolsonaro, promoveu ataque à cobertura da mídia, denominada “mídia fake news” pelo presidente americano. Ainda rejeitam as indicações de especialistas sobre medidas de tratamento e isolamento, e defendem a reabertura do comércio.

Os pronunciamentos dos líderes políticos resultaram em diferentes reações da população. No Brasil, empresários realizaram passeatas para pressionar a abertura do comércio, e apoiadores de Jair Bolsonaro participaram de manifestações pró-governo. Nos Estados Unidos, também ocorreram manifestações com apoio do governo. Além disso, está sendo investigada a morte de um homem que ingeriu cloroquina após ouvir discurso em que Trump reiterou os benefícios do medicamento.

Outra consequência dos discursos adotados pelos presidentes é o desrespeito à quarentena. Em telejornais, são frequentes as reportagens que demonstram aglomerações de pessoas que não estão utilizando máscaras. Na Argentina, uma das medidas adotadas pelo presidente Alberto Fernández, foi o pagamento de multa por descumprimento da quarentena. O país é um dos poucos países que está conseguindo conter o avanço do coronavírus.

Presidente Alberto Fernández apresenta novo contingente de Forças Armadas para garantir o cumprimento do isolamento social, preventivo e obrigatório segundo o governo. Foto: Casa Rosada Presidencia.

Neste sentido, é possível observar que os discursos políticos têm poder de influência, como explana Jonivan de Sá: “Na mesma medida em que discursamos, somos influenciados pelas ideias e opiniões que os outros expressam. Penso que a partir daí já conseguimos supor a relevância disso tudo na política atual, por exemplo, em que nem sempre os discursos fazem sentido, mas mesmo assim têm o poder de convencimento”.

O contexto europeu: A postura de diferentes líderes frente à pandemia

Os discursos políticos também são empregados para a promoção de coalizão social durante a pandemia. É possível observar isso, nos discursos de lideranças políticas europeias. Referências nacionalistas são recorrentes nos pronunciamentos de Emmanuel Macron. O presidente francês citou a expressão “estamos em guerra” inúmeras vezes em pronunciamentos. O primeiro presidente a comparar o momento atual com um estado de guerra foi Xi Jinping, chefe de Estado da China, que denominou o coronavírus como um “inimigo invisível”.

Angela Merkel também incluiu referências nacionalistas nos discursos. A presidente alemã destacou que o combate a Covid-19 se caracteriza como o maior desafio desde a Segunda Guerra Mundial. Nos pronunciamentos, Merkel ainda recorreu a fatos científicos para explicar à população que o isolamento social é necessário para achatar a curva de contágio.

Chanceler Angela Merkel consultou chefes de Estado e de governo da União Europeia sobre a pandemia. Foto: Governo Federal da Alemanha.

 

 

 

 

 

Discursos: Do atual cenário ao posicionamento pós-pandemia

Para Jonivan, a argumentação nacionalista pode variar de acordo com as prioridades e as agendas dos grupos políticos em questão. “Os atores políticos, de uma forma geral, usam o discurso nacionalista como suporte para seus programas, independentemente de posicionamento ideológico. Quando se fala, por exemplo, ‘pelo bem da nação’ já está sendo nacionalista em um certo sentido”, desenvolve o cientista político.

Francis alerta para quando a coesão, pretendida com o discurso nacionalista, provoca preconceitos. “O nacionalismo aliado a xenofobia acaba sendo uma estratégia de coesão social quando empregadas no discurso, ou seja, quando existe uma delimitação do “nós” em relação aos “outros”. A integridade e coesão do nosso grupo se dá em decorrência de um grupo de oposição”, expressa o sociólogo. As recorrentes alusões de Donald Trump quando denomina o coronavírus como um “vírus chinês” é um exemplo da utilização dessa estratégia, e ainda demonstra a permanência da guerra comercial entre os países durante a pandemia.

