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Camobi: prefeitura suspende serviços domiciliares de saúde

Fake News compartilhada nas redes sociais  fez com que a prefeitura municipal suspendesse temporariamente os atendimentos domiciliares de saúde nesta quinta, 28, e sexta-feira, 29, no bairro Camobi, na região leste de Santa Maria. A medida visa

A importância de se informar antes de votar

Vivemos em uma realidade caótica. Em meio a tanta polarização de opiniões talvez haja um ponto em que todos concordem: estamos na obscuridade. Além disso, temos incapacidade de admitir que somos um país arcaico e injusto. Grande parte do problema tem

Foto: arquivo ACS

Fake News compartilhada nas redes sociais  fez com que a prefeitura municipal suspendesse temporariamente os atendimentos domiciliares de saúde nesta quinta, 28, e sexta-feira, 29, no bairro Camobi, na região leste de Santa Maria. A medida visa a segurança dos profissionais que atuam nesse bairro.
A notícia falsa afirmava que uma equipe de jovens, vestindo jalecos brancos como os usados pelos servidores da Saúde da prefeitura, estavam visitando os domicílios  naquele bairro com o argumento de medir as taxas de insulina e glicose, e  aplicavam os testes com agulhas infectadas com o vírus HIV. E ainda que o alerta havia sido dado pela brigada militar.
O boato ganhou força no whatsap e a Secretaria de Saúde decidiu suspender os atendimentos domiciliares na Região Leste da Estratégia Saúde da Família (ESF) e de médicos e dentistas que atendem pacientes acamados em residências. Esses atendimentos não são realizados diariamente e são feitos mediante agendamento.

Nota de esclarecimento da Secretaria da Saúde
[dropshadowbox align=”left” effect=”lifted-both” width=”auto” height=”” background_color=”#ffffff” border_width=”2″ border_color=”#dddddd” ]A Prefeitura de Santa Maria, por meio da Secretaria da Saúde, esclarece que não há equipes do Município realizando exames de sangue em visitas domiciliares e espalhando o vírus HIV. Um vídeo e um áudio com informações falsas estão sendo espalhados em grupos de redes sociais. No áudio, uma mulher relata que há uma equipe de enfermagem disseminando o vírus em pacientes, o que não é verdade. Já no vídeo, aparece um grupo de servidores da Secretaria de Saúde em atendimento domiciliar. A Prefeitura confirma que profissionais da Saúde realizam, sim, atendimentos domiciliares (consultas, testes rápidos, curativos, etc.) nas comunidades mediante agendamento, e que esses servidores estão identificados com jalecos e crachás. A Prefeitura reitera que as informações do áudio são falsas e não devem ser compartilhadas, pois colocam os servidores municipais em risco e podem prejudicar o atendimento dos pacientes mais necessitados. Brigada Militar e Associação Camobi Segura afirmam que não autorizaram ninguém a falar em nome delas sobre esse assunto e que o material divulgado é Fake News.[/dropshadowbox]

A corrida eleitoral de 2018 trouxe muitas questões e adversidades, como as fake news. O cenário não é nada favorável. O Brasil enfrenta uma enxurrada de notícias falsas que circulam todos os dias na internet. A maioria delas aborda os candidatos à presidência no segundo turno, Jair Bolsonaro, do Partido Social Liberal (PSL), e Fernando Haddad, do Partido dos Trabalhadores (PT). O que gera um desafio para a Justiça Eleitoral e para o Jornalismo. Nunca houve uma campanha eleitoral com tanta informação falsa no país, de acordo com a Organização dos Estados Americanos (OEA).

Para a estudante Eduarda Raphaela de 18 anos, que votou pela primeira vez, as fake news influenciaram muito o voto da população. ‘’Eu sempre procurei a veracidade, mas meus familiares não. Eles compartilhavam muitas coisas sem saber se era verdade, acreditavam no que compartilhavam’’, comenta.

A justiça vem sendo muito cobrada para refrear esse tipo de ação na internet. Segundo a presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), Rosa Weber, houve combate à  fake news, embora os resultados pudessem ser mais eficazes. Uma das principais ações feitas pela Comissão de Combate à Fake News, criada pela Justiça Eleitoral, foi a criação de uma página para rebater boatos e notícias falsas. Mesmo assim, a atuação do TSE tem sido criticada.

Para o professor Fernando Hoffman, do curso de Direito, da Universidade Regional Integrada do Alto Uruguai e das Missões (URI), ‘’esse posicionamento é meio fantasioso, vide as inúmeras ações do próprio Whatsapp e Facebook na retirada de diversos perfis e contas falsas, visando combater a proliferação de fake news”. O professor acrescenta que ficou claro o uso de notícias fraudulentas “por parte da campanha do candidato Jair Bolsonaro, o TSE não tomou as providências cabíveis, e agindo por meio de seus ministros de forma totalmente parcial com a retirada da propaganda veiculada pela campanha do candidato Fernando Haddad’’. Hoffman reforça que houve posicionamento da Justiça Eleitoral quanto às fake news, mas que, no entendimento dele, foi completamente falho, controverso e tendencioso.

