Redes sociais e a ascensão política da direita no Brasil
A capacidade que o artifício tecnológico tem de impactar o consenso da opinião pública e unir as pessoas em prol de causas de interesse é gigantesca, sobretudo, nos dias atuais.
A capacidade que o artifício tecnológico tem de impactar o consenso da opinião pública e unir as pessoas em prol de causas de interesse é gigantesca, sobretudo, nos dias atuais.
A abertura do XVI In Letras, I SIEHL e VIII PIBID foi marcada pela realização de diversas oficinas. Dentre estas, destacam-se: “Língua, ideologia e as implicações de uma relação constitutiva”, ministrada por Luiza Boézzio Greff e
A Agência CentralSul de Notícias faz parte do Laboratório de Jornalismo Impresso e Online do curso de Jornalismo da Universidade Franciscana (UFN) em Santa Maria/RS (Brasil).
O primeiro turno das eleições municipais chegou ao fim nas regiões brasileiras. E como dizia o filósofo pré-socrático Aristóteles, “O homem é por natureza um ser político”, ou seja, a capacidade de se inserir em sociedade e consequentemente participar da vida política consistem em aspectos intrínsecos à existência humana. Segundo ele, seres humanos são seres sociais por essência e a vida política é crucial para a realização plena de suas potencialidades. No momento em que se convive em sociedade, os indivíduos têm a oportunidade de aprimorar suas habilidades, estabelecer laços, vínculos, expor ideais e convicções, além de aprender e buscar conviver da forma mais harmônica possível de modo conjunto.
As disputas de hegemonia são oriundas de uma tarefa política a partir do cotidiano vivido pelos cidadãos que constituem uma determinada comunidade. As iniciativas políticas se fundamentaram perante os inúmeros períodos da história em um conglomerado de ideias e modos de desenrolar as ações dentro da sociedade, sendo assim defendidas e compartilhadas por determinados grupos, materializando-se em dualidades e posições adversas entre partes da população.
Assim, analisando o contexto político brasileiro, quanto mais se aproxima o processo eleitoral, torna-se mais perceptível o fervor mexendo com os comportamentos, discursos e posturas da sociedade brasileira. Cada pesquisa, cada articulação de bastidores, cada discurso exposto por candidatos ou pré-candidatos, traz repercussão nos diversos espaços presenciais e ou virtuais tomados por defesas e posicionamentos eufóricas apaixonadas.
Aliás, o uso de maneira arquitetada e planejada do advento da internet e das redes sociais também têm gerado um reflexo significativo na política contemporânea. A capacidade que o artifício tecnológico tem de impactar o consenso da opinião pública e unir as pessoas em prol de causas de interesse é gigantesca, sobretudo, nos dias atuais.
Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), por meio da Pesquisa Nacional de Amostra por Domicílios (PNAD) Tecnologia da Informação e Comunicação, publicada em agosto deste ano, 92,5% dos lares brasileiros possuíam acesso a internet em 2023, aumento de 1 ponto percentual em relação a 2022. Ainda de acordo com o Instituto, os idosos também estão cada vez mais conectados com a internet, a porcentagem subiu de 24,7% para 66% das pessoas com mais de 60 anos que possuem acesso à internet no país entre 2016 e 2023. O acréscimo em relação a 2022 foi de 3,9 pontos percentuais. Além disso, nas zonas rurais, o índice de conectividade aumentou de 78,1% em 2022 para 81 % em 2023.
Questões relacionadas ao meio político, que originalmente eram discutidas em ambientes específicos e se restringiam a representantes, membros e entidades formais, hoje estão ao alcance de boa parte da população. Hoje em dia, a internet permite que as pessoas estabeleçam redes de conexões com quem coaduna dos mesmo princípios e posicionamentos sobre as mais diversas temáticas e no caso da política não é diferente. Por isso, essas transformações próprias da era digital sugerem readaptações no modo de se fazer política e, portanto, surge a necessidade de se reinventar para conseguir atingir a população.
É nítido que nos últimos anos a ideologia de direita ascendeu politicamente no Brasil. A capacidade de mobilização popular das lideranças conservadoras é um fenômeno que vêm crescendo a cada ano no cenário político brasileiro, muito por conta da figura do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), que foi capaz de despertar identificação na população com seus ideais e posicionamentos, consolidando uma rede de apoiadores em grande escala no país. E sim, as mídias sociais possuem papel fundamental em um cenário político cada vez mais permeado pelas batalhas digitais, onde o engajamento de integrantes da direita prepondera em relação à esquerda.
Essas transformações sugerem readaptações no modo de se fazer política. E parece que as lideranças ligadas à direita souberam se reinventar nesse quesito. Prova disso é que o PL, sigla de Bolsonaro, foi o partido que elegeu o maior número de prefeitos nas 103 maiores cidades do país. A legenda fez dez prefeitos nos principais centros urbanos do país, sendo seguida pelo União Brasil, que fez nove.
