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Dia da Mulher

“Não é o batom vermelho. Tem outras coisas além disso”

  O título da matéria é a frase da empresária Jaqueline Adams. Ela ilustra bem a dimensão que o bate-papo Mulheres e Mercado de trabalho: muito mais que poder, protagonismo tomou na última quinta-feira, 8 de março, dia

Garupa faz promoção especial no dia das mulheres

Durante o dia de hoje, 8 de março, dia da mulher, o Garupa App  – aplicativo que trabalha com mobilidade- lançou uma promoção especial para homenagear todas as mulheres.  Corridas de até R$20,00 serão totalmente de graça! O

Feliz dia da mulher para quem?

O ano é 2018, século XXI, mas pelos altos índices de feminicídios parece que estamos na idade média. A cada duas horas, uma mulher é assassinada no Brasil. Mesmo com as leis mais severas e inafiançáveis, 

“O dia é das mulheres, mas a noite não” é o que diz a tirinha da página Cartumante no Facebook, sobre o Dia das Mulheres. Segundo a pesquisa feita pelo Datafolha, 536 mulheres foram vítimas de agressão física a cada hora no Brasil, em 2018. Também consta que 8,9% (4,6 milhões) foram tocadas ou agredidas fisicamente por motivos sexuais, o que representa 9 mulheres por minuto.

9 mulheres por minutos são agredidas fisicamente por motivos sexuais no Brasil. Foto: Mariana Olhaberriet/LABFEM

Enquanto 42% das vítimas apontam a casa como local da agressão, 29% sofreram violência na rua. São por esses motivos que, mais do que nunca, as mulheres têm buscado alternativas de proteção como aprender defesa pessoal. “A necessidade da defesa pessoal sempre me pareceu importante diante da sociedade machista e violenta em que vivemos, onde não sentimos segurança para sair na rua ou em festas e, enquanto mulher, até em relacionamentos amorosos pensamos que podemos estar vulneráveis de alguma forma”, afirma Luana Borges Lemes, mestra em História e praticante de artes marciais desde 2012.

É buscando por empoderamento que as mulheres tem transformado seus discursos em práticas sociais e investido em oficinas de artes marciais. A jornalista Maria Luisa Vianna conta que procurou por aulas de Muay Thai para ter uma noção de defesa pessoal e por ser uma ótima atividade física. “É uma atividade completa, tanto para o corpo quanto para a mente. Me proporcionou uma maior aceitação com meu corpo, melhorou minha saúde e fez eu me sentir mais confiante”, relata Maria Luisa. Já a estudante e professora de dança Esther Avila Schmidt relata que, após 3 anos de prática, se sente mais forte e capaz de lidar com uma possível situação de perigo, além de se sentir hábil para ajudar outras mulheres se for necessário. “Aprendi a trabalhar questões como o medo e o nervosismo, é empoderador”, completa ela.

Laura Helena será a instrutora da aula aberta de defesa pessoal feminina deste sábado. Foto: Mariana Olhaberriet/LABFEM

A instrutora da Escola Pa Kua de artes marciais Laura Helena Paz fala da importância de se ter aulas ministradas tanto por homens como por mulheres. “No viés pedagógico, eu posso conversar e dar orientações de segurança que façam mais sentido para elas, mas por outro lado, é bom praticar com homens para colocar em prática os aprendizados, afinal, elas não vão encontrar um agressor de 45 quilos e 1,54 de altura igual a mim”, explica a instrutora.

Laura Helena ainda menciona que a Liga Internacional de Pa Kua está ofertando em todas as escolas do país uma grande aula aberta sobre defesa pessoal feminina no próximo sábado, dia 30. “Vai ser a segunda aula de defesa pessoal aberta que eu faço, mas tenho expectativas positivas, ainda mais por ser uma cidade universitária em que as mulheres tem mais essa coisa de se ligar com a defesa pessoal, acho que a demanda por isso sempre vai ser grande”, complementa.