“Governos conservadores, reacionários, eventualmente autoritários, em geral constroem um discurso capaz de produzir algum grau significativo de coesão. Ao produzir um inimigo fantasioso, porém, em parte, verossímil, como os estrangeiros, o comunismo, etc., conseguem reunir em torno de uma mesma ideia, ainda que superficial, segmentos expressivos do eleitorado e da sociedade. Um dos efeitos disso tudo é a disseminação de posições contra a política, como se tudo pudesse ser classificado como certo e errado de antemão, sem pluralidade e sem controvérsia”, pontua Cleber. Os efeitos dos discursos políticos também são observados nas redes sociais. Jonivan acredita que as redes sociais podem ser consideradas um elemento central para análise de política contemporânea devido ao impacto na propagação dos discursos.

Em contrapartida, Cleber afirma que o impacto das redes sociais na política ainda é um objeto de estudo. “É um campo aberto para o surgimento e efetivação, pelo menos até agora, de lideranças políticas capazes de produzirem uma espécie de relação direta com seu eleitorado, sem ou com pouca mediação institucionalizada. Contexto que vem favorecendo segmentos conservadores, reacionários e, quase sempre, pouco afeitos ao diálogo democrático, tendo uma posição de criminalização da política e uma compreensão superficial sobre a sociedade e sua relação com o Estado”, justifica o professor.

Para Francis, os discursos de Bolsonaro têm como foco os seguidores nas redes sociais. Assim, na medida em que governa olhando para seus seguidores, Bolsonaro também busca alcançar ainda mais pessoas nestes meios. Por essa razão, o sociólogo explica: “a concepção de povo como entidade política não parece estar no horizonte do atual governante. Isto é um problema, já que é inconsistente com o regime democrático”.

Os desafios pós-pandemia também são avaliados pelos especialistas. Francis entende que se deve estudar os cenários apontados no decorrer da história. O sociólogo afirma que tanto nos casos de rompimentos de barragens, quanto no momento atual, já haviam modelos que indicavam riscos e a necessidade de adoção de medidas preventivas. “Ciência era pensada e continua sendo pensada como gasto, e não investimento. É por conta disso, que teremos mais gastos e dispêndio, devido a não ter investimentos prévios em ciência e em um sistema de saúde para contingenciamento de crise”, menciona Francis.

Jonivan aponta para a recuperação da economia e sinaliza o papel fundamental do Estado para lidar com o descompasso entre oferta de mão-de-obra e oferta de vagas de emprego. Para Cléber, os desafios ainda são complexos de estimar, mas ele propõe uma reflexão: “Talvez o maior desafio seja manter e aprofundar a democracia, criando mecanismos mais efetivos para a tomada de decisões coletivas, respeitando a pluralidade”.

 

* Texto produzido para a disciplina de Jornalismo Especializado, do Curso de Jornalismo da Universidade Franciscana, durante o 1º semestre de 2020. Orientação: Profª Carla Torres.

A incessante busca pelo fim da pandemia causada pelo novo Coronavírus (COVID-19) assemelha-se a uma corrida pelo mundo. O vírus foi descoberto em dezembro de 2019, após ter seus primeiro registros na China, e faz parte de uma família de vírus que causa infecções respiratórias e que possui alta taxa de transmissão. Cientistas de todos os cantos se empenham para chegar ao mesmo propósito: conseguir uma vacina para a doença que assombra populações de todos os países.

O Sistema de Saúde do Brasil e de vários países do mundo possui uma capacidade limitada para gerenciar essa onda de pneumonia grave,  além de possuir baixa disponibilidade de pessoal treinado. Além disso, há fatores como a falta de respiradores e leitos para os pacientes, o que fará com que o sistema de saúde entre em colapso caso grande parte da população fique doente, e isso obriga os médicos (as) e enfermeiros (as) a revezar os aparelhos, ou até mesmo ter que escolher quem vai poder utilizar.  A falta de equipamentos de proteção individual (EPI) para os profissionais de saúde que atuam na linha de frente e que encontram-se afetados pela COVID-19 também é um grande problema enfrentado na pandemia.