Conforme levantamento realizado pela Equipe do Observatório das Eleições 2024, em iniciativa do Instituto da Democracia e da Democratização da Comunicação (INCT IDDC), o percentual da direita para o uso do Instagram conta com 105.190 usuários (49,8%), do Facebook, com 87.421 (41,4%), e do TikTok, com 7.971 (3,8%) e é muito similar ao uso das mesmas redes pela totalidade de candidatos das eleições 2024. O fator determinante para essa semelhança se deve, em partes, ao fato de que a maior parte dos candidatos que têm redes sociais se encontram à direita do espectro político. O centro e a esquerda acumulam, cada um, menos da metade do número de redes sociais quando equiparados aos partidos da direita. O maior uso das redes pela direita é ratificado numericamente nas imagens abaixo.
Em se tratando do panorama das eleições municipais, além da confirmação de força do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), que articulou as chapas e apostou na juventude de candidatos a prefeitos, outras candidaturas apresentaram a possibilidade de alternativas políticas para os eleitores de direita nos grandes centros do país. Aliadas com as pautas da direita, mas não apoiadas diretamente pelo ex-presidente, as candidaturas de Cristina Graeml (PMB), em Curitiba, que acabou indo para o segundo turno, e Pablo Marçal (PRTB) que, apesar de ficar de fora do segundo turno em São Paulo, deixa o pleito com capital de votos para 2026, foram destaques dessa primeira etapa da corrida eleitoral.
É importante ressaltar que nos casos de Curitiba e São Paulo, os postulantes ao pleito que receberam o apoio formal do ex-presidente, Eduardo Pimentel (PSD) e Ricardo Nunes (MDB) terminaram o primeiro turno das eleições na primeira colocação. Em Curitiba, Pimentel, teve 33,51% dos votos válidos, já na capital paulista, Nunes terminou o primeiro turno na primeira colocação com 29,48% dos votos válidos.
Além disso, a direita teve resultados significativos em outros dois grandes centros urbanos do país, como em Belo Horizonte, com Bruno Engler (PL), que ficou na dianteira da disputa com 34,38%, muito impulsionado pela influencia do deputado federal Nikolas Ferreira (PL), que inclusive foi o mais votado nacionalmente nas eleições de 2022, e em Fortaleza, uma das principais capitais do nordeste, com André Fernandes (PL), conquistando um reduto onde historicamente não tinha um quadro favorável.
Para vereador, a sigla também obteve votações expressivas na capital paulista, com Lucas Pavanato, que inclusive foi o vereador mais bem votado do país, com 161.386 votos, e no Rio de Janeiro, com Carlos Bolsonaro, que fez 130.480 votos e foi o segundo colocado no quadro geral para o cargo no país.
Com isso, percebe-se que maneiras de atingir a população adotadas pelas lideranças de esquerda são falhas quando aplicadas no cenário político atual e isso se reflete nos resultados. Claramente existe um distanciamento significativo das lideranças de esquerda no país no que se refere ao diálogo e a comunicação com a população de maneira geral. Por outro lado, é possível inferir que o discurso das lideranças de direita busca seguir uma vertente retórica que abrange questões que vão além da politica de etiqueta e que somados a questão estratégica do engajamento nas redes sociais conseguem adentrar com muito mais impacto na filosofia de vida da população brasileira.
A abertura do XVI In Letras, I SIEHL e VIII PIBID foi marcada pela realização de diversas oficinas. Dentre estas, destacam-se: “Língua, ideologia e as implicações de uma relação constitutiva”, ministrada por Luiza Boézzio Greff e Bruna Cielo, e “Gêneros de argumentar: abordagem teórico-prática”, organizada por Gessélda Somavilla Farencena, Angela Maria Rossi, Elisane Scarpin Cargnin e Letícia Lima. Voltadas para a análise de discurso e a construção sistêmico-funcional do gênero argumentativo, respectivamente, ambas discorreram sobre o uso da linguagem em diferentes situações do cotidiano e as implicações ideológicas envolvidas em nossa relação com a língua.
Objetivando mostrar a ligação entre linguística, materialismo histórico e psicanálise, Luiza Greff e Bruna Cielo discorreram sobre a linguagem enquanto material indispensável no processo discursivo. Utilizando os estudos de Michel Pêcheux (filósofo francês e um dos primeiros a estudas a análise de discurso), as estudantes concluíram que a fala se constitui na e pela ideologia, propondo uma atividade pautada na análise de diversas palavras e nas imagens que estas suscitavam aos participantes da oficina.
A oficina “Gêneros de argumentar: abordagem teórico-prática”, apresentou as etapas para a formulação de textos argumentativos, trazendo exemplos referentes à argumentação expositiva e discursiva. Gessélda Farencena destacou a importância de saber defender e expôr um ponto de vista, persuadindo o leitor através de argumentos sólidos e de um texto lógico, já que esses pontos devem ser desenvolvidos na maioria das redações de vestibulares e concursos. Para finalizar, as palestrantes fizeram a leitura de dois textos, auxiliando o grupo no reconhecimento de elementos que caracterizam a argumentação e seu gênero.