“Eu tinha desejo de me sentir mais confiante”, relata Thamyres Guimarães Olympio, professora de dança. “As aulas me trouxeram vivências incríveis e melhoraram muito a minha autoestima, eu me sinto preparada para manter a calma e pensar com clareza se me deparar com alguma situação perigosa”, comenta. A instrutora Laura Helena também esclarece que “a defesa pessoal enquanto concepção é você tentar substituir uma reação instintiva de correr ou paralisar, por uma reação que é técnica e é consciente, mas, no fim, por mais que a gente treine muito, ainda não há garantia de segurança”, pondera Laura Helena.

 

Jacqueline Adams. Fotos: Juliana Brittes/LABFEM

O título da matéria é a frase da empresária Jaqueline Adams. Ela ilustra bem a dimensão que o bate-papo Mulheres e Mercado de trabalho: muito mais que poder, protagonismo tomou na última quinta-feira, 8 de março, dia internacional da mulher. A discussão promovida pela Gema (Agência Experimental do Curso de Publicidade e Propaganda), teve como questão central promover um debate sobre questões que cercam a mulher no mundo profissional.

Além da fundadora da J. Adams Propaganda, atuante em Santa Maria há mais de 20 anos, participaram da discussão Shaiana Antonello, atendimento na agência MP&C Comunica, Raquel Martins, sócia-fundadora da Agência Advertência, e Julie Jarosczniski, sócia proprietária do Mercato Amorino, mediadas pela estudante de Publicidade e Propaganda, também freelancer Débora Lemos.

Tudo começou com apresentações das participantes e uma breve trajetória de cada uma no mercado de trabalho. “Peguei um período histórico de formação tradicional. O assédio moral, aquela cantada fora de hora sempre existiu”, relatou Jaqueline. Raquel, que começou como diretora de arte diz ter sofrido no início da carreira profissional devido a inexperiência. Um sentimento compartilhado por Shaiana: “já sofri preconceito por ter pouca idade e ser novata no mundo profissional”.

Já Julie relatou que seu maior problema como empresária é lidar com as atitudes de alguns clientes. “Sofremos assédio de alguns deles. Dizem frases como: sou solteiro. Eu dou liberdade para as minhas funcionárias reagirem da forma que quiserem. Não posso permitir que algo dessa natureza aconteça apenas para manter um cliente”, revela. Ela ainda relata que alguns vizinhos homens agem de forma machista: eles são estudantes e tem aproximadamente a minha idade. Ficam na sacada dando nota para as funcionárias e clientes do mercado. Gritam coisas como: Cinco, essa é muito feia”.

De preto e branco, combinação favorita da estilista feminista Coco Chanel, mediadora e participantes mostram seu protagonismo. Foto: Juliana Brittes.

Entretanto, percebe atitudes dessa natureza ao lidar com os fornecedores: “eles geralmente preferem falar com o Maurício, meu sócio, do que comigo”. É algo também relatado por Débora, que já passou por esse tipo de situação. “Trabalho com o meu namorado e os homens que ligam preferem tratar com ele do que comigo. Como nós dois atuamos em todas as áreas, nunca demos muita importância para isso”. A questão de uma profissional multitarefa nas agências também por Raquel, que ressaltou já ter trabalhado um pouco em todas as funções. “Nas agências do interior é assim”, explica.

Shaiana ressalta isso como um ponto positivo, relatando não ver tanto machismo em consequência dos funcionários atuarem em diversas áreas. Algo diferente em grandes centros: “quando fui para Porto Alegre, senti a diferença entre homens e mulheres através dos setores da empresa onde trabalhei. Na área da criação, por exemplo, a maior parte eram homens”.

Esse tipo de dominância acaba por refletir em questões do dia a dia, como destaca Raquel: “Se tratando de competência, nunca senti preconceito por ser mulher, mas sim em questões rotineiras da agência, como na hora de lavar a louça do café”. A sócia da Agência Advertência destaca que esse tipo de situação vem, muitas vezes, de berço. “O machismo vem da educação, mesmo da própria mãe. O homem não é cobrado a fazer faxina, por exemplo”.