Descobrir meios de atacar o vírus é o novo foco dos estudos científicos nos laboratórios, pois cada dia que passa os números de mortos e infectados aumentam, reforçando a idéia de que só a ciência pode fazer com que as rotinas de todos possam voltar ao normal. Até o momento não existe vacina nem medicamento específico para o Coronavírus, apenas o tratamento dos sintomas causados por ele. Em contrapartida, são vários os medicamentos analisados em estudos científicos e mais de 100 vacinas em teste.

REMDESIVIR

 Conforme publicado pela Agência Brasil, os Estados Unidos divulgaram estudos científicos relacionados ao uso do medicamento Remdesivir contra o COVID-19, mostrando que pacientes que fizeram o uso do fármaco se recuperaram mais rápido da infecção. A pesquisa foi conduzida pelo Instituto Nacional de Alergias e Doenças Infecciosas e estudou mais de mil pessoas em estado grave da doença em todo o mundo, concluindo que 31% deles se recuperou mais rapidamente do que aqueles que receberam apenas um placebo, que é quando é feito o uso de alguma substância que não produz interação com o organismo, mas apresenta uma melhora fisiológica, aliviando os sintomas.

Um exemplo básico de placebo no nosso dia a dia é ingerir água com açúcar quando estamos nervosos, não há estudos confirmando que a mistura causa efeito, no entanto a sabedoria popular nos leva ao uso na busca por resultado positivo. O Remdesivir também é o primeiro medicamento autorizado pelo Japão para o tratamento de pacientes com a COVID-19.

Segundo o estudo feito com o fármaco, 8% dos pacientes morreram, o que corresponde a 3% a menos do que quem recebeu apenas um placebo. Mesmo assim, nada está comprovado em relação ao medicamento. A revista The Lancet por exemplo, publicou que o tratamento com o Remdesivir não reduz a mortalidade nem mesmo acelera a recuperação, quando comparado ao placebo.

O Professor de Química da Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP), Luiz Carlos Dias, explicou em um vídeo publicado no dia 30 de abril na página da Divisão de Química Orgânica que o medicamento Tamiflu (OSELTAMIVIR) é um dos fármacos deixados para trás nas pesquisas contra o coronavírus, e que ele foi desenhado especialmente para combater H1N1. O uso de alguns corticóides para tentar evitar processos inflamatórios mais nocivos causados por COVID-19 também falharam em pesquisas.

CLOROQUINA E HIDROXICLOROQUINA

O Ministério da Saúde explica que o uso da Cloroquina e Hidroxicloroquina no tratamento contra a COVID-19 é uma prática realizada em casos muito graves e chama-se uso off label, ou seja, é algo que não consta na bula do medicamento, fora das causas para as quais é prescrito.

Nesses casos, o governo do Brasil autorizou o uso desses medicamentos, mas a decisão de aplicação fica a cargo do médico que devem avaliar cada paciente específico. O Conselho Federal de Medicina (CFM) divulgou em seu Parecer nº 04/2020 que essa decisão quando tomada deve seguir os critérios e condições estabelecidas pelo CFM, que inclui a autonomia do médico e a valorização da relação médico-paciente.

Especialistas e cientistas explicam que a população não deve usar a cloroquina ou hidroxicloroquina na tentativa de tratar ou prevenir a COVID-19 sem que isso seja feito e acompanhado por um profissional da saúde, pois os medicamentos possuem efeitos colaterais como danos ao coração, além de poderem levar a morte.