Legislação quanto às fake news

O Código Eleitoral não prevê nada específico, inclusive utilizando o termo fake news. No entanto, a combinação dos artigos 222, 237, 323 e 324, tratam de situação que podem, ou, se enquadram no conceito de fake news. ‘’Ao meu ver, o mais claro é o artigo 323, do Código Eleitoral, que considera crime eleitoral a ação de “divulgar, na propaganda, fatos que se sabe inverídicos, em relação a partidos ou candidatos e capazes de exercerem influência perante o eleitorado”, pontuou o professor.

Vivemos em uma realidade caótica. Em meio a tanta polarização de opiniões talvez haja um ponto em que todos concordem: estamos na obscuridade. Além disso, temos incapacidade de admitir que somos um país arcaico e injusto. Grande parte do problema tem origem na desigualdade social , que tem um profundo impacto na esfera econômica, bem como no desenvolvimento da sociedade. Por outro lado, essa mazela ganha vulto também pela omissão geral de reconhecer tal contexto.

 Porém, mais do que identificar imbróglios, é preciso desenvolver mecanismos para saná-los de forma eficaz. Esse é um discurso que parece tão óbvio, mas não é.  Mais do que pontuar problemas, encontrar soluções e colocá-las em prática, a quem interessaria, por exemplo, minimizar ou erradicar desigualdade social? Para quem mesmo?

 Por anos tive um olhar ingênuo e até ignorante, para compreender a conjuntura política de uma nação. E formar nossos valores, nossa consciência crítica não é algo fácil ou que se adquire da noite por dia, a menos que você seja um gênio. Não é meu caso. Foram  necessárias aulas após aulas das saudosas disciplinas de jornalismo que me ajudaram a construir não apenas a minha formação acadêmica, mas minhas  práticas sociais que, aliadas aos meus princípios e minha sede de buscar conhecimento, tornaram-me capaz de discernir e de me incomodar com o futuro do Brasil. Já que o passado da nação, muitas vezes, parece não estar mais servindo como base para aprimorar o que está por vir, então, só me resta ter uma pontinha de esperança no amanhã.

 Talvez o segredo de grandes mestres seja nunca se conformar ou achar que aprendeu o suficiente sobre alguma temática. O conhecimento não se esgota, pelo contrário: na mesma proporção que o adquirimos, surgem novas “necessidades” do saber. Penso que na atual ‘crise’ que vivemos – e entende-se “crise” na mais absoluta morfologia da palavra que, neste caso, aplica-se a tudo, inclusive às áreas intelectuais. Essas inclusive são ponto central da minha preocupação, sobretudo nas vésperas de uma eleição contaminada por desdobramentos impactantes, como a disseminação das notícias distorcidas ou inventadas, mais conhecidas como fake news, que, para a conjuntura da democracia pode ser algo decisivo; se pensarmos a longo prazo, pode ser fatal.

 Acredito que uma boa base educacional já seria um ótimo caminho, mesmo que a longo prazo, para colhermos frutos de um Brasil mais próspero. Fala-se em patriotismo, mas que Pátria é essa que tapa os olhos para milhares de pessoas vivendo em condições desumanas? Que amor é esse que nega direitos humanos? A nossa inversão de valores perpassa e muito a má formação do conhecimento acerca da realidade. Muitos, ao invés de contextualizar para entender o porquê de termos chegado a esse cenário caótico, preferem ser simplistas e jogar a culpa em um partido ou em meia dúzia de nomes. Mais fácil, né? Como se a corrupção e nossos problemas fossem uma novidade. Não se trata apenas de “dar nomes aos bois” e apontar “mocinhos” e “vilões”, até porque nosso filme é o da vida real, faz-se necessário ter um entendimento menos apartidário e sermos mais críticos, ir ao fundo das questões para compreendê-las ou irmos ao fundo do poço, literalmente.

 Em um cenário como este, fico do lado do que ainda poderá nos salvar e dar lucidez a esse povo. Eu acredito no diálogo, na construção do conhecimento, para nos tornarmos capazes de nos inserirmos de forma positiva na sociedade, um caminho para saber como melhorar a nós mesmos e ao outro. Até porque uma boa parte dos eleitores brasileiros não tiveram a chance de se instruir ou ao menos de ter um raciocínio capaz de discernir os aspectos de nossa realidade. Entender a estrutura política requer tempo e interesse em aprender, e o voto se constrói a partir disso. No entanto, voto não muda nada se você não muda suas atitudes. Reclamar de condutas corruptas e ceder a atitudes imorais no dia a dia também é desonesto. A ética não pode ser seletiva. A desinformação e a distorção de valores são tóxicas e estão contaminando a opinião pública. Que saibamos refletir para construir um país mais humano e mais próspero, que o descontentamento de muitos sirva como combustível para transformar o que não nos agrada. E nós, jornalistas, temos um compromisso ainda mais importante de informar para ajudar a formar uma opinião pública baseada na ética e no impacto social que a profissão nos impõe.

 Por Carolina Carvalho, jornalista