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Santa Maria, RS, Brazil

exaustão

Vida em telas

A primeira coisa que faço ao acordar é olhar para a tela do celular e desligar o despertador. A última coisa que faço antes de dormir é olhar para a tela do celular e o colocar

A primeira coisa que faço ao acordar é olhar para a tela do celular e desligar o despertador. A última coisa que faço antes de dormir é olhar para a tela do celular e o colocar para despertar. Ao levantar, nem tiro o pijama, pego uma xícara de café preto e sento em frente à tela do computador, abro o Microsoft Teams e a aula já iniciou. Uma pausa para o almoço e o celular desperta novamente, hora do trabalho! E lá estou eu novamente sentada em frente a uma tela no home office.

O olho arde, a cabeça lateja, as costas doem. Respiro fundo, tenho de parar diversas vezes para alongar. Quando necessito comunicar-me com amigos e família, acabo aderindo às telas novamente. Lazer? um filme, um livro em pdf e vamos de telas novamente. Depois de um ano de pandemia, com a necessidade de distanciamento social, trancados em casa, com a rotina restrita, me sinto cada vez mais dependente de telas e exposta a elas. Sintomas como a dor nos olhos e na cabeça, caracteriza a Síndrome Visual Relacionada a Computadores (SVRC), de acordo com a Sociedade Brasileira de Oftalmologia, estima-se que até 90% das pessoas que utilizam computadores por mais de três horas diariamente apresentam algum tipo de sintoma relacionado a SVRC.

Os aparelhos eletrônicos estão sendo muito úteis durante a pandemia, nos conectam, agilizam nossas tarefas, nos permitem estudar e trabalhar, mas também viciam, causam cansaço e exaustão mental. No fim de semana, raramente quando posso, me permito não utilizar telas, a ideia de responder uma mensagem traz sensação de desânimo. Sei que sou privilegiada de certa forma, por ter a chance de trabalhar e estudar em casa, enquanto uma parte da população desde o início da pandemia tem de sair do aconchego de sua casa para levar comida à mesa, com medo do vírus e de transmiti-lo às pessoas que mais ama. É necessário pensar sobre a desigualdade não apenas em tempos de pandemia. Segundo uma pesquisa realizada pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), 20,8 milhões de pessoas podem utilizar o home office, o que corresponde a apenas 22,7% dos postos de trabalho.

Para quem tem este privilégio, o trabalho e o estudo em casa, inicialmente, parecia um sonho. Afinal, 14 dias em casa, descanso, aconchego, tempo para se cuidar e colocar as séries em dia, que maravilha. Infelizmente não foi bem assim. Por conta da má gestão da pandemia por nossos governantes, estamos há mais de um ano trancados em casa, com a vacinação em ritmo lento, sem contato direto com nossos amigos e familiares e, principalmente, esgotados de olhar para telas. Antes da pandemia, acordar às 6:30 para ir a faculdade era moleza. Nos dias de hoje acordar às 8h parece uma missão impossível e extremamente cansativa.

Nos adaptamos à pandemia e às telas, porém, com elas vieram o cansaço emocional, a ansiedade, as dores e o estresse. Acredito que em algum momento todo mundo já se fez a mesma pergunta “quando a pandemia irá acabar?” Uma pergunta ainda sem resposta. Se as vacinas dão esperança, o ritmo desmotiva. Estamos todos exaustos das telas, queremos ver sob elas e não viver mergulhados na luz azul.

 

Por Heloísa Helena Canabarro

Acadêmica do curso de Jornalismo da UFN