A Sociedade Brasileira de Imunologia (SBI) publicou um parecer no último dia 18, que explica sobre o uso da Cloroquina e Hidroxicloroquina contra COVID-19. Segundo o parecer, ainda é precoce a recomendação de uso deste medicamento, visto que diferentes estudos mostram não haver benefícios para os pacientes que utilizaram hidroxicloroquina. Além disto, trata-se de um medicamento com efeitos adversos graves que devem ser levados em consideração. A SBI recomendou que fossem aguardados os resultados dos estudos em andamento, para obter uma melhor conclusão quanto à real eficácia da hidroxicloroquina e suas associações para o tratamento da doença, já que até o momento não há evidências científicas suficientes que garantam a redução da mortalidade por COVID-19.

A revista científica “Jama” publicou recentemente uma das principais pesquisas  sobre a hidroxicloroquina, feita por pesquisadores da Universidade de Albany, no estado de Nova York. O estudo  analisou 1.438 pacientes com a doença e não encontrou relação entre o uso do medicamento e a redução da mortalidade por Coronavírus, além disso, os pacientes tratados com hidroxicloroquina tiveram muito mais chance de sofrer parada cardíaca e apresentaram taxa de mortalidade muito parecida com a dos que não usaram o fármaco.

Por isso, na ausência da comprovação de efeitos benéficos para a saúde com segurança e eficácia, e sem ensaios clínicos conclusivos e validados, que comprovem do ponto de vista médico e científico sua segurança e eficácia, não há liberação de vacina, nem medicamento.

VITAMINA D

Circularam nos últimos dias várias notícias e comentários populares de que a vitamina D protege contra o coronavírus. Embora a vitamina fortaleça o sistema imunológico, não existe nenhuma evidência científica confirmada de que a mesma reduza o risco de infecção por coronavírus, mas existem estudos feitos por pesquisadores da Universidade de Turim, na Itália, que indicam a ação preventiva que a vitamina D pode ter em relação ao COVID- 19.

Em reportagem, a Universidade publicou que pretende levar a reflexão para a comunidade científica, pois o estudo realizado se baseou apenas em literatura já existente, aliado ao fato de que a vitamina D pode ter efeito preventivo, protetor e terapêutico em infecções respiratórias virais em geral. No entanto, para melhorar a imunidade contra o novo Coronavírus é também muito importante a prática de exercícios físicos em conjunto com uma alimentação saudável, além de ser muito importante que a pessoa não fume, não use drogas e não ingira bebidas alcoólicas.

Ainda não há vacina, nem mesmo medicamento antiviral específico para prevenir ou tratar a COVID-19. Conforme a Folha Informativa publicada pela Associação Pan-Americana da Saúde (OPAS) do Brasil,  as pessoas infectadas devem receber cuidados de saúde para aliviar os sintomas, já quem possui doenças graves deve ser hospitalizado. A maioria dos pacientes se recupera graças aos cuidados de suporte que incluem medicamentos contra os sintomas, e em casos graves o uso de ventilação mecânica e oxigênio suplementar.

A Organização Mundial de Saúde (OMS) está coordenando esforços para desenvolver vacinas e medicamentos para prevenir e tratar a COVID-19 o mais breve possível, mas por enquanto as recomendações mais eficazes e importantes devem ser mantidas para se proteger contra a COVID-19, que é  lavar frequentemente as mãos com água e sabão, usar máscaras corretamente e manter uma distância de pelo menos 1 metro das pessoas, além do distanciamento social, já que só deve sair de casa quem realmente precisa.

É também muito importante que a população tenha consciência de que a automedicação traz riscos à saúde, podendo haver interação medicamentosa, que é quando os efeitos de um fármaco são alterados pela presença de outro, caso a pessoa tome regularmente outros remédios, podendo agravar sua situação de saúde. Sempre consulte um médico antes de ingerir medicamentos, pois qualquer fármaco deve ser utilizado com prescrição e orientação.

A PANDEMIA NO MUNICÍPIO DE SÃO PEDRO DO SUL

 São Pedro do Sul é uma das cidades que ainda não registraram casos confirmados de Coronavírus no Estado, apesar de estar próximo de Santa Maria, que até esta quarta-feira, 20, já contabilizava 125 casos confirmados da doença e 1.895 suspeitos. Segundo Priscila Martini, Assessora de Comunicação da Prefeitura de São Pedro do Sul, o município estava atento sobre o vírus antes mesmo dele chegar ao Brasil. No dia 9 de fevereiro a Secretaria de Saúde e o Hospital Municipal promoveram uma palestra com um médico infectologista no Lions Clube, mas apesar de ter sido divulgada, não obteve muita participação do público. Além disso, também em fevereiro a Prefeita Ziania Bolzan esteve reunida com os secretários de saúde, educação e administração a fim de discutir estratégias no combate ao coronavírus no município, visto que o cenário da época anunciava a aproximação da doença. Nesta reunião ficou acertado que a higienização seria intensificada em todos os setores, bem como seriam levadas mais informações à população na busca de conscientização. Até o momento a Prefeitura já emitiu decretos que informam a situação de calamidade pública, a intensificação do distanciamento social, suspensão das aulas, fechamento do comércio e a obrigatoriedade do uso de máscara.

AÇÕES MUNICIPAIS

Uma das ações realizadas pelo município nos últimos dias foi a distribuição de máscaras para a população. Segundo a Secretária da Secretaria de Desenvolvimento Social, Cristiane Parnov, a administração ganhou da Associação Comercial e Industrial (ACI) uma grande quantidade de tecido, linha e elásticos, e a Secretaria de Desenvolvimento Social disponibilizou recursos para que uma costureira realizasse a confecção das máscaras. “O pedido total foi para a confecção de 3.375 unidades,  grande quantidade já foi costurada e repassada à Secretaria de Saúde para que as agentes comunitárias façam a distribuição. A Secretaria de Desenvolvimento e Setor do Bolsa Família estão confeccionando mais máscaras. Essas últimas serão distribuídas para usuários da assistência.”, relata a secretária Cristiane.

A Assessoria de Comunicação da Prefeitura informou que a entrega das máscaras produzidas pelas costureiras foi realizada através das Agentes Comunitárias de Saúde na praça, nas filas de bancos e lotérica do município, onde também prestaram orientações sobre o uso correto da máscara e para que sejam evitadas aglomerações.

Além disso, a Secretaria de Desenvolvimento Social distribuiu mais de 500 cestas básicas desde março, com itens comprados pela própria secretaria e também com a colaboração das entidades como Rotary Club, Lions Clube, Lojas Maçônicas e doações da população que doou alimentos nos supermercados da cidade por meio de uma campanha da Secretaria de Desenvolvimento Social. “Aproximadamente 500 famílias receberam esta ajuda, famílias que estavam passando por alguma vulnerabilidade. As 500 cestas resultaram em aproximadamente 5.000 kg de alimentos”, ressalta Cristiane. A Defesa Civil do Estado doou 30 cestas básicas para São Pedro do Sul, embora o município tivesse solicitado um número maior.

A secretaria continua trabalhando nesta ação, pois algumas famílias ainda estão solicitando ajuda. No entanto, a demanda está menor, já que as famílias estão em sua grande maioria recebendo o auxílio dos 600 reais que ajudou muitas pessoas em situação de vulnerabilidade.

 O Boletim é atualizado todos os dias automaticamente pelo sistema da Secretaria de Saúde com informações alimentadas pela equipe epidemiológica do município, e é divulgado na página do Facebook da Prefeitura de São Pedro do Sul aproximadamente três vezes na semana.

 

Esta  reportagem integra o Projeto Experimental em Jornalismo que busca aproximar a informação científica da comunidade de São Pedro do Sul, a fim de combater a desinformação e as Fake News por meio da produção de conteúdo com base científica, produzido pela acadêmica Lilian Streb sob orientação da professora Carla Torres.

Imagem de Olga Lionart /Pixabay