Outro ponto tratado neste sentido é o fator da vestimenta de trabalho. “Duvido que alguma mulher aqui nunca tenha tido medo de usar alguma roupa e ser assediada”, relatou Shaiana. Raquel ressaltou ainda que não se deve temer o que vestir: “meninas, vistam as roupas que vocês quiserem. O que importa são as atitudes, a competência e a experiência de vocês”. Ao entrar nesse ponto de discussão, uma das mulheres que assistia ao debate desabafou já ter sofrido com questões ligada a vestimenta e aparência. “A empresa em que trabalho já me avisou. Se eu tomar alguma atitude como colorir o meu cabelo, vou para a rua”.

A estudante de Direito e Ciências Contábeis Marcela Denardi, de 21 anos,  participando do bate-papo, declarou para todos ter gostado muito da experiência: “é muito importante esse tipo de discussão. Ambos os cursos que faço tem uma aura machista. Em um deles, falamos sobre mercado de trabalho todos os dias, mas nunca foi abordado o ponto de vista das mulheres”.

Garupa App é um aplicativo de mobilidade urbana. Arquivo ACS.

Durante o dia de hoje, 8 de março, dia da mulher, o Garupa App  – aplicativo que trabalha com mobilidade- lançou uma promoção especial para homenagear todas as mulheres.  Corridas de até R$20,00 serão totalmente de graça! O presente está valendo desde o primeiro minuto – 00:01 – do dia 08 de março e vai até 23:59. Se a corrida custar a R$22,00, a passageira só paga R$2,00.

A iniciativa da empresa surgiu a partir da ideia de presentear todas as mulheres. João Marcondes Vargas, coordenador da empresa, afirma no site do Garupa que:  “Buscamos refletir o contexto histórico que permeia na mudança dos dias atuais. As mulheres têm uma luta diária para conquistar seus espaços e, nesse sentido, queremos homenageá-las mostrando, que tanto nossa empresa como os serviços, prezam pela segurança de nossas passageiras e motoristas”.

A empresa convidou motoristas e passageiras do aplicativo para participar do vídeo em homenagem. Foram selecionadas especialmente para compor uma representatividade da imagem das mulheres atuais. Assista o vídeo. 

O ano é 2018, século XXI, mas pelos altos índices de feminicídios parece que estamos na idade média. A cada duas horas, uma mulher é assassinada no Brasil. Mesmo com as leis mais severas e inafiançáveis,  isto não tem sido barreira para quem quer matar. Os motivos?  As discriminações pelas quais as mulheres são alvos do machismo, pelo racismo, pela lesbofobia e pela maneira como vivem suas vidas, levando-as a mortes violentas. Quantas mulheres morreram apenas pela sua condição de gênero? Pelo ódio motivado, não tendo força física para própria defesa? Homens acovardados se aproveitam disso diariamente.

Numa entrevista para emprego, quantas mulheres já receberam as seguintes perguntas: ‘’Pretende engravidar? Tem filhos? Você quer trabalhar fora mas vai ter que cuidar da casa também’’? Tirando esse assédio moral, socialmente aceito, quantas mulheres já foram demitidas logo após uma licença maternidade? Temos um exemplo de um político que declarou, publicamente, que mulheres devem receber salários menores, pois engravidam.

O objetivo do dia 8 de março era reforçar as conquistas das lutas feministas das mulheres.  De todas os homens que parabenizam as mulheres ‘’por serem fortes e guerreiras’’, quantos realmente reconhecem isso? Quantos desses mesmos homens já humilharam as mulheres com palavras de baixo calão, assediando-as verbalmente ou até mesmo sexualmente?

A hipocrisia grita –principalmente- nas redes sociais. Talvez um dia poderemos sim, comemorar o dia da mulher com a igualdade dos salários, com cargos de chefia, com o fim da violência doméstica. Talvez um dia poderemos caminhar na rua sem ter o medo de ser abusada sexualmente. Podemos sim, reconhecer alguns avanços, mas não está nem perto de ser o suficiente. Hoje eu, como mulher, afirmo que de feliz essa data não tem